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Henry Spira: “A filosofia dos direitos animais é muito mais ampla do que não prejudicar cães e gatos”


Considerado um dos ativistas mais engajados no movimento pelos direitos animais nos Estados Unidos no século 20, o belga Henry Spira ficou famoso principalmente por suas campanhas bem-sucedidas contra a realização de testes em animais. Mas sua história com a defesa animal começou por acaso, quando ele leu um artigo escrito pelo filósofo australiano Peter Singer, publicado pelo New York Review of Books em 1973.

Spira, que teve uma longa história com o movimento pelos direitos humanos, e durante seis anos editou um pequeno jornal sindical da União Marítima dos Estados Unidos, percebeu que faltava algo em sua luta por justiça. “Eu estava no Mississipi, no extremo sul. Fui ativo na luta antiguerra. Quando li o artigo de Peter Singer, consegui ver o que era, de fato, o holocausto para os animais. Ocorreu-me que isso não estava certo, não era justo e algo precisava ser feito”, relatou na rara entrevista Conversarion with Henry Spira: Draize Test Activist, concedida a Lynne Harriton para o The Humane Society Institute for Science and Policy em 1981.

Em 1973, Spira participou de uma das aulas de Peter Singer e, em 1974, fundou o grupo Animal Rights International, que conquistou repercussão mundial com a realização de uma campanha contra o uso de gatos em pesquisas científicas no American Museum of Natural History. “O livro dele [Peter Singer], Libertação Animal, tirou os direitos dos animais do sentimentalismo – onde as prioridades se baseavam em quão fofo e popular é um animal, e o colocou em uma posição consistente onde o ponto mais importante não era o amor aos animais. O fato é que, como esses animais têm sentimentos, eles devem ter direitos”, declarou.

Para Spira, o movimento pelos direitos animais começou a trilhar um novo caminho quando passou a enxergar a quantidade de animais explorados, assim como a dimensão de seus sofrimentos, independentemente de aparência e popularidade. Na segunda metade da década de 1970, começou a ficar mais evidente a preocupação com a exploração de animais em níveis industriais, para produção de alimentos e produtos, e também de animais em laboratórios. O ativista acreditava que esse deveria ter sido o foco prioritário do movimento muito tempo antes.

Segundo Henry Spira, as pessoas normalmente exploram animais e causam sofrimento a eles não porque sentem prazer nessa atividade, mas porque a sociedade diz que essa prática é aceitável e, claro, tem como reforço a legitimidade legal. “O sofrimento também é invisível para pessoas que comem bifes porque elas não vão até o matadouro escolhê-los. Elas não vão às fazendas industriais onde o animal é impossibilitado de se mover desde que nasce até sua morte. Laboratórios que usam animais não abrem suas portas para visitas diárias. Na verdade, acreditamos que, se as pessoas realmente soubessem o que está acontecendo, as coisas mudariam – haveria uma tremenda fúria e protesto.”

Ele sempre considerou os movimentos pelos direitos humanos e pelos direitos animais bem parecidos em diversos aspectos. “De um lado, você tem pessoas com poder e aparato, e do outro você tem pessoas só com a integridade e suas ideias, e o fato de que estão lutando por justiça – e que têm a possibilidade de atraírem grande simpatia para suas causas”, disse na entrevista a Lynne Harriton.

O ativista belga, que chegou aos Estados Unidos com a família em 1940, via como uma grande contradição o costume de explorarmos outros animais para supostamente garantirmos nossa própria sobrevivência. Um exemplo comum citado por Henry Spira é a realização de testes em animais, que já deveria ter sido banida em todo o mundo. “Acredito que a nossa sobrevivência será garantida quando mostrarmos preocupação com os outros. […] Levando em conta os sentimentos e interesses dos outros, seguindo políticas baseadas no propósito de não prejudicar os outros, estaremos muito melhores do que agora.”

Spira e outros importantes nomes do movimento mundial pelos direitos animais sempre dividiram a mesma opinião em relação à abrangência da defesa animal. “A filosofia por trás do movimento dos direitos animais é muito mais ampla do que não prejudicar cães e gatos. […] Para nós, o consumo de animais não é uma questão de sobrevivência. Podemos ser saudáveis sem comer outros animais. Qual é o objetivo de todos esses séculos de civilização se acharmos que, se uma barata faz algo, por que nós não podemos?”, questionou.

Henry Spira nasceu na Antuérpia, na Bélgica, em 19 de junho de 1927, e faleceu em Nova Iorque em 12 de setembro de 1998. Em 1980, ele promoveu uma grande campanha contra os testes em animais realizados pela Revlon.

Referência: 



Fonte: Vegazeta 

Foto: Reprodução

Exportando vidas



Exportando Vidas é um vídeo documental que revela a realidade cruel do comércio internacional de animais. Especialistas nas áreas de direito, meio ambiente, saúde animal e representantes do poder público explicam por que essa atividade é ilegal e deve ser proibida no Brasil, acompanhando uma tendência mundial que questiona e rejeita suas práticas.



NOTA DA NATUREZA EM FORMA:

Ressaltamos que a exportação de animais vivos é uma barbaridade a mais em uma indústria que já é cruel mesmo quando se mantém em terra firme. Somos plenamente a favor da luta para proibir essa prática, mas nossa meta é a completa libertação animal. Que os animais não sejam mais criados para viver confinados, torturados e mortos para consumo humano. E você pode fazer sua parte para acabar com isso. 

