28.4.13

LUGAR ONDE no BADALADAS - 19 ABRIL 2013



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UMA AVENTURA NO ORIENTE



                                                                                A LORCHA* MACAU



(*lorcha: embarcação com casco ocidental e velame oriental)

Vive em Torres Vedras um antigo comandante da Marinha de Guerra Portuguesa que prestou serviço em Macau há uns vinte e tal anos. Em conversa casual contou-nos episódios muito interessantes da sua estada naquele território. Chega a ser comovente o relato das missões de diplomacia cultural que levou a cabo através da "lorcha Macau". Esta pequena embarcação – pouco maior que uma traineira - navegou durante três anos nos mares do Oriente, levando a presença de Portugal a vários portos do Japão, Malaca e Índia (Goa, Damão, Bombaim...).O mais curioso é que essas viagens eram requeridas e acolhidas com entusiasmo pelas autoridades e populações locais que viam neste barco português uma evocação histórica dum passado que não renegam e que gostam de transmitir aos mais jovens. O Comandante Rui Sá Leal – é dele que falamos - lamenta a indiferença das autoridades portuguesas que pouco fazem para responder às solicitações dos povos orientais que não esquecem a presença dos portugueses. Claro que houve D. Francisco de Almeida e Afonso de Albuquerque - com acções devastadoras para imporem a presença portuguesa - e isso também não esquecem. Mas no deve/haver da História guardam pelos portugueses um sentimento especial. «Se lhes perguntarmos "porquê", respondem que os que vieram depois dos portugueses eram muito piores. Os holandeses... os ingleses...» - comenta o nosso Comandante, já aposentado, que nos mostra fotos e outras recordações de um tempo luminoso.




PORTUGUESES, OS PRIMEIROS OCIDENTAIS NO JAPÃO

                                                            
                          

                                             

Foi em 1543 que os portugueses chegaram ao Japão, faz agora 470 anos. Não ligamos muito a isso mas os japoneses não esquecem. Todos os anos fazem uma festa em Tanegashima, uma cidade do sul que se enche de milhares de visitantes. Chamam-lhe o Festival da Espingarda. Aí se recorda o primeiro contacto dos japonese com uma arma de fogo, facto que Fernão Mendes Pinto relata no  célebre livro «Peregrinação» (1614). 


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PRIMEIROS TIROS NO JAPÃO


Fernão Mendes Pinto, na Peregrinação, conta como o seu companheiro, Diogo Zeimoto, fez uma demonstração de tiro que espantou o chefe japonês (nautaquim):
«O Zeimoto, vendo-os tão pasmados e o nautaquim tão con­tente, fez perante eles três tiros em que matou um milhano e duas rolas; e, por não gastar palavras no encarecimento deste negócio e por escusar de contar tudo o que se passou nele, porque é cousa para se não crer, não direi mais, senão que o nautaquim levou o Zeimoto nas ancas de um quartau em que ia, acompanhado de muita gente e quatro porteiros com bastões forrados nas mãos, os quais, bradando ao povo, que neste tempo era sem conto, deziam:
   O nautaquim, príncipe desta ilha Tanixumá, e senhor de nossas cabeças, manda e quer que todos vós outros, e assi os mais que habitam a terra dantre ambos mares, honrem e venerem este chenchigogim (nome dado aos portugueses) do cabo do mundo, porque, de hoje para diante, o faz seu parente, sô pena de perder a cabeça o que isto não fizer de boa vontade.» (Peregrinação, cap. CXXXIV)



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A «PEREGRINAÇÃO»

DE FERNÃO MENDES PINTO
                               
«Além dos roteiros e itinerários, cujo valor é sobretudo documen­tal, oferece-nos o século XVI uma narrativa de viagens, de feição muito diferente: a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, obra em que o autor nos dá conta da sua vida de extraordinárias aventuras pelos mares e terras do fabuloso Oriente.
Nascido em Montemor-o-Velho, cerca do ano 1510, Fernão Mendes Pinto veio muito cedo para Lisboa, servindo vários amos, até que, em 1537, consegue, após várias tentativas malogradas, embar­car para a índia. Percorre os mares e terras do Oriente, onde é pro­tagonista das mais fantásticas peripécias durante vinte e um anos, no decurso dos quais foi treze vezes cativo e dezassete vendido como escravo. O seu temperamento aventureiro adapta-se a todas as situa­ções: é comerciante, mas transforma-se, quando necessário, em pirata; é soldado e marinheiro, mas também embaixador; de repente, vemo-lo entrar como noviço para a Companhia de Jesus impressionado com a vida de S. Francisco Xavier, a quem entrega uma grande soma para as suas missões no Japão, mas não chega a receber os votos definitivos e de novo se lança na aventura, ganhando e perdendo sucessivamente grandes fortunas. Com dois companheiros, Diogo Zei-moto e Simão Borralho, é dos primeiros Portugueses que chegam ao Japão, e aí ocorre o famoso episódio das espingardas, que adiante se transcreve.
Finalmente, em 1558, cansado da vida aventurosa e violenta, regressa pobre a Portugal, e fixa-se em Almada, onde casou e veio a morrer em 1583. Aí escreve o seu empolgante e humaníssimo livro, obra ímpar na nossa literatura, só editado trinta e um anos após a sua morte, facto que talvez explique certas negligências formais na sua contextura, aliás servida por um estilo rico de colorido e pitoresco.»
(Selecta Literária, Didáctica Editora, Lisboa, 1969)





13.4.13

PARA LER


Nuno Júdice, na LER deste mês,  parece responder ao que aqui se disse no post anterior. O escritor (também)deve escrever sobre o seu tempo.
A revista tem muito mais. Um bom trabalho intitulado "Nemésio por descobrir" e muitas recensões sobre novidades literárias. E não falta a "Pastoral Portuguesa" de Rogério Casanova, desta vez com um texto ignóbil intitulado "História paquidermicamente incorrecta da literatura universal". Não se pode gostar de tudo...