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segunda-feira, março 18, 2024

Histórias do Futebol em Portugal (48)… O último ato do Académico do Porto nos palcos da “Primeira” (Parte V)

A turma da Académica de Coimbra que disputou
a 1.ª Divisão Nacional em 1941/42


Chegamos ao último capítulo desta memória sobre a derradeira e longínqua – já lá vão 82 anos – aparição do histórico Académico do Porto na 1.ª Divisão Nacional. E começamos esta derradeira viagem pela vitória dos academistas do Porto ante os academistas de Coimbra, no Estádio do Lima. “Bola cá, bola lá”, assim se afigura o encontro nos primeiros minutos, com ambas as defesas em alerta permanente. E mais uma vez, o relvado do Lima é abençoado – ou não – pela chuva que caí à hora do encontro na cidade do Porto. «As duas equipas e o árbitro (o lisboeta João Vaz) heroicamente se aguentam no terreno» escreve o jornalista ao serviço do Norte Desportivo. A chuva faz com que a partida não desperte grande entusiasmo, visto que não é possível praticar-se um futebol vistoso, dadas as condições do relvado do Lima. Os de Coimbra são os que mais tentam remar contra a maré, com tentativas de avanços no terreno, mas são os academistas que nas vezes em que se aventuram na área contrária mais perigo lá têm semeado. A Académica tem razões de queixa do árbitro lisboeta, já que em duas ocasiões reclama penalty, por derrube a Gomes e a Armando, com o juiz a mandar seguir.  As más condições do terreno fazem com que o portuense Marques abandone temporariamente o relvado, aparentemente com queixas físicas. Até que aos 33 minutos o encontro conhece o primeiro grande sinal de interesse, o golo da Académica de Coimbra. «Nini, de longe, ensaia um pontapé que sai com violência e que Santiago não pôde deter». Quase de seguida o Académico espreita o empate, não fosse o guardião Acácio fazer uma estirada espetacular. Até que na entrada para os últimos cinco minutos da primeira parte, os portuenses chegam à igualdade. «Raul, lançado pela esquerda, serviu excelentemente Julinho, e quando Acácio se lhe lançava aos pés, aquele fez-lhe passar a bola sobre o corpo, para o fundo da rede». 



O golo espicaçou os anfitriões, que apenas dois minutos volvidos ampliaram a vantagem. O lance começa em Álvaro Pereira, que executa um centro para a cabeça de Marques – que, entretanto, já havia voltado ao campo –, que desvia o esférico para Raul, que também de cabeça faz o segundo para o Académico. E assim termina a primeira metade. No recomeço os estudantes de Coimbra surgem mais velozes e lançados ao ataque. «Parece que os visitantes vão dar tudo por tudo para modificar a feição do encontro. Aparecem jogadas, agora mais claras, por parte dos visitantes». E numa delas Lemos tem uma fuga pelo centro do terreno, e de seguida cruza para a cabeça de Armando fazer o segundo tento da Briosa para espanto de Santiago. Este golo despertou os portuenses, que passaram a ter mais domínio no encontro, «obrigando os visitantes a ceder cantos em série». E como diz o ditado “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, eis que Raul Castro fez o 3-2 final à passagem da hora de jogo, garantindo assim o triunfo dos alvi-negros, que nesta partida alinharam com: Santiago, António Jorge, Rafael, Manau, Marques, Eliseu, Álvaro Pereira, Gamboa, Julinho, Raul Castro e Raul.


