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sábado, 3 de agosto de 2019

BBC Brasil ENTREVISTA Janaína Paschoal

'Não tem sentido colocar tanta coisa importante em risco para manter um estilo', 
diz Paschoal sobre retórica de Bolsonaro (Direito de imagem ALESP)

Publicado originalmente no site da BBC BRASIL, 03 de agosto de 2019

'Quero saber o que tem lá. Defendo a liberdade de informação', diz Janaína Paschoal sobre conversas hackeadas

Ricardo Senra - @ricksenra
Da BBC News Brasil em Londres

Janaína Pascoal (PSL-SP) se tornou uma das raras vozes dissonantes no PSL quando o tema são as declarações do presidente Jair Bolsonaro.

Ao se descolar dos colegas e apontar uma série de problemas na retórica bolsonarista, ela diz que quer conciliar e fortalecer o governo, "não destruir".

> As críticas de Bolsonaro que levaram à queda do diretor do Inpe, órgão que monitora desmatamento na Amazônia

> A disputa em Itaipu que quase levou a impeachment no Paraguai e preocupa o governo Bolsonaro

"É conselho, é pedido, é quase implorando, entendeu? Porque não tem sentido colocar tanta coisa importante em risco para manter um estilo."

Segundo a deputada estadual, "os comentários mais polêmicos" do presidente "estão prejudicando e podem começar a gerar instabilidade."

"Com essa sucessão de falas desnecessárias e desencontradas, ele coloca o governo em risco", diz a autora do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, em referência aos comentários de Bolsonaro sobre o pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, desaparecido na ditadura militar.

"O presidente vai ajudar muito a nação se deixar 1964 em 1964", diz a deputada. "Ao fazer um comentário absolutamente fora de contexto e desnecessário, (Bolsonaro) acabou transformando o presidente da OAB num marco da democracia", afirma, classificando Santa Cruz como alguém "muito controverso na própria advocacia" e que poderia não ter sido eleito caso as eleições da OAB fossem diretas.

Paschoal também destoa do entorno do presidente ao defender que os conteúdos divulgados pela Vaza Jato sejam apurados. "Vamos punir a quadrilha pelas interceptações ilegais, mas eu quero saber o que tem lá. Defendo a liberdade de informação".

Também defende investigação sobre Flávio Bolsonaro pela suposta realização de 'caixinha' com o salário de funcionários do seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), quando ele era deputado estadual.

"Não dá para esses fatos virem à tona e ficaram absolutamente alheios a qualquer tipo de apuração", diz.

"Quero saber o que eram aquelas movimentações, qual era o papel desse cidadão (Queiroz). Como quero saber qual é o papel dessa cidadã que trabalha ali no gabinete do André Ceciliano e porque o (Wilson) Witzel, que foi eleito no Rio de Janeiro com discurso antiesquerdista, anticorrupção, agora virou parceiro dele."

Em pé, Paschoal e Bolsonaro aparecem sorrindo durante evento que oficializou 
o nome dele na eleição de 2018, da qual saiu vencedor 
Direito de imagem FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL

Sobre a controversa indicação de Eduardo Bolsonaro à Embaixada do Brasil em Washington, Janaína Pascoal é clara quando questionada se o Senado Federal deveria barrar a vontade do presidente.

"Eu entendo que sim."

Leia a entrevista na íntegra.

BBC News Brasil - Qual foi a última vez em que a senhora bateu um papo com o Presidente da República?

Janaina Paschoal - Conversar, conversar, já faz um bom tempo. Mas encontrei o presidente em algumas solenidades, cumprimentei, conversei brevemente, como é possível em solenidades.

BBC News Brasil - Pergunto por que a última semana foi bastante intensa, gerou muitas manchetes negativas e queria saber se a senhora deu algum conselho para ele.

Paschoal - Não tenho esse acesso para telefonar e falar algo mais próximo, não tive esse contato com o presidente, não.

BBC News Brasil - Se tivesse, o que teria dito a ele?

Paschoal - Eu acho que o presidente tem acertado muito em termos de coordenação de sua equipe. Os ministros são muito competentes, ele têm um diagnóstico muito preciso de muitos dos problemas que o país enfrenta.

Mas, às vezes, o presidente é um pouco contundente demais nas suas manifestações, ou talvez não detalhe muito o seu pensamento e aí acaba gerando conflitos que poderiam ser evitados. Eu reitero um conselho que já dei ao presidente muitas vezes, seja pessoalmente ou pela imprensa, de zelar mais por essa maneira de se manifestar. Ele é muito apaixonado por algumas causas e isso pode gerar mal entendidos. Mas seria só um ajuste mesmo.

BBC News Brasil - Pergunto isso porque a senhora acabou se tornando uma figura especial dentro do PSL justamente por muitas vezes discordar. Defende pontos do governo, mas também critica quando acha que é o caso. Lembro de a senhora comparar PSL e PT, no sentido de que todos teriam que concordar com tudo...

Paschoal - Acho que são conselhos. O interesse de todos nós brasileiros é, ou deveria ser, que o país progrida, que o governo dê certo. O que falo é sempre com esse objetivo, conciliar, fortalecer, não de destruir. Agora, nem sempre essa intenção é compreendida por todos. Mas a gente tem que fazer aquilo que entende que é certo.

'O presidente conseguiu algo que acho que nenhuma outra pessoa conseguiria: 
transformou o presidente da Ordem em um ícone da democracia',
 diz a deputada estadual sobre Felipe Santa Cruz
Direito de imagem FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL

BBC News Brasil - Como viu, por exemplo, as declarações do presidente em relação ao pai do presidente da OAB? Como avalia e como vê a posição de Bolsonaro sobre a ditadura?

Paschoal - O presidente conseguiu algo que acho que nenhuma outra pessoa conseguiria: transformou o presidente da Ordem em um ícone da democracia. O presidente da Ordem é muito controverso na própria advocacia. Se a eleição para a presidência da OAB fosse direta, acho pouquíssimo provável que ele fosse eleito.

E o presidente, ao fazer um comentário absolutamente fora de contexto, absolutamente desnecessário, acabou transformando o presidente da OAB num marco da democracia. Então, veja, não teve nenhum efeito positivo nesse comentário dele.

É nesse sentido que a gente pede para que ele tome cuidados. Essa questão toda de 1964, eu falo: "Pelo amor de Deus, houve uma Lei da Anistia, essa lei foi duramente construída naquele momento histórico, vigora por longos anos, houve debate intenso no STF, os ministros em votos esplendorosos mostraram que a lei foi recepcionada pela Constituição de 1988".

Então, o presidente vai ajudar muito a nação se deixar 1964 em 1964 e entender que a Lei da Anistia é um documento que nos permite recomeçar. Toda vez que ele volta nesse tema, ele gera uma situação e nós caminhamos para trás. Está na hora de virar a página, já disse isso inclusive durante a campanha.

BBC News Brasil - Miguel Reale Jr, companheiro da senhora no pedido que levou ao impeachment de Dilma Rousseff, fez críticas duras. Disse que "Bolsonaro é caso de interdição e não de impeachment". Como viu o comentário?

Paschoal - O professor Miguel nunca gostou do presidente Bolsonaro, falou contra ele durante a campanha, teve embates com ele inclusive durante o processo de impeachment. Então, tem esse fator.