Animais não são alimento, nenhum deles. Eles não são comida nem escravos dos humanos. Sentem como todos nós e por isso merecem a vida e a liberdade. A alimentação vegetariana estrita, sem carne de qualquer tipo ou derivados (laticínios, ovos, mel), já está provada como sendo a mais saudável para os humanos. Quem opta pelo veganismo (que engloba não somente a dieta vegetariana estrita, como também o não uso de roupas e acessórios de couro, lã, pele e seda, assim como o boicote a "atrações" que exploram os animais, como zoológicos, circos e aquários, e a empresas que fazem testes em animais) está fazendo um bem pelos animais e para sua própria saúde e vida. E não é difícil nem caro. Quer uma ajuda para começar a parar de comer carne? O primeiro passo é a informação. Aprenda com quem já vive esse estilo de vida: pergunte, pesquise. Use as redes sociais para expandir seu conhecimento sobre vários assuntos, inclusive esse, que é vital para você e um imensurável número de vidas inocentes. Há diversos grupos sobre o tema no Facebook. Listamos abaixo alguns deles:

VegAjuda - Veganismo disponibiliza um tópico fixo com uma lista de produtos (não só para alimentação) livres de crueldade animal e oferece sempre diversas dicas para iniciantes e "veteranos";

Veganismo é um dos maiores grupos sobre o tema no Facebook, com mais de 50 mil membros sempre compartilhando experiências e tirando dúvidas;

Veganismo Popular e Veganos Pobres Brasil desmitificam a ideia de que veganismo é caro. É perfeitamente viável seguir uma alimentação diária sem crueldade animal e sem maltratar o bolso;

Musculação Vegana é voltado para os praticantes de atividades físicas. Nele, você pode ver como é preconceituosa e errada a ideia que algumas pessoas tentam propagar, de que vegetarianos estritos são fracos fisicamente (muito pelo contrário, são mais fortes e saudáveis). O grupo oferece diversas dicas de alimentação e suplementação vegana.

Existem diversos sites e blogues com deliciosas receitas veganas (além dos tradicionais livros de receitas), simples e baratas de fazer. Clique aqui para conhecer uma lista deles!

Já a Revista dos Vegetarianos é uma publicação mensal (impressa e on-line) com excelente conteúdo que vai bem além de receitas, focando a saúde como um todo. 

Mapa Vegano lista diversos estabelecimentos em todo o Brasil, abrangendo produtos e serviços de alimentos e bebidas, higiene e beleza, roupas e acessórios, ONGs e outros. 

Informe-se sempre! Aqui mesmo em nosso blogue, publicamos diariamente matérias sobre veganismo x indústria da carne (e do leite, ovos etc.). Leia também em outras fontes, converse com outros veganos e vegetarianos (mesmo que você não conheça pessoalmente, como nos grupos indicados acima) e veja de que lado é o certo ficar. Mas já saiba desde o começo que abraçar o veganismo é uma mudança e tanto, que fará um imenso bem para você, para os animais e para o planeta.

Natalie Portman cita Bashevis Singer: “Nós fazemos com as criaturas de Deus o que os nazistas fizeram conosco”


A atriz judia Natalie Portman gravou recentemente um curto vídeo em defesa dos direitos animais (veja aqui, em inglês). Ela aparece falando sobre o escritor polonês Isaac Bashevis Singer, vencedor do Nobel de Literatura que foi um dos maiores divulgadores do vegetarianismo e dos direitos animais no universo literário e judaico do século passado.

Além de afirmar que não se tornou vegetariano pela sua saúde, mas sim pela saúde dos animais, Singer fez uma declaração, como bem citado por Natalie Portman no vídeo, que chamou bastante atenção quando sua autobiografia, Shosha, foi lançada em 1978: “Nós fazemos com as criaturas de Deus o que os nazistas fizeram conosco”.

Isaac Bashevis Singer e sua família, que conheceram as consequências do holocausto, viveram na mesma região da Polônia que a família de Natalie. Singer até hoje é considerado um dos maiores escritores judeus de todos os tempos.

Fonte: Vegazeta 

Foto: Reprodução


NOTAS DA NATUREZA EM FORMA:

1. Natalie Portman lançou recentemente um documentário vegano chamado Eating Animals ("Comendo animais", em tradução livre), que vem tendo uma boa repercussão. Saiba mais aqui

Documentário vegano de Natalie Portman faz sucesso nos EUA e tem chances de Oscar


Em cartaz no circuito comercial dos Estados Unidos há alguns dias, o documentário Eating Animals ("Comendo animais", 2017), que ganhou sessão especial em Sundance [festival de cinema] no começo do ano, já pode ser considerado um sucesso. Tecnicamente, a produção está longe de ser um blockbuster, já que é exibida em apenas dois cinemas do país, mas em ambos está vendendo mais ingressos do que o esperado e por conta disso deverá ganhar mais salas em breve.

O doc é baseado em um livro de mesmo nome lançado em 2009 pelo escritor Jonathan Safran Foer, e trata da questão dos direitos dos animais e o que isso significa em um mundo industrializado. Natalie Portman é fã da obra, que se tornou uma espécie de “bíblia” para muitos veganos, e decidiu adaptá-la para a telona com dinheiro do próprio bolso.

Além de produtora-executiva, a atriz é a narradora do filme, que estreou no último dia 15 [junho de 2018] nos EUA e está sendo considerado como “excelente” pela crítica especializada, e desde já forte candidato ao Oscar de 2019. “Não é uma simples defesa do veganismo, e deixa as pessoas querendo saber mais sobre o assunto e, sobretudo, mais sobre as carnes que comem”, escreveu Ben Kenigsberg, do The New York Times.

Veja o trailer, em inglês.




Fonte: Glamurama 

Foto: Divulgação

Vídeo: IFC Films


NOTAS DA NATUREZA EM FORMA:

1. E outros documentários importantes sobre o veganismo estão sendo lançados de um ano para cá. Leia também:



2. E assista agora, on-line, na íntegra e gratuitamente, dois importantes docs:

Terráqueos (Earthlings, 2005)

Filantropo australiano Philip Wollen é vegano e defende os direitos animais


Ex-vice-presidente do Citibank, filantropo e ativista dos direitos animais, o australiano Philip Wollen compartilhou recentemente (15/4/2018) uma mensagem no canal Kindness Production, no YouTube (veja aqui, em inglês), na qual incentiva as pessoas a se tornarem veganas e saúda todos os participantes da campanha britânica Marcha pelos Direitos Animais, que neste ano acontecerá em 25 de agosto, em Londres.

