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"Meus gatos são uma inspiração diária e sempre me fazem rir", diz o criador de Simon’s Cat

A marca Simon's Cat chegou ao Brasil no início de maio (Imagem: Divulgação)


Ele não tem nome oficial, mas adora brincar, destruir a casa de seu tutor e fazer as mais divertidas peripécias para conseguir a atenção dele. Criado pelo britânico Simon Tofield, o personagem Simon’s Cat é um gato aparentemente comum - e, por isso mesmo, acaba entrando em situações para lá de hilárias. 

As aventuras do gatinho agora podem ser conferidas em português, já que o personagem desembarcou no Brasil no início de maio. Ele inclusive tem página oficial no Instagram: o perfil @simonscatbrasil já tem mais de quatro mil seguidores. 


O sucesso da marca fora da Inglaterra não é novidade para Simon Tofield - Simon’s Cat está presente em mais de 30 países. Só o canal no YouTube tem 4,7 milhões de seguidores, e seus vídeos juntos somam mais de 951 milhões de visualizações. Há ainda nove comic books publicados e outros produtos licenciados, como canecas, almofadas e até jogo para celular - Simon’s Cat - Crunch Time já teve mais de cinco milhões de downloads. 

A história de como o personagem surgiu é tão inusitada quanto suas aventuras. Em 2008, Tofield estava aprendendo a mexer em um software de animação quando decidiu elaborar um pequeno filme, com pouco mais de um minuto, feito como exercício durante o aprendizado. Uma empresa norte-americana viu a produção e pediu para publicar em seu site. Em pouco tempo, o desenho conseguiu 35 mil visualizações e acabou indo parar no YouTube sem o conhecimento do autor. 


Cat Man Do se tornou, assim, a primeira peça viral do que viria a ser a marca Simon's Cat. “Eu ainda não acredito que, quase 10 anos depois, as pessoas ainda queiram saber das palhaçadas dos meus gatos”, falou Tofield ao E+, caderno de cultura do jornal Estadão. 

Confira a entrevista completa.


Você sempre gostou de gatos?

Eu desenvolvi esse amor quando tinha nove anos. Minha irmã estava cuidando de um cavalo e eu encontrei, no fundo dos estábulos, uma ninhada de gatinhos de rua. Implorei para minha mãe por semanas para deixar que eu levasse um para casa. Ela acabou cedendo, e foi assim que Shelly veio para nós. Ela era bastante tímida no começo, já que não estava acostumada a ser manuseada. 

Você ainda tem gatos hoje? Pode nos contar um pouco sobre a personalidade de cada um? 

Nós temos atualmente quatro gatos na família felina Tofield. Temos a Maisy, uma gata malhada que é chefe da gangue e mantém todo mundo na linha. Depois temos o Teddy, de pelagem preta e fofa, que é muito afetuoso e adora carinho. Nossa última adição foi Poppy, uma mamãe gata pequena de pelo preto e brilhoso, que veio acompanhada de uma de suas filhas, Lilly, uma criaturinha malhada muito brincalhona. 

Já foi dito que a sua inspiração para criar as aventuras de Simon’s Cat foi um gato chamado Hugh. Isso é verdade? Ele foi a razão pela qual você começou a fazer as animações?

Hugh realmente foi a inspiração para Simon’s Cat e, infelizmente, ele faleceu há dois anos. Dez anos atrás, eu estava lutando para aprender sozinho a usar um software de animação quando decidi criar um filme pequeno para me ajudar a dominar a técnica. Enquanto eu estava tentando pensar em alguma coisa divertida para a história, minha mente continuava voltando para a manhã em que Hugh me acordou e ficou pulando em mim até que eu levantasse e fosse alimentá-lo. Achei que seria um filme bem engraçado para um projeto pequeno, mas nunca imaginei que seria um ‘hit’ e fosse fazer tanto sucesso com audiências do mundo todo! O primeiro filme, Cat Man Do, é basicamente um esfomeado Hugh e suas palhaçadas matinais. 


Simon's Cat é um personagem criado pelo britânico Simon Tofield. Ele se inspirou em seu gato, Hugh, para criar o primeiro vídeo da série (Foto: Divulgação)


Você teve outros animais? 

Sim, adoro animais. Então, ao longo dos anos, tive vários outros bichos, e alguns até fizeram parte dos meus desenhos. Um dos meus favoritos é Sweet Pea, um pequeno coelho anão holandês que influenciou a criação do personagem Dutch, que aparece em algumas produções do Simon’s Cat. Eu também gostava muito de tartarugas* quando era criança e, novamente, isso me influenciou ao criar os amigos do universo do Simon’s Cat nos livros. Quando eu era bem pequeno, tivemos um poodle preto chamado Marty. Ele era ótimo e cheio de energia. 

Todas as histórias são baseadas em experiências reais com seus gatos? 

Sim. Eles me oferecem um material muito vasto, já que estão sempre aprontando algo engraçado que me faz rir. Embora grande parte dos meus filmes seja feita a partir da minha imaginação, eu sempre tento colocar muito do que observo no comportamento felino. Adoro criar situações que temos certeza que um gato faria se ele pudesse, como usar um taco de beisebol para acordar os tutores! Acredito que essa mistura de imaginação com situações da vida real faz com que as pessoas reconheçam seus mascotes nos desenhos, criando uma conexão com Simon’s Cat e seu tutor. 

Tutores de gatos conseguem identificar facilmente a personalidade de seus animais e se divertem com isso no dia a dia. Você acredita que essa seja a razão pela qual tantas pessoas se interessam por seus vídeos e livros?

A internet pode testemunhar que as pessoas acham os gatos muito engraçados, e Simon’s Cat atingiu esse público em cheio. Acredito que um pouco do sucesso é porque as histórias são possíveis, já que foram baseadas na observação do comportamento felino. E também porque muitas pessoas gostam da comédia pastelão, com o gato atrevido e seu tutor sofredor! 

Você esperava que as aventuras do Simon’s Cat se tornariam um sucesso mundial? Como você se sente sobre isso?

Eu não tinha ideia quando criei meu primeiro filme, há 10 anos, de que ele seria tão popular. Ainda não acredito que, 10 anos depois, as pessoas ainda queiram saber das palhaçadas dos meus gatos. O que aprendi é que, não importa o país de origem, os tutores de gatos sempre conseguem se relacionar com as histórias e compartilhar conosco as próprias experiências. 

Simon’s Cat tem irmãos?

O personagem que é um gato filhote e aparece em alguns dos nossos filmes tem uma relação de irmão com Simon’s Cat. Mas a história é livremente baseada na minha relação com meu irmão enquanto estávamos crescendo. Por exemplo, o gatinho está sempre importunando o Simon’s Cat, mas, no fim do dia, ele ajuda o pequeno a sair de situações bem complicadas, como um irmão mais velho faria. 

Geralmente, quanto tempo leva para um capítulo ficar pronto?

Um único filme pode levar de seis a 10 semanas, dependendo da história e dos personagens envolvidos. Ao longo dos anos, o time que produz as histórias cresceu, então hoje somos 10 pessoas trabalhando na marca. Nós criamos mais de um grande filme preto e branco por mês e várias outras pílulas de conteúdo. 

