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segunda-feira, 13 de junho de 2022

O que é insegurança alimentar e como combatê-la?

Crédito da imagem: Shutterstock

Publicação compartilhada do site TECMUNDO, de 10 de junho de 2022

O que é insegurança alimentar e como combatê-la?

Por Jennifer Egues

Com as mudanças econômicas, sociais, climáticas e políticas, os índices de insegurança alimentar voltaram a crescer, tornando distante a possibilidade da diminuição ou erradicação da fome, má nutrição, ou mesmo da possibilidade de segurança alimentar, em 2030.

A falta ou dificuldade de acesso a alimentos, diminuição do poder de compra, da aquisição do mínimo necessário para manutenção de vida e de uma boa saúde, assim como a incerteza sobre conseguir ou não realizar nova compra, antes que esse alimento acabe, são alguns dos fatores que caracterizam a insegurança alimentar, que pode ser persistente ou temporária.

Os desafios são múltiplos e tão plurais quanto as culturas que existem no planeta. Dentro desses desafios, que já eram complexos, com a pandemia da covid-19, o número de pessoas malnutridas ao redor do mundo, subiu de 8,4%, em 2019, para 9,9% em 2020.

De acordo com a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), em números, ao menos 768 milhões de pessoas passaram fome em 2020, um acréscimo de no mínimo, 118 milhões de indivíduos, em relação ao ano anterior.

O que causa a insegurança alimentar?

Os fatores que desencadeiam a insegurança alimentar são diversos. E de acordo com a Feeding America, desemprego, pobreza, baixa renda, falta de moradias adequadas, doenças crônicas e acesso a serviços de saúde, além de questões sociais como o racismo, podem ser citados.

No Brasil, mais especificamente, fatores como abastecimento de água encanada, regionalidade, gênero e cor da pele da pessoa responsável pela renda, assim como a presença ou não de crianças no núcleo familiar, indicam maior ou menor risco de insegurança alimentar, de acordo com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (PENSSAN).

Como combater a Insegurança Alimentar?

As formas de combate à insegurança alimentar são diversas, e devem ser analisadas de acordo com o contexto do país. Mas dentro deste panorama, a FAO faz alusão a 6 alternativas para transformação dos sistemas alimentares, sendo elas:

Integrar políticas humanitárias, de desenvolvimento e de construção da paz em áreas afetadas por conflitos.

Aumentar a adaptação climática em todos os sistemas alimentares.

Fortalecimento da adaptação dos mais vulneráveis à adversidade econômica.

Intervir ao longo das cadeias de abastecimento alimentar para reduzir o custo dos alimentos nutritivos.

Combater a pobreza e as desigualdades estruturais, garantindo que as intervenções sejam inclusivas e em favor dos menos favorecidos economicamente.

Fortalecer os ambientes alimentares, e mudar o comportamento do consumidor, para promover padrões alimentares com impactos positivos na saúde humana e no meio ambiente.

Dentro dessas ações propostas, a FAO visa o trabalho constante para transformação dos sistemas alimentares, barateando custos de produção, e incentivando as pessoas, através da educação alimentar e social, a ter uma qualidade melhor de vida, garantindo acesso ao alimento de qualidade e em quantidade suficiente.

Mas essas ações são norteadoras e exemplificativas. Como dito anteriormente, as condições e contextos, seja cultural, social ou econômico, em que as populações de risco estão inseridas, merecem uma curadoria individualizada a fim de construir alternativas para o combate da insegurança alimentar de forma mais positiva, alcançando melhores resultados.

A insegurança alimentar é um assunto sério e emergencial, que precisa ser analisado, discutido e solucionado, evitando que esses índices se tornem ainda mais alarmantes nos próximos anos, e mais vidas sejam afetadas. O acesso a alimentação de qualidade é direito inalienável do ser humano.

Texto e imagens reproduzidos do site: tecmundo.com.br

sábado, 11 de junho de 2022

"Fome, uma triste realidade", por Luiz Thadeu Nunes

Publicação compartilhada do site SÓ SERGIPE, de 11 de junho de 2022

Fome, uma triste realidade
Luiz Thadeu Nunes *

Há dias que o via na porta da drogaria, próximo de casa. Precisei comprar medicamentos; estacionei, ele se aproximou, gentilmente pediu ajuda. Falei que na volta das compras lhe ajudaria. Feitas as compras, o vejo próximo ao carro, a esperar-me. Diz seu nome, tem 56 anos, aparenta mais de 70, fala que já trabalhou empregado, carteira assinada. Desempregado,  desfez o casamento, foi morar com a mãe com Alzheimer, um irmão que nunca se deram bem, foi empurrado para rua; dorme em diferentes lugares do bairro. No início achou que era humilhação, as forças acabaram, foi ficando, se entregando, se acostumando. Final de tarde, esperaria pela sopa que um grupo de espíritas distribui nas noites em dias alternados. Pergunto onde faz a higiene pessoal, suas necessidades primárias, abaixa a cabeça, conta que nos banheiros dos postos de gasolina e em alguns supermercado nas cercanias.

