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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022
O crime no comando
Publicação compartilhada do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 2 de fevereiro de 2022
O crime no comando
O servidor presidencial Bruno Bianco Leal, que não se perderá negando o que insinua o segundo sobrenome, no papel oficial de advogado-geral da União, apresentou ao STF “agravo regimental”, alegando “direito de ausência”. Certamente, sem querer, o douto funcionário definiu o estilo de desgovernar o País do chefe-mor, pois este abusa da ausência como ninguém o fez e dificilmente alguém o fará. Certo estará ele de que a dita Suprema Corte não poderá recorrer ao vulgar “sob vara” para submeter o número um a uma condução coercitiva.
Na prevista disputa de reeleições remota e recente, o presidente não precisa de mais nada para assegurar o direito de se ausentar do cumprimento do dura lex sed lex. Basta um voto, e ele tem dois no STF, para tornar a votação plenária exigida pela Advocacia-Geral da União (AGU) uma farsa sem dilema atroz. Se André Mendonça, primeiro a votar, pedir vista, dispensará o segundo, Nunes Marques, de prestar o mesmo inestimável e facílimo serviço sujo de protelar para o chefão ficar pairando sobre a lei, tal qual abutre sinistro.
Ao contrário de Dilma Rousseff, que perdeu a impunidade de monarca por brigar com o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o Caranguejo da Odebrecht, Bolsonaro instalou o que o professor da Universidade de São Paulo (USP) José Augusto Guilhon Albuquerque, no Nêumanne Entrevista no Portal do Estadão, batizou de “presidencialismo de orçamento”. Na farsa democrática, em que o presidente eleito legitimamente trata as instituições republicanas qual lixo tóxico, perde tempo o gestor público que tentar governar com planos e projetos. Basta destinar verbas bilionárias aos Fundos Eleitoral e Partidário e às emendas do relator e, assim, garantir o anonimato de seus beneficiários e a comunidade de interesses escusos na garantia da harmonia dos Três Poderes. Nesse sistema, como disse em outra entrevista no Blog do Nêumanne o deputado federal Julian Lemos, Arthur Lira não é base do presidente na Câmara, mas Bolsonaro sim é “base” do Centrão no Executivo. O resto é lorota para bovino dormitar. E, desse jeitinho, o crime, e não a lei, impera por aqui.
Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi.blogspot.com
quinta-feira, 20 de janeiro de 2022
Corrupção pega, vicia e arruína
Publicado originalmente no BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, em 19 de janeiro de 2022
Corrupção pega, vicia e arruína.
Presidente da perpétua república da corrupção impune se concretizará, se a polarização se confirmar na reeleição. José Nêumanne para o Estadão:
Há seis anos a república da impunidade reinante no Brasil sofreu profundo abalo com a consequência prática produzida pela adesão do País, governado em sequência por Fernando Henrique, Lula, Dilma Rousseff e, até certo ponto, Michel Temer, a acordos internacionais de combate à corrupção. A atuação de procuradores da Operação Lava Jato, juízes federais como Sérgio Moro e Marcelo Bretas e do Tribunal Federal da 4.ª Região, em Porto Alegre, levou a consequências inusitadas, como a prisão de um empresário tope (e torpe), a condenação do mais popular ex-presidente da República e penas de 400 anos para um ex-governador. A adoção da delação premiada, a permissão de condenação de réus, após a segunda instância, e uma onda de popularidade de agentes do Estado envolvidos nessa ação, contudo, não impediram a sabotagem de chefões partidários e funcionários dos altos escalões de polícias e tribunais superiores as destroçarem em três anos do desgoverno da extrema direita deficiente e delinquente. Hoje, a elite dirigente política nacional suspeita, processada, condenada e aprisionada pisa nos destroços desses esforços abandonados pela cúpula dos Três Poderes da República aviltada.
