Adelino Ribeiro Novo (Portugal): A história do futebol não é contada apenas com belos golos, jogos inesquecíveis, ou jogadores brilhantes. Infelizmente, ela também está machada com tragédias. E quando falamos em tragédias referimo-nos a mortes, ao sucumbir dos “soldados no campo de batalha”, isto é, a morte em campo. A primeira morte de um futebolista no exercício da sua atividade de que há memória remonta a 22 de agosto 1874 e aconteceu na Escócia, altura em que Robert Atherley, jovem jogador de apenas 19 anos, que defendia as cores do Star of Leven, morreu na sequência de um pontapé no estomago no decorrer de um jogo. Em Portugal a primeira tragédia de que há memória aconteceu nos anos 40 do século passado, mais concretamente no dia 16 de setembro de 1945, quando em Barcelos outro jovem e talentoso futebolista faleceu na sequência de um choque com um adversário. Adelino Ribeiro Novo, o seu nome, um nome hoje em dia indissociável do quase centenário Gil Vicente Futebol Clube e da bonita cidade que lhe serve de berço: Barcelos. Contava apenas com 24 anos quando a tragédia lhe bateu à porta, morreu na flor da idade, e morreu numa altura em que o seu nome fazia furor nos campos de futebol. Atuava como guarda-redes, defendendo com garra e eficiência o clube da terra onde nasceu em 1921. Como qualquer bom guardião, Adelino Ribeiro Novo, o Ribeirinho, como carinhosamente era tratado pelos adeptos do Gil Vicente, era destemido a sair dos postes: ágil, seguro e sem medo. Havia quem o visse como o melhor guarda-redes minhoto daquele tempo, não sendo de admirar que lhe chegassem convites para representar clubes de maior nomeada que o então modesto Gil Vicente. Porém, o seu amor ao Gil – o único emblema cujas cores defendeu na sua curta carreira - e à sua terra falaram sempre mais alto, e Adelino Ribeiro Novo foi ficando por ali, dividindo a sua paixão pelo futebol com a necessidade de ganhar a vida enquanto empregado de balcão numa loja comercial em Barcelos. No jornal Correio do Minho, de 19 de setembro de 2011, Joaquim da Silva Gomes dedica uma crónica a este jogador e à tragédia que lhe bateu à porta, citando outro jornal minhoto, no caso o Barcelense, cuja edição de 29 de setembro de 1945 aludia a Ribeirinho como «dotado de esplendidas qualidades para o difícil lugar, aliadas com uma modéstia impressionante, características que faziam com que tivesse em cada adversário um amigo (…) O seu rosto expressava claramente as alegrias da vitória ou as tristezas da derrota, embora o seu temperamento acanhado o obrigasse, muitas vezes, a fugir das manifestações de simpatia que sempre o envolviam». Adelino Ribeiro Novo, que era o mais novo de três irmãos, que tal como ele estiveram ligados ao futebol e ao Gil Vicente em particular, conheceu a morte num domingo de bola. Estávamos a 16 de setembro de 1945 e nessa tarde o Gil Vicente recebia o Desportivo das Aves num encontro relativo à 3.ª Divisão Nacional, no Campo da Granja, o então recinto dos gilistas. Estavam apenas decorridos 10 minutos de jogo quando Adelino Ribeiro Novo saiu destemido da sua baliza aos pés de um avançado contrário. Não se conseguiu evitar o violento choque entre ambos e Ribeirinho teve de receber prontamente assistência. O guarda-redes gilista tinha sido atingindo com um pontapé nos rins pelo avense Armando Moreira de Sá. Adelino Ribeiro Novo foi de pronto transportado para o Hospital de Barcelos onde os médicos de tudo fizeram para o salvar, mas as lesões que ali o levaram eram graves, provocando uma hemorragia interna, que levariam à sua morte poucas horas após o choque dentro do campo. O carinho e admiração que o povo de Barcelos tinha por Ribeirinho ficaram bem patentes no estado de alma daquela povoação minhota, que acorreu em massa ao funeral do seu jovem ídolo. Segundo o cronista Joaquim da Silva Gomes «as cerimónias fúnebres realizaram-se no dia 17 de setembro de 1945, e constituíram uma das maiores manifestações de apreço que os barcelenses até então tinham demonstrado a um barcelense». Barcelos nunca esqueceu este seu filho querido, nem tão pouco o Gil Vicente, que em 1987 rebatizou o seu recinto desportivo para Estádio Adelino Ribeiro Novo. Hoje, apesar de já não jogar ali, visto que atua no moderno Estádio Cidade de Barcelos desde 2004, o Gil Vicente ainda utiliza o velhinho Estádio Adelino Ribeiro Novo como casa dos seus escalões de formação.
sexta-feira, setembro 22, 2023
quarta-feira, junho 07, 2023
Flashes Biográficos (15)... Kristen Nygaard
Kristen Nygaard (Dinamarca): Ele foi (ou é) um dos principais personagens do conto de fadas do AZ Alkmaar na época de 80/81. A temporada em que o modesto clube da "cidade dos queijos" surpreendeu o Planeta da Bola ao vencer não só o campeonato nacional como também a Taça dos Países Baixos. E a epopeia dos kaaskoppen (cabeças de queijo) só não ganhou contornos internacionais porque o então jovem treinador inglês Bobby Robson não permitiu.