“Estamos enviando uma mensagem que somos terráqueos, não cegos à injustiça... Não estamos mais sem voz, não somos mais impotentes, não somos mais covardes, vamos defender a justiça quando, onde e para quem quer que ela seja negada, porque os direitos animais agora são a maior questão de justiça social desde a abolição da escravidão”, afirmou Wollen.

“Na história humana, apenas 100 bilhões de seres humanos já viveram, sete bilhões estão vivos hoje e ainda torturamos e matamos dois bilhões de animais sencientes a cada semana... É hora de cada cidadão educado, esclarecido e responsável abandonar a carne e as drogas lácteas”, continuou.

Philip Wollen é uma figura bem conhecida dentro do moderno movimento pelos direitos animais. Em 2012, ele se tornou membro honorário do Centro Oxford de Ética Animal do Reino Unido, antes de ganhar o Distinguished Alumni Awards, premiação da Universidade de Adelaide, dois anos depois. Ele também recebeu o prêmio de Vegan of the Year 2014.

No entanto, o projeto mais notável de Wollen é sem dúvida o Winsome Constance Kindness. O programa é um evento internacional que trabalha para “promover bondade em relação a todos os outros seres vivos e consagrá-lo como um traço reconhecível no caráter e cultura australianos”. Todos os anos, o programa concede uma medalha e um prêmio de 25 mil dólares a um indivíduo que dedique sua vida a proteger animais da crueldade.

Fonte: Anda - Agência de Notícias de Direitos Animais 

Foto: Wikimedia Commons

Annie Besant: "Precisamos agir como guardiões e ajudantes dos animais, não como seus tiranos e opressores"

“Não temos nenhum direito de lhes causar terror e sofrimento apenas 
para agradar ao nosso paladar, para acrescentar luxo às nossas vidas” 
(Foto: Reprodução)



A escritora, reformadora social e teosofista britânica Annie Besant se tornou famosa no século 20 por lutar pelos direitos das mulheres. No entanto, o que muita gente não sabe é que ela também foi uma importante defensora dos direitos animais. Vegetariana, Annie discursou para uma multidão no centro de Manchester, na Inglaterra, em 18 de outubro de 1897.

Naquele dia, ela afirmou que o ser humano só começa a se questionar sobre sua relação com os animais a partir do momento que se vê como parte de uma unidade que envolve todas as criaturas vivas, ou seja, quando se afasta de uma concepção antropocêntrica. “Como podemos viver proporcionando menos prejuízo para as vidas que nos rodeiam? Como podemos evitar que nossas vidas gerem menos sofrimento no mundo onde vivemos?”, perguntou aos espectadores.

Em seguida, ela começou a listar uma série de características que são partilhadas tanto pelos seres humanos quanto pelos animais. Os dois são capazes de sentir prazer e dor, de serem movidos pelo amor e pelo ódio. “Os animais também sentem terror e atração. Reconhecemos neles o poder de ter sensações muito próximas das nossas, e enquanto os transcendemos em intelecto, nossa natureza e a dos animais seguem interligadas. Sabemos quando eles estão aterrorizados, e que esse terror significa sofrimento”, disse.

Não apenas as feridas provocadas em um animal por mãos humanas são capazes de gerar dor, mas também as ameaças. Annie citou o fato de que muitos animais se encolhem de medo quando identificam a ausência de tratamento amistoso. “Todas as mentes pensantes e compassivas devem reconhecer que, por sermos privilegiados, precisamos agir como guardiões e ajudantes dos animais, não como seus tiranos e opressores. Não temos nenhum direito de lhes causar terror e sofrimento apenas para agradar ao nosso paladar, para acrescentar luxo às nossas vidas”, declarou.

Para Annie Besant, levando em conta que, à época, o açougueiro era também quem executava os animais, o suposto refinamento do ser humano é tão hipócrita e paradoxal que muitos evitam o contato com o açougueiro que fornece o suposto alimento, para evitarem associações entre morte e comida“Se achamos que eles são toscos pela repulsa que seus corpos despertam por estarem manchados de sangue; se reconhecemos a grosseria física que resulta de tal contato, como ousamos nos chamar de refinados se compramos nosso refinamento por meio da brutalização de outros, e exigimos que sejam brutais para que possamos comer os resultados dessa brutalidade? Não estamos livres dos resultados brutalizantes desse comércio só porque não participamos diretamente dele”, discorreu a defensora dos direitos animais em Manchester, em 18 de outubro de 1897.

Annie Besant nasceu em 1º de outubro de 1847, em Clapham, Londres, e faleceu em 20 de setembro de 1933, em Adyar (Tamil Nadu), Madras, na Índia.


Referência



O apoio da família de Martin Luther King aos direitos dos animais

Martin Luther King Jr.


Praticamente todo mundo já ouviu falar o nome de Martin Luther King Jr. por sua liderança na luta contra a desigualdade social nos EUA, que inclusive lhe rendeu um prêmio Nobel da Paz em 14 de outubro de 1964. 

Há 50 anos, em 4 de abril de 1968, ele foi assassinado por segregacionistas, mas suas conquistas ecoam e até hoje o fazem um dos maiores ativistas de todos os tempos. Seu legado serve de inspiração para aqueles que lutam contra as desigualdades mundo afora. 

Ele foi um ativista pela libertação humana, colocando-se contra a pobreza e contra a guerra, e, apesar de não ter lutado diretamente pelos animais, era um adepto da não violência, princípio também usado no movimento pela libertação animal.

Um de seus quatro filhos, Dexter Scott King, também ativista, acredita que promover os direitos dos animais seja uma extensão da lógica de não violência pregada pelo pai, por isso parou de comer animais. Ele é um ativista vegano dedicado aos direitos dos animais desde o final dos anos 1980. 

