que sonham com outro tempo. E, em que tempo podemos acreditar? No das cerejas?
O meu avô acreditava em cinco coisas
Eu só acredito em duas.
Verso de Daniel Maia Rodrigues
As minhas fotos. Alentejo.
O tempo é outro tempo nas terras pequenas, dizia Ruy Belo.
E eu encontrei esse tempo. E andorinhas. Fora e dentro de casa num ritmo alucinante entre o descaramento "invasivo" e a timidez do susto que é a vida.
Boa semana.
1º - De toda esta mudança de albardas ou de ministérios, com dissoluções das Câmaras e eleições à vista, o Zé astrólogo só vê carneiro com batatas no horizonte, sonhando comezainas de borla, por conta dos partidos em propaganda.(25 de fevereiro 1886)
2º- Paravtemperaar tais guisados vende ele os tomates da horta, hesitando em mostrá-los à polícia, mwsmo em ocasiões de batalha - não vá ela palmar-lhos...(22 de fevereiro de 1890)
3ºEm tal política os políticos se devoram, como grilos na gaiola. Zé Povinho aponta e ri...(10 de junho de 1892)
4º O cheiro, sobretudo o cheiro!Entre ratos e legumes, no barril do lixo, duas cabeças da «Grande Porca» que a política é, definem a«rotação» ou o «rotativismo». O zé tapa o nariz.(30 de oubro de 1910)
Desenhos de Rafael Bordalo Pinheiro, do livro Zé Povinho 1875, Comemoração do Centenário/ 1975 , de José - Augusto França
O tempo é outro tempo nas terras pequenas.
Juro que vou à procura desse tempo...
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
Mário Cesariny, Poema
Fotografia de anamar (traseiras do Jardim Tropical, Belém)
A Língua portuguesa é responsável pelas mais perfeitas canções. Soa a imperialista? Então deixo-vos um exercício simples: traduzam as letras dos BEATLES.
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A canção inglesa ou americana pretende que o amor tenha uma lógica e se desenrole como um "western", com índios maus e caubóis valentes. A brasileira não.
(continuação da leitura de excertos de um artigo de Inês Pedrosa, revista !BRAVO, 2011)
(continuação)
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Ora ficámos no "amor fino" de Padre António Vieira, ou o amor a fundo perdido...
Não há outro; ao amor que espera retorno podemos chamar investimento, vaidade, medo ou comodismo. Podemos até decidir ser felizes através dele. Mas o amor digno desse nome não cuida de enredos ou desenlaces; é, como escreveu Ovídio, uma arte, com o que isso significa de coragem e entrega. A arte exige o dom da metamorfose e um alto grau do domínio perante a dor. O artista, como o amante, tem de ser capaz de sair da sua própria pele para se colocar dentro da pele do outro. Esvaziando-se na entrega, ganha também imunidade à dor - há sempre um lado seu que contempla, de fora, como um Deus, a obra que dentro de s iestá gerando.
Tudo isso existe, em sublime condensação, no casamento entre a música e letra - e assim o Brasil deu de 10 a 0 em toda a história da filosofia. de Ovídio e Platão a Kant e Nietzsche.
"Se você tem uma história incrível é melhor fazer
uma canção
está provado que só é possível filosofar
em alemão".
A receita é de Caetano, em" Língua", a melhor canção alguma vez escrita . Estava tentada a acrescentar "em língua portuguesa", mas a tese que aqui se expõe é a de que a língua portuguesa é responsável pela criação das mais perfeitas cancões.
Excerto de artigo de Ines Pedrosa na revista !BRAVO, DEZEMBRO DE 2011
Há semanas parece que Caetano Veloso esteve por cá. Fins de Abril. Espectáculos ao vivo que mãos exterminadoras e implacáveis me impediram de ir. Não estou só nestes actos de prazer . Somos muitos....
Contudo o prazer de leituras de revistas de estimação, esta também já "moribunda" no outro lado do Atlântico, ! BRAVO, fez-me relembrar esta crónica de Inês Gonçalves, Na !BRAVO de dezembro de 2011.
(excerto)
Devo às canções do Brasil a minha fé no amor. Não é coisa pouca nem leve; acredito no amor como os outros acreditam na Virgem de Fátima : à revelia dos tropeços da História. Não há lágrima que eu não transforme em prisma de uma nova visão do mundo, nem ruínas de ilusão sob as quais não encontre o sinal de uma alegria maior. As canções brasileiras, em particular as de Caetano Veloso e Chico Buarque, deram-me um doutorado naquilo a que o Padre António Vieira chamou "amor fino" - o amor a fundo perdido.
(CONTINUA)
Felix Vollotton, pinturas entre 1892 e 1895
* verso de Rosário Pedreira
E, ao fim de 35 anos, continuamos bem resolvidos com as nossas vidas.
Bem haja