O que podemos esperar do Simon’s Cat para os próximos anos? 

É realmente um período muito animado para nós. Chegamos ao Brasil e a recepção foi ótima. Estamos também desenvolvendo algumas séries com duração maior para continuar a expandir o universo do Simon’s Cat, com mais histórias divertidas e novos personagens. Eu ainda tenho muitas ideias para ele. Que venham os próximos 10 anos!

"Que venham os próximos 10 anos!", conclui Simon Tofield (Imagem: Divulgação)


Fonte: Estadão 


NOTAS DA NATUREZA EM FORMA:

1. Veja também: Sobre gatos e caixas 

*2. Sobre tartarugas, fazemos um adendo e lembramos: Animal silvestre não é pet! 

Aprenda a correr com o seu cachorro


Atividade física faz bem tanto para o tutor quanto para o cachorro, mas é preciso tomar alguns cuidados, pois cada animal se comporta de maneira diferente. Por exemplo, antes de começar a correr, é preciso verificar se todas as vacinas então em dia e qual quilometragem é indicada. 

“Atuando ao longo de 15 anos na área de acupuntura veterinária, percebemos que muitos cães acabam adoecendo ou desenvolvendo lesões severas por falta de informação dos tutores. A maioria dos animais chega ao consultório somente quando já apresenta um quadro patológico que poderia ter sido evitado por uma série de precauções simples tomadas antes, durante e depois da rotina de treinos”, alerta a veterinária Rika Yamane. 

A veterinária Alessandra Silvério acrescenta que a prática regular de atividade física traz benefícios à saúde do cão, como o controle do sobrepeso e do estresse. “Existem atitudes simples, atividades agradáveis, hábitos e cuidados que melhoram a saúde do cachorro e a qualidade do relacionamento com a família, prolongando a vida ativa e feliz do cão”, ressalta. 

Confira abaixo uma entrevista com Alessandra.

Antes de iniciar uma corrida com seu melhor amigo, o que deve ser feito? 

O ideal é caminhar um pouco para aquecer a musculatura e as articulações e até alongar, oferecendo petiscos para alongar pescoço, coluna e membros.

Quais os principais benefícios para o animal na prática da corrida com seu tutor? 

Melhora da capacidade respiratória e circulatória, prevenção contra a obesidade e as doenças consequentes, fortalecimento da musculatura, gasto de energia e maior calma em casa.

Quantas vezes por semana é possível levar o cachorro para correr? 

Depende do cachorro. Nem todos os cães nasceram para correr, enquanto outros precisam correr e gastar energia diariamente. O ideal é procurar um veterinário para orientar, examinar e dizer se o cachorro está apto. Se o animal estiver com um bom condicionamento físico, pode correr todos os dias.

Fonte: Estadão 

Foto: Reprodução


NOTA DA NATUREZA EM FORMA:

E nós reforçamos a importância da atividade física para os animais, tanto para sua saúde física quanto mental. Leia também:



"Colocamos nossos prazeres e costumes contra a vida e a liberdade dos animais", diz professor de veterinária

Renato Silvano Pulz, 49 anos, é autor do livro Ética e Bem-Estar Animal e professor 
de uma disciplina sobre o tema na Ulbra (Foto: Omar Freitas / Agência RBS)



Os animais não são como pensávamos. Eles sentem medo, sofrem dor, são conscientes, têm emoções, se estressam, desenvolvem problemas mentais. Têm mais em comum conosco do que se imaginava, conforme revelam cada vez mais estudos científicos. O dilema é que, se nossa concepção estava errada, isso significa que nossa atitude em relação a eles também precisa ser revista? Uma das pessoas envolvidas nesse debate é o médico veterinário e bacharel em direito Renato Silvano Pulz, 49 anos, autor do livro Ética e Bem-Estar Animal e professor de uma disciplina sobre o tema na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). Mestre e doutor pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Pulz concedeu entrevista ao jornal Gaúcha ZH. Confira.

Nos últimos tempos, pesquisas têm revelado fatos novos sobre a consciência e as emoções nos animais. Sabe-se, também, que eles sofrem de maneira similar aos humanos. A concepção sobre os animais mudou?

Em nossa sociedade, nós retiramos os animais da nossa esfera de consideração moral, assim como se fez no passado com os negros. O próprio Código Civil considera que eles são coisas. Por que posso vender um cavalo ou sacrificar uma vaca? Porque são minha propriedade. No passado, houve pensadores que tentaram defender os animais, mas não dispunham da comprovação científica de que os animais sentiam dor, tinham sentimentos, uma vida emocional. Há 20 anos, quando me formei em veterinária, praticamente não se dava importância à dor, aos sentimentos. Agora, há discussão sobre isso. Em 2012, veio a Declaração de Cambridge, assinada por neurocientistas e pelo Stephen Hawking (físico britânico que morreu em 14 de março), reconhecendo que os animais têm consciência.

O que quer dizer essa consciência?

Significa que o animal sabe o que está acontecendo ao seu redor; tem percepção de si e do ambiente. O cachorro, por exemplo, ao ver o tutor pegar a guia, sabe que é hora do passeio, ou seja, ele tem memória, identifica objetos, símbolos, palavras, tem pensamentos em relação ao futuro. Não é uma simples coisa, inerte, como uma mesa. E não são só instintos, eles têm linguagem, inteligência e flexibilidade comportamental. Apenas algumas espécies conseguem se reconhecer no espelho, que era um teste famoso para determinar a consciência. Mas esse teste passou a ser questionado. O cão é muito mais olfativo do que visual. Ver uma imagem no espelho talvez não faça diferença, o que importa é o cheiro. Ele sente o cheiro e sabe que não há outro cachorro ali. 

Isso representa, do ponto de vista científico, uma mudança de concepção sobre os animais?

Totalmente. E a Declaração de Cambridge foi muito importante. Philip Low, um de seus autores, observou que, a partir daquele momento, surgiam implicações éticas importantes. Enquanto tu não assumes uma coisa, fica fácil fazer de conta que ela não existe. Mas no momento em que há provas e a ciência reconhece, fica mais complicado, por exemplo, usar ratos em um experimento sem fazer uma consideração sobre isso. Costumo levar essa discussão para a sala de aula, porque é comum o fenômeno chamado de especismo seletivo. Enxergamos que um cachorro está feliz ou triste, mas da vaca, do porco e da galinha ninguém se lembra. Ponho vídeos de cavalos e vacas brincando, de aves se divertindo, porque eles também ficam tristes ou alegres.

Viver em cativeiro para produção de leite e carne gera impacto emocional nos animais?

Com certeza. Foi isso que se começou a pensar. Por isso, surgiu a ciência de bem-estar e o conceito das cinco liberdades: de dor e de doenças, de fome e de sede, de medo e estresse, de desconforto e para se expressar o comportamento natural. Um cavalo gosta de pastar, estar solto no campo com outros cavalos. Mas nós o criamos em um jóquei-clube, por exemplo, onde ele fica preso 24 horas dentro de uma baia, só saindo dali para treinar na pista. Quando fazemos isso, restringimos sua liberdade. É o cachorro dentro do apartamento, o suíno na pocilga, a galinha na gaiola do aviário. Criamos o ambiente, a dieta, o comportamento, a genética, tudo artificial. Se pudéssemos perguntar ao cachorro do que ele gosta, ele ia querer ficar solto, correr atrás de outros cães. Restringimos essa liberdade.

