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UMAS FÉRIAS BEM PASSADAS!
Há alturas
da vida em que é preciso parar e pensar. Jacinto e Francisco Filipe, irmãos de
Santo Isidoro (Mafra), tinham acabado de perder o pai. Estavam na meia-idade, a
entrar na fase em que alguns se interrogam sobre o que andam cá a fazer. Homens
de profunda Fé cristã e, por isso mesmo, inquietos, sentiram que era preciso
passar das palavras aos actos, da “oração” à “hora de acção”. Jacinto explica:
«Isto foi no princípio de 1990. Surgiu
a ideia de umas férias diferentes, em que, pelo voluntariado e pela
solidariedade, pudéssemos conhecer outros povos, as suas tradições, tomar
contacto com as suas dificuldades e, na medida do possível, contribuir com o nosso
trabalho para a sua superação.»
Falaram com amigos, pesaram
hipóteses e decidiram: Guiné-Bissau! Alguns tinham lá estado na guerra
colonial, sabiam que era um dos países mais pobres do mundo, onde se fala
Português. E não era longe, a 4 horas de avião de Lisboa.
«Como não conhecíamos ninguém
daquelas paragens, foi através dos Padres Franciscanos portugueses que iniciámos
os primeiros contactos em Lisboa, que viriam a permitir a concretização deste
sonho de "Férias Solidárias"», diz Francisco Filipe.
E de 3 a 18 de Dezembro desse ano
passaram férias em Bissau. «O nosso primeiro trabalho em terras africanas foi reparar as
varandas, as cozinhas e as instalações sanitárias das doze casas pertencentes à
Conferência de S. Vicente de Paulo, da paróquia de Nossa Senhora da Candelária,
de Bissau. Essas casas eram habitadas por pessoas muito carenciadas.»
Nunca mais pararam. A partir daí,
praticamente todos os anos há um grupo de pessoas que se integra nesta prática
de “Férias solidárias”. Gente maioritariamente do Oeste mas também de todos os
pontos do país. Rui Fiúza é um dos amigos que já lá foi diversas vezes.
Electricista, sabe que o seu trabalho é precioso num país em que falta tudo: «O
mais importante é não irmos para lá com a ideia de que nós é que sabemos. O
nosso trabalho é fazer o que as pessoas dizem ser mais necessário para a vida
delas. Não impomos nada. Perguntamos aos chefes das aldeias e eles é que dizem
o que precisam.»
Construção de um pavilhão numa
escola, reparação de poços, construção do Centro Social de Ondame,
reorganização e gestão de um Centro Materno-infantil (que os nativos baptizaram
de Bom Samaritano), Cursos de Formação em diversas áreas de Desenvolvimento
Rural, montagem de uma Rádio Local e de um Centro Cultural, instalação de um
bloco operatório na Clínica, campanha de consultas de oftalmologia e operações
às cataratas – estes são alguns resultados destas “Férias Solidárias”.
FUNDAÇÃO JOÃO XXIII – CASA DO OESTE
Uma
colaboração casual com esta instituição valeu-nos a oferta deste belíssimo livro que é um testemunho impressionante do que podem a Fé
esclarecida e a prática da Fraternidade.
Folheámo-lo
com avidez e encontrámos os sinais que identificam os homens de boa vontade:
sentido da solidariedade, humanismo, cooperação, apelo a favor dos povos mais
empobrecidos.
A chancela
do livro revelou-nos que este projecto de “Solidariedade com a Guiné” está
enquadrado na missão da Casa do Oeste, sita em Ribamar, concelho da Lourinhã –
um lugar de encontro, formação e convívio da Diocese de Lisboa. Mais
informações podem ser vistas aqui: http://casadooeste.no.sapo.pt/
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VALORES DE OUTRA GRANDEZA
Rui Fiúza, Francisco Filipe e Jacinto
Filipe relataram com entusiasmo o que têm sido estas “Férias Solidárias”. Mas
eles não se querem vedetas. Sublinham que pertencem a um grande grupo de muitas
dezenas de pessoas que aderiram ao projecto desde 1990 até agora e que
congregam vontades e recursos a partir da generosidade das pessoas e das
empresas. Nada pedem ao Estado e todos os voluntários fazem questão de pagar as
suas deslocações e despesas pessoais. Alugam um contentor que estacionam na
zona de Mafra e ali vão guardando as dádivas: roupas, material escolar,
ferramentas, materiais de construção e eléctricos, alimentos de longa duração,
material clínico e, até, veículos usados. O contentor segue por via marítima e
quando chega à Guiné já lá estão alguns voluntários que organizam a
distribuição.
«Sabemos que
os nossos gestos de solidariedade não salvam o mundo…, mas ajudar um povo a
crescer, salvar uma criança que entrou em coma por falta de um simples
anti-palúdico, ou limpar as cataratas dos olhos duma pessoa, são gestos, são
momentos únicos na vida, que não têm preço, porque eles são valores de outra
grandeza!...»
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Se ficou sensibilizado e deseja colaborar nestas acções de
apoio à Guiné-Bissau pode fazê-lo através da Fundação João XXIII – Casa do Oeste que organiza campanhas de
angariação de materiais diversos. Ajudas financeiras podem ser depositadas em
conta bancária, basta pedir número à Fundação. Dos donativos serão passados
recibos. Informações no Secretariado da Fundação: telefone/fax
261 422 790.Mail: casadooeste@sapo.pt