Agora, eu não posso deixar de reconhecer que algumas manifestações do presidente são absolutamente desnecessárias e prejudicam o próprio governo.

Não vou chegar ao nível de dizer que o professor Miguel está certo, não é isso, mas como alguém que quer que o governo dê certo, quer que o presidente entre para a história como um grande líder, eu peço pelo amor de Deus que ele reflita sobre estas muitas falas e atos, e que as pessoas que o circundam dele compreendam que não ajudam quando elogiam esse tipo de postura.

BBC News Brasil - A senhora fala de quem especificamente?

Paschoal - Pessoas próximas, sejam assessores direitos, sejam ministros, sejam parentes. Todas as pessoas que convivem com o presidente no dia a dia. Um bom assessor, um bom ministro, um bom parente, é aquele que aconselha, que chama a pessoa para a realidade. Essa dinâmica parece que são pessoas que querem destruir, não ajudar.

Eu fico preocupada porque vejo uma equipe excelente montada, foi uma conquista sem precedentes essa eleição - foi uma eleição extremamente democrática, foi o povo que fez a campanha dele, sobretudo depois do atentado - e com essa sucessão de falas desnecessárias, desencontradas, ele coloca o governo em risco. Isso não é bom para ninguém. Quem está próximo ali tem que se conscientizar que precisa mudar para o bem do presidente, da equipe, do governo, mas, sobretudo para o bem do país.

BBC News Brasil - A senhora falou em colocar o governo em risco. Risco de quê?

Paschoal - Se esses conflitos vão se somando, você gera instabilidades. O ideal é que o presidente, a equipe e todos nós trabalhemos para trazer estabilidade para o país. E se toda semana tem uma situação, um entrevero...

Veja, o presidente não precisa mudar em relação à sua personalidade, ao seu estilo. Ele é muito carismático. Não precisa ser uma pessoa que acorda no dia seguinte diferente do que sempre foi. Mas esses comentários mais polêmicos, voltar nesse assunto de 1964, essa insistência, isso está prejudicando e pode começar a gerar instabilidade.

Quando eu falo, não é crítica. A imprensa fala muito que Janaína critica Bolsonaro, Janaína criticou... Não é crítica, a gente quer ajudar.

Janaína Paschoal e Miguel Reale Júnior em sessão do processo de impeachment 
de Dilma Rousseff, em 2016; autores do pedido que tirou petista do
 poder têm opiniões diferentes sobre Bolsonaro
Direito de imagem MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

BBC News Brasil - Muita gente chama isso de crítica construtiva, é isso?

Paschoal - É, é, é conselho, é pedido, é quase implorando, entendeu? Porque não tem sentido colocar tanta coisa importante em risco para manter um estilo.

BBC News Brasil - A senhora recusou um convite do presidente para ser vice nessa chapa. Hoje, vê a decisão como acertada?

Paschoal - Difícil falar. Primeiro que foi uma decisão construída, houve muitas conversas, muita reflexão, avaliamos muito eu e ele e a equipe dele. Então, tem que deixar bem claro que não foi uma decisão como "Ai, a fresca não quer". Não é isso. Eu olho para trás e penso: "será que se eu estivesse lá, eu não poderia ajudar mais"? Por exemplo, dando esses conselhos diariamente, sabe assim?

Por outro lado, também tem um pouco de medo, porque, e se eles achassem que eu estaria falando para tirar o lugar dele, como às vezes acontece com o general Mourão? Então, acho que no fim tudo está como deveria ser. Acho que estou podendo ajudar o país a partir da assembleia aqui de São Paulo, uso a tribuna para me manifestar em temas estaduais, municipais, nacionais.

BBC News Brasil - A senhora acaba de pedir o impeachment do ministro Toffoli, argumentando que: "Detentor de inteligência rara, o ministro sabia que se prolatasse a decisão criminosa em pleito oriundo de um politico esquerdista, em poucos minutos, as ruas estariam repletas de manifestantes. a fim de neutralizar a resistência popular, o denunciado aguardou que chegasse as suas mãos um pedido perfeito, justamente o pedido atravessado em petição avulsa do filho do presidente da República, declaradamente direitista". O que embasa seu pedido?

Paschoal - Toda a estrutura de combate à lavagem de dinheiro no país é centrada na teoria do "Conheça o seu cliente". O gerente do banco tem que saber quem são as pessoas que movimentam dinheiro ali na sua agência e tentar avaliar se existe compatibilidade entre esta movimentação e a atividade do cliente.

Quando ocorre uma movimentação atípica, o banco envia uma notificação para o Coaf. O Coaf vai colecionando notificações. E quando percebe que houve lá, ou uma movimentação muito significativa, ou um conjunto de movimentações que, juntas, se transformam em algo suspeito, o Coaf envia isso ao Ministério Público, que faz uma avaliação e manda instaurar um inquérito, ou ele próprio passa a investigar.

Essa é a dinâmica estabelecida há anos. Toda a legislação de lavagem de dinheiro se construiu em torno dela, tratados internacionais foram assinados em torno dela. O ministro quebra essa dinâmica porque passa a impor a necessidade de decisão judicial para que o Coaf encaminhe essa decisão para o Ministério Público. Ao quebrá-la, fragiliza toda a sistemática de lavagem de dinheiro no país e prejudica as investigações dos mais diversos crimes.

O instrumento de combater a lavagem facilita não só impedir crimes econômicos, de corrupção de políticos, mas também crimes das organizações criminosas tradicionais, traficantes de drogas, pessoas, armas, órgãos. Ele mudou completamente a sistemática da prevenção ao crime no país. Suspendeu todas as investigações em curso que tivessem por base informações do Coaf ou da Receita. O impacto disso é inimaginável.

A Procuradora-geral da República Raquel Dodge foi muito hábil ao apresentar o embargo de declaração porque deu alguns exemplos de investigações prejudicadas, processos, por exemplo, contra o ex-governador Cabral, para a gente sair um pouco desse embate entre PT, PSL e tal.

BBC News Brasil - Ou processos relacionados ao PCC em São Paulo.

Paschoal - Sim. Então, chama muito à atenção a decisão do ministro. O nosso pedido de impeachment foi o terceiro. Houve um primeiro, apresentado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-RS) por um inquérito sigiloso que tramita no Supremo a mando do ministro Dias Toffoli e pelo recolhimento da revista Crusoé, que trazia denúncias contra ele.

Na sequência, veio o professor Modesto Carvalhosa, junto ao professor Laercio Laurelli, que apresentaram outro pedido de impeachment, este já denunciando essa última decisão do ministro, e aí chega o nosso.

Eu fui procurada pela Associação dos Promotores Pró-Sociedade, eles já tinham a ideia de apresentar, tinham uma minuta. Me enviaram, eu fiz alterações, eles leram, me devolveram, e ficamos uns 20 dias amadurecendo esta peça. São três pedidos na mesa do Senado e eu entendo que há elementos para iniciar esse processo, sim, como lá atrás eu defendi haver elementos para instaurar a CPI, que acabou recebendo o nome deselegante de CPI da Lava Toga. Porque infelizmente há muitas denúncias.

Com isso, não quero dizer que haja culpa. Mas não me parece adequado que uma autoridade se considere tão inatingível e intocável que não precise dar explicações e, pior, que possa usar o seu poder para calar os outros, que é o que está acontecendo, mediante esse inquérito sigiloso, a censura às revistas e a decisão para inclusive punir agentes da Receita que tenham ousado investigar agentes do Supremo.