Kristen Nygaard, que para muitos é um nome que pouco diz, foi o grande estratega do AZ '67 (atualmente denominado de AZ Alkmaar) nessa temporada de quase glória. Nasceu na Dinamarca, a 9 de setembro de 1949, e foi um médio elegante, detentor de um pé esquerdo fabuloso e uma visão de jogo primorosa a quem a camisola 10 desse AZ '67 assentava que nem uma luva. Nygaard chegou à Holanda (hoje Países Baixos) na sequência da sua única aparição brilhante ao serviço da seleção dinamarquesa. Contemporâneo de lendas vikings como Allan Simonsen (Bola de Ouro em 1977), Kristen Nygaard foi uma das estrelas da seleção nórdica no torneio olímpico de 1972, em Munique. As suas estupendas exibições nessa edição dos Jogos Olímpicos (ele foi titular absoluto em todos os seis encontros disputados pelos vikings nessa Olimpíada) cativaram o então treinador do AZ '67, Cor van der Hart, que de pronto fez tudo para contratar o alto, louro, e talentoso médio dinamarquês que até então atuava no modesto Fuglebakken KFUM, do seu país.
Corria então a época de 72/73 quando Nygaard chega a
Alkmaar, onde permaneceu durante 10 temporadas seguidas! Na sua estadia nos
Países Baixos fez 363 jogos e marcou 104 golos pelo AZ '67, juntando a estes
números centenas de passes teleguiados para outras lendas do clube daquele tempo, como Kees
Kist e Pier Tol, faturarem. No entanto, a já referida temporada de 80/81 ficou
na história de Kristen Nygaard e do AZ '67, em que juntamente com Kees Kist,
John Metgod, Eddy Treijtel e Jan Peters, guiou o modesto clube de Alkmaar ao
título de campeão nacional, selado após uma histórica vitória em casa do
gigante Feyenoord, por 5-1, em maio de 1981. Essa época foi mesmo de glória
para o AZ '67, que ao campeonato juntou ainda a Taça dos Países Baixos (a KNVB
Cup) após bater na final outro gigante do país das tulipas, o Ajax, em pleno
Estádio Olímpico de Amesterdão (uma das casas do Ajax), com Nygaard a marcar um
dos golos da vitória. A glória de 80/81 podia ter sido ainda mais vincada, já
que nessa temporada pela primeira e única vez na sua história (até à data) o
clube de Alkmaar atingiu uma final europeia, no caso a da Taça UEFA. O
"desmancha prazeres" foi Bobby Robson, que ao comando do Ipswich Town
bateu o clube que tinha como maestro Kristen Nygaard - 3-0 em Inglaterra no
jogo da primeira mão, ao passo que no encontro de volta, disputado em
Amesterdão, pelo facto do pequeno estádio do AZ '67 não ter condições para
acolher uma final continental, a equipa na altura orientada pelo alemão Georg
Kessler venceu por 4-2, resultado insuficiente para ficar com o caneco.
Nygaard
ficou em Alkmaar até meados de 1982, rumando depois para França, mais
concretamente até Nimes, onde jogou nas cinco épocas seguintes, sendo que foi
nesta cidade gaulesa que iria pendurar as chuteiras e abraçar as lides de
treinador. Mas por pouco tempo, já que em 1994 Nygaard teve um grave acidente
de viação que quase lhe tirou a vida. Durante oito semana ele esteve em coma e
depois de recuperar ficou com profundas sequelas que de lá para cá o têm afetado.
De tal forma que até hoje ele tem sido sustentado pela sua esposa, pelo seu
filho, e por amigos, dada a sua incapacidade para trabalhar nem o facto de ter
tido direito a qualquer pensão/seguro.
Nygaard, que teve como grande ídolo o holandês Johan Cruyff, é hoje mais popular nos Países Baixos do que no seu próprio país (cuja seleção nacional representou em 39 ocasiões entre 1970 e 1979, mas sem grande brilho, excetuando a tal presença nos Jogos Olímpicos de 72). Alkmaar não o esquece, de tal forma que o atual o centro de fãs no Estádio AFAS (atual e moderno recinto do AZ) tem o seu nome!
