Luís Filipe Rodrigues foi o grande vencedor, no Dia Mundial da Poesia, do Prémio Maria Amália Vaz de Carvalho com a obra Lugares de Passagem, uma coletânea de 41 poemas. Instituído pela Câmara Municipal de Loures, e patrocinado pela empresa GelPeixe, o galardão tem como objetivo premiar obras de ficção literária inéditas de autores portugueses nas categorias de prosa ou poesia.
A Biblioteca Municipal José Saramago, em Loures, encheu, no dia 21 de março, para assistir à entrega do Prémio Maria Amália Vaz de Carvalho, este ano na modalidade de poesia.
Luís Filipe Rodrigues, de 66 anos, foi o vencedor com a obra Lugares de Passagem. A concurso, 135 coletâneas de poemas originais apreciadas por um júri de reconhecido mérito, no âmbito da escrita/crítica literária ou do ensino de literatura, composto por António Carlos Cortez, José Correia de Jesus Tavares e Amélia Vieira. (Notícia transcrita DAQUI)
.......................................................................................................................Alguns poemas do livro premiado
NA BIBLIOTECA
1.
Entrou na biblioteca e disse quero o livro
maior, um livro
que cresça dentro de mim. Tinha doze anos
e preparava-se para ler não sei o quê.
Ao sair quando o abriu e folheou encontrou
um outro, o grande mundo.
2.
O livro que lhe chegou às mãos trazia um olho
na capa, lugar donde partiu para.
O êxito da travessia dependia da luz que torna diferente o que é igual.
Ao folheá-lo notou por todo o lado coisa feita
de visões, vida intensa. Por algum tempo procurou
um fio que o unisse até que um
rosto brotou a toda a largura das duas páginas centrais. Era um rosto par
tido, incendiado em cada margem.
Quando fixava as páginas e por momentos uma ficava a prumo,
um olho olhava o outro
olho,
como bons vizinhos. Mal as fechava
ambos os olhos entravam um no outro obstinadamente,
cegando-se. Por muito tempo nos olhos passaram sombras,
como lâmpadas fundidas mergulhando na noite.
Que fazer do terceiro olho que vê o que
não vemos? O que fazer desse olho que jamais nos viu
entrar no livro?
3
4.
A língua. O lápis. O ouvido. O dedo
ao entrar no livro lança raízes por onde passa
despertando os sentidos logo pela manhã.
As palavras crescem ao longo do dia,
razão para cada um ver o que o rodeia
sempre de outra maneira.
Ao folhear cada página cai por vezes uma estrela
naqueles olhos de criança.
O seu olho esquerdo dá-nos um ângulo imaginário,
próprio da idade. O direito criando fastio e sonolência.
Por isso tal criança costuma ler o mundo ouvindo,
sem disfarce nem olhar de terceiros.
Como é bom ser um ouvido pequenino, de manhã à noite.
5.
Arrumados numa estante os livros emudecem.
Precisam de uma voz que lhes grite.
O livro assim é um pássaro sem pio.
Se não lhe dermos asa não voa nem canta,
jaz ao comprido.