"O veganismo me deu um nível mais elevado de consciência e espiritualidade, primeiramente porque a energia associada à alimentação mudou para outras áreas. Se você for violento consigo mesmo colocando coisas [prejudiciais] em seu corpo que violem seu espírito, será difícil não perpetuar essa violência em outra pessoa", disse ele à revista Vegetarian Times em 1995, oito anos após se tornar vegano.

Dexter Scott King


Após a morte de seu marido, Coretta Scott King continuou a lutar por justiça racial e econômica, pelos direitos das mulheres, dignidade dos homossexuais, justiça ambiental e direitos dos animais. Também uma grandiosa ativista, Coretta estendeu sua luta por justiça a todos os seres sencientes - influenciada por seu filho, se tornou vegana nos últimos 10 anos de sua vida.

Martin Luther King Jr. se opôs a todas as formas de crueldade e violência contra humanos e talvez não tenha vivido tempo suficiente para estender seu círculo de compaixão e justiça a animais não humanos. De qualquer forma, ele nos deixou um grande legado e é um exemplo no uso do princípio da não violência.

Confira aqui (em inglês) algumas cartas que pessoas enviaram sobre seus sonhos de liberdade aos animais ao The King Center, instituição que preza por uma mudança social não violenta, criada por Coretta em 1968 e atualmente liderada por Dexter.

Coretta Scott King


Fonte: Vegpedia 

Fotos: Reprodução

Como o mundo (e você também) te faz ignorar os direitos e o sofrimento dos animais


Por Julio Cesar Prava*

Você vê um vegano e já sabe que ele é chato e arrogante por apontar o dedo e te chamar de assassino cruel, dizendo que você come cadáveres. O bife no seu prato é cultural, sustenta o trabalho de muitas pessoas, é saboroso e te dá força - o churrasco no fim de semana, então… dá até água na boca.

Por incrível que pareça, quase todo vegano de hoje em dia já foi assim, apreciador de algum tipo de carne. A esmagadora minoria de pessoas nasceu vegana, afinal, os direitos dos animais passaram a ser seriamente debatidos por filósofos a partir dos anos 1970, e há muito menos tempo eles vêm tendo um bom crescimento e divulgação, graças à internet.

Também são poucas as pessoas que viraram vegetarianas ainda crianças, afinal, os pais dão um jeito de lhes dizer que comer animais é normal, e de fato o é. Normal é aquilo que a maioria das pessoas faz em uma sociedade; e na nossa, ainda é normal comer e explorar animais. Em outras sociedades, existem muitas coisas normais que para nós, do Brasil, não são: comer cachorros, apedrejar mulheres, estuprar crianças, casar forçadamente e uma infinidade de coisas justificadas pela cultura, que não parecem tão justas para nós, mas que são normais para eles.

Há não muito tempo, pouco mais de 200 anos, grandes países permitiam a escravidão e mulheres não votavam. Era normal, as leis justificavam tais ideias e quem dissesse o contrário era o chato da época. Cada época tem seus chatos, e os da vez são os veganos, claro, junto com as feministas, gays e negros, que pedem por um mundo mais igualitário. O que todos eles têm em comum é que são atacados por aqueles que pensam em si antes de pensarem em suas vítimas. Querendo ou não, aquele bife saboroso é o pedaço de uma vítima que sofreu e desejava viver sua vida. Aliás, é nisso que se pautam os veganos: na individualidade dos animais e sua senciência, que é a consciência sobre dor e bem-estar que esses seres possuem.

Nossos pais nunca nos falaram disso, a normalidade não é essa, não podemos cobrá-los por não terem nos ensinado algo que vem confrontando essa normalidade, eles são normais, oras. Estamos há muito mais tempo explorando animais do que não fazendo isso, daí os veganos são bastante anormais, eles veem algo além do óbvio: que animais morrem, e lutam por seres além deles mesmos, por isso são estranhos… e chatos, claro.

Pode ser extremamente óbvio para um vegano considerar os animais como eles são – como indivíduos -, pois eles têm um senso de justiça mais apurado nessa questão, afinal, se os animais sofrem e podemos evitar isso, por que continuarmos? A escolha por reduzir sofrimento e não violar a liberdade dos bichos é decididamente mais ética, pois ética – mesmo que as pessoas não saibam – não se pauta num só indivíduo, e sim em escolher o que mais beneficia o todo, naquilo que mais se aproxima do bem comum. Partindo disso, podemos entender que o justo nem sempre é o que as pessoas acreditam que seja ou esteja na lei. Mas por que não somos todos capazes de pensar dessa forma e respeitar os animais?

Se você aprende desde criança que 1+1 resulta em 3 e só aos 20 anos alguém vem te dizer que 1+1 são 2, mesmo que isso seja certo vai parecer absurdo. Você viveu com pessoas que pensam que 1+1 são 3 e tudo que você sabe gira em torno disso, então quanto mais alguém insistir que isso é errado, mais essa pessoa vai ser chata para você. Isso acontece com a exploração animal.

Desde criança, houve uma dessensibilização com a naturalização da inferioridade animal, um pensamento conhecido como antropocentrismo moral, onde o humano se coloca num pedestal, é o centro da natureza e tudo pode, e isso vai da religião à ciência. Nós até ficamos incomodados vendo animais sendo torturados, mas não queremos ir além, preferimos fechar as imagens, os vídeos – e os olhos –, e xingar as pessoas que fazem aquele ato “isolado”, em vez de percebermos que somos nós que financiamos essas coisas. Essa normalidade, que permite a exploração animal, nos faz acreditar que isso não precisa ser mudado e que quem diz o contrário parece estar querendo impor uma ideologia forçadamente na gente – mesmo que o que a gente tente sustentar também seja uma ideologia.