Nova viagem de má memória ao sul de Portugal

Nesta sua derradeira aparição no Nacional da 1.ª Divisão não se pode dizer, muito longe disso, que as viagens ao sul do país tenham sido felizes para as hostes do Académico do Porto. Além dos 35 golos sofridos só na capital, os academistas encaixaram mais 13 (!) noutras deslocações a sul do Tejo. Isto é, aos cinco sofridos em Olhão na 8.ª jornada, averbaram mais oito na deslocação ao Barreiro. Caso para dizer que os ares do sul fizeram mal aos portuenses. No Campo do Rossio, «o Barreirense impôs uma toada rápida e de passes curtos que desconcertaram o adversário», escrevia o correspondente do Norte Desportivo. O jornalista retratava ainda que no primeiro quarto de hora, a equipa da “margem sul” «delineou avançadas vistosas a que os seus dianteiros deram boa conclusão». Por seu turno, o Académico alternou entre o bom e o mau, sendo que neste último capítulo o ataque esteve «muito irregular». Este encontro marcou ainda o regresso de Levy de Sousa à baliza academista, ele que apesar dos oito golos encaixados teve lances de bom desempenho, e talvez por isso no final da temporada tivesse rumado precisamente ao Barreirense. 8-1 a favor do conjunto do Barreiro num encontro em que o Académico apresentou o seguinte “onze”: Levy de Sousa, António Jorge, Rafael, António Silva, Marques, Eliseu, Larsen, Campos, Raul Castro, Julinho (que apontou o tento solitário dos portuenses) e Raul.


A vitória mais dilatada do Académico na 1.ª Divisão

E à 19.ª jornada o Académico do Porto tirou a barriga de misérias. E fê-lo à custa do Olhanense, que veio ao Lima “levar” nove! 9-0 foi o score daquela que foi a vitória mais robusta do combinado portuense nesta temporada. Aliás, este é o resultado mais dilatado alcançado pelos academistas nas suas cinco participações na 1.ª Divisão, estabelecendo, como tal, um recorde que perdura até hoje. A história deste encontro é simples de ser contada, e resume-se ao festival de golos do Académico, festival esse que começou mal a bola rolou pela primeira vez. Logo ao primeiro minuto Julinho marcou o primeiro na sequência de uma ação individual. Os alvi-negros dominavam os algarvios, e aos cinco minutos Raul Castro amplia a vantagem com um remate colocado. «O Olhanense parece sentir o piso relvado. A inconsistência das suas jogadas não lhes permite a realização de grandes feitos, pelo que o Académico se torna senhor da iniciativa e domínio», dizia o jornalista de serviço neste encontro, no sentido de explicar a apatia dos algarvios. Porém, a pouco e pouco os visitantes sacodem um pouco a pressão dos locais, embora sem conseguir criar perigo na baliza de Santiago. 

O Olhanense foi a vítima maior do Académico
na passagem dos portuenses pela 1.ª Divisão


O jogo perde alguma da sua beleza, dado os excessos de tentativas sem sucesso de jogadas individuais de parte a parte. Mas sobre o intervalo uma jogada individual de Julinho – que desta vez contrariou a tendência do individualismo de baixa qualidade – resultou numa grande penalidade, que Raul Castro converteu com êxito. 3-0, o resultado na saída para o descanso. No reatamento o Olhanense ainda dá um ar de sua graça, mas rapidamente o Académico esfria o ânimo algarvio e volta a assumir o controlo da partida. Aos 51 minutos Gamboa aponta o quarto tento dos academistas, que apenas três minutos volvidos veem Larsen fazer o 5-0. «Os algarvios acusam a ascendência do grupo local», e permitem que o mesmo Larsen dois minutos depois faça um novo golo. A avalanche dos portuenses não se ficaria por aqui, e Larsen, que teve uma tarde endiabrada, à passagem da hora de jogo, faz o 7-0. Aos 65 minutos foi a vez de Julinho voltar a fazer o gosto ao pé após uma série de dribles sobre os adversários, e a 10 minutos do fim este mesmo jogador, mesmo sendo carregado em falta, consegue faz o 9-0 com que foi selado o marcador. Inolvidável este jogo e o consequente resultado na história do futebol do Académico do Porto.

Os portuenses alinharam com: Santiago, António Jorge, Rafael, Manau, Eliseu, Marques