O que aflitivamente falta no mundo actual é grandeza, beleza, amor, compaixão e liberdade. O tempo dos grandes indivíduos, dos grandes líderes e dos grandes pensadores já passou. No seu lugar estamos a criar embriões de monstros, assassinos, terroristas: a violencia, a crueldade e a hipocrisia parecem inatas. Quando invocamos os nomes de figuras ilustres do passado tal como Péricles, Sócrates, Dante, Abelardo, Leonardo Da Vinci, Shakespeare, William Blake, ou até do louco Ludwig da Baviera , esquecemo-nos de que mesmo nos tempos mais gloriosos havia inacreditável pobreza, tirania, crimes, inomináveis, os horrores da guerra, malevolência e traição. Bem e mal, fealdade e beleza, o nobre e o ignóbil, esperança e desespero. Sempre. A não coexistência destes extremos naquilo a que chamamos um mundo civilizado parece impossível.
Se não podemos melhorara as condições em que vivemos podemos pelo menos oferecer uma saída imediata e indolor. Há saída através da eutanásia . Porque é que não é oferecida aos milhões de desesperados e miseráveis para quem não há qualquer hipótese de desfrutar nem sequer de uma vida de cão? Não pedimos para nascer - então porque deve ser-nos recusado o privilégio de sair quando as coisas se tornam insuportáveis? Temos de esperar que a bomba atómica nos liquide a todos em simultâneo ?
Não quero acabar num tom amargo. Como os meus leitores bem sabem, o meu mote tem sido sempre este: "Sempre alegre e brilhante". Talvez por isso nunca me canse de citar Rabelais : "Para todas as vossas enfermidades, dou-vos risos."
Excerto do belo e pequeno livro de Henry Miller, Viragem aos Oitenta . Um pequeno livro que amo.