Homem de teatro. Homem de resistência, Homem da velha guarda.
Homem com H grande!
Cid Simões homenageia-o aqui, com uma imagem sinistra das nossas piores memórias, a censura prévia.
http://aspalavrassaoarmas.blogspot.pt/2012/12/blog-post.html
Adeus Joaquim! Obrigado pelo muito que me deste. Obrigado pelo teu magnífico Teatro de Almada onde vi alguns dos teus trabalhos memoráveis.
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TEXTO LIDO ONTEM À TARDE, NO SEU FUNERAL
Morreu o Joaquim. Morreu o nosso Mestre e o nosso Amigo.
Morreu a fazer teatro, que era o que ele melhor fazia: e fez teatro até ao fim. Dirigiu-nos até já não ter fôlego para puxar a fumaça dos cigarros que ia desfiando, um após o outro, nos ensaios (nas últimas semanas, resignado a ter de deixar de fumar, trazia para a sala um cigarro electrónico que alguém baptizou de Robocop).
Joaquim Benite foi e será o que se dirá agora dele: um intelectual de acção, um artista generoso, um Homem perseverante, com um aguçado olhar poético sobre o Mundo e uma grande intolerância contra a injustiça – que nalguns momentos da sua vida terá tentado beliscá-lo, mas que ele ignorou como quem dá um piparote numa beata pela janela do carro fora, como ele tinha o mau hábito de fazer.
Joaquim Benite foi e será muitas coisas. Para nós, os que temos vivido e aprendido com ele – para as várias gerações de actores, técnicos, encenadores, directores de teatros… – o Joaquim foi o Homem que nos revelou o segredo de que o teatro é um vício (quem lá entra, nunca mais de lá sai), mas é também um bálsamo (nós, os que temos esta profissão, somos uns privilegiados, porque nos momentos de dor imensa, como este, podemos sempre fugir para o palco: e lá a dor é outra).
Ficámos com uma peça nas mãos: o «Timão de Atenas», que de Atenas fala pouco, mas fala muito sobre a hipocrisia e a falsidade dos homens. O nosso “patrão”, como o Joaquim lhe chamou nos primeiros ensaios, tinha a mania de escrever para nós, e para “os que vierem depois de nós” – e os que vierem depois deles.
E agora chega de “palavras, palavras, palavras…” e vamos mas é trabalhar, que era talvez o que ele diria neste momento, se pudesse. Vamos cuidar dos vivos. Confortar a sua família – as suas irmãs, os seus filhos, os seus netos – e trazer a Teresa «Coragem» de volta às tábuas.
“E já que estamos em Shakespeare” (como tu próprio podias ter dito, meu querido Amigo…), citemos as palavras que o nosso “patrão” põe na boca daquele que, desiludido do caminho que a sociedade ia tomando, se afastou dos homens para morrer sozinho:
“Sol, esconde os teus raios: o Joaquim chegou ao fim do seu destino”
Companhia de Teatro de Almada
texto lido pelo actor Luís Vicente, esta tarde, no funeral
PUBLICADO NO BOLETIM Nº 213 DO TEATRO MUNICIPAL DE ALMADA
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