Então, é uma dinâmica que vem num crescente de ilegalidades, de arbitrariedade, e me parece um dever fazer algo a respeito.

BBC News Brasil - Há no pedido de impeachment referências inclusive à esposa do ministro Dias Toffoli, que seria alvo de desconfiança por movimentações. A senhora acha que o presidente do Supremo legislou em causa própria nesta decisão?

Paschoal - O pedido da defesa do senador Flavio Bolsonaro era bem mais restrito do que foi dado na decisão. Ele não reclamou do Coaf ter mandado as informações, mas, segundo a defesa, eu não vi os autos, o Coaf teria ligado para as instituições financeiras. Então, eventualmente, o ministro poderia ter dito que as investigações não poderiam fazer parte dos autos.

Mas ele foi muito além, ele suspendeu as investigações referentes ao senador e todas as investigações em curso no país e, nesse conjunto, obviamente, as apurações referentes a essas movimentações de ministros. A própria, no caso dele.

É algo que assusta a cidadania. Não estou dizendo que há algo errado nessas movimentações, pode ser que não haja, mas assusta a cidadania quando uma autoridade usa o próprio poder para inviabilizar ou sequer dar uma explicação. Nesse ato está o crime de responsabilidade que enseja os pedidos de impeachment.

Em entrevista à BBC News Brasil, Janaina Paschoal justifica decisão 
de pedir impeachment do ministro e presidente do STF, 
Dias Toffoli (Direito de imagem REUTERS/ADRIANO MACHADO)

BBC News Brasil - A discussão sobre Flavio Bolsonaro, que foi quem levou esse pedido até o STF, acabou ficando em segundo plano. Como vê o caso dele especificamente?

Paschoal - Isso poderia ter vindo em um pedido do Lula, do Cabral do Aécio, do Flavio, de qualquer outro cidadão brasileiro. O problema não foi a pessoa. Foi pegar essa petição e aproveitar para encerrar tudo, inclusive o próprio procedimento de apuração. O que escrevemos no pedido de impeachment procede porque: quem são os defensores da Lava Jato e desse processo de depuração no país? São os direitistas. São os direitistas.

A gente só vê esquerdista brigando com Sergio Moro, desmerecendo a Lava Jato, dizendo que nada foi real, acusando.

Quando vem uma decisão dessas, que pode matar não só a Lava Jato, mas todas as outras apurações do país, em um pedido de uma pessoa que tem uma representatividade forte na direita - não estou nem entrando no mérito de ser filho do presidente - o que acontece? Congela os indivíduos.

Tem muita gente que está sem saber: e agora? Se eu critico essa decisão estou criticando o filho do presidente, o presidente. As pessoas muito misturam essas coisas. Por isso tento fazer uma análise distanciada olhando para a questão do ponto de vista jurídico.

BBC News Brasil - A senhora acaba de fazer uma distinção colocando a direita a favor da Lava Jato, a esquerda combatendo. Saindo da Lava Jato, falando sobre corrupção especificamente: o filho do presidente é investigado justamente por isso, por supostamente ter usado laranjas como a figura do Queiroz, que acabou ficando famosa, e tentaria dificultar com o pedido ao Supremo. Como jurista e parte do PSL, que acha do caso de Flavio Bolsonaro especificamente? Ele deveria continuar senador durante as investigações e elas estão correndo como deveriam?

Paschoal - A questão de ser senador é um assunto do Senado, é diferente de se ele fosse ministro. Sobre o ministro do Turismo, eu já falei várias vezes: tem que afastar. O que entendo é o seguinte... Não dá para esses fatos virem à tona e ficaram absolutamente alheios a qualquer tipo de apuração. Por outro lado, eu não posso deixar de dar razão à família Bolsonaro quando fala: "Poxa, mas por que só o Flavio?".

Só que, eu não penso assim: 'ah, como não estamos investigando os demais, ele também não pode ser investigado'. Eu penso o seguinte: vamos investigar o André Ceciliano também, o presidente da Alerj, que teve uma movimentação muito mais expressiva que a do Flavio.

BBC News Brasil - André Ceciliano, deputado do PT.

Paschoal - Isso. Eu acho que todos têm que ser investigados

BBC News Brasil - A senhora também quer saber onde esta o Queiroz, como muitos perguntam nas redes sociais?

Paschoal - Onde está o Queiroz não importa. Eu quero saber o que eram aquelas movimentações, qual era o papel desse cidadão. Como quero saber qual é o papel dessa cidadã que trabalha ali no gabinete do André Ceciliano e que o Witzel, que foi eleito no Rio de Janeiro com discurso antiesquerdista, anticorrupção, agora virou parceiro dele.

Então, como é que pode um cidadão cuja funcionária movimentou 40 milhões, caso do André Siciliano, ter sido eleito presidente da Alerj com o apoio do governador que disse que vinha para combater a corrupção.

Eu não passei por tudo o que passei para ficar calada diante de tudo isso. Desculpa, tem que apurar!

BBC News Brasil - Sobre a Vaza-jato, a autoridade da OEA para liberdade de expressão diz que percebe no Brasil um interesse de autoridades muito mais focado na origem ilegal dos conteúdos do que no mérito - ou aquilo que os conteúdos trazem. Concorda?

Paschoal - Eu procuro ser coerente. Quando começaram a vazar as delações, no auge da Lava Jato, alguns ministros queriam anular toda a Lava Jato porque as colaborações eram sigilosas e, por terem sido vazadas, e isso sendo ilícito, comprometeria todas as investigações. Eu me manifestei publicamente. Não, não. Se houve crime na quebra, puna-se quem quebrou, mas eu quero saber o que tem lá, quero saber o mérito das colaborações, não quero que isso seja abafado.

Aí vem a questão desse negócio do Intercept. Muita gente falou "Ah, mas foi quebra, foi criminoso". Tudo bem. Realmente é uma quadrilha, estamos vendo que é uma quadrilha, Vamos punir a quadrilha pelas interceptações ilegais, mas eu quero saber o que tem lá. Defendo a liberdade de informação. Não digo que não precise punir quem sai por aí vendendo serviço de invadir telefone alheio, mas eu prefiro saber o que tem lá.

É exatamente a situação do Supremo agora. Ontem, o ministro Alexandre de Moraes deu uma decisão encerrando apurações da Receita Federal referentes a 130 pessoas. Com certeza, em meio aos 130, muitos são inocentes.

Não estou dizendo que todo mundo ali é culpado. Mas chama muita atenção o ministro dizer que um auditor vazou dados e isso aí anula tudo, dar uma decisão para punir o auditor e para inviabilizar o acesso a este material. Eu sigo o mesmo raciocínio.

Paschoal destaca qualidade da equipe de Bolsonaro, mas teme impacto do 
estilo do presidente na estabilidade do país (Direito de imagem ALESP)

BBC News Brasil - Do que saiu até agora - das palestras do procurador Deltan Dallagnol às conversas entre ele e o então juiz federal Sergio Moro, algo incomodou a senhora?

Paschoal - Se você ler o livro que estou lendo, Os Onze, verá que as conversas do Dallagnol com o Moro não são nada perto das conversas entre os ministros do Supremo com procurador-geral da República, com advogados... Eu afirmo sem medo de errar: essas conversas não anulam nada. Zero.

