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quarta-feira, 11 de março de 2009

Aos sportinguistas...

O meu Avô era um sportinguista fervoroso. Há não muito tempo dediquei-lhe umas linhas, quando escrevi sobre a inaguração do Estádio Nacional. Tenho o bilhete desse dia memorável, oferecido pelo meu Avô, o qual guardo com enorme carinho. Lembro-me, ainda miúdo, vê-lo sair de casa, depois do almoço domingueiro, para ir ver o seu Sporting, clube do qual foi sócio durante muitos anos. Um dia, estava num restaurante com os meus pais e avós, ali na zona de Alvalade, quando entra uma figura desconhecida aos meus olhos: José Travassos. O meu Avô conhecia-o bem, tendo trocado cumprimentos efusivos. Perguntei quem era e, logo ali, fui brindado com uma lição sobre a reputação de antigos jogadores leoninos. Infelizmente, para o meu Avô, a minha preferência clubística voltou-se para uma cor mais sanguínea, mas sempre vi o Sporting como o grande rival do meu clube.

Os tempos passaram e hoje, depois da pior eliminatória da história europeia do futebol português, dei comigo a pensar no que o meu Avô sentiria, caso tivesse presenciado a vergonha de ontem à noite. Também não pude deixar de pensar num amigo que foi para Munique, mais para divertir-se do que propriamente para cantar por uma reviravolta impossível. Chegámos a trocar duas ou três sms’s e, numa delas, li o seguinte: "...sonhei que ganhávamos 7-1. Estive, de manhã, no Allianz Arena. É esmagador". Ora aqui está um adjectivo de cariz profético. Ainda não voltei a falar com ele, mas imagino, não sem com alguma dificuldade, os sentimentos por que passou. Como recuperar a honra, quando esta ficou perdida na noite de Munique?

É sobre o Sporting que quero falar. Sem hipocrisia. Sem ironia ou ponta de sarcasmo. Gostava que muitos sportinguistas lessem as minhas palavras como as de alguém que observa o 'fenómeno' de forma distante e objectiva. Recuemos uns anos. Até meados da década de noventa, a minha adolescência foi acompanhada pela rivalidade entre os dois 'grandes' de Lisboa. Nos anos sessenta, Eusébio desequilibrou os pratos da balança, mas o Sporting nunca deixou de conquistar troféus, mantendo-se na 'sombra' do vizinho de Benfica. Até que o FC Porto desatou a conquistar títulos, uns a seguir aos outros, como se estivesse a sprintar numa prova de 100 metros. Quando as borbulhas desapareceram, dando lugar aos bancos da Faculdade, a hegemonia do futebol português já ia percorrendo a A1, no sentido norte. Em grande velocidade: ao mesmo tempo que o Sporting esteve durante longos dezoito anos sem conquistar o campeonato nacional, o FC Porto foi coleccionando Ligas, Taças de Portugal, Supertaças. A um ritmo avassalador. A separação de poderes ganhou sotaque tripeiro, o Benfica ganhou um rival que apresentava desafios de outra estirpe e o Sporting viu-se relegado para terceiro lugar. Sim, leram bem. Contem só a totalidade dos títulos nacionais, para verificarem que há muito o FC Porto superou o Sporting. Nesse momento, a 'batalha' pela liderança do futebol português mudou de cores. Apesar de muitos sportinguistas continuarem a olhar para o rival encarnado, deviam pensar que a primeira tarefa cinge-se a apagar a 'chama do dragão'. De forma muito frontal: o vosso rival não mora na Luz; antes está sentado ao lado do vosso presidente.

Nos meus tempos de juventude, passados em imensas tertúlias com amigos dos mais variados quadrantes futebolísticos, surgiu um novo conceito nacional: o denominado 'projecto' de José Roquette. Os adeptos leoninos passaram a falar menos das incidências do relvado e introduziram, nos debates, a figura dos relatórios & contas. Orgulhosamente ‘diferentes’, a estabilidade financeira e a aposta na formação passaram a ser bandeiras de um novo discurso. O campeonato ganho por Augusto Inácio matou a 'fome' de títulos e, mais tarde, a dobradinha de Lazlo Boloni foi o culminar de um 'projecto' orientado para a sustentabilidade. Todavia, a tónica nos predicados financeiros fez desviar as atenções do objectivo principal – sucesso desportivo. O rigor e transparência das contas foi ganhando relevo, ao mesmo tempo que a impaciência dos adeptos foi subindo de tom: a tão chamada 'crise de militância'. Presentemente, dos três 'grandes', o Sporting é claramente o clube mais preparado para o futuro de curto e médio/longo prazo, quer em termos económico-financeiros, quer na vertente dedicada à formação. No entanto, qual o preço a pagar? Relembro que a conquista do último campeonato vem da longíqua época 2001/02...