Os animais são tratados como produtos?

Sim. O animal foi objetificado ao longo da história. Seu valor é atribuído em função de sua utilidade, inclusive podendo ser descartável. A ideia de que o homem é superior colocou-o num plano inferior, coisificando-o. Isso justificou moralmente seu uso ao longo da história, até os dias de hoje. Mas como podemos usar o animal como uma coisa, se ele não é uma coisa, se há provas científicas em contrário? Estudos mostram aves fazendo testes que só crianças a partir de cinco ou seis anos conseguem fazer. Os analgésicos e anestésicos que usamos na veterinária são os mesmos que usamos em humanos, porque os mecanismos de dor são semelhantes. 

Além do abate, quais são os estressores aos quais os animais estão submetidos na pecuária?

O transporte, o manejo violento, o confinamento, o isolamento, a superlotação. Há a questão do ambiente artificial. Vamos ter porcos e vacas criados em piso de cimento, o que causa lesões crônicas nas patas. E a impossibilidade de manifestar comportamentos naturais. A galinha gosta de ciscar, de subir em poleiro. No momento em que ela não pode fazer isso, começa a ficar neurótica, a adquirir comportamentos estereotipados. Existe também o problema da dieta artificial, com ração, que gera problemas digestivos, diarreia, cólicas. A genética artificial é causa de uma série de doenças. 

São animais com problema de saúde mental?

Com certeza. E essas alterações de comportamento são indicadores de redução de bem-estar. 

O senhor citou a escravidão dos negros no passado. É possível fazer uma analogia entre ela e a situação atual dos animais?

Essa analogia é muito usada pelos defensores dos direitos dos animais. Na história, houve a coisificação dos negros, eles eram explorados como uma coisa, tinham um dono. Dizia-se que o negro não tinha inteligência, para que se pudesse usá-lo. É parecido com o que se fez com os animais, para justificar o uso sem culpa. 

As pessoas acham impensável comer carne de cachorro, mas não de vaca, porco ou galinha. É por causa do vínculo emocional?

Sim, identificamos “um outro” nos animais de estimação. Mas, em palestras, gosto de mostrar que vacas, cavalos e galinhas não são diferentes quanto à dor. Peter Singer, um dos primeiros a escrever sobre o problema, nos anos 1970, conta que foi a um evento internacional de proteção animal e houve um churrasco depois. Ele questionou: “Não tem algo errado aí?”.

Quando apareceu, Peter Singer se mostrava preocupado em evitar o sofrimento animal. Hoje, já não se fala só em evitar esse sofrimento, mas também em assegurar que o animal tenha uma vida significativa. Houve uma evolução no pensamento?

Sim. Com o livro Libertação Animal, Singer focou principalmente o sofrimento. Depois, nos anos 1980, Tom Regan, no livro Jaulas Vazias, defendeu o direito de os animais terem uma vida por si só, não serem apenas um meio para o homem. Então, dentro da ética animal, há duas correntes. Uma, identificada com a obra de Singer, vai se esforçar para reduzir e eliminar o sofrimento. Ou seja, numa criação de suínos, a preocupação vai ser que eles fiquem em áreas livres de gaiolas, que o piso seja de terra, que eles possam expressar seu comportamento, que estejam livres de dor, medo e maus-tratos. No entanto, continuam sendo usados para consumo humano. Essa é a teoria do bem-estar animal. A outra corrente, originada de Regan, é a dos direitos, que vão além da proteção contra maus-tratos. Defende que os animais têm direito à liberdade, à integridade física e psicológica, à vida e de não serem explorados*.

Essas preocupações éticas vão impactar nossa vida?

Acredito que sim. A reflexão promoverá mudança de comportamento. Mas as dificuldades são conhecidas, e uma das maiores é a questão econômica, o argumento dos empregos gerados e do impacto no PIB**. Outra forte dificuldade é a questão cultural, o antropocentrismo.

Nosso modo de vida, há muitos milênios, se vale do trabalho e da proteína animal***.

Exatamente. E isso foi construído, um legado histórico e cultural. Em um determinado momento, isso foi importante, hoje pode ser opção. Falo com tranquilidade, porque minha história foi como a da maioria das pessoas. Eu comia churrasco, já gostei de rodeio, usei animais em experimentos no mestrado e no doutorado, trabalhei em jóquei-clube com cavalos de corrida. Não enxergava problema, achava normal. Quando comecei a estudar o assunto, me dei conta: “Olha só, estou indo à faculdade para anestesiar, operar e salvar cães e gatos, mas no almoço como uma vaca. Qual é a lógica?”****. Caiu a ficha.

O senhor se tornou vegetariano?

Sim. Antes eu nem pensava nisso, mas quando comecei a estudar o assunto e fazer esse raciocínio, há uns 10 anos, tomei uma decisão ética. 

Na medida em que as pessoas ganhem familiaridade com informações sobre o sofrimento e a vida emocional dos animais, também terão de enfrentar esse dilema?

Sim. Mas existe um fenômeno que os psicólogos chamam de dissonância cognitiva, que é justamente não pensar sobre um assunto que incomoda. Tenho amigos que são muito ligados a cães e gatos, como se fossem filhos, mas não chegam a pensar nisso, preferem não falar. 

Como veterinário, o senhor também mudou?

Completamente. Por oito anos, fui chefe da veterinária em um quartel onde os cavalos ficavam presos 24 horas por dia em uma baia de concreto - hoje, eu não conseguiria trabalhar com isso. Questionei minhas próprias crenças. Uma vez, em um congresso, passaram um documentário sobre pecuaristas que viraram ativistas***** e aquilo bateu forte, senti uma culpa enorme de só ter me dado conta do que fazia aos 42 anos de idade. Realmente, acho que as sociedades do futuro vão olhar para trás e dizer: “Nossa, que barbaridades eles faziam com os animais. Como é que foi aceito isso?”.

O que o senhor acredita que vai acontecer com o consumo de carne?

Vai ser um processo muito longo, 100, 200 anos, talvez, mas vai mudar. Se pensamos no direito, vemos que começaram a se fazer reflexões – em relação ao deficiente físico, à criança, ao negro, à mulher, à diversidade sexual. É um processo. 

No limite, qualquer exploração do animal seria antiética?

Se tu fizeres a consideração de que ele sofre, tem vida emocional, dignidade, qualquer tipo de exploração será antiética. O uso da empatia coloca em xeque muitas práticas.

O que o senhor considera mais imediato fazer?

Há uma grande discussão em torno desse ponto. O movimento abolicionista não aceita qualquer tipo de exploração animal, enquanto quem aceita a teoria do bem-estar acredita que isso não vai acontecer agora, então seria melhor buscar um meio-termo e fazer o máximo para evitar o sofrimento, como leis contra os maus-tratos, criação de animais soltos e abate humanitário. Na década de 1990, Tom Regan e Peter Singer fizeram um debate sobre isso em Salvador. Regan defendeu as jaulas vazias, a abolição total delas, nos zoológicos e na pecuária. Singer dizia: “Enquanto a gente não tiver jaulas vazias, podemos ter jaulas mais espaçosas”. A isso, Regan respondeu que, enquanto aceitarmos o uso de animais com criação orgânica, com práticas de abate humanitário, não acontecerá crítica e reflexão. As pessoas continuarão confortáveis. 

