Publicado originalmente no site JLPolítica, em 02 de outubro de 2018
Opinião - Por que votar é importante?
Por José Paulino da Silva *
Com as eleições previstas para o dia sete de outubro,
aproxima-se o grande momento do povo brasileiro escolher pelo voto livre, nas
urnas, seus candidatos à Presidência da República, aos Governos do Estado, ao
Senado, à Câmara dos Deputados e às Assembleias Legislativas de cada Estado. O
voto ainda é a arma mais poderosa que o povo dispõe para sair da situação
política e econômica em que o país se encontra: milhões de cidadãos e cidadãs
sem emprego e a economia do país em frangalhos.
Há dez anos, publiquei no Jornal da Cidade um artigo sobre
“o voto e suas consequências” - (30/09/2008). Vou repetir algumas ideias que
escrevi naquela data, por considerá-las atuais. “Uma eleição é o momento para
colocarmos na cena política brasileira pessoas que tenham capacidade de
governar e de legislar com honestidade, competência e justiça”.
Estas são qualidades mínimas que qualquer cidadão e cidadã
deve exigir dos seus governantes. De presidente da República a prefeito. O
filósofo e educador Rousseau (1712-1778) dizia que “nada mais perigoso do que o
poder nas mãos de quem não sabe usá-lo”. Por isso é importante advertir:
cuidado eleitor, antes de votar veja a quem você vai delegar poderes para
legislar e para nos governar!
Outra personagem, escritora cearense Raquel de Queiroz, já
dizia em 1947: “Numa democracia, o ato de votar significa fazer governo. Pelo
voto, não se serve a um amigo, não se combate um inimigo, não se presta ato de
obediência a um chefe, não se satisfaz uma simpatia. Pelo voto a gente escolhe,
de maneira definitiva e incorrigível, o chefe ou o grupo de indivíduos que vão
governar por determinado prazo de tempo”.
Votar não é só aprovar alguém, apertando um número na urna
eletrônica. No ato de votar devem estar expressos a vontade, a inteligência e
os sentimentos do eleitor. Um dos sinônimos de votar é “dedicar-se,
entregar-se, arriscar-se”. Sei que uma boa parte dos eleitores não tem este
nível de consciência do valor de seu voto. Mas a maioria já o possui. Votar é
ajudar a construir a democracia de uma nação.
Compra do voto - Há alguns anos, eu participava de uma
campanha em prol do ex-deputado Nelson Araújo, então candidato a prefeito da
cidade do Riachão do Dantas. Certo eleitor, de um bairro muito pobre,
aproximou-se do candidato com cinco contas de luz e de água atrasadas e
disse-lhe: “Troco por oito votos que tenho lá em casa. Se senhor pagar estas
contas de luz e de água, “os votos é do senhor””! Ante a negativa do candidato,
ele foi embora, certamente procurar quem fizesse aquela troca de votos por suas
contas de luz.
Sabemos o quanto ainda é danosa para a democracia a compra
do voto. Esta prática, que infelizmente vem de longa data, continua até nossos
dias. E o pior, sob as barbas espessas do sistema eleitoral. Vício danoso que,
além de aliciar o eleitor, desrespeita profundamente o cidadão. Um político que
compra voto, é uma espécie de marca de carro que sai da fábrica com defeito.
Ele traz na sua história o DNA da corrupção. É um corruptor.
É o tipo que o poeta Bertold Brecht chama de político lacaio
(que significa, sem dignidade, desprezível). Mesmo com a modernidade batendo às
portas dos centros urbanos, esta prática é resquício do coronelismo existente.
“Curral eleitoral”, “compra de voto através de cabos eleitorais”, “quanto custa
eleger um político?”, não são citações do passado. Nem são força de expressão.
São partes integrantes e bases de cálculos da contabilidade das campanhas
eleitorais. E repito: neste jogo, a peça mais cobiçada é o eleitor/cidadão que,
na lógica perversa dos candidatos sem ética, quanto menos esclarecido, tanto
melhor para ser comprado, ser enganado.
Tenho muita esperança que esta mentalidade um dia há de
mudar! Onde houver um debate de propostas, sempre está se dando um passo a mais
na consolidação do nível de consciência política. Mas não é qualquer debate.
Precisa ser um debate sem paixões, buscando pontes e soluções concretas.
Há de chegar o momento em que a sociedade deverá exigir dos
candidatos o conhecimento especializado sobre gestão pública e conhecimento da
história e da realidade sociocultural e política. Dos candidatos a cargos
eletivos não se exige nenhum preparo, nenhuma qualificação. Coisa que não
acontece com candidatos a cargos de qualquer área profissional.
O despreparo dos candidatos políticos ainda é uma das
maiores causas dos desgovernos dos nossos representantes políticos. Não se deve
apenas atribuir ao povo a péssima escolha dos seus governantes. Mas também ao
sistema político e legislativo, que não exigem qualificação dos candidatos. É
muito importante ainda lembrar que a cobrança aos candidatos que foram eleitos
deve começar logo que eles tomarem posse. Isto é, logo após a eleição!
* É professor emérito da Universidade Federal de Sergipe.
Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br