O ápice da vitória consagradora dos réus acusados e condenados em dois grandes processos julgados no Supremo Tribunal Federal (STF) é o processo eleitoral em trâmite das eleições gerais deste ano, em que se elegerá o sucessor no poder máximo. A julgar pelo que contam as pesquisas de opinião, Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente por dois mandatos e grande inspirador da titular eleita para mais dois, mas que perdeu metade do segundo num processo de impeachment baseado em mágicas fiscais de fazerem Houdini e Paulo Maluf corarem de vergonha por nunca terem chegado a tanto. O segundo candidato à reeleição propriamente dita, Jair Bolsonaro, como o oponente provável no segundo turno previsto pelas pesquisas, escapou de carregar capivara e prontuário na campanha, que promete ter nível abaixo da crítica, mercê do foro privilegiado propiciado pelo mandato presidencial. Assim como os filhos zero-zero-um, o Flávio, e zero-zero-dois, o Carlos. Mas, segundo revelou seu ex-segurança e tesoureiro, hoje deputado federal, Julian Lemos, no Nêumanne entrevista, publicado no sábado, 14 de janeiro, no Blog do Nêumanne no portal do Estadão, está longe de ter ser uma vestal grega.
Certo é que ambos estão cometendo crimes de várias espécies na disputa do pleito presidencial, a serem julgados na Justiça Eleitoral, embora seus doutos membros não pareçam muito dispostos a punir, em campanhas descaradas. Lula, por exemplo, recebeu apoiadores em jantar na semana passada, no qual um grande criminalista paulistano, o célebre Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, repetiu, só que agora de forma mais explícita e em tom mais candente, o lema que bem pode servir de base teórica, não apenas para a disputa atual, mas também para a terceira gestão dele e sexta do partido na república perpétua da corrupção legalizada: “O crime já aconteceu, de que adianta punir? (...) Que não se ache que a punição irá (sic) combater a corrupção”.
O interessante é que essa afirmação coincidiu com outra, feita pelo candidato oposto, Jair Bolsonaro, que acrescentou a suas mentiras proferidas em quantidade astronômica uma que pode ser encontrada em qualquer arquivo analógico: a de que jamais prometeu combater a corrupção. Como se houvesse outra explicação razoável para a escolha do ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, para seu governo, agora prestes a ter expelido outro apêndice, o discípulo do tirano chileno Pinochet, que anda por aí enrolando farialimers, para usar termo da moda no noticiário político e econômico da campanha, Paulo Guedes, ex-Posto Ipiranga, atual calo do liberalismo fake, no qual o sindicalista do soldo de caserna jamais foi sequer vendedor de feira livre.
O interessante nessas coincidências que fazem do bolsolulismo o produto em voga do mercado eleiçoeiro da república da corrupção perpétua é que a frase aplaudida com entusiasmo no palanque-banquete da prosperidade própria em nome do socialismo dos militontos também tem usufruto a peso de ouro nas motociatas abandonadas do fascismo de botequim da direita estupefaciente, cujo mito/minto nunca passou de um capitão-terrorista. As palavras do jurista favorito dos garantistas do STF, muito ao gosto do lulismo de militantos, cabem muito bem nos votos de solta-solta do general Gilmar, do extinto tucanismo de longo bico e ventre gordo, assegurando, em teoria, a passagem pelo segundo turno da polarização conveniente para a concessão quadrienal de indulgências plenas do reino do venha a nós e o resto que se dane, em cujo trono um se senta e o outro fica esperando a vez e ocupar.
Urge compreender que a corrupção da república perpétua só tem a oferecer fome, miséria e ruínas a quem não é convidado nem para lamber as migalhas do banquete exclusivo das elites dirigentes, do qual são excluídos aqueles que os carcarás perpétuos do “pega, mata e come” renegam desde sempre. E assim não seja mais!
Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi.blogspot.com
quarta-feira, 13 de outubro de 2021
Acordão geral pela impunidade de casta
Publicação compartilhada do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, em 13 de outubro de 2021
Acordão geral pela impunidade de casta
Uma das armas empregadas no cotidiano do conluio implícito entre os três Poderes que atuam de forma harmônica, mas contra o povo, é a transformação da Câmara dos Deputados, cerne da democracia representativa, em estuário do neocoronelismo partidário que torna representantes desse povo um polvo representativo de famílias, paróquias e bandos empenhados no enriquecimento ilícito e no poder absoluto de seus sócios. Avanços inseridos no aperfeiçoamento do sistema de escolha de seus membros, caso da cláusula de barreira, exigida em lei de 2017, são desprezados em nome de um “fortalecimento dos partidos”, que, na prática, funciona como financiamento por partilha. As conquistas do combate à gatunagem no erário, celebradas em acordos internacionais de compliance, estão sendo progressivamente despejadas no lixão da república dos compadritos com cínico discurso de desprezo ao moralismo dito udenista do verdadeiro republicanismo, ou seja, submissão à coisa pública.
O terrorismo legiferante protagoniza momentos de cega negação do espírito da Carta Magna na decomposição do fortalecimento constitucional do Ministério Público como única arma da cidadania contra os desmandos dos dilapidadores de verbas e conceitos de interesse popular. É a desmoralização da Operação Lava Jato, em particular, e das forças-tarefa, em geral, no uso de “provas ilícitas e imprestáveis” (apud Marcelo Knopfelmacher em entrevista no blog do Nêumanne no portal do Estadão) por hackers. Alguns destes, impropriamente tidos como “jornalistas”, são foragidos da lei em suas praças de origem, exemplo de desfaçatez. Com base nisso, o Supremo Tribunal Federal (STF) demonizou sentenças de primeira instância, confirmadas durante cinco anos em decisões, algumas unânimes, abandonadas em obediência a vogas, mas nunca a normas. A tentativa, ora bem-sucedida, de sentenciar crimes dos governos petistas, sob o comando do líder máximo, Lula, com absolvição do réu e punição para promotores e juízes produz efeito ainda pior ao subordinar o “quarto poder” da Constituição vigente em autorização da impunidade de suspeitos, acusados, réus, apenados e disponíveis com assentos na Câmara e no Senado.
Manobras de iniciativa da direita estúpida bolsonarista, executadas pela esquerda investigada, indiciada, autuada, processada e confirmada, obtiveram maiorias espetaculares nas duas Casas do Congresso para, em nome de sua atualização, tornar inócua a Lei da Improbidade Administrativa. O projeto, debatido em audiências públicas, da lavra do deputado Roberto de Lucena, foi reescrito pelo lulista Carlos Zarattini e aprovado às pressas para “passar a boiada”, magnífica metáfora do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, expelido da pasta pela participação em exportação ilícita de madeiras nobres, conforme denúncia da polícia norte-americana. Depois dessa ignomínia, seguiu-se outra com idêntico enfrentamento da vontade manifesta da Constituição, por projeto de autoria do também petista Paulo Teixeira, que torna o Conselho Nacional do Ministério Público mero serviçal de chefões do Parlamento. Ao reduzir a representação dos próprios procuradores e entregar cargos-chave aos politiqueiros dos plenários congressistas, a emenda constitucional entrega cadeado e chaves do galinheiro às mãos felpudas de raposas com mandato.
A ação é oposta a propostas que compõem reforma explicitada no livro Uma Nova Constituição para o Brasil, do jurista Modesto Carvalhosa. Tais como: fim do foro privilegiado; estabilidade nos cargos restrita a juízes, promotores, agentes da polícia judiciária, diplomatas e militares; criação de regime previdenciário unitário; primazia do direito público sobre o privado; e nulidade de leis aprovadas em causa própria em favor de agentes públicos, políticos e servidores, entre outras. Ou seja, tudo o que negue este golpe perpetrado no acordão geral pela impunidade total de malfeitores da política e da gestão da coisa pública, tratadas como propriedade privada de castas impostas pelos malfeitores da politicagem.
Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi.blogspot.com