Nessa discussão, como ficam os animais domésticos, os pets?

Eles já ganharam um status diferenciado, são quase membros da família. Mas também há desafios. O grande risco, e realmente acontece, é atribuir a eles vontades e hábitos que são nossos: dietas e rotinas humanas, como passar o dia dentro de apartamento. Eles são animais gregários. Há animais de estimação com problemas de comportamento por causa da ansiedade, porque estão confinados ou isolados, sem convívio social. Os distúrbios são comuns. Correr atrás do rabo, latir para a porta, roer os móveis, fazer feridas por lambeduras******.

Medicamentos são testados em animais, com a justificativa de que isso salvará humanos. Isso é questionável?

Temos uma ética utilitarista, a do bem maior. Aceitamos o uso e o sofrimento dos animais por considerar um mal necessário, pois acreditamos que haverá um bem maior em relação à saúde humana. Já a ética deontológica vai defender que quando uma coisa está errada, não tem como justificar com um bem maior. A sociedade aceita a ética utilitarista*******. 

Qual a situação de animais que desprezamos, como baratas e mosquitos?

Em princípio, a ciência dizia que só os vertebrados tinham capacidade de sentir dor, e, algumas espécies, uma vida emocional mais complexa. Nos anos 2000, identificaram características de consciência em outras espécies. Mas, em relação aos critérios dor e sofrimento, se aceita uma divisão imaginária entre vertebrados e invertebrados. 

E o mosquito que transmite uma doença?

Se estou preservando a minha vida, a do meu grupo ou a da minha espécie, vou ter de tomar uma medida que não vai ser boa para o mosquito. 

Esse argumento não pode ser usado também por quem defende o consumo de carne?

Estou há 10 anos sem comer carne. O ser humano não precisa da carne. Há grãos que a substituem. Essa é a questão: a situação extrema, de vida ou morte. Essa poderá justificar moralmente uma prática que cause dano ou sofrimento a outro. Uma ponderação de direitos. Mas as nossas relações com os animais, via de regra, estão longe disso. Em geral, é a vida e liberdade deles versus nossos prazeres e costumes. 

Fonte: Gaúcha ZH


NOTAS DA NATUREZA EM FORMA: 

*1. O bem-estarismo (leia-se galinhas criadas "livres de gaiola" e "abate humanitário") são falácias propaladas pela indústria da carne para fazer as pessoas continuarem comendo animais mortos sem culpa. O que nós, da causa animal, lutamos é pela completa libertação animal, conforme também defendia Tom Regan. A crueldade continua existindo na criação "livre de gaiola" - leia aqui. Quanto ao "abate humanitário", veja o documentário A Carne É Fraca, do Instituto Nina Rosa, todo filmado em matadouros que se orgulham em se dizer adeptos dessa prática. Assista ao filme e saiba como são esses assassinatos bondosos. 

**2. Sobre um possível impacto negativo na economia que o fim da indústria da carne poderia causar, lembramos que ela alimenta, anualmente, cerca de 70 bilhões de animais para abate, que consomem metade de toda a produção de grãos do planeta - enquanto isso, existem 850 milhões de pessoas passando fome no mundo. Se essa produção de grãos fosse destinada para seres humanos, faça as contas, não haveria fome no mundo (e não, não seriam os animais de abate a morrer de fome, pois eles nem iriam nascer). Quanto à água, mais de 50% de todo o consumo de água doce do planeta é usado pela pecuária. Apenas cerca de 6% é consumido nas cidades e residências. Para se produzir 1 kg de carne bovina, são necessários 15.500 litros de água. Para se produzir 1 kg de batata, são necessários 800 litros de água. Ou seja, a água, um recurso natural vital que está se tornando escasso, está sendo consumida praticamente toda pela indústria da carne. Além disso, a pecuária é responsável por 80% do desflorestamento no BrasilO suposto crescimento econômico gerado pela pecuária favorece apenas os pecuaristas. Seu fim prejudicaria a eles - quanto aos trabalhadores (que, a propósito, também são explorados e até escravizados nessa indústria), teriam muito mais opções de trabalho na agricultura. Leia aqui sobre outros impactos desastrosos da indústria da carne (e quando falamos carne, não é apenas bovina, são de todos os animais criados para abate) no planeta.

***3. Veja A proteína animal e a saúde e leia 7 maneiras como a proteína animal pode prejudicar a sua saúde. Quanto ao "trabalho" animal, lembramos sempre: eles não são escravos. Os humanos que usem mão de obra humana remunerada ou maquinária. 


*****5. Leia:





******6. Em um mundo ideal, todos os animais deveriam ser livres na natureza, até mesmo os atualmente (e desde há muito tempo) domesticados, como cães e gatos. Acontece que, com a urbanização, hoje é impossível que esses animais vivam soltos pelas ruas, com seus incontáveis riscos: de violências, acidentes e contágio de doenças. O correto em relação a cães e gatos é acolhê-los em casa (adotar) e tutelá-los (não somos donos dos animais de estimação, e sim tutores), o que significa guarda (e não posse) responsável, ou seja, cuidar desses animais fornecendo-lhes abrigo, alimentação, cuidados médicos, lazer e amor, até o fim de suas vidas naturais (eutanásia apenas em último caso, assim como com os humanos, quando não houver mais como proporcionar qualidade de vida ao animal ou amenizar sua dor - em um quadro de doença grave ou ferimento. Há pessoas que já sacrificam o animal porque ele está velho ou com alguma doença perfeitamente tratável. Repudiamos veementemente tal atitude). Cães devem ser levados para passear ao menos três vezes por dia, na guia, e gatos não devem ter acesso à rua (a não ser por motivos de mudança de endereço, viagem ou ida ao veterinário, o que deve ser feito dentro de caixa de transporte própria para gatos), e sim mantidos dentro de casa, com todas as janelas teladas. Sim, parece uma prisão, infelizmente. Mas a alternativa para esses animais seria viver nas ruas das cidades, que oferecem muito mais perigos do que benefícios para a integridade física deles. Para zelar pelo bem-estar psicológico dos bichos, aqui entra a parte do lazer que citamos. Leia os textos: 





Psicóloga escreve livro sobre crise existencial experimentada por veganos


Em um mundo pautado pelo abuso e morte de bilhões de animais, a psicóloga australiana Clare Mann identificou um fenômeno que denominou de “vistopia”. Segundo ela, trata-se de uma crise existencial experimentada por veganos que surge a partir da conscientização de que vivemos em um mundo com a onipresença da exploração animal, em uma distopia moderna.

Clare escreveu um livro sobre o assunto chamado Vistopia: A Angústia de Ser Vegano em um Mundo não Vegano. Ela também oferece dicas de comunicação para que veganos possam conscientizar outras pessoas em um aplicativo chamado Vegan Voices (um vídeo gratuito com essas dicas pode ser visto aqui, em inglês) e é editora-chefe da revista Ethical Futures. Nesta entrevista exclusiva concedida à Agência de Notícias de Direitos Animais - Anda, Clare explica como a psicologia pode ajudar os ativistas e aborda ferramentas estratégicas de comunicação. Confira.