Ontem, como sempre, estive atento ao programa "Trio D’Ataque". Confesso que me causa estranheza ouvir o Rui Oliveira e Costa afirmar a sua preferência por dois segundos lugares, ao invés de um primeiro e outro terceiro. Na razão das suas palavras, encontram-se, tão só, argumentos económicos motivados pela presença na milionária 'champions league'. O meu Avô nunca proferiria tal barbaridade. Não deixo de valorizar as preocupações financeiras, mas os adeptos apaixonados só pensam numa coisa: vitórias. Creio ser possível manter o interesse por essas matérias, respeitando os condicionalismos que se impõem à maioria dos clubes nacionais, embora nunca deixando de perseguir os êxitos desportivos. Se o Sporting respeita o seu passado, baseado numa história de esforço, dedicação, devoção e glória, não pode permitir que a alegria de um resultado líquido positivo se supere à emoção de um título. Após uma derrota que mancha o nome do clube na Europa e quando se vive um processo pré-eleitoral, seria boa ideia pensarem no rumo que pretendem. Amigos sportinguistas, digam o que desejam. Sinceramente. Uma liderança alicerçada num modelo de gestão vocacionado para as demonstrações financeiras? Ou, pelo contrário, uma estrutura que, sem deixar de ser pragmática e realista, defenda o símbolo do clube? Querem um candidato 'ajoelhado' às vicissitudes das garantias bancárias e dependente da vontade dos investidores? Ou anseiam por uma candidatura forte, que faça o Sporting regressar ao topo do futebol nacional? Eu sei bem o que o meu Avô desejaria. Sei, também, aquilo que muitos de vocês ambicionam: voltarem a sentarem-se, ao meu lado, na cadeira do poder, contemplando a eterna rivalidade pintada a verde e vermelho.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

[Uefa Cup 1/2] Zenit St. Petersburg 4-0 Bayern Munique

A equipa russa escreveu esta quinta-feira uma página dourada da sua história, já que deixou pelo caminho o poderoso Bayern de Munique de Ribéry, Klose, Podolsky, Toni e C.ª. Antes de comentar as incidências da partida, proponho um breve apontamento sobre o duelo inglês de Stamford Bridge. Não tive oportunidade de seguir a outra meia-final, entre Glasgow Rangers e Fiorentina.
Quanto ao Chelsea-Liverpool, sou levado a concordar com a opinião da generalidade da imprensa: o equilíbrio foi nota dominante, mas desta feita a fortuna sorriu à equipa londrina depois de, num passado recente, ter sido prejudicada pelo polémico golo fantasma, ainda Mourinho liderava os destinos dos Blues. Por falar no "Special One", esta vitória também lhe pertence. Foi o treinador português que escolheu estes jogadores e criou esta equipa. O Chelsea não ganhava o título nacional há 50 anos e era como que o Belenenses lá do sítio. Foi José Mourinho que deu expressão ao futebol dos Blues e permitiu que, agora, Avram Grant recolha os louros.
De resto, a eliminatória valeu pelos 30 minutos do prolongamento, quando as equipas se libertaram de amarras tácticas e encararam o desafio de peito aberto. Os golos foram aparecendo e o espectáculo ganhou intensidade. Provou-se que o Chelsea está em melhor forma e demonstrou maior eficácia nos momentos decisivos. Posto isto, voltemos ao assunto da crónica.
Penso que ninguém esperava uma vitória da equipa russa por números tão expressivos, mas desde os dezasseis-avos-de-final, quando ultrapassaram o Villarreal, que fiquei de olho neste Zenit St. Petersburg. Depois da equipa espanhola, seguiram-se Marselha e Bayer Leverkusen. A meu ver, o favoritismo do Bayern de Munique esfumou-se no jogo da 1.ª mão - empate a uma bola - apesar de estar bem viva a forma como a equipa alemã ultrapassou o obstáculo chamado Getafe. A goleada provou que um misto de eficácia e concentração foi mais do que suficiente para contrariar qualquer tentativa de reacção.
No início da campanha europeia, o nome mais sonante do conjunto russo seria concerteza Dick Advocaat. O treinador holândes já tinha passado por PSV Eindhoven e Glasgow Rangers, curiosamente o adversário da final. Para além dessas experiências mais relevantes, em termos de clubes, chegou a ser seleccionador do seu país (de 1993-1995 e 2002-2004), tendo liderado os destinos de Emiratos Árabes Unidos e Coreia do Sul, antes de partir para a aventura russa. Por conseguinte, há alguns meses, a estrela mais cintilante nem pisava o rectângulo de jogo.
Depois desta caminhada fantástica, as estrelas surgem, agora, no relvado. Um dos jogadores que mais se tem destacado é Andrei Arshavin. Trata-se de um n.º 10 talentoso, eleito melhor jogador russo em 2006, tendo falhado o jogo da 2.ª mão devido a castigo. De qualquer modo, a qualidade começa na baliza. Malafeev é um digno representante da escola soviética e séria opção para defender as redes da selecção russa no Euro 2008. No quarteto defensivo, à direita, Anyukov deu nas vistas pela forma como domina as transições pelo seu corredor. Daí para a frente, Fayzulin, Denisov e o argentino Dominguez, ex-River Plate, são jogadores de grande qualidade e bem referenciados junto dos grandes emblemas europeus. Para finalizar, o surpreendente Pogrebnyak, actual melhor marcador da Taça UEFA, com 11 golos.
O futebol russo encontra-se em bom momento, graças à união de dois vectores: por um lado, a crescente capacidade de investimento que engorda os orçamentos dos principais clubes; por outro lado, a formação continua a marcar pontos, mantendo-se fiel a predicados científicos de uma escola muito valorizada no passado. O Zenit St. Petersburg já supreendeu o mundo do futebol e, daqui para a frente, devemos estar ainda mais atentos ao fenómeno, incluindo a possibilidade de encarar oportunidades na prospecção.