BBC News Brasil - Quero saber como avalia essas conversas, independente de uma eventual anulação.

Paschoal - É o que acontece lá em Brasília, o que eu vou fazer? Agora, as palestras, não só as do procurador Deltan, as palestras de todas as autoridades precisam ser regulamentadas. Eu entendo que não dá para uma autoridade ou funcionário público ter uma atividade paralela à atividade pública que renda muito mais. Estou falando de todos. Há senadores já preparando projeto de lei para regulamentar essa situação.

BBC News Brasil - A senhora na posição deles teria tido conversas como aquelas?

Paschoal - Não, porque eu sou uma pessoa muito fechada. Eu não sou de ficar conversando. Tenho uma visão muito fechada do Direito. Não é só porque a gente não faz que a gente acha que o que o outro faz necessariamente é errado.

Eu sou uma pessoa muito conservadora no atuar como advogada. Agora estou afastada da advocacia, mas o fato de eu ser assim não me permite dizer que porque eles conversaram, eles são criminosos. Eu não costumo conversar com magistrados, tenho uma visão conservadora do direito e da maneira de atuar. Mas não posso querer que alguém seja como eu.

BBC News Brasil - O presidente acaba de indicar o filho a embaixador do Brasil em Washington, a principal posição da diplomacia brasileira no exterior. A senhora já se colocou contra. Acha que ainda há tempo de reverter esse processo?

Paschoal - Dá, sim, e acho que o presidente deveria reverter.

BBC News Brasil - Se ele não reverter, o Senado deve barrar?

Paschoal - Eu entendo que sim.

Texto e imagens reproduzidos do site: bbc.com

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Janaina: “Alguns bolsonaristas são tão cegos quanto todos os petistas”

A deputada Janaina Paschoal em seu gabinete na Alesp.

Publicado originalmente no site do jornal El País Brasil, em 25 de abril de 2019

Janaina Paschoal: “Alguns bolsonaristas são tão cegos quanto todos os petistas”

Deputada diz que não imaginava que dentro do PSL pudesse haver esquemas de laranjas e defende a candidatura independente, mas nega planos de deixar a legenda. “Todos os partidos acabam ruins”

Por Marina Rossi

Entre uma visita e outra em seu concorrido gabinete na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Janaina Paschoal (PSL), a deputada mais votada da história, recebeu o EL PAÍS. “Ainda vou conhecer o Jalapão e fazer rafting lá”, disse a uma das visitas que saiam pela porta. Em seguida, emendou: “entre, querida”, disse, convidando a reportagem e omitindo o adjetivo “amada”, seu generalismo favorito com o público no Twitter, onde tem mais de 460.000 seguidores. “Quer um chocolate? Eu não como, mas sempre tenho para oferecer a quem vem aqui”.

Ela conta que entra gente “o tempo inteiro” em seu gabinete. “A pessoa chega com um processo pessoal e acha que eu tenho que resolver, entendeu? E aí eu explico para a pessoa que eu nem posso me meter numa questão pessoal. Que o deputado resolve questões coletivas. Eu não posso me meter numa briga pessoal, entende? E é muito difícil, porque às vezes a pessoa pergunta: 'Então para que que eu tenho uma deputada?'. É como se a gente fosse um animal de estimação. 'Eu tenho uma deputada para isso…'. A gente gasta muito tempo atendendo as pessoas para explicar.”

Pergunta. A senhora não imaginava que o assédio como deputada poderia ser assim?

Resposta. Nesse nível não.

P. Mesmo sendo a deputada mais votada da história? Porque o nível de expectativa muda, né?

R. Essa cobrança pessoal, de coisas pessoais, eu não imaginava. Mas eu estou tentando criar um padrão. Às vezes eu vou lá em cima (na tribuna) e explico que não é assim, aí quem está assistindo, aos poucos vai entendendo.

Usando uma corrente dourada no pescoço, com um pingente escrito Fé, a advogada que escreveu o processo de impeachment de Dilma Rousseff vestia uma blusa vermelha, que ela garante ser peça única. “Eu gosto muito de preto e cinza, né? Só tenho esta vermelha”. Em sua sala, repousa sobre a mesa uma bíblia, nenhum porta-retratos ou enfeites. Em menos de dois meses de mandato, as peças pessoais que marcam seu gabinete são um quadro de São Jorge e um outro dela mesma, pintado com as cores da bandeira do Brasil ao fundo, ambos pendurados na parede.

P. A senhora cobrou, publicamente em sua conta no Twitter, o afastamento do ministro do Turismo…

R. Eu já falei em várias entrevistas, já falei para a bancada, já falei com o próprio ministro do Turismo. Só que aí eu não tenho poder. Eu falei para ele: “ministro, eu não tenho nada contra o senhor. Eu não conheço o senhor pessoalmente. Eu não conheço as mulheres [envolvidas], eu não tenho por que falar se o senhor é culpado, mas eu também não tenho como dizer que o senhor é inocente e todas essas mulheres são mentirosas. Por que então o senhor não se afasta, mostra essa inocência que o senhor está alegando e que pode ser que seja mesmo. Não quero ser injusta, sabe? Mas o senhor compromete o governo”. Mas ele acredita que se afastando ele vai estar assumindo a culpa. É uma mentalidade equivocada e que, de certa forma, era a mentalidade da presidente Dilma que eu sempre critiquei. As críticas que eu fazia naquele momento, eu faço neste quando elas forem cabíveis.

P. A senhora imaginava que pudesse haver casos como o das candidaturas laranja dentro do PSL?

R. Não. Eu imaginava alguma divergência de posicionamentos. Para isso eu já estava preparada (risos). Eu sei que tem muitos pontos em que eu penso diferente e eu sou muito respeitosa com o pensamento divergente, então tudo bem. Agora esse tipo de problema eu não imaginei.

P. Com todas as críticas ao PSL, a senhora pensa em sair e fundar outro partido?

R. Não. Eu acho que todos acabam ficando ruins.

P. Necessariamente?

R. Sim. Eu não vejo um que não tenha problemas graves.

“Não gosto muito dessa coisa de ser base ou oposição. Eu não tenho planos de deixar o PSL”

P. A senhora inclusive já disse que o PSL está cada vez mais parecido com o PT. Por quê?

R. Essa manifestação não tinha a ver com corrupção, porque eu acho que nada chega perto do nível que o PT alcançou. Foi por causa da interferência do presidente no preço do diesel. Essa questão intervencionista. E alguns bolsonaristas são tão cegos quanto todos os petistas, né? Não conseguem entender que você pode fazer uma ponderação sem querer destruir. Essa necessidade de defender todas as posições, de sempre ver o seu líder com razão…. isso é um comportamento muito petista. É muito ruim. E alguns bolsonaristas são assim também.

P. O PT não está no Governo desde 2016. Eu já vi algumas entrevistas a senhora dizendo que queria “livrar a sociedade do PT”....

R. Acho que faz tempo que eu não digo isso, né? Foi quando estava no meio do processo [de impeachment].

P. Sim. Mas hoje a sociedade está “livre” do PT no Governo.

R. No Governo, mas da mentalidade petista não.

P. Mas, na sua opinião, o que mudou depois que o PT saiu do poder?

R. Houve alguns avanços. Por exemplo, o encaminhamento dessa reforma da Previdência, que é muito necessária. Eu acho que vai ser a modificação, parece brincadeira, mas eu tenho essa convicção de que vai ser a principal reforma social que nós vamos fazer neste país. Porque essa aposentadoria das castas do funcionalismo público, inclusive dos políticos, são insustentáveis matematicamente. Então é uma reforma social que está sendo feita.

