ENTÃO… BOA VIAGEM!
Ler é viajar, certo? Por isso, mais viajamos se o livro é um relato de viagem. Bom exercício para um verão caseiro. Sugestões de leituras - de viagens! - para todos os gostos.
Qual é a essência de uma viagem? Mais do que o percurso ou o ponto de chegada, o que conta é o espírito de quem a faz. Ou seja: o famoso “sei que não vou por aí!”, de José Régio, traduzido por “o tino é mais importante que o destino”!
Seja a “VIAGEM AO FIM DA NOITE” – isto é, ao mais recôndito da alma humana -, ou a “VIAGEM À RODA DO MEU QUARTO” – divertido e lúcido passatempo de um prisioneiro no século XVIII, - é na cabeça dos viajantes que lemos a geografia do caminho andado. “VIAGENS NA MINHA TERRA” - Tejo acima, até Vila Nova da Rainha, e um passeio de mula da Azambuja até Santarém – pouco seria se não fosse a pena do escritor brilhante a transfigurar a paisagem. “VIAGEM AO CENTRO DA TERRA” - mergulho no mais delirante e verosímil mundo imaginário – continua a incendiar as nossas memórias de leitores. “OS LUSÍADAS” – essa viagem de todos nós ao oriente do nosso oriente – é um livro aborrecido apenas para quem se deixou embotar por novelas mal amanhadas. Valha-nos alguém da nova geração para nos propor “UMA VIAGEM À INDIA” – visão irónica e desencantada de quem perdeu caravelas e navega agora na vulgaridade de um continente sem horizontes.
Livros para abalar daqui, ir embora, dar de frosques…
Então… Boa viagem! (JMD)
* * *
«Numa aventura inaudita, Vasco da Gama parte à conquista de novos mundos. As suas caravelas representam o sonho de um povo e as suas velas brancas simbolizam a Fé e a União entre os Povos. De Lisboa à Índia, navegando pelos oceanos mais profundos, assolada pelos ventos mais tempestuosos, assaltada pelos monstros mais terríficos, sob a protecção de deuses e deusas, esta expedição de aventureiros e sonhadores parte em busca do desconhecido, procurando novos rumos para o mundo e encontrando a Glória e a Fama. Atravessando mares nunca dantes navegados e dando início àquilo que viria a ser a época áurea do Império português, Os Lusíadas é uma grandiosa homenagem ao Povo Luso, uma epopeia imortal que toca o mais fundo da alma portuguesa. Um épico genial do nosso maior poeta que para sempre viverá na memória do País que somos e do Império que fomos.» (Texto de apresentação)
* * *
«Este é um livro a muitos títulos surpreendente. Não pelo ineditismo ou pela novidade das peripécias, não por aspectos empolgantes da acção, mas, desde logo, pela maneira como, nele, caleidoscopicamente tudo se eleva à dignidade de literatura enquanto meio para retratar, talvez dizendo melhor, radiografar a condição humana.»
«É um livro cheio de fantasmas, fantasmas dos Lusíadas, fantasmas do homem contemporâneo, uma viagem, uma antiepopeia, e é um livro extraordinário. Estou convencido de que dentro de cem anos ainda haverá teses de doutoramento sobre passagens e fragmentos». (Vasco Graça Moura, na apresentação da obra, CCB, 13/11/10 e em «A Torto e a Direito», TVI24, 6/11/10)
«Uma Viagem à Índia, com consciência aguda da sua ficcionalidade, navega e vive entre os ecos de mil textos-objectos do nosso imaginário de leitores. Como são todos os grandes livros, e este é um deles.» (Eduardo Lourenço, prefácio à obra)
* * *
«Como é glorioso iniciar uma nova carreira, e aparecer subitamente no mundo culto, com um livro de descobertas na mão, tal um cometa inesperado que fulge no espaço!
Não, não mais guardarei o meu livro in petto; ei-lo, senhores, leiam-no. Iniciei e terminei uma viagem de quarenta e dois dias à roda do meu quarto. (…) Sente o meu coração uma satisfação inexprimível quando penso no número infinito de infelizes a quem ofereço um meio garantido contra o tédio e um alívio para os males de que sofrem. O prazer que se encontra ao viajar no próprio quarto está ao abrigo da inquieta inveja dos homens; (…)
Estou certo de que qualquer homem sensato adoptará o meu sistema, seja qual for o seu carácter, qualquer que seja o seu temperamento; (…) enfim, na imensa família dos homens que pululam sobre a superfície da terra, não existe um só – um só que seja (entenda-se, daqueles que habitam quartos) que possa, depois de ter lido este livro, recusar-se a aprovar a nova maneira de viajar que introduzo no mundo.»
(Xavier de Maistre, (1763-1852). Primeiro capítulo da Viagem à roda do meu quarto)
* * *
«Que viaje à roda do seu quarto quem está à beira dos Alpes, de Inverno, em Turim, que é quase tão frio como Sampetersburgo— entende-se. Mas com este clima, com este ar que Deus nos deu, onde a laranjeira cresce na horta, e o mato é de murta, o próprio Xavier de Maistre, que aqui escrevesse, ao menos ia até o quintal.
Eu muitas vezes, nestas sufocadas noites de Estio, viajo até à minha janela para ver uma nesguita de Tejo que está no fim da rua, e me enganar com uns verdes de árvores que ali vegetam sua laboriosa infância nos entulhos do Cais do Sodré. E nunca escrevi estas minhas viagens nem as suas impressões; pois tinham muito que ver! Foi sempre ambiciosa a minha pena: pobre e soberba, quer assunto mais largo. Pois hei-de dar-lho. Vou nada menos que a Santarém: e protesto que de quanto vir e ouvir, de quanto eu pensar e sentir se há-de fazer crónica.
Era uma ideia vaga; mais desejo que tenção, que eu tinha há muito de ir conhecer as ricas várzeas desse Ribatejo, e saudar em seu alto cume a mais histórica e monumental das nossas vilas. Abalam-me as instâncias de um amigo, decidem-me as tonteiras de um jornal, que por mexeriquice quis encabeçar em desígnio político determinado a minha visita.»
(Almeida Garret, Viagens na minha terra, 1846)