A política, ao contrário do que diziam os desiludidos da pátria nos finais do séc. XIX, não é a "grande porca". Ela é o mais nobre território do colectivo social porque é a organização da vida em comum. Alguém tem de se ocupar disso. E se são os menos aptos a fazê-lo é porque os mais aptos o permitem. E se estes o permitem por muito tempo, deixam de ser aptos porque se tornam ineficazes.
Penso nisto quando ouço as críticas ao actual governo. Elas tanto vêm da esquerda como da direita, o que pode significar uma coisa: este não é um bom governo para quem tem uma visão parcelar das coisas.
O grande problema é só um: o Estado não tem dinheiro suficiente para os encargos que todos nós lhe atribuímos e dele esperamos. E corta nas despesas. Só isso.
- Olha a novidade! Mas se não há dinheiro é porque o Estado não vai buscá-lo a quem o tem: os ricos, os bancos, as grandes empresas...
Pois é. Mas quem assim fala esquece que o problema central da sociedade capitalista em que vivemos é o de que o dinheiro não tem pátria, é volátil. Esquece que no tempo em que o dinheiro era físico, o rei podia tomar conta dele à força. Agora não. O dinheiro não existe, só existe o se estatuto social. Ele é um bem volátil, fugidio, que corre o mundo, em fuga, quando acossado por qualquer Estado.
Max disse com toda a razão: contra o capital sem pátria, só o proletariado internacionalmente organizado pode lutar. Fez-se a tentiva que, infelizmente, foi um fracasso.
Nas condições actuais Max diria: contra o capital sem fronteiras, só pode lutar um Estado dos cidadãos, também sem fronteiras. A União Europeia poderia ser o princípio disso mas os nacionalismos estreitos e curtos de vista não o entendem. Por isso ela não avança.
Sócrates governa bem?
Mas quem pode governar bem um país que estava à beira da bancarrota?
E depois da triste figura que fizeram Durão Barroso e Santana Lopes, depois da boa vontade generosamente inconsciente das consequências que foi Guterres, quem acredita que alguém da oposição possa fazer melhor?
Jerónimo de Sousa?
Marques Mendes?
Louçã?
Paulo Portas?
As manifestações são uma prova de cidadania e civismo. Mas alguém acredita que as suas razões se aguentam perante o estado a que chegou a nossa economia?
Os nossos gestores são um problema, é verdade. Mas que pode fazer o Estado? Mandá-los prender todos?
Isto não tem solução?
Se calhar não. Eu pelo menos não faço ideia nenhuma. E depois de ver o estrondoso fracasso da União Soviética - em que cheguei a acreditar, há muitos anos atrás! - não sei mesmo.
A não ser que se caminhe para o tal Estado Internacional dos cidadãos. E aqui já estou na utopia.
Pode ser que, daqui a 500 anos... ou mesmo 1000...