P. A reforma ainda caminha a passos lentos no Congresso. A senhora acha que vai passar?

R. Tem que passar. É matemática. Tem que passar.

P. Mas tem um jogo político.

R. Mas por isso que a gente tem que explicar que é uma reforma social. É uma reforma para o vulnerável. Tem cabimento o assalariado pagar INSS para pagar as aposentadorias de pessoas que ganham 40.000 reais por mês de aposentadoria? Tem que acabar com isso aí. É injusto! Então a apresentação dessa reforma, o ministro Paulo Guedes brigando por isso, é uma evolução sem precedentes. O Moro no ministério da Justiça, como ministro de Estado. Nos últimos anos, nós tínhamos advogados do presidente no Governo. O Moro é um ministro de Estado. Em nenhum momento ele faz defesa do presidente, ele está cuidando de uma política de enfrentamento à corrupção, ao crime organizado. Isso é uma evolução sem precedentes. O trabalho do ministro Tarcísio [Gomes de Freitas] é importantíssimo na questão da infraestrutura… Houve muita evolução. Eles estão debatendo questões que são próprias da democracia. Será que a gente precisa de tantos conselhos? Com tantos membros? com tanto peso em termos de valores? Será mesmo que home schooling é algo ditatorial, ou não é reconhecer que as famílias podem querer educar seus filhos de maneira diversa?

P. Mas e em relação à corrupção? O que mudou?

R. Melhorou 100%. A gente tem um episódio, que precisa ser esclarecido, do [Fabrício] Queiroz. Mas é anterior e não tem nada a ver com a presidência. Essa questão das candidaturas laranja, que eu desde o princípio pedi para que fosse esclarecida, que é da época da eleição. Você não tem nada, não tem um senão do período de governo do presidente. E todos os escândalos do Governo Dilma e Lula eram do período do Governo, tanto é que teve o impeachment. Então está muito melhor [agora].

“Se as candidaturas avulsas forem admitidas, eu vou avaliar ficar independente”

P. Sobre a atuação da senhora aqui. Faz um mês que a senhora tomou posse. Quais projetos apresentou?

R. Apresentei dois e uma emenda, que pode virar três, e estou para apresentar mais alguns. Um deles garante que a criança que faz o ensino infantil, e está capacitada para seguir para o fundamental, tenha o direito de progredir mesmo que ela não tenha seis anos completos até o dia 31 de março. Porque hoje, se ela faz aniversário até o dia 31 de março, ela progride. Se ela faz aniversário dia 2 de abril, a turminha vai e ela fica. É injusto! Apresentei outro projeto, que é a menina dos olhos, que garante às parturientes que querem fazer parto normal o direito à anestesia. Não é obrigar, mas a realidade das nossas mulheres do SUS é que elas imploram para serem anestesiadas e não são, porque não tem anestesia… Eu fui lá e vi que tem anestesia mas não tem quem aplique. Desculpe, mas as nossas mulheres não podem ser torturadas.

P. E as cesáreas?

R. Na rede pública existe o protocolo de que todo mundo tem que pelo menos tentar exaustivamente o parto normal. E a cesárea vai no caso de emergência. O que acontece? Mulheres que já estão com 40 semanas, ninguém discute que esse bebê está pronto, ficando 15, 16, 20 horas tentando um parto normal. Passa do tempo, quando a criança não morre, fica sequelada. Isso é fato. Acompanhei casos na condição de advogada e prometi a mim mesma que eu ia mexer nesse vespeiro. Eu já apresentei esse projeto. Fui no conselho regional do Rio, expus o projeto, debati com os médicos. Vou no conselho em São Paulo, estou falando com profissionais de saúde e da área de bioética, porque eu sou professora de bioética da USP.

“Se quiser criar uma categoria de mulheres trans, ótimo. Mas colocar numa competição de judô uma mulher trans e uma mulher biológica para lutar não é justo”

P. A senhora tratou também de mulheres transexuais?

R. Emendei o projeto polêmico do colega Altair Moraes referente à disputa nos jogos esportivos envolvendo mulheres transexuais. Ele tinha vedado a participação de mulheres transexuais e eu mudei a redação, mostrando que as mulheres transexuais têm todos os direitos iguais às mulheres biológicas, porém, quando o jogo depende de força ou de velocidade não é justo colocar uma contra a outra. É necessário que o sexo biológico seja levado em consideração. Se quiser criar uma categoria de mulheres trans, ótimo. Se quiser que em toda equipe tenha uma mulher trans, você vai até criar um nicho de trabalho, mas colocar numa competição de judô uma mulher trans e uma mulher biológica para lutar não é justo. De novo as mulheres vão ficar em terceiro plano?

Festas sem álcool e defesa pessoal para meninas

A deputada também prepara um projeto vedando completamente bebidas alcoólicas nas escolas e universidades. – Principalmente as festas open bar. Porque eu acompanhei muitos casos de as pessoas entrarem nessas festas, beberem até cair, praticarem atos ilícitos, serem vítimas de vários atos ilícitos e o ambiente escolar não é para isso.

Em outra ponta, a deputada trabalha por um projeto para que as aulas de educação física das meninas incluam aulas de defesa pessoal. Há outros planos a caminho, como uma emenda contra o aumento da verba de gabinete para veículos,  e um projeto para extinção de cargos na Assembleia. Empenhada em mudanças na Casa onde estreou, diz que não se interessa em se candidatar a prefeita no ano que vem.

P. A senhora repetiu algumas vezes já que não quer ser candidata a prefeita de São Paulo, apesar de ter sido a deputada mais votada da história…

R. Eu digo que não serei, não é que eu não quero.

P. Mas a senhora também dizia que não entraria na política…

R. Mas o problema da Prefeitura é que não tem a ver com o que eu preciso. Eu preciso falar. Na Prefeitura eu não tenho essa liberdade.

P. Mas e se o PSL quiser te lançar?

R. Não serei. Já tem uma colega que quer, a Joyce. Ela quer. Eu não quero. Eu não vou entrar nessa disputa só para ir contra alguém que quer.

P. E não tem a possibilidade de a senhora mudar de ideia?

R. Não. A Prefeitura vai me deixar amarrada. Eu não vou poder falar. Como eu vou poder me meter na situação do Supremo, como eu já tenho feito intensamente, sendo prefeita? Não dá. Eu preciso estar no Parlamento.

P. Durante a eleição, a senhora chegou a dizer que apoiava o Bolsonaro porque não queria o PT. A senhora entraria para a oposição se o Governo Bolsonaro te decepcionar?

“A Prefeitura vai me deixar amarrada. Eu não vou poder falar. Não dá. Eu preciso estar no Parlamento.”

R. Eu não gosto muito dessa coisa de ser base ou oposição. A gente tem que falar caso a caso. Eu não tenho planos de deixar o PSL.

P. Mesmo com as críticas que a senhora vem fazendo?

R. Não, porque para onde é que eu vou? Me aponte um partido que não tenha problemas. Se as candidaturas avulsas forem admitidas, eu vou avaliar ficar independente. Mas sair do PSL para ir para outro…. A não ser que eles me expulsem (risos).