Em uma viagem à Índia em 2016, percorri boa parte do enorme e exótico país asiático; na estada em Mumbai, antiga Bombaim, capital econômica do país, conheci um jovem de uma casta, que nasce na rua, vive a vida toda na rua, e morre na rua. O jovem é um dalits; na sociedade indiana, são os intocáveis ou párias, aqueles que estão no mais baixo ponto da pirâmide social. São considerados “a poeira sob os pés de Brahma”, entidade divina dos indianos. Os dalits são responsáveis por realizarem os trabalhos impuros para as demais castas, como a limpeza de excrementos, ou lidar com cadáveres.

Situação caótica Imagem: Pixabay

Encontrei-o na saída do hotel no centro da barulhenta Mumbai; se aproximou com um olhar triste, balbuciou alguma coisa, que entendi que precisava de alguma ajuda, pois estendia a mão, linguagem universal. Acompanhou-me um pouco; em uma lanchonete próxima, entramos, sentamos, lhe paguei um lanche e soube um pouco sobre sua história. Tinha 32 anos, vivia nos arredores do aeroporto Maharashtra, na favela Dharavi, a maior da Ásia. Para os cinéfilos, foi na favela de Dharavi que filmaram algumas cenas de “Quem quer ser um milionário?”, do diretor Danny Boyle, ganhador do Oscar de Melhor filme e de melhor trilha sonora.

O jovem indiano falou da vida na rua: nunca dormiu numa cama, não fez refeições sentado à mesa, não sabe o que é um sanitário decente ou chuveiro.

A realidade do indiano é milenar, faz parte da cultura do país, tão diverso quanto exótico. Bem diferente da nossa realidade em que muitas pessoas estão sendo empurradas para as ruas das cidades brasileiras, deixando à mostra nossa desigualdade, escancarando nossa miséria. Em país rico como o Brasil, celeiro do mundo, um dos maiores produtores de proteína animal do planeta, exportamos para o mundo todo, não era para estarmos nessa situação.

O Brasil, de acordo com a Embrapa, é o maior produtor mundial de açúcar e café, o maior exportador de milho e o maior produtor de soja do mundo, responsável por 50% do mercado mundial desse grão.

É aviltante saber que 33 milhões de pessoas passam fome no país, segundo resultado de uma nova pesquisa sobre o tema divulgada na última quarta-feira, 08/06. Em 1993, eram 32 milhões de pessoas nessa situação, segundo dados semelhantes do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) —a população brasileira então era 35% menor que a de hoje.

O levantamento divulgado, chamado 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, foi feito pela Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional) e executado pelo Instituto Vox Populi.

A pesquisa mostrou que 6 a cada 10 brasileiros convivem com algum grau de insegurança alimentar. São 125,2 milhões de pessoas nesta situação, o que representa um aumento de 7,2% desde 2020 e de 60% na comparação com 2018.

O 2º Inquérito Nacional sobre Segurança Alimentar aponta que o maior percentual de pessoas em insegurança grave ou fome era entre quem solicitou mas não recebeu o auxílio emergencial aprovado pelo Congresso para o primeiro ano da pandemia (63%), seguido pelo grupo de quem sequer conseguiu solicitar o benefício (48,5%).

É vergonhoso, triste, decadente, cruel, inclemente vê o número de pessoas à margem da riqueza produzida por esse imenso país continental, abençoado por Deus e bonito por natureza, em que se plantando tudo dá, tendo que mendigar para sobreviver.  Estamos criando a casta dos dalits no Brasil. A fome mata vidas e a dignidade de um país.

Luiz Thadeu Nunes e Silva é engenheiro agrônomo, palestrante, cronista e viajante o sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 143 países em todos os continentes. É autor do livro “Das muletas fiz asas”.

Texto e imagem reproduzidos do site: sosergipe.com.br