Mais adiante, há a adaptação de todos aqueles que lucram com essa exploração. Ao perceber que as pessoas estão querendo proteger os animais, as indústrias investem muito dinheiro na política para continuarem a exploração e em publicidade para continuar anestesiando você: eles dizem que tratam bem os animais – e não o fazem, pois isso nada tem a ver com o que os animais desejam. Esse passo é a aceitação do bem-estarismo, que nada mais é que marketing e uma injeção nova de conformismo para o sistema se manter da forma que está, o seu consumo continuar e o mercado não mudar**. Se você comprar essa ideia, feito! Os veganos continuam sendo chatos e você sendo legal, mesmo fazendo vítimas que não precisam ser vítimas para você viver bem.

Nós não pensamos de forma ética porque estamos programados para sermos relativistas e parciais. Vivemos em mundos pequenos, e nisso acreditamos que a nossa felicidade pode valer a dor dos outros ou preferimos fechar os olhos mesmo e tudo isso é normal. Estamos profundamente imersos em ideologias que nos favorecem, de todos os lados, inclusive elas que parecem sustentar a inferioridade de outros humanos perante a nós mesmos. São crenças, são parte de nós, de como fomos criados e de como nos definimos. Nelas, vítimas têm o propósito de nos alegrar, de nos sustentar, de nos favorecer, nos apegamos à escolha mais cômoda, é sempre assim, não há por que mudarmos, se não por um motivo: justiça.

Mas quem nos ensinou que justiça depende de não pensarmos em nós? E quem nos ensinou então que animais podem ser incluídos em nossa concepção de justiça? Essa não foi a normalidade, os tempos eram dos nossos pais e dos pais deles, que eram outros, eles não tinham informação. Nossos avós viveram a escravidão dos negros; nossos pais, o racismo velado; nós, os resquícios disso; e nas próximas gerações, é provável que o racismo diminua mais e mais, assim como as outras injustas formas de opressão e limitação da liberdade. Fato é que, apesar dos pesares, a normalidade muda lentamente e nós podemos ser a parte mais justa da mudança, os veganos sabem disso, e eles estão tentando te dizer.

Os animais sofrem e são privados de viver a potencialidade de suas vidas e não existe sequer um argumento que mude essa realidade, mas existe uma opção e já sabemos qual é. Pode não ser extremamente fácil realizar uma mudança, mas isso depende se estamos olhando para nós mesmos ou para o problema que causamos. O mercado, a política, as leis, a cultura estão imersos na exploração animal. O sistema todo tem essa engrenagem, e ela só vai parar quando cada pessoa se abster de fazer parte dela. Você pode ignorar, claro que pode! A maioria das pessoas ainda te ajudará, mas se sua consciência despertar um pouco que seja e você conseguir pensar em deixar tudo isso de lado, pode contar com a gente, afinal, quando sabemos, não podemos mais negar que fazemos parte.

Quem explora animais acredita em:

Naturalização da inferioridade animal

Aceitação do bem-estarismo

Isenção de culpa por conformidade social

Autofavorecimento, egoísmo, relativismo e tradição 

Quem não explora animais acredita em:

Tratamento de interesses semelhantes de forma semelhante

Redução de sofrimento e respeito integral às liberdades individuais

Contracultura da violência desnecessária

Bem comum, altruísmo, objetivismo (ética)


Os veganos são radicais, é claro que são: radicalmente contra o sofrimento e a favor da liberdade de todos os animais diante do egoísmo humano, que sim, pode ser evitado.

A foto desta postagem foi tirada em um festival religioso (Eid al-Adha) onde os animais têm seus pescoços cortados e sangram até morrer.

Veja o vídeo abaixo.




*Julio Cesar Prava é idealizador do site Vegpedia e da página de Facebook Versos Vegetarianos 

Fonte: Vegpedia 

Foto: Reprodução


**NOTA DA NATUREZA EM FORMA:

Medidas de bem-estarismo são as mentiras que a indústria da carne propaga para que as pessoas continuem comendo carnes e secreções animais sem sentir culpa. As mais clássicas são o "abate humanitário" e as galinhas criadas "livres de gaiola".

Leia aqui sobre a realidade dessas galinhas criadas "livres de gaiola" e veja o documentário A Carne É Fraca, do Instituto Nina Rosa, todo filmado em matadouros que se orgulham em se autoproclamar praticantes do "abate humanitário", e tire suas conclusões.

Assista ao emocionante trailer do novo filme vegano que tem participação de Joaquin Phoenix


Um novo e muito promissor documentário vegano está sendo lançado oficialmente nesta quinta-feira (29/3/2018), na Austrália. Embora não haja previsão de lançamento no Brasil, o filme merece atenção, pois tem tudo para ser uma grande produção em prol dos direitos animais.

Joaquin Phoenix, astro de Hollywood que narrou o clássico Terráqueos (Earthlings, 2005), também emprestou sua voz para Dominion, longa produzido pela ONG australiana Aussie Farms. Phoenix, que já foi indicado ao Oscar, é vegano e ativista pelos animais há muitos anos. Shaun Monson, diretor de Terráqueos e Unity (2015), também está envolvido com Dominion, como produtor executivo.

O trailer é especialmente emocionante por conta de sua trilha sonora, uma linda canção chamada Descent ("Declínio"), cuja letra (veja aqui, em inglês) complementa as imagens conseguidas pela ONG por meio de drones e câmeras escondidas.




Site oficial: dominionmovement.com 

Fonte: Vista-se 


NOTA DA NATUREZA EM FORMA:

Outro documentário lançado recentemente e que aguardamos aqui no Brasil é The Game Changers. Saiba mais aqui.