Como e quando você começou a defender os animais?

Tornei-me consciente sobre a crueldade contra animais em matadouros há cerca de 40 anos, na década de 1980, quando li um livro de Bob Geldof (a autobiografia Is that it?). Foi tão terrível que parei de comer carne vermelha, mas gostaria de ter feito mais perguntas. Ao longo dos anos, fiz avanços graduais para o veganismo. Há 10 anos, soube sobre os porcos criados pela pecuária na Austrália. Tornei-me vegana e ativista ao mesmo tempo, me juntando a vários grupos, e comecei a falar em nome deles.

De que forma a psicologia pode ser aplicada ao ativismo?

A psicologia fala muito sobre pessoas, e o ativismo pelos direitos animais se trata de convencer outras pessoas a mudar. Conhecer os diferentes estágios dos indivíduos, grupos e sociedade como um todo é muito importante. Assim, você é capaz de trabalhar com atitudes, emoções, trabalhando tanto a lógica quanto as conexões emocionais. E conhecer esses estágios e escolher uma informação para comunicar de maneira que as pessoas façam boas perguntas e digam: “Conte-me mais”. Trata-se de também entender um indivíduo e como as pessoas mudam, como as influenciamos. Como fazer com que elas ouçam, se comprometam para que vejam as imagens e vídeos terríveis de crueldade e não saiam correndo. Queremos que elas fiquem perturbadas e furiosas para que não sintam vontade de fazer parte disso. Se não compreendermos como a mudança ocorre ou a resistência que as pessoas têm – o mecanismo de defesa –, elas irão culpar as outras por lhes contar isso em vez de ficarem indignadas com o que ocorre atrás de portas fechadas. Em um nível social, é muito importante entender que as pessoas pertencem a grupos e compreender como esses grupos e as normas são formados e como as pessoas querem se encaixar.

É importante entender a pressão dos grupos, familiar ou social. No nível social, alguns modelos parecem nos ajudar a entender que as pessoas têm níveis de consciência diferentes. Algumas passam a vida olhando para além delas mesmas e não querem destruir o meio ambiente. Outras são muito individualistas e há diferentes modelos para tentar compreender isso, em como podemos nos comunicar e ser ativistas. A neurociência mostra que as mudanças no fluxo sanguíneo e na atividade elétrica cerebral deixam as pessoas calmas e relaxadas ao invés de agitadas e bravas. Nós, ativistas, estamos em um estado agitado e de indignação e, quando tentamos falar sobre isso e culpamos ou envergonhamos as pessoas, elas bloqueiam o fluxo sanguíneo no cérebro. Elas começam a atacar a outra pessoa, mas se você apresentar o assunto de outra forma, elas serão capazes de discuti-lo.

Quais os principais desafios desse trabalho?

Um dos principais desafios é a dor que os ativistas pelos direitos animais sofrem ao saber o tamanho do problema. Diante da resistência à mudança, um ativista fica enraivecido e frustrado, e começa a odiar as pessoas. Ele odeia o egoísmo das pessoas que não querem mudar. Outro fato desafiador é o grau elevado de emoções e princípios diferentes dos ativistas que geram discussões em nossos grupos. Esse é outro desafio, que não nos voltemos uns contra os outros, mas que fiquemos unidos.

Quais são os erros de comunicação mais comuns cometidos por ativistas?

Em primeiro lugar, o estado emocional deles e, em segundo, a raiva e o ressentimento que culpam as pessoas e seus hábitos de consumo. Um fato que precisamos entender é que se ativistas culpam pessoas que não sabem sobre isso, eles perdem a oportunidade de fazer as pessoas se importarem com isso. Outro erro comum é contar para as pessoas em vez de engajá-las com eles. É preciso compreender o que uma pessoa sabe, seu nível de entendimento e de mudança, em vez de falar para as pessoas que elas fazem parte disso de um modo muito confrontante, sendo que elas nem sabiam sobre isso - é muito importante ser colaborativo e engajar as pessoas, saber o lugar onde elas estão, lhes fazer perguntas em vez de culpá-las. Isso não apenas faz com que as pessoas fiquem na defensiva. A neurociência nos diz que, quando as pessoas sentem que não estão sendo julgadas, elas tendem a fazer questionamentos. No ativismo feito nas ruas, também acho muito importante dizer “isso é o que não sabemos” em vez de “isso é o que você não sabe”.

Você poderia dar alguns exemplos de estratégias de comunicação eficazes que os veganos podem utilizar para conscientizar outras pessoas?

É fundamental saber técnicas para momentos muito emocionais e com opiniões muito diferentes. Escute o que as pessoas têm a dizer, faça perguntas como “o que você quer dizer?”, “você pode falar mais sobre isso?”. Fale “o que você parece estar dizendo é..”, e então coloque isso em suas próprias palavras para que ela possa entender o que iremos relatar. Pergunte para as pessoas o que elas acham que veganismo é. Muitas não sabem, fale que é um estilo de vida sem exploração animal. Um dos erros comuns é que ativistas não sabem o contexto dessas pessoas, eles não lhes fazem perguntas. Há também a palavra 'nós'; frequentemente as pessoas dizem “você não sabe que animais vivos estão sofrendo”, e a pessoa fica na defensiva. É melhor quando dizemos: “Temos sido enganados, e quando eu descobri a realidade, fiquei horrorizado. Posso lhe contar a realidade?”. 

Outro fator são as brechas, que podem ser a justiça social, a saúde, o meio ambiente, normas sociais. Escute atentamente e então comece a fazer perguntas e lhes contar sobre o abuso e extinção dos animais, os cosméticos, os plásticos nos oceanos e a indústria de laticínios, que é terrível. Discuta sobre a economia, oportunidades de trabalho e as pessoas que passam fome no mundo porque animais são alimentados com o que poderíamos dar para elas. Essas brechas são muito poderosas. Quando perguntamos para as pessoas se podemos dizer a elas o que queremos, duas coisas acontecem: elas sentem que têm a escolha de dizer não, mas também sentem que não estão ouvindo um discurso.

Essa parceria não envolve a culpabilização. Sempre penso que quando as pessoas dizem “não quero ver as imagens” é porque elas sentem uma emoção tão intensa que não podem estar nesse estado de vulnerabilidade. Pergunte a elas: “O que você acha que terá de tão terrível no que vou mostrar?”. Há pessoas que trabalharam em matadouros e diziam que são só animais e saem da indústria e se tornam ativistas. Nós queremos que elas sintam a emoção e mudem seus comportamentos, e fazemos isso ao nos tornarmos parceiros delas, envolvendo-as. Quando lhes fazemos perguntas, podemos posicionar nossa resposta.

