Daniel Filipe
Autor do inesquecível poema A INVENÇÃO DO AMOR, grito inconformista e libertário.
Recordo hoje o soneto que Mário Viegas dizia com tanta seriedade e ressonâncias de sentido na sua voz calma. Daniel Filipe deixou outros poemas muito belos. Os livros são fáceis de encontrar, na colecçãoForma da Ed. Presença.
Teu nome, teu disfarce, tua ausência
do círculo familiar, a tua viagem,
tua febre, tua recusa e anuência
teu estar connosco e, entanto, à nossa margem.
Teu corpo, teu sentido, tua luta,
teus olhos fundos, teu perfil estranho,
teu quarto, teu refúgio, cela, gruta,
teu gado fugidio, teu amanho.
Teu riso inesperado, teu mistério,
teu sereno dormir, tua lembrança,
teu não acreditar no Quinto Império,
teu vivo exemplo, tua confiança,
teu sílex interior, teu rosto sério,
teu modo de ensinar-nos a esperança.
Daniel Filipe
Em 1925 nasceu Daniel Damásio Ascensão Filipe na ilha da Boavista, em Cabo Verde. Ainda criança, veio para Portugal onde fez os estudos liceais. Poeta, foi colaborador nas revistas Seara Nova e Távola Redonda, entre outras publicações literárias. Combateu a ditadura salazarista, sendo perseguido e torturado pela PIDE. Num curto espaço de tempo, a sua poesia evoluiu desde a temática africana aos valores neo-realistas e a um intimismo original que versa o indivíduo e a cidade, o amor e a solidão. Faleceu em 1964 em Cabo Verde.
Jornalista e poeta. Co-director dos cadernos “Notícias do Bloqueio”, colaborou também assiduamente na revista “Távola Redonda” e realizou, na Emissora Nacional, o programa literário “Voz do Império”. Daniel Filipe iniciou a sua actividade literária em 1946 com Missiva, seguindo-se Marinheiro em Terra (1949), O Viageiro Solitário (1951), Recado para a Amiga Distante (1956), A Ilha e a Solidão (1957) – Prémio Camilo Pessanha; o romance O Manuscrito na Garrafa (1960), A Invenção do Amor (1961) e Pátria, Lugar de Exílio (1963). O amor e a solidão, o indivíduo e a cidade recortam-se nos seus versos com acentos originais, fluentes e por vezes inesquecíveis.