segunda-feira, 30 de março de 2009

Ainda uma questão posta a Ferreira Gullar sobre poesia e poetas...


Bravo: O senso comum costuma apregoar que poetas nascem poetas. Poesia é destino?

Ferreira Gullar: Prefiro dizer que é vocação. O poeta traz do berço um modo próprio de lidar com a palavra. Não se trata porém de um presente dos deuses, de uma concessão divina, como se pregava em outras épocas.
Trata-se de um fenómeno genético, biológico, sei lá. Há quem nasça com talento para pintar, jogar futebol ou roubar. E há quem nasça com talento para fazer poemas. Sem a vocação, o sujeito não vai longe. Pode virar um excelente leitor ou crítico de poesia, mas nunca se transformará num poeta respeitável .Quando um jovem me mostra originais , percebo de cara se é ou não do ramo, leio dois ou três poemas e concluo de imediato. Por outro lado, caso o sujeito tenha vocação e não trabalhe duro, dificilmente produzirá um verso que preste. Se não estudar, se não batalhar pelo domínio da linguagem, acabará por desperdiçar o talento. “Nasci poeta vou ser poeta”. Não funciona assim. Converter a vocação em expressão demanda um esforço imenso. Tudo vai depender do equilíbrio entre o acaso e a necessidade. Compreende a diferença?
No fundo, a vida não passa de uma constante tensão entre acaso e necessidade.

Nem todas as rosas são perfumadas...



O EXEMPLO DAS ROSAS

Uma mulher queixava-se do silêncio do amante:
- Já não gosta de mim, pois não encontras
palavras para me louvar!
Então ele, apontando-lhe a rosa que lhe morria no
seio:
- Não será insensato pedir a esta rosa que fale?
Não vês que ela se dá toda no seu perfume?
Poema de Manuel Bandeira