"Colocamos nossos prazeres e costumes contra a vida e a liberdade dos animais", diz professor de veterinária

Renato Silvano Pulz, 49 anos, é autor do livro Ética e Bem-Estar Animal e professor 
de uma disciplina sobre o tema na Ulbra (Foto: Omar Freitas / Agência RBS)



Os animais não são como pensávamos. Eles sentem medo, sofrem dor, são conscientes, têm emoções, se estressam, desenvolvem problemas mentais. Têm mais em comum conosco do que se imaginava, conforme revelam cada vez mais estudos científicos. O dilema é que, se nossa concepção estava errada, isso significa que nossa atitude em relação a eles também precisa ser revista? Uma das pessoas envolvidas nesse debate é o médico veterinário e bacharel em direito Renato Silvano Pulz, 49 anos, autor do livro Ética e Bem-Estar Animal e professor de uma disciplina sobre o tema na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). Mestre e doutor pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Pulz concedeu entrevista ao jornal Gaúcha ZH. Confira.

Nos últimos tempos, pesquisas têm revelado fatos novos sobre a consciência e as emoções nos animais. Sabe-se, também, que eles sofrem de maneira similar aos humanos. A concepção sobre os animais mudou?

Em nossa sociedade, nós retiramos os animais da nossa esfera de consideração moral, assim como se fez no passado com os negros. O próprio Código Civil considera que eles são coisas. Por que posso vender um cavalo ou sacrificar uma vaca? Porque são minha propriedade. No passado, houve pensadores que tentaram defender os animais, mas não dispunham da comprovação científica de que os animais sentiam dor, tinham sentimentos, uma vida emocional. Há 20 anos, quando me formei em veterinária, praticamente não se dava importância à dor, aos sentimentos. Agora, há discussão sobre isso. Em 2012, veio a Declaração de Cambridge, assinada por neurocientistas e pelo Stephen Hawking (físico britânico que morreu em 14 de março), reconhecendo que os animais têm consciência.

O que quer dizer essa consciência?

Significa que o animal sabe o que está acontecendo ao seu redor; tem percepção de si e do ambiente. O cachorro, por exemplo, ao ver o tutor pegar a guia, sabe que é hora do passeio, ou seja, ele tem memória, identifica objetos, símbolos, palavras, tem pensamentos em relação ao futuro. Não é uma simples coisa, inerte, como uma mesa. E não são só instintos, eles têm linguagem, inteligência e flexibilidade comportamental. Apenas algumas espécies conseguem se reconhecer no espelho, que era um teste famoso para determinar a consciência. Mas esse teste passou a ser questionado. O cão é muito mais olfativo do que visual. Ver uma imagem no espelho talvez não faça diferença, o que importa é o cheiro. Ele sente o cheiro e sabe que não há outro cachorro ali. 

Isso representa, do ponto de vista científico, uma mudança de concepção sobre os animais?

Totalmente. E a Declaração de Cambridge foi muito importante. Philip Low, um de seus autores, observou que, a partir daquele momento, surgiam implicações éticas importantes. Enquanto tu não assumes uma coisa, fica fácil fazer de conta que ela não existe. Mas no momento em que há provas e a ciência reconhece, fica mais complicado, por exemplo, usar ratos em um experimento sem fazer uma consideração sobre isso. Costumo levar essa discussão para a sala de aula, porque é comum o fenômeno chamado de especismo seletivo. Enxergamos que um cachorro está feliz ou triste, mas da vaca, do porco e da galinha ninguém se lembra. Ponho vídeos de cavalos e vacas brincando, de aves se divertindo, porque eles também ficam tristes ou alegres.

Viver em cativeiro para produção de leite e carne gera impacto emocional nos animais?

Com certeza. Foi isso que se começou a pensar. Por isso, surgiu a ciência de bem-estar e o conceito das cinco liberdades: de dor e de doenças, de fome e de sede, de medo e estresse, de desconforto e para se expressar o comportamento natural. Um cavalo gosta de pastar, estar solto no campo com outros cavalos. Mas nós o criamos em um jóquei-clube, por exemplo, onde ele fica preso 24 horas dentro de uma baia, só saindo dali para treinar na pista. Quando fazemos isso, restringimos sua liberdade. É o cachorro dentro do apartamento, o suíno na pocilga, a galinha na gaiola do aviário. Criamos o ambiente, a dieta, o comportamento, a genética, tudo artificial. Se pudéssemos perguntar ao cachorro do que ele gosta, ele ia querer ficar solto, correr atrás de outros cães. Restringimos essa liberdade.

Os animais são tratados como produtos?

Sim. O animal foi objetificado ao longo da história. Seu valor é atribuído em função de sua utilidade, inclusive podendo ser descartável. A ideia de que o homem é superior colocou-o num plano inferior, coisificando-o. Isso justificou moralmente seu uso ao longo da história, até os dias de hoje. Mas como podemos usar o animal como uma coisa, se ele não é uma coisa, se há provas científicas em contrário? Estudos mostram aves fazendo testes que só crianças a partir de cinco ou seis anos conseguem fazer. Os analgésicos e anestésicos que usamos na veterinária são os mesmos que usamos em humanos, porque os mecanismos de dor são semelhantes. 

Além do abate, quais são os estressores aos quais os animais estão submetidos na pecuária?

O transporte, o manejo violento, o confinamento, o isolamento, a superlotação. Há a questão do ambiente artificial. Vamos ter porcos e vacas criados em piso de cimento, o que causa lesões crônicas nas patas. E a impossibilidade de manifestar comportamentos naturais. A galinha gosta de ciscar, de subir em poleiro. No momento em que ela não pode fazer isso, começa a ficar neurótica, a adquirir comportamentos estereotipados. Existe também o problema da dieta artificial, com ração, que gera problemas digestivos, diarreia, cólicas. A genética artificial é causa de uma série de doenças. 

São animais com problema de saúde mental?

Com certeza. E essas alterações de comportamento são indicadores de redução de bem-estar. 

O senhor citou a escravidão dos negros no passado. É possível fazer uma analogia entre ela e a situação atual dos animais?