segunda-feira, novembro 21, 2022
Flashes Biográficos (14)... Jimmy Douglas
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Jimmy Douglas |
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A seleção dos EUA que brilhou no Mundial de 1930 |
terça-feira, janeiro 08, 2019
Flashes Biográficos (13)... Algoth Niska
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Algoth Niska |
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Niska, ao meio, em Estocolmo 1912 |
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Niska, os barcos e o mar, uma ligação aventureira |
sexta-feira, outubro 13, 2017
Flashes Biográficos (12)... Tommy Ross
Nesse dia Tommy, com apenas 18 anos de idade, defendia as cores do Ross County, emblema pelo qual tinha começado a jogar cerca de três anos antes e que deambulava então pelos escalões mais baixos do futebol escocês. Nessa jornada histórica, o Ross County atuava diante do rival (da região de Ross and Cromarty) Nairn County, numa partida alusiva à Highland Football League, uma espécie de campeonato distrital. E é precisamente aqui que começa a epopeia de Tommy. O árbitro apita para o pontapé de saída e o jovem avançado precisa apenas de 90 segundos para apontar... três golos!!! Um hattrick em minuto e meio!!! Claro que a façanha correu os quatro cantos da ilha de Sua Majestade, tendo recebido no final da época alguns convites do atrativo futebol inglês, um deles proveniente de um peso pesado britânico, no caso o Newcastle United, clube que entrou na corrida pela contratação do jovem bombardeiro das highlands (terras altas da Escócia) juntamente com o Millwall, o Cardiff City e o Aberdeen. A cobiça destes emblemas pelo jogador não ter-se-á ficado a dever exclusivamente ao histórico e super-rápido hattrick, dizemos nós, mas também muito por influência do impressionante número de golos que Tommy apontou nessa temporada de 1964/65: 44 remates certeiros, para sermos mais precisos. Desconhecidas as razões, o que é certo é que o destino de Ross no final dessa época acabou por ser o modesto Peterborough United, de Inglaterra, uma aventura que passou quase despercebida ao longo dos dois anos seguintes. Seguiram-se passagens igualmente modestas por York (City), Wigan (Athletic) - provavelmente o emblema de maior nomeada pelo qual Tommy Ross atuou (sem grande relevo) durante um par de anos - e por Newchurch - onde jogou pelo Rossendale United -, antes de regressar às highlands escoceses em 1977... pela porta pequena, o mesmo será dizer, para defender as cores dos semi-profissionais do Brora Rangers. Ali esteve até ao fim de uma carreira que passou praticamente despercebida (!),em que o minuto de fama, ou melhor, o minuto e meio de fama, aconteceu naquele histórico dia 28 de novembro de 1964. Penduradas as chuteiras, enveredou por outros caminhos profissionais: foi vendedor de automóveis, criou uma empresa de construção civil... tendo em paralelo mantido o vício pelo futebol, isto é, orientou várias equipas amadoras da sua região natal. O mundo (do futebol, sobretudo) só voltou a ouvir falar dele em maio deste ano, no dia 19, quando foi anunciada a sua morte.
segunda-feira, março 13, 2017
Flashes Biográficos (11)... Paulo Innocenti
quinta-feira, junho 09, 2016
Flashes Biográficos (10)... Anatoli Ilyin
sexta-feira, junho 03, 2016
Flashes Biográficos (9)... Tony Barton
segunda-feira, março 14, 2016
Flashes Biográficos (8)... Adolphe Cassaigne
terça-feira, março 08, 2016
Flashes Biográficos (7)... Nettie Honeyball
O primeiro teste das futebolistas dá-se em março de 1895, tendo sido presenciado por cerca de 10.000 pessoas, as quais se deslocaram ao Crouch End londrino para assistir a uma partida entre equipas representativas do norte e do sul da capital britânica. Abra-se aqui um parênteses para dizer que a História diz-nos que este não foi o primeiro match 100 por cento feminino, uma vez que cerca de três anos antes, em Glasgow, há notícias de um desafio entre senhoras, desconhecendo-se, no entanto, os contornos do mesmo. Mas voltando a Crouch End para recordar que as nortenhas - que no seu eleven integravam Nattie Honeyball - venceram por 7-1, um match que motivou uma chuva de crónicas machistas por parte dos jornais da época, os quais não disfarçaram os tiques desse mesmo machismo que estava enraizado na sociedade da época. O Daily Sketch, que um mês antes havia entrevista Nattie, escreveu que «os primeiros minutos foram suficientes para demonstrar que o futebol feminino (...) está totalmente fora de questão. Um futebolista requer velocidade, disciplina, habilidade e coragem. Nenhuma destas quatro qualidades se viram no sábado. Na maior parte do tempo as senhoras vaguearam sem rumo pelo terreno de jogo num trote sem graça». Houve no entanto quem tivesse proferido palavras mais amáveis para as distintas senhoras que atuaram no recinto de Crouch End, como foi o caso do correspondente do diário The Sportsman, que sublinharia que: «É certo que os homens correm mais e rematam com mais força, (...) mas para além disso não acreditamos que a mulher futebolista desapareça na sequência de uns quantos artigos escritos por senhores sem qualquer simpatia pelo jogo nem pelas aspirações das jovens mulheres. Se a mulher futebolista morrer, morrerá a dar luta». Este último artigo estava certo. As British Ladies não se deixaram afetar pelas críticas e continuaram a percorrer caminhos até então exclusivos a homens, tendo realizado mais alguns jogos nos meses seguintes (um deles com cariz de beneficência, realizado em Brighton), antes de darem por terminada uma aventura que ficou na história, e que depois de ultrapassar dezenas de obstáculos no âmbito do preconceito e do machismo ao longo das décadas seguintes acabou por abrir - à semelhança do que aconteceu noutras áreas - o Mundo do futebol ao sexo feminino. Nada mais justo.