Quando era criança, na minha cidade, o teatro de marionetas parava na minha rua para atuar. Eu via-os da minha janela de 1º andar. A perspectiva era uma outra de quando os via na praia. De cima. As manipulações, as mudanças rápidas de bonecos nas duas mãos do seu manipulador, deixavam-me louca de entusiasmo, mais admirada ainda, quando descobri que o artista era cego.
No fim, acontecia sempre o mesmo. Gritava da minha janela : -
Ó senhor Roberto , tome lá cinco tostõezinhos...
Esta cena de chamar da janela, fazia as delícias da família, assim como uma outra situação. Quando a sirene dos bombeiros tocava, os grandes e valorosos Bombeiros Voluntários, que eram ali perto, largavam o trabalho e aceleravam os pedais da bicicleta para apagar o fogo. E eu, mais uma vez do meu 1º andar, quando os via curvar, gritava :
- Ó senhor bombeiro, onde é que é o fogo?
Claro que, tinha que sair de casa, pois as crianças facilmente andavam pela rua, e ir ao quartel saber o local do "crime"...