Essa analogia é muito usada pelos defensores dos direitos dos animais. Na história, houve a coisificação dos negros, eles eram explorados como uma coisa, tinham um dono. Dizia-se que o negro não tinha inteligência, para que se pudesse usá-lo. É parecido com o que se fez com os animais, para justificar o uso sem culpa. 

As pessoas acham impensável comer carne de cachorro, mas não de vaca, porco ou galinha. É por causa do vínculo emocional?

Sim, identificamos “um outro” nos animais de estimação. Mas, em palestras, gosto de mostrar que vacas, cavalos e galinhas não são diferentes quanto à dor. Peter Singer, um dos primeiros a escrever sobre o problema, nos anos 1970, conta que foi a um evento internacional de proteção animal e houve um churrasco depois. Ele questionou: “Não tem algo errado aí?”.

Quando apareceu, Peter Singer se mostrava preocupado em evitar o sofrimento animal. Hoje, já não se fala só em evitar esse sofrimento, mas também em assegurar que o animal tenha uma vida significativa. Houve uma evolução no pensamento?

Sim. Com o livro Libertação Animal, Singer focou principalmente o sofrimento. Depois, nos anos 1980, Tom Regan, no livro Jaulas Vazias, defendeu o direito de os animais terem uma vida por si só, não serem apenas um meio para o homem. Então, dentro da ética animal, há duas correntes. Uma, identificada com a obra de Singer, vai se esforçar para reduzir e eliminar o sofrimento. Ou seja, numa criação de suínos, a preocupação vai ser que eles fiquem em áreas livres de gaiolas, que o piso seja de terra, que eles possam expressar seu comportamento, que estejam livres de dor, medo e maus-tratos. No entanto, continuam sendo usados para consumo humano. Essa é a teoria do bem-estar animal. A outra corrente, originada de Regan, é a dos direitos, que vão além da proteção contra maus-tratos. Defende que os animais têm direito à liberdade, à integridade física e psicológica, à vida e de não serem explorados*.

Essas preocupações éticas vão impactar nossa vida?

Acredito que sim. A reflexão promoverá mudança de comportamento. Mas as dificuldades são conhecidas, e uma das maiores é a questão econômica, o argumento dos empregos gerados e do impacto no PIB**. Outra forte dificuldade é a questão cultural, o antropocentrismo.

Nosso modo de vida, há muitos milênios, se vale do trabalho e da proteína animal***.

Exatamente. E isso foi construído, um legado histórico e cultural. Em um determinado momento, isso foi importante, hoje pode ser opção. Falo com tranquilidade, porque minha história foi como a da maioria das pessoas. Eu comia churrasco, já gostei de rodeio, usei animais em experimentos no mestrado e no doutorado, trabalhei em jóquei-clube com cavalos de corrida. Não enxergava problema, achava normal. Quando comecei a estudar o assunto, me dei conta: “Olha só, estou indo à faculdade para anestesiar, operar e salvar cães e gatos, mas no almoço como uma vaca. Qual é a lógica?”****. Caiu a ficha.

O senhor se tornou vegetariano?

Sim. Antes eu nem pensava nisso, mas quando comecei a estudar o assunto e fazer esse raciocínio, há uns 10 anos, tomei uma decisão ética. 

Na medida em que as pessoas ganhem familiaridade com informações sobre o sofrimento e a vida emocional dos animais, também terão de enfrentar esse dilema?

Sim. Mas existe um fenômeno que os psicólogos chamam de dissonância cognitiva, que é justamente não pensar sobre um assunto que incomoda. Tenho amigos que são muito ligados a cães e gatos, como se fossem filhos, mas não chegam a pensar nisso, preferem não falar. 

Como veterinário, o senhor também mudou?

Completamente. Por oito anos, fui chefe da veterinária em um quartel onde os cavalos ficavam presos 24 horas por dia em uma baia de concreto - hoje, eu não conseguiria trabalhar com isso. Questionei minhas próprias crenças. Uma vez, em um congresso, passaram um documentário sobre pecuaristas que viraram ativistas***** e aquilo bateu forte, senti uma culpa enorme de só ter me dado conta do que fazia aos 42 anos de idade. Realmente, acho que as sociedades do futuro vão olhar para trás e dizer: “Nossa, que barbaridades eles faziam com os animais. Como é que foi aceito isso?”.

O que o senhor acredita que vai acontecer com o consumo de carne?

Vai ser um processo muito longo, 100, 200 anos, talvez, mas vai mudar. Se pensamos no direito, vemos que começaram a se fazer reflexões – em relação ao deficiente físico, à criança, ao negro, à mulher, à diversidade sexual. É um processo. 

No limite, qualquer exploração do animal seria antiética?

Se tu fizeres a consideração de que ele sofre, tem vida emocional, dignidade, qualquer tipo de exploração será antiética. O uso da empatia coloca em xeque muitas práticas.

O que o senhor considera mais imediato fazer?

Há uma grande discussão em torno desse ponto. O movimento abolicionista não aceita qualquer tipo de exploração animal, enquanto quem aceita a teoria do bem-estar acredita que isso não vai acontecer agora, então seria melhor buscar um meio-termo e fazer o máximo para evitar o sofrimento, como leis contra os maus-tratos, criação de animais soltos e abate humanitário. Na década de 1990, Tom Regan e Peter Singer fizeram um debate sobre isso em Salvador. Regan defendeu as jaulas vazias, a abolição total delas, nos zoológicos e na pecuária. Singer dizia: “Enquanto a gente não tiver jaulas vazias, podemos ter jaulas mais espaçosas”. A isso, Regan respondeu que, enquanto aceitarmos o uso de animais com criação orgânica, com práticas de abate humanitário, não acontecerá crítica e reflexão. As pessoas continuarão confortáveis. 

Nessa discussão, como ficam os animais domésticos, os pets?