Quando eu fazia ativismo nas ruas, uma pessoa disse: “Você devia se preocupar mais com crianças do que com animais”. Eu respondi: O que faz você dizer que devíamos nos preocupar mais com pessoas do que com animais?”. Eu queria saber se ela era religiosa, envolvida com direitos humanos, alguém que não percebia a conexão entre o abuso de animais e a fome no mundo, problemas ambientais etc. Eu falei: “É muito importante defendermos todos os seres vulneráveis. Defender os animais e expor o que está acontecendo atrás de portas fechadas é uma das melhores coisas que podemos fazer pela saúde, consciência e pelos químicos e farmacêuticos que acabam nas dietas das pessoas e as deixam doentes. Esses animais são inocentes, não têm voz e defendê-los é o melhor que posso fazer pelas pessoas”.

Seu novo livro aborda um conceito chamado vistopia. Você poderia explicar o que é e como identificou isso?

Sou psicóloga há mais de 30 anos e tenho visto um número crescente de pessoas se tornarem veganas. Milhares falam sobre a dor que eu sinto. Eu sabia que era o momento de encontrar uma palavra que sintetizasse a complexidade de ser vegano e um ativista pelos direitos animais e o trauma. Decidi criar uma palavra para explicar para as pessoas a imensidão do veganismo. Vistopia é a conscientização e a angústia emocional de descobrir a sistematização da crueldade em nossa sociedade. Essa angústia se intensifica quando contamos às pessoas e há uma colisão com o que eu chamo de mundo “vistópico”. Sabemos que um mundo utópico é um local de felicidade e liberdade, já uma distopia é um mundo sombrio, cruel, com totalitarismo.

Acredito que quando os veganos se tornam cientes da crueldade deste mundo e que é desconhecida pela maioria das pessoas, ocorre uma crise existencial. As pessoas pensam “tudo o que eu pensava ser verdade não é”, e elas questionam a integridade dos outros, elas veem as corporações, as mentiras dos governos, a corrupção, os farmacêuticos… A pessoa que sofre de vistopia percebe que não se trata apenas de saber sobre a crueldade, mas de lidar com um mundo vistópico, e essa é a angústia dos veganos. Eu queria ajudar os veganos, e meu novo livro fala sobre a extensão disso e será uma ferramenta poderosa que as pessoas podem dar às outras para explicar que isso não se trata somente dos animais, é um problema muito maior derivado disso.

Como os ativistas podem se manter positivos e transformar a dor de saber que inúmeros animais sofrem em todo o mundo em ação para defendê-los?

É muito desafiador porque sofremos muito com o que sabemos. Em primeiro lugar, permanecer positivo e ter um autocuidado: descanse, tenha uma boa alimentação, beba água, faça exercícios, faça uma pausa, veja filmes divertidos e saia com amigos. Você precisa fazer uma pausa. Durma o suficiente e procure ajuda profissional. O transtorno pós-traumático é muito poderoso na vida das pessoas e, quanto mais você se torna um comunicador, você precisa ser gentil consigo mesmo, nem sempre as pessoas mudam imediatamente. Temos que vender uma solução para um problema que as pessoas não sabem que têm e precisamos aprender a nos cuidar para difundir o veganismo. É preciso também entender que não precisamos mudar todos, o problema é muito grande.

A razão pela qual as pessoas se alimentam dessa maneira e vão a zoológicos é porque é uma tradição e um hábito, e elas seguem o que lhes disseram para fazer, elas não questionam. Quando criamos uma nova forma, as pessoas gravitam em torno dela. Recentemente, a ONG Animals Australia realizou uma pesquisa para saber como as pessoas mudam e percebeu que, quando a mudança cresce, ela cresce exponencialmente, o que temos visto nos últimos dois anos. Mahatma Gandhi disse: “Primeiro, eles te ignoram, depois riem de você, depois brigam e, então, você vence”. Estamos observando o confronto, e eles só brigam com você porque sabem que você está forçando-os a mudar. Fique com outros ativistas, afaste-se da dor, celebre, porque você precisa continuar.

Fonte: Agência de Notícias de Direitos Animais - Anda 

Foto: Arquivo pessoal 

Hilary Jones, diretora de ética da Lush, fala sobre a relação entre consumo, veganismo e feminismo

Hilary Jones, 55 anos, diretora de ética da Lush: "O consumidor, quando 
vê o produto na prateleira, não sabe o que aconteceu até ali" (Foto: Divulgação)


O único caminho é a ética. A frase poderia ser um mantra de algum monge budista ou até título de um livro de autoajuda. Mas ela é o que guia os passos da britânica Hilary Jones, 55 anos, tanto como feminista, vegana e ativista pelos direitos dos animais quanto como diretora ética da Lush Cosmetics, marca inglesa que está há mais de 20 anos no mercado e voltou para o Brasil há cerca de três anos.

"A verdadeira ética não é 'uma coisa'. É uma jornada, uma constante busca para tentar viver a melhor vida que você consegue - para você, para os outros e para o planeta", afirmou Hilary em entrevista ao HuffPost Brasil, durante o Lush Summit, festival de inovação e ativismo promovido pela marca, em Londres.

Não à toa, Hilary tem o cargo de diretora de ética. Em tempos em que a chamada "onda verde" e discussões sobre o combate a testes em animais invadiu o mercado de cosméticos, ela está na vanguarda do ativismo ao conduzir os caminhos dos produtos que são feitos com mão de obra artesanal, matéria-prima orgânica, que chegam frescos ao consumidor final e inspiram outras empresas pelo mundo a fazer o mesmo.

"Muitas empresas já provaram que é possível não fazer testes em animais. E eu acho que, como todos os sistemas, esse é mais um que precisa mudar - e é difícil fazer isso. Acho que, como todos os sistemas, pessoas que cresceram dentro dele o protegem porque é o que elas conhecem", afirma.

Desde 1995, a Lush, criada na Inglaterra, pensa em inovar e promover o consumo consciente: 100% dos produtos são vegetarianos, mais de 85% são veganos*, cerca de 46% não contêm embalagem feita de plástico e grande parte do material usado por eles é reciclável. Buscando um caminho ético, a marca usa apenas materiais sintéticos que são seguros para o meio ambiente, defende causas ligadas a direitos humanos e combate testes em animais. Seus produtos estão em mais de 49 países.

Apenas nove de 63 marcas de cosméticos pelo mundo não testam seus produtos em animais, segundo um levantamento de dados da ONG Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais (PETA), uma das principais organizações de defesa dos direitos dos animais do mundo.

Em 2012, a Lush desenvolveu uma campanha contra produtos testados em animais que gerou discussão e conseguiu levar  à frente um abaixo-assinado contra marcas que fazem testes em animais. Uma atriz de 24 anos se submeteu, voluntariamente, a diversas práticas comuns em laboratórios de testes de produtos em animais.

Jacqueline Traide permaneceu 10 horas na vitrine de uma das lojas da marca, em Regent Street, uma das ruas mais movimentadas de Londres. Ela foi forçada a comer, recebeu injeções, foi cobaia de testes de líquidos e cremes, teve seu cabelo raspado e sua boca esticada por um aparelho de metal.

Veja o vídeo abaixo, em inglês.




"Nós somos deuses como consumidores. Porque se escolhermos com cuidado exatamente onde vamos colocar nosso dinheiro... Quando gastamos dinheiro com determinada empresa, damos permissão para que eles façam exatamente o que já estão fazendo com o mundo", afirma a diretora de ética da Lush.