P. O que a senhora avalia bem e mal até esse momento, do Governo Federal?

R. O que eu avalio bem? Primeiro que ele [Bolsonaro] é uma pessoa transparente, ele fala o que pensa mesmo quando a gente não concorda. Isso é um ativo pra mim. Eu gosto de pessoas transparentes, de pessoas sinceras. O ministro Guedes, o ministro Moro, o ministro Tarcísio. A própria ministra Damares [Alves], que é polêmica, mas tem pautas importantíssimas, como a questão do suicídio entre jovens. Acho que é uma mulher que tem uma individualidade, é forte, se impõe no que ela acredita. Não concordo com tudo, mas gosto dela. O que é ruim? Acho que o presidente, talvez por ser uma pessoa bondosa, tem dificuldade de demitir. Ele demora para tomar a decisão. Ele demorou muito para demitir o ministro da Educação. A própria demissão do ministro Bebianno, não vou entrar no mérito, mas foi uma coisa muito desgastante.

P. Acha que é uma questão de bondade ou falta de traquejo com o lugar onde ele está?

R. Eu acho que ele tem pena. Ele fica esperando que a pessoa tome a iniciativa. Acho que é bondade, mas tem hora que não dá pra ser bom. Quando você está num cargo público, não é nem bom nem mau, você tem que ser criterioso.

Texto e imagem reproduzidos do site: brasil.elpais.com

segunda-feira, 25 de março de 2019

Entrevista com a Deputada Estadual Janaina Paschoal


Publicado originalmente no site da revista Marie Claire, em 25.03.2019

Janaina Paschoal não descarta escrever um novo processo de impeachment: "Espero que não seja preciso, mas se for, a conversa é outra”

Por Natacha Cortêz 

Deputada estadual mais votada da história do país, a advogada coautora do impeachment de Dilma Rousseff acaba de tomar posse na Assembleia Legislativa de SP. Nesta entrevista, ela fala dos planos para o seu mandato, dos motivos que a levaram para a política e de suas ideias de feminismo - entre elas a de manter o aborto proibido no Brasil

Aos 44 anos, Janaina Paschoal já é, ainda que nos primeiros dias de sua estreante trajetória como deputada estadual, alguém que deixou marcas profundas na política brasileira. Como advogada, foi coautora do processo que culminou no impeachment da presidente Dilma Rousseff, em agosto de 2016. Como parlamentar, conquistou pouco mais de 2 milhões de votos em seu primeiro pleito eleitoral, se tornando a deputada mais votada da história. E não apenas do Estado de São Paulo, mas do país.

Janaina Paschoal em seu antigo escritório de advocacia, 
onde recebeu Marie Claire para esta entrevista 
Foto: João Bertholini

Paulistana do Tatuapé e filha de um representante comercial e de uma dona de casa, ela é a mais velha de quatro irmãos - todos, assim como a primogênita, se formaram em direito. Janaina seguiu na área criminal e até dezembro do ano passado dividia o escritório de advocacia na região da avenida Paulista com duas irmãs. Entre os seus clientes, esteve o socialite Chiquinho Scarpa. No entanto, neste momento não é ele que preocupa Janaina, e sim as vítimas de crimes sexuais que atendia: “Uma em especial está pedindo para eu seguir acompanhando o caso. Ainda não sei como vou resolver”.

Quando uma mulher está no palanque e mostra energia, está possuída. Olha o Lula: sempre que ia ao palanque as pessoas achavam lindo, porque ele , ‘ele é um animal político’

Janaina Paschoal

A ida para política, ela diz, foi uma forma de “encontrar um outro espaço para a minha manifestação”. Janaina, que também era professora no Departamento de Direito Penal da USP, se refere ao desconforto que sentiu pela “situação insuportável” instalada na universidade logo após um discurso pró-impeachment. Realizado em um evento no Largo São Francisco, onde fica o campus do curso de direito, ele foi filmado, viralizado e traduzido em meme por toda a internet. A forte repercussão do vídeo fez a advogada questionar a reação das pessoas para com as mulheres que chegam aos espaços de poder “Quando uma mulher está no palanque e mostra energia, está possuída, bêbada. Olha o Lula: sempre que ia ao palanque as pessoas achavam lindo, porque ele , ‘ele é um animal político’”, diz.

Diante da reação do público, enxergou uma oportunidade, “a de alcançar muita gente com as minhas ideias”. “Percebi o quanto grande foi o meu discurso quando até em uma viagem para os Estados Unidos me reconheciam na rua. Me paravam para um abraço e me dizer ‘parabéns pelo que fez pelo seu país’.”

Antes de tentar uma cadeira na Alesp, Janaina recusou o convite para ser vice na candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência da República. Para ela, família vem sempre antes e se mudar para Brasília poderia afetar o relacionamento com os seus, “seria um preço alto demais”. Além do que, “meu pai pediu para eu não ir”, diz. “Foi um negócio bem traumático no âmbito familiar. Tinham medo pela minha segurança.”

Nesta entrevista, a deputada fala dos planos para o seu mandato, de suas semelhanças com o presidente e de suas ideias de feminismo - entre elas a de manter o aborto proibido no Brasil: “Legalizar aborto diminui algo que é estritamente feminino, a maternidade”.

Marie Claire. Por que quis migrar para a política?
Janaina Paschoal. Na USP a minha situação estava insuportável, qualquer coisa que eu dissesse gerava reações por parte da chefia, colegas e alunos. Me sentia deslocada, isolada e confrontada. Percebi que se as coisas continuassem assim, ia ficar inviabilizada de me manifestar. Aí pensei: "se eu for parlamentar, vou ter o dever de falar" [risos], porque a palavra já diz, parlamentar. Fui então atrás de encontrar um outro espaço para minha manifestação. Mas não é uma decisão de mudança de vida, não tenho aquela convicção de "virou política, não volta mais".

MC. O processo de impeachment influenciou sua decisão?
JP. Não. Durante o processo inteiro eu tinha claro que não ia entrar para a política. O que influenciou foi a situação na USP.

Toda cidade que visitei ouvi: "Obrigada por ter livrado a gente do PT

MC. Você foi eleita com mais de dois milhões de votos. Foi o impeachment que te catapultou para essa eleição tão expressiva?
JP. Majoritariamente, sim. Toda cidade que visitei ouvi: "Obrigada por ter livrado a gente do PT". Nas ruas isso ficou claro. Mas acho que tem uma coisa da independência, é difícil no Brasil uma pessoa que fala o que pensa. A formação jurídica também tem um peso, as pessoas percebem que existe consistência. O fato de eu ter apoiado o Bolsonaro também, mas não foi a parte mais significativa. Muita gente me disse que não gostava do PSL.

MC. Você se diz feminista. O que uma feminista faz no PSL de Jair Bolsonaro?
JP. Olha, na verdade a Janaina foi obrigada a se filiar a um partido, porque nossa legislação exige. Eu sou uma defensora aguerrida da candidatura avulsa, que no Brasil é proibida, o que é um atraso em termos de democracia. Fui obrigada a escolher um partido como qualquer outra pessoa que pense em se candidatar é obrigada a fazer.

