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terça-feira, 1 de abril de 2008

Notas de culpa da Comissão Disciplinar

Não se trata de mentira de 1 de Abril. A notícia foi manchete na imprensa desportiva e tem hoje os seus desenvolvimentos:

O FC Porto tem até segunda-feira para responder à acusação que recebeu da Comissão Disciplinar (CD) relativa aos jogos com o Est. Amadora e Beira-Mar da época 2003/04. Foi a própria SAD do clube portista quem divulgou publicamente a recepção da nota de culpa numa estratégia que procura minimizar as ondas de choque que a divulgação de tal "bomba" noticiosa poderia provocar.

O que acontecerá em resultado dessa decisão é ainda uma interrogação. No caso de ser desfavorável ao FC Porto (perda de 6 pontos mais as derrotas nos jogos que são transformadas em multas, uma vez que os resultados estão homologados), podem colocar-se dois cenários. O clube pode recorrer para o Conselho de Justiça (CJ) da FPF, sendo então este órgão a ter a palavra final sobre o processo. Nessas circunstâncias, pode criar-se um problema: é que se o CJ arrastar a decisão, então qualquer eventual castigo poderá ficar adiado para a próxima temporada, a não ser que o campeonato desta época ainda não esteja homologado.

Os processos disciplinares aplicados pela Comissão Disciplinar da Liga ao F.C. Porto e ao seu presidente, Pinto da Costa, na sequência do Apito Dourado, não foram ignoradas pela imprensa estrangeira desta terça-feira.

Dentro de dias, o FC Porto pode festejar a conquista de mais um título nacional, o terceiro consecutivo. Mas, não apaga a triste imagem do que se segue. A vergonha encontra-se explícita em (seguir os links): AS, Mundo Deportivo, The Sun, BBC, Corriere dello Sport, L'Équipe e Lance.

Vejamos o que diz o Regulamento Disciplinar da Liga Portuguesa de Futebol Profissional:

Artigo 51.º

(Corrupção da equipa de arbitragem)

1. O clube que, através da oferta de presentes, empréstimos, promessas de recompensa ou de, em geral, qualquer outra vantagem patrimonial ou não patrimonial para qualquer elemento da equipa de arbitragem ou terceiros, directa ou indirectamente, solicitar e obtiver, daqueles agentes uma actuação parcial por forma a que o jogo decorra em condições anormais ou com consequência no seu resultado ou que seja falseado o boletim do encontro, será punido com as seguintes penas:
a) Baixa de divisão;
b) Multa de € 50.000 (cinquenta mil euros) a € 200.000 (duzentos mil euros).
2. Os factos previstos no número anterior, quando na sua forma de tentativa, são punidos com as seguintes penas:
a) Provas por pontos:
- Subtracção de três pontos na classificação geral e derrota no jogo tentado viciar.
b) Provas por eliminatórias:
- Desclassificação.
c) A multa referida no número anterior, reduzida a metade.

Artigo 100.º

(Da corrupção)

1. Os dirigentes que participem ou declarem ter participado em actos de corrupção da arbitragem previstos no n.º 1 do artigo 51.º são punidos com a pena de suspensão de dois a dez anos e multa de € 2.500 (dois mil e quinhentos euros) a € 25.000 (vinte e cinco mil euros).
2. São punidos com a pena de suspensão de um a oito anos e multa de € 2.500 (dois mil e quinhentos euros) a € 25.000 (vinte e cinco mil euros) os dirigentes dos Clubes que cometerem as faltas previstas nos artigos 52.º, n.ºs 1 e 3, 53.º e 54.º, n.º 2.
3. No caso do n.º 2 do artigo 51.º e do n.º 4 do atrigo 52.º os dirigentes são punidos com a pena de suspensão de 6 (seis) meses a (dois) anos e multa reduzida a um quarto.

Não pretendo alongar-me demasiado, mas não posso deixar de traçar um paralelismo com o CalcioCaos. De referir que todo o processo foi tornado público e resolvido em menos de 3 meses. Qualquer semelhança com a realidade nacional é obra de ficção. Depois, ainda dizem que a Máfia é em Itália...
Como sabem, prefiro reflectir sobre o futebol que se joga na relva e debater os principais aspectos tácticos. Não tenho por hábito escrever sobre arbitragem. Contudo, não posso deixar passar em claro a vergonha dos últimos quinze a vinte anos. Neste caso, pouco me importa a velha máxima que diz que "qualquer indivíduo é inocente até prova em contrário", pois é minha convicção pessoal que o FC Porto falseou inúmeros resultados desportivos. Não é preciso ser um génio para descobrir a fórmula secreta. Basta carregar no botão rewind da memória para relembrar a escandaleira verificada na década de noventa.
Assim, na minha opinião, aplica-se a frase "...é culpado até prova em contrário". Conheço um ex-dirigente leonino, de finais da década de setenta, início de oitenta, pertencente à direcção presidida por João Rocha e amigo de infância do meu Pai, que presenciou o nascimento e crescimento do tão famoso "sistema". Graças a almoços esporádicos, relatou-me episódios rocambolescos sobre o presidente arguido e seus companheiros de trafulhice, Quim Oliveira e "bigode" Teles. Nas suas palavras, era prática corrente o aliciamento de árbitros com o intuito de retirar benefícios desportivos e, sendo empresário de profissão, costumava afirmar que o futebol era pródigo em negócios por "baixo da mesa". Pelo facto de ser amigo de infância do meu Pai, talvez resida aqui a principal razão do meu progenitor ter perdido o encanto que nutria pelo futebol. Que fique bem ciente: o futebol movimenta milhões e paixões. Não se trata de fazer batota num joguinho de cartas ou desviar fundos da banca do Monopoly. Nos dias de hoje, o meu Pai vê futebol como eu vejo o Preço Certo. Com distanciamento.
Acredite quem quiser, mas penso que não deve constituir supresa para ninguém. Quem não conhece um vizinho, um amigo, um familiar mais ou menos distante que, de uma forma ou de outra, sabe de algum acontecimento relacionado com corrupção desportiva.
Infelizmente, sou levado a acreditar que o "polvo" tem tentáculos que esmagam a comunicação social e manobram, inclusive, indivíduos ou entidades com responsabilidades no País. Acompanhar o processo "Casa Pia" ou a operação "Noite Branca" é tomar consciência do rectângulozinho em que vivemos. Posso compreender a subida do preço do café. Do pão. Do gasóleo. Posso entender a lei da oferta e da procura e resignar-me perante a restrição orçamental. Mas, não posso aceitar, de maneira nenhuma, a lentidão e "cegueira" da justiça.
Por variadíssimos motivos, que não vale a pena estar a enuciar, há alturas em que desejava ter nascido italiano. O assunto futebol e tudo o que movimenta em sua órbita, representa uma razão válida. Em sinal de protesto, torno público que almocei uma pizza Napolitana e irei jantar um Tagliatelle com Gambas. A acompanhar, nada como observar o jogo de logo à noite, entre a Roma e o Manchester United. Com o esforço de todos, seremos um pouco mais italianos e, provavelmente, menos mafiosos.