Antes de trabalhar na empresa, Hilary Jones era uma ativista em tempo integral. No auge dos anos 1980 e do nascimento do punk rock inglês, ela se envolveu em lutas que foram desde o fim do apartheid na África do Sul até pelos direitos dos animais e feminismo.

Ela, que se considera uma "feminista produto dos anos 1970", conta que "é um mistério como se tornou uma ativista" e que a dificuldade de se encaixar em um mundo que parecia hostil e cruel a fez chegar onde está agora. Em entrevista ao HuffPost Brasil, Hilary falou sobre os anos de ativismo e como ele se reflete na ética de seu trabalho; e sobre a relação, muitas vezes controversa, entre veganismo e feminismo.

Leia a entrevista completa.


Como você se tornou uma ativista?

Isso é um mistério! Mas acho que fui uma daquelas crianças preocupadas demais com as coisas, sabe? Então meio que cresci assim. Hoje, tenho 55 anos, então cresci na década de 1960 e, quando eu era mais jovem, não conhecia nenhum vegetariano, nunca tinha ouvido falar em vegetarianismo. Mas sempre me importei muito com os animais, com o que estava acontecendo com outras pessoas, e eu começava a ficar incomodada e chateada quando via o noticiário e suas notícias devastadoras: crianças morrendo de fome, guerra... Tenho certeza de que nossas crianças atualmente são afetadas por essas informações também, mas esse incômodo que eu sentia foi algo que nunca foi embora.

Quando eu estava na escola e pensava sobre uma carreira, eu simplesmente não tinha nenhuma ambição, nenhum plano para a minha vida. Talvez uma falta de imaginação, quem sabe? Mas o que eu realmente sabia era que queria trabalhar com coisas que realmente importavam para mim. Então meio que fui tirada completamente de todo o sistema e me envolvi com muitas causas ao mesmo tempo na minha juventude. Em 1980, existiam muitos jovens na Grã-Bretanha protestando contra o apartheid na África do Sul, contra as indústrias que estavam investindo naquele país. Nós boicotávamos os bancos, e eu não tive uma conta bancária até meu segundo ano trabalhando na Lush - meu cheque era até então endereçado com o nome da minha mãe. Havia muito ativismo rolando naquele tempo, sem falar que foi o momento do auge do punk rock. Esses jovens estavam batendo de frente com o capitalismo e grandes empresas, e eu estava lá também. Eram os anos 1980, então, influenciada por tudo isso, desisti do que estava predeterminado para mim.

E quando você se envolveu mais ativamente com o veganismo e direitos dos animais?

Foi nesse momento. Eu me envolvi em campanhas a favor dos animais, contra clínicas de vivissecção. Além disso, me envolvi com questões ligadas ao direito às terras na Grã-Bretanha, e isso foi exatamente quando Margaret Thatcher entrou no poder. Naquele momento, alguns de nós sentimos que era possível lutar por um jeito novo de viver. E isso foi, de certa forma, minha vida até então.

E quais ações vocês planejavam?

Nós começamos a criar festivais de música ao ar livre, que duravam meses. Não tínhamos muito dinheiro, então os músicos vinham tocar de graça em prol das causas que defendíamos. Não havia ingressos, e eu me envolvi em organizar isso. Daí, o governo começou a nos perseguir, porque eles não queriam uma sociedade mais livre e que se importasse menos com dinheiro. Então eu me envolvi muito nisso. E, ao mesmo tempo, me envolvi mais ainda com questões ligadas aos direitos dos animais. Estávamos ocupando um espaço e tentando chamar a atenção da opinião pública para coisas que estavam acontecendo e sobre as quais ninguém tinha conhecimento. Naquela época, por exemplo, Thatcher anunciou que um grande investimento seria direcionado para a criação de estradas. E ela tinha um interesse bem claro com isso: agradar a grandes empresas. E ela fez isso em vez de investir em transporte público, dar mais acesso à população; pensar no todo, não em algo que é "individual", como um carro. O carro virou o rei. E nós protestamos muito contra isso, até que ela desistiu do programa.

Certamente uma vitória contra o governo, certo?

Sim, claro. Mas foi uma resistência difícil. Tivemos que nos dedicar muito a isso. E isso foi a minha vida até a Lush. E o governo pressionou ainda mais e mais, e eu tenho que dizer: eu estava todo aquele tempo recebendo benefícios financeiros do governo. Na época, era o equivalente a 25 libras (cerca de 130 reais) por semana que o governo pagava para pessoas desempregadas. Mas eles começaram a se perguntar "peraí, eu estou pagando para essas pessoas protestarem contra nós?", e então cortaram o benefício da maioria dos ativistas. E eu vivi durante muito tempo sem nenhum dinheiro, mas continuei protestando ativamente. Mas uma hora tive que encontrar um emprego. Afinal, não dá para esperar que o mundo te alimente para sempre, não é?

E como isso aconteceu, como você chegou até aqui?

Eu estava nos meus 30 anos e tinha tantas convicções, já tinha vivido tanto, já tinha visto como o mundo é cruel com animais e não queria contribuir para um mundo que reforçasse isso. Então olhei ao redor e pensei: "Para onde posso ir? Onde me encaixo na sociedade agora?". E fui muito sortuda em encontrar um trabalho na Lush. Eu já conhecia a companhia que veio antes da Lush, que era a Cosmetics To Go, também dos donos atuais da Lush, e me tornei cliente porque, desde aquela época, eles já não faziam testes em animais (e tudo na Grã-Bretanha era feito com testes em animais). Essas foram coisas que sempre importaram muito para mim. E fui ver se eles tinham uma vaga.

Eles tinham e você está aqui, agora.

Sim, estou aqui! Isso já faz quase 25 anos.


Hilary Jones na época em que trabalhava na fábrica da Lush, 
em Poole, na Inglaterra, há 20 anos (Foto: Divulgação)


Pensando em todas essas questões que falamos sobre ativismo e veganismo: como você enxerga a relação entre feminismo e veganismo?

São questões que não podem ser vistas de forma separada. Sei que algumas pessoas ficam muito incomodadas quando veganos defendem essa ideia. Mas o que as pessoas não entendem é que, se você é um vegano ético e chegou até aqui por causa dos animais... E existem várias maneiras de chegar até o veganismo, e isso é ótimo. Mas ao longo dos anos em que me tornei vegana, aprendi muito: primeiro, quando me tornei vegana, todo mundo achou que eu ia morrer. Naquela época, não existiam provas de que minha dieta seria saudável. Todo mundo achava que, cortando os grupos alimentares já conhecidos, seria impossível sustentar a vida humana. E eu fiz isso e encontrei um caminho. E nós, veganos, nos sentimos tão bem ao não consumir nada de origem animal, que seria injusto não assumir esse risco. E, com sorte, hoje nós conseguimos provar que esse risco não existe. E que, na verdade, é a carne que coloca as pessoas em risco, principalmente por causa da forma como é produzida.

Comecei a fazer isso pelos animais. Hoje, você pode fazer isso para cuidar da sua saúde ou por causa da saúde do planeta porque, obviamente, isso também é algo que aparece quando você tem uma dieta que é menos nociva ao meio ambiente. Existem muitas referências agora. Mas para aqueles que vêm até o veganismo por causa dos animais, é importante ressaltar que nós vemos os animais tão importantes quanto seres humanos. Que eles têm valor, têm vida, e não devem ser abusados e manipulados para o nosso consumo.