MC. E por que o PSL?
JP. Os demais partidos estavam muito envolvidos com escândalos de corrupção, então já fui excluindo, digamos assim, pelos escândalos. Os que não estavam, aqueles mais à esquerda, não tenho identificação com as pautas. O mais à direita, que é o NOVO, é um partido que quer explicar tudo pela economia, acham que privatizando tudo se resolve. Não penso assim. E dos candidatos à Presidência, Bolsonaro era o único que manifestava preocupações que também tenho.

MC. Por exemplo?
JP. A preocupação com a segurança pública. E com uma instrumentalização das crianças, para causas que não são das crianças. Muita ideologia dentro de escola primária, sabe? São coisas que me preocupam. E no trato que tive com ele, se mostrou menos machista do que meus colegas esquerdistas de universidade. Eu já ouvi na universidade, por exemplo, que uma mulher para subir na carreira acadêmica tem que sentar em colo de homem. E não foi um bolsonarista que disse isso.

MC. Quando e de quem ouviu isso?
JP. Tem uns dois anos. Não cabe aqui dizer de quem. É tão nojento, tão hipócrita esse respeito às mulheres que os esquerdistas dizem ter. As pessoa dizem "Bolsonaro é contra mulheres, os esquerdistas defendem as mulheres'. Não consigo ver dessa forma. Bolsonaro me tratou com respeito, em todos os sentidos, não só no campo sexual, de não fazer uma gracinha ridícula dessa, mas no respeito de discutir ideias. Me tratou de igual para igual.

MC. Não à toa, você foi cotada para ser vice dele. Acontece que recusou. Por quê?
JP. Foram vários fatores. Primeiro, eu não tinha disponibilidade de mudar para Brasília, minha família não poderia ir agora. Meu pai pediu para eu não ir. Ninguém queria, tinham medo pela minha segurança. Então esse foi o primeiro ponto. Propus para o presidente para gente fazer um núcleo do governo em São Paulo, onde eu ficaria como vice. Aqui na Paulista, inclusive, tem um escritório da Presidência da República. Mas a ideia não foi bem aceita pela equipe. Eu, de verdade, continuo achando que seria positivo.

MC. Por quê positivo?
JP. Você descentraliza o poder, tira um pouco de Brasília. E São Paulo é mais ágil, sob o ponto de vista econômico muita coisa acontece aqui. Acho que seria inteligente sob o ponto de vista de estratégia e segurança você ter o presidente num lugar e o vice em outro.

MC. Mas tudo isso era você poder estar em uma base em São Paulo. O que mais além dessa proposta não foi aceito pela equipe?
JP. Começou a vir crítica dos apoiadores dele ao convite feito a mim. Não me consideravam de direita o suficiente [gargalhadas]. Eu vivo esse meio do caminho. Apanhei muito na USP por não me considerarem de esquerda o suficiente. Quando acontece o convite para vice, não sou de direita o suficiente…

MC. Voltando para o feminismo: quais causas são mais caras para você?
JP. Acho importante a mulher ter protagonismo sobre o que faz. É muito comum ela se conformar com os bastidores. E acho que é culpa dela [risos]. Sou uma feminista rígida com a mulher.

MC. Por que é culpa da mulher?
JP. Porque se acomoda. Aceita fazer uma petição, e aí o "âncora" do escritório coloca o nome na frente, sendo que foi ela que fez. Isso quando o nome dela aparece. Dentro do escritório de advocacia, falo isso com conhecimento de causa. Geralmente a mulher faz as pesquisas, levanta toda a temática, escreve as peças, e o nome dela sequer aparece. Agora, por que isso acontece? Porque ela aceita. Não gosto de feminismo vitimista. "Ah, fizeram isso comigo porque eu sou mulher." Então, minha filha, vamos brigar! Porque é muito prático ficar protegida nos bastidores. É difícil estar no front. Você é acusada, toma pancada, é criticada.

MC. Como deputada, o que pretende fazer pelas mulheres?
JP. Em um primeiro momento garantir à mulher, que já está numa determinada fase da gestação, o direito de fazer a cesária se quiser fazer. Porque o que está acontecendo é uma crescentemente dessa ideia de que o parto normal é melhor que a cesárea, e muitas mulheres estão sendo obrigadas a fazer o parto normal.

MC. Mas o Brasil tem altas taxas de cesárea. É o segundo país que mais faz cesáreas do mundo.
JP. Estou falando de ideologia. A resolução diz que se a gestante chegar no hospital com 39 semanas já pode escolher fazer a cesárea. Só que na rede pública as coisas não estão acontecendo assim. Então é o seguinte: tudo bem, você quer parto normal, eu quero parto normal, direito nosso, mas a gente não pode impor nossas convicções para as outras.

MC. Recentemente você afirmou que a eleição de Jair Bolsonaro foi uma espécie de resposta da população. Resposta a quê?
JP. A um totalitarismo. Não é só o PT, é essa mentalidade de que ou você concorda ou você é inimigo. Tem que ser favorável à legalização do aborto, favorável à legalização da venda de drogas, tem que achar que Venezuela não é uma ditadura. Não vejo nada disso como progressismo; nenhum totalitarismo pode ser chamado de progressista.

MC. Mas a pauta do aborto, por exemplo, sequer foi tocada nos governos do PT.
JP. Olha, todo petista que conheço é a favor de liberar aborto. Mas talvez eu esteja falando do que vi na universidade, que é muito dominada pela esquerda. A pauta do aborto dentro das universidades é algo forte. E não é uma mera descriminalização, é a imposição, para as adolescentes, da ideia de que é um direito fundamental. É uma bandeira que desmerece a própria mulher.

MC. Por que desmerece?
JP. Primeiro porque as mulheres têm direito a nascer. Não é só menino que é gestado, né. E, segundo, que é tão interessante: legalizar aborto diminui algo que é estritamente feminino, a maternidade. Se você ouvisse os discursos... Gente que diz que o feto é como se fosse uma lombriga, um parasita, que a mulher vira hospedeira, que a gravidez é uma escravidão. Não sei até que ponto um discurso desse é positivo. Ele se vende como libertador, mas não é. É um discurso que desmerece aquilo que é essencialmente feminino, porque só a mulher pode engravidar. Só a mulher amamenta, só a mulher menstrua.

MC. Você então concorda que uma mulher seja criminalizada por abortar, como diz a lei brasileira?
JP. Acho necessário ter a proibição, ainda que a mulher não seja submetida ao processo por uma suspensão condicional como defendi lá no Supremo [Janaina discursou na ADPF 442, que discutiu a legalização do STF no fim de 2017]. Mas o que estou tentando dizer é que não sou alheia, não me fecho para o debate. O que me incomoda é esse mantra de que o aborto deve ser um direito fundamental, sobretudo quando professores falam isso em sala de aula para jovens de 17 anos. Já parou para pensar no que há por trás disso? Os lobbies das clínicas que querem se estabelecer aqui. É muito dinheiro e interesse econômico. Existe o interesse que as pessoas engravidem muito para poder fazer muito aborto. Essa informação é da ADPF, de um procurador que representava o Sergipe e trouxe esses dados.

MC. Mas temos uma questão de saúde pública aí. A cada dois dias uma mulher morre no Brasil em decorrência de um aborto inseguro. Como começar a resolver isso?
JP. O que me parece é o seguinte: o direito da pessoa nascer é constitucional, está previsto em todos os tratados internacionais. Quando eu era jovem e estava na faculdade, se falava muito de prevenção à gravidez. Pararam de falar nisso e só se fala em aborto. Precisamos voltar a falar em prevenção.

