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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Elefantes Brancos (3): Um edifício sem função transformado em shopping


I
Concebido no âmbito do programa Polis do Porto o edifício foi inaugurado em 2001, para as comemorações da Capital Europeia da Cultura. O projecto, do premiado arquitecto catalão Solà-Morales, pretendeu rematar a ligação entre o arque da cidade e marginal da Foz. As ideias geraram um edifico longo e envidraçado, sem programa definido, protegido do vento e mar mantendo-se aberto à paisagem.
Miradouro desnivelado, conjunto de percursos, ou contentor espacial são várias das designações para o objecto construído. Com tradução do conceito de “avanço tecnológico”, “excelência” e “nobreza”, Edifício Transparente acabou por ser a designação oficial.

II
A diversidade de definições ilustra a dificuldade em reunir consenso quanto à função do edifício. De facto, até ser lançado um concurso de reconversão do espaço, o edifício transparente não foi mais do que 4 pisos de rampas à entrada de Matosinhos. Sem uso definido além de “marco visual” assim permaneceu até ao lançamento de um projecto de reconversão em 2007. Só após obras orçadas em 15 milhões de euros foi definido um uso para o edifício. Como galeria comercial de lojas e restaurantes, à beira mar, mediante concessão pública até 2024. Questionado se não estaria perante mais um shopping, Carlos Prata, autor do projecto, preferiu classificar o novo espaço como "concentração comercial".

III
A CMP tentou vender o edifício, em 2011, por 4.068 milhões de euros, mas a venda foi inviabilizada por se encontrar o mesmo em zona de domínio público marítimo. Este factor contribui também para alguns dos problemas actuais como a falta de estacionamento próximo e entraves patrimoniais a alterações mais profundas na estrutura, como o fechamento da fachada sul, mais exposta ao vento, ou a colocação de publicidade exterior. Questões a juntar à polémica de um edifício ainda incompreendido por quem o usa e por quem o pagou.

Manuel Rodrigues

Fontes:
JN – Jornal de Noticias 28.01.2009 e JPN – Jornalismo Porto Net 16.05.2011

terça-feira, 7 de junho de 2011

Elefantes Brancos (2): A Casa do Cinema que nunca foi usada


I
“O arquitecto fez uma obra bonita, mas esqueceu-se da sala de projecções” foi um comentário do realizador Manoel de Oliveira, na primeira visita efectuada à Casa do Cinema. Foi construída na Foz, entre 1998 e 2003, segundo projecto do arquitecto Souto Moura, no âmbito da Capital Europeia da Cultura - Porto 2001, e terminada com 2 anos de atraso. Com um custo inicial de 750 mil euros, é propriedade do município desde então. Após 8 anos permanece por inaugurar.

II
A história da Casa do Cinema vem do interesse do município em reunir o espólio do centenário cineasta num centro de documentação. Fitas, prémios e demais património cultural, propriedade de Manoel de Oliveira, seriam assim conservados num edifício público criado para tal.
O projecto, premiado e documentado, não respondeu porém ao programa. Dificuldades de diálogo ou problemas financeiros, as desculpas sucederam-se desde então perante os erros acumulados.
O acervo cedido pelo cineasta foi colocado, provisoriamente, num apartamento alugado pela CMP, para a sua catalogação. Desde 2005 a renda deixou de ser paga pelo município e passou a ser o realizador a custear a sua conservação.

III
Quanto ao edifico, permanece fechado e sem uso desde então. Construído numa zona residencial da Foz, situa-se escondido e isolado no centro do lote. Sem sinalética ou informação quanto à sua localização, é hoje apenas lugar de romaria arquitectónica, com claros sinais de degradação e vandalismo no exterior.
Para evitar mais degradação a Câmara Municipal do Porto propôs, em 2007, acolher na casa alguns serviços municipais, após algumas obras de remodelação. Os sinais de abandono permanecem inalterados.
O realizador homenageado recusou, em 2011, receber a “Chave da Cidade” no seu 100º aniversário. Argumentou a recusa pelos anos de “comportamento incorrecto” do município para com o seu espólio e para com a Casa do Cinema que nunca o acolheu.

Manuel Rodrigues

Fontes:
DN – Diário de Noticias 02.02.2007, JN – Jornal de Notícias 03.08.2007 e
TVI 31.03.2011

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