E então, quando você começa a tirar um bebê de sua mãe, para simplesmente roubar seu leite, isso parece terrível para nós, como tirar um bebê dos seios de uma mãe que o está amamentando. Porque é isso que você está fazendo. E isso causa muita controvérsia no movimento feminista. São fêmeas, é uma unidade familiar que é destruída pela cadeia alimentar. Todas as indústrias abusam de animais, mas a alimentar, especificamente, força esses animais para além do que eles podem aguentar.

Eles estão sendo inseminados artificialmente para reproduzir com rapidez e serem comercializados, estão sendo alimentados com comida artificial e, dessa forma, passam a viver bem menos do que deveriam, mesmo quando estão a serviço da indústria. E como todas nós, mulheres, sabemos: a forma como nos alimentamos tem um impacto em nosso corpo e mente. E esses animais não têm uma vida produtiva, e quando eles não servem mais, são mortos e seus bebês são tirados.

Se alguém já ouviu uma vaca chorar quando seu filhote é tirado de perto dela após o nascimento... Não tem uma forma de não se compadecer com isso. É a mesma coisa para todos os seres vivos. Uma mãe dá à luz seu filho, você tira essa criança dela à força, aquela mãe entrará em luto e aquela criança irá sofrer. E isso é uma questão feminista. Todas as mulheres deveriam se colocar à frente disso**.

O que significa ética para você?

Acho que ética é um processo. É uma estrada. Não é uma linha de "chegada", ela não se define apenas por uma coisa. Ela se constrói, não é algo fechado. Porque a partir do momento em que você acha que está sendo 100% ético, surge uma outra questão para você pensar sobre. E outra, e outra, e outras. Porque não é algo que você não olhou ou não se interessou, é algo que começou a acontecer e que você deve se preocupar e entender por que chegou até você. Então a verdadeira ética não é "uma coisa". É uma jornada, uma constante busca para tentar viver a melhor vida que você consegue - para você, para os outros e para o planeta. Isso é o que ética significa para mim.

Na sua visão, por que tantas empresas ainda testam desde os ingredientes até seus produtos em animais, em vez de usar métodos alternativos?

Muitas empresas já provaram que é possível não fazer testes em animais. E eu acho que, como todos os sistemas, esse é mais um que precisa mudar - e é difícil fazer isso. Acho que, como todos os sistemas, pessoas que cresceram dentro dele o protegem porque é o que elas conhecem. E então, se a ciência está usando animais por todo esse tempo, você tem cientistas que defendem isso porque simplesmente é o que eles conhecem. E alguém inventa uma coisa nova, e você tem que treiná-los para usar esse novo método, você tem que fazer com que eles gastem dinheiro com equipamentos para usar esse método... Tem uma série de coisas que precisam ser consideradas para que a real mudança aconteça. E esse é o motivo pelo qual eu criei o Lush Prize: nós premiamos pessoas que estão usando técnicas científicas para substituir os testes em animais em todo o processo de produção***. É uma questão difícil que, se mais pessoas olharem para ela, é possível provocar uma mudança.

Algumas empresas adotaram a política de não fazer testes em animais, mas depois voltaram atrás.

Pessoas que recuam? Eu não tenho palavras para elas.

E o que nós, como consumidores, podemos fazer para provocar uma mudança?

Nós somos deuses como consumidores. Porque se nós escolhermos com cuidado exatamente onde vamos colocar nosso dinheiro... O tempo todo que gastamos nosso dinheiro com determinada empresa, damos permissão para que eles façam exatamente o que já estão fazendo com o mundo (tanto para o bem quanto para o mal). É como votar por um governo. Nós damos nosso dinheiro a eles, e eles ganham confiança, permissão. E as empresas não nos contam, na maior parte do tempo, como os produtos chegam às prateleiras. Como eles negociam com as pessoas que cedem os ingredientes a eles, por exemplo?

Não é apenas sobre o produto.

Exatamente. O consumidor, quando vê o produto na prateleira, não sabe o que aconteceu até ali. Eles têm que comprar ingredientes de produtores. Eles pagam essas pessoas da forma correta? Eles checam se a colheita desses ingredientes está sendo responsável por mais destruição? Como é transportado? Como é processado? Como é testado? Tudo isso importa. E toda vez que você paga, você está dando permissão para toda essa cadeia de produção e para a forma como eles comandam essa produção. E é essencial para nós, como consumidores, pensar: "Eu quero comprar coisas, mas não quero que isso seja abusivo para pessoas, animais e para o meio ambiente". É com você. E com as empresas para repensarem suas atitudes. E, como consumidores, o ideal é insistir e comprar sempre de pessoas que você sabe que são transparentes com o modo de produção. E que você só continuará a fazer isso se eles mantiverem determinado processo. Se nós tivéssemos um número grande de pessoas fazendo isso, muita coisa mudaria.

"A verdadeira ética é uma jornada, uma constante busca para tentar viver a melhor vida 
que você consegue - para você, para os outros e para o planeta" (Foto: Divulgação)


A Lush ainda não é 100% vegana. Você acha possível a marca chegar a esse patamar algum dia?

Eu gostaria que sim, pois sou vegana. Sei que estamos fazendo muitas coisas no momento, estamos trabalhando arduamente para nos livrar de alguns ingredientes não veganos, como o mel****. Ele é um ingrediente mágico, com propriedades que nenhum de nós pode recriar. A mágica das abelhas é uma coisa extraordinária. Mas é a mágica das abelhas, não a nossa. Pertence a elas. Então, como vegana, não acho que nós devemos roubar a mágica delas. Mas é um ingrediente muito eficaz, e nossos alquimistas gostam de usar esse ingrediente e criar coisas novas a partir dele. Acho que poderíamos nos livrar de tudo isso, sim. Mas precisamos convencer alguns vegetarianos da empresa [Hilary se refere a Mark Constantine, fundador da Lush] a desistir de alguns ingredientes. Então é uma guerra constante. É uma guerra amigável, uma guerra de paz.

E então, qual o seu maior objetivo no momento, como ativista e diretora de ética na Lush?

Acho que meu maior objetivo é sempre o mesmo: continuar em frente, e continuar aperfeiçoando. Estamos tão longe do que é realmente bom. Ainda não nos colocamos perto do que é realmente certo fazer. Certamente não estamos perto disso. É uma grande estrada que precisamos caminhar. Não somos revolucionários. Não nos sentimos melhor do que ninguém. Só estamos tentando passar por cima de um sistema muito imperfeito e, de certa forma, fazer isso de um jeito com que possamos ir para casa e não sentir uma enorme culpa sobre como entregamos nosso produto para o mundo.

Fonte: HuffPost Brasil 


NOTAS DA NATUREZA EM FORMA:

*1. Conheça aqui as diferenças entre vegetarianismo e veganismo.


***3. O Brasil foi um dos vencedores do Lush Prize em 2017. Leia: Pele impressa em 3D substitui animais em testes de cosméticos 

****4. A indústria do mel é muito cruel com as abelhas. Leia aqui matérias a respeito.