MC. Você tem amigos na esquerda?
JP. Sim. E família. Família petista roxa.

MC. E como fazem no natal, no ano novo?
JP. Não se fala de política. Não por mim, porque eu consigo conversar, mas eles não.

MC. Tem alguma pauta ou ideia de esquerda que você admira?
JP. Dizem que é de esquerda ser contra a diminuição da idade penal. Sou contra porque entendo que não vai ter eficácia nenhuma. Você só vai dar mão de obra barata para o crime organizado.

MC. E a liberação ou a flexibilização das armas, como defende o presidente?
JP. A bem da verdade é que nossa lei admite tanto porte, como posse. É que vieram vários decretos e resoluções tirando completamente isso. Eu entendo que a pessoa, cumprindo todos os requisitos, os exames práticos e psicológicos, tem que ter direito a ter arma. A proposta do presidente, e que endosso, é que você consiga o que já é direito.

MC. Você teria uma arma? Ou tem?
JP. De segurança a gente não fala.

MC. Já foi ameaçada?
JP. Muito, mas não gosto de falar disso. Nem disso, nem de medo.

MC. Na época do impeachment, por exemplo, houve ameaça?
JP. Muito. E durante, e depois, e recentemente. Isso que o Jean Wyllys diz que sofreu é fichinha perto do que passei. É muito estranho ele abandonar os eleitores e o país por causa de ameaça. Tem alguma coisa aí que precisa ser investigada. Por que ele não abriu mão de concorrer? Será que já não tava combinado isso?

MC. Combinado como?
JP. Dele garantir a cadeira pro PSOL e o suplente entrar. Isso é justo com o eleitor? O mesmo grupo que ameaça ele me ameaça. E eu não abandonei o mandado.

MC. Que grupo é esse?
JP. Realmente não quero falar sobre isso. 

MC. Vamos dizer que você está no seu terceiro mandato e, assim como ele, sente medo e recebe ameaças diárias, dirigidas não só a você, mas a sua família. Não seria compreensível pensar em abandonar a política?
JP.  Veja, todo ser humano é uma metamorfose ambulante. Então não estou dizendo que não seja possível. O que me intriga é: por que concorrer nesse contexto? É nesse sentido. Acho que tem que ser apurado a fundo o que aconteceu, para qualquer dos lados.

MC. Além da diminuição da maioridade penal, você e o presidente diferem em outras pautas?
JP. Cotas. Sou a favor de cota para negro em universidade. Negro com dificuldade econômica, na verdade. Então seria um duplo critério.

MC. E sobre as cotas para mulheres na política?
JP. Sou favorável às cotas para mulheres para as vagas eleitorais. Os 30% que já existem.

MC. Você disse ao presidente, em algum momento, que é feminista?
JP. Acho que não precisa nem dizer né, é só olhar para mim. As pessoas têm um conceito de feminismo que é distorcido. Fiz uma entrevista recentemente junto com a Joice [Hasselmann], e a jornalista perguntou se éramos feministas. Eu disse sim e a Joice ficou brava. "Você não é, você não é", ela falava. Expliquei: "Joice, eu sou, porque feminismo não tem nada a ver com esse estereótipo de querer fazer aborto, de tirar a roupa numa manifestação." Houve uma captura do termo feminista. O que é ser feminista? É você entender que a mulher tem que ocupar os espaços que merece ocupar, que ela não tem que se submeter a uma situação de subalterna por ser mulher. Isso não significa que ela tenha que ser agressiva, que não possa casar e querer filhos, que não possa querer uma vida familiar.

MC. Você perdeu a presidência da Câmara, para a qual concorria. Como se sente? Vai atrapalhar seu trabalho na Alesp?
JP. Vou te responder com uma história. Quando eu disse que ia concorrer, um monte de gente veio me dar recado, perguntaram se eu não aceitaria o cargo de vice. Respondi que podia até perder, mas concorreria à presidência. Por que a mulher tem sempre que aceitar ser vice? Me sinto pronta para trabalhar como me sentia antes.

MC. Você escreveria outro processo de impeachment?
JP. Ai, é tão desgastante. Mas acho difícil dizer não, sabe? Espero que não seja preciso, mas se for, a conversa é outra. O que te digo com tranquilidade é: adoraria que isso nunca mais fosse necessário. A gente quer que os governos deem certo.

MC.  Qual é o seu maior arrependimento?
JP. Não sou muito de me arrepender, mas fiz uma coisa que acho que foi loucura, até hoje acho que foi loucura. Não sei nem se é bom falar. Quando fui assaltada, lutei com o ladrão. Não entendo por que fiz isso. Foi em 2013. Ele estava armado. Eu dirigindo e ele queria entrar e me manter no carro.

MC. Em uma entrevista recente, você disse que o Brasil é de um machismo disfarçado. Quando esse machismo disfarçado te alcançou?
JP. Tenho vários exemplos. No escritório, clientes não se conformam com o fato de uma  advogada querer cobrar os mesmos honorários de um advogado. Na política: por que uma candidata mulher não pode ser olhada como uma candidata, pura e simplesmente? Isso me irrita. Então não posso opinar em temas que não têm nada a ver com mulher? Por que tenho que ter propostas só para as mulheres?

MC. As mulheres estão num momento emergente na sociedade. Elegemos mais mulheres no Congresso, tivemos uma presidente mulher, há mais mulheres nos espaços de poder. Talvez por isso faça sentido perguntar para mulheres sobre mulheres.
JP. Para mim é machismo, e extremamente ofensivo. Estudei lei penal, estudei violência, estudei prevenção, estudei um monte de coisa. Por que que as pessoas me perguntam o que que vou fazer pelas mulheres? Você senta com um político ou com um estudioso e pergunta "o que você vai fazer pelos homens"?

MC. Será que não perguntamos agora sobre as mulheres porque ficamos muito tempo as deixando em segundo plano?
JP. Não acho.

MC. Quero falar do seu discurso pró-impeachment na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Esse vídeo ganhou a internet. Foi parar em todos os lugares. E a partir daí, acontecerem memes, textos elogiosos e críticas. Nesse momento, chegou a sofrer de alguma forma?
JP. Quando uma mulher está no palanque e mostra energia, está possuída, bêbada. Olha o Lula: sempre que ia ao palanque as pessoas achavam lindo, porque ele , ‘ele é um animal político’. Mas pensei: se aquilo tudo estava acontecendo, algum motivo tinha. E o motivo foi que eu precisava alcançar muita gente com as minhas ideias. Por incrível que pareça, o vídeo ajudou.

MC. O que te levou a querer escrever o processo do impeachment? Quais foram as suas motivações? Por que quis seguir com oprocesso adiante mesmo com tantos nãos, mesmo de PMDbistas?
JP.  Eu só tive não. Mas queria, e quero, salvar o país de virar uma Venezuela. Meus motivos foram cidadania pura. Não foi vaidade. Muito pelo contrário.

MC. Quem é a pessoa viva que você mais admira no mundo?
JP. A resposta vai ficar estranha, mas é Jesus Cristo.

Texto e imagens reprodduzidos do site: revistamarieclaire.globo.com