Eles já ganharam um status diferenciado, são quase membros da família. Mas também há desafios. O grande risco, e realmente acontece, é atribuir a eles vontades e hábitos que são nossos: dietas e rotinas humanas, como passar o dia dentro de apartamento. Eles são animais gregários. Há animais de estimação com problemas de comportamento por causa da ansiedade, porque estão confinados ou isolados, sem convívio social. Os distúrbios são comuns. Correr atrás do rabo, latir para a porta, roer os móveis, fazer feridas por lambeduras******.

Medicamentos são testados em animais, com a justificativa de que isso salvará humanos. Isso é questionável?

Temos uma ética utilitarista, a do bem maior. Aceitamos o uso e o sofrimento dos animais por considerar um mal necessário, pois acreditamos que haverá um bem maior em relação à saúde humana. Já a ética deontológica vai defender que quando uma coisa está errada, não tem como justificar com um bem maior. A sociedade aceita a ética utilitarista*******. 

Qual a situação de animais que desprezamos, como baratas e mosquitos?

Em princípio, a ciência dizia que só os vertebrados tinham capacidade de sentir dor, e, algumas espécies, uma vida emocional mais complexa. Nos anos 2000, identificaram características de consciência em outras espécies. Mas, em relação aos critérios dor e sofrimento, se aceita uma divisão imaginária entre vertebrados e invertebrados. 

E o mosquito que transmite uma doença?

Se estou preservando a minha vida, a do meu grupo ou a da minha espécie, vou ter de tomar uma medida que não vai ser boa para o mosquito. 

Esse argumento não pode ser usado também por quem defende o consumo de carne?

Estou há 10 anos sem comer carne. O ser humano não precisa da carne. Há grãos que a substituem. Essa é a questão: a situação extrema, de vida ou morte. Essa poderá justificar moralmente uma prática que cause dano ou sofrimento a outro. Uma ponderação de direitos. Mas as nossas relações com os animais, via de regra, estão longe disso. Em geral, é a vida e liberdade deles versus nossos prazeres e costumes. 

Fonte: Gaúcha ZH


NOTAS DA NATUREZA EM FORMA: 

*1. O bem-estarismo (leia-se galinhas criadas "livres de gaiola" e "abate humanitário") são falácias propaladas pela indústria da carne para fazer as pessoas continuarem comendo animais mortos sem culpa. O que nós, da causa animal, lutamos é pela completa libertação animal, conforme também defendia Tom Regan. A crueldade continua existindo na criação "livre de gaiola" - leia aqui. Quanto ao "abate humanitário", veja o documentário A Carne É Fraca, do Instituto Nina Rosa, todo filmado em matadouros que se orgulham em se dizer adeptos dessa prática. Assista ao filme e saiba como são esses assassinatos bondosos. 

**2. Sobre um possível impacto negativo na economia que o fim da indústria da carne poderia causar, lembramos que ela alimenta, anualmente, cerca de 70 bilhões de animais para abate, que consomem metade de toda a produção de grãos do planeta - enquanto isso, existem 850 milhões de pessoas passando fome no mundo. Se essa produção de grãos fosse destinada para seres humanos, faça as contas, não haveria fome no mundo (e não, não seriam os animais de abate a morrer de fome, pois eles nem iriam nascer). Quanto à água, mais de 50% de todo o consumo de água doce do planeta é usado pela pecuária. Apenas cerca de 6% é consumido nas cidades e residências. Para se produzir 1 kg de carne bovina, são necessários 15.500 litros de água. Para se produzir 1 kg de batata, são necessários 800 litros de água. Ou seja, a água, um recurso natural vital que está se tornando escasso, está sendo consumida praticamente toda pela indústria da carne. Além disso, a pecuária é responsável por 80% do desflorestamento no BrasilO suposto crescimento econômico gerado pela pecuária favorece apenas os pecuaristas. Seu fim prejudicaria a eles - quanto aos trabalhadores (que, a propósito, também são explorados e até escravizados nessa indústria), teriam muito mais opções de trabalho na agricultura. Leia aqui sobre outros impactos desastrosos da indústria da carne (e quando falamos carne, não é apenas bovina, são de todos os animais criados para abate) no planeta.

***3. Veja A proteína animal e a saúde e leia 7 maneiras como a proteína animal pode prejudicar a sua saúde. Quanto ao "trabalho" animal, lembramos sempre: eles não são escravos. Os humanos que usem mão de obra humana remunerada ou maquinária. 


*****5. Leia:





******6. Em um mundo ideal, todos os animais deveriam ser livres na natureza, até mesmo os atualmente (e desde há muito tempo) domesticados, como cães e gatos. Acontece que, com a urbanização, hoje é impossível que esses animais vivam soltos pelas ruas, com seus incontáveis riscos: de violências, acidentes e contágio de doenças. O correto em relação a cães e gatos é acolhê-los em casa (adotar) e tutelá-los (não somos donos dos animais de estimação, e sim tutores), o que significa guarda (e não posse) responsável, ou seja, cuidar desses animais fornecendo-lhes abrigo, alimentação, cuidados médicos, lazer e amor, até o fim de suas vidas naturais (eutanásia apenas em último caso, assim como com os humanos, quando não houver mais como proporcionar qualidade de vida ao animal ou amenizar sua dor - em um quadro de doença grave ou ferimento. Há pessoas que já sacrificam o animal porque ele está velho ou com alguma doença perfeitamente tratável. Repudiamos veementemente tal atitude). Cães devem ser levados para passear ao menos três vezes por dia, na guia, e gatos não devem ter acesso à rua (a não ser por motivos de mudança de endereço, viagem ou ida ao veterinário, o que deve ser feito dentro de caixa de transporte própria para gatos), e sim mantidos dentro de casa, com todas as janelas teladas. Sim, parece uma prisão, infelizmente. Mas a alternativa para esses animais seria viver nas ruas das cidades, que oferecem muito mais perigos do que benefícios para a integridade física deles. Para zelar pelo bem-estar psicológico dos bichos, aqui entra a parte do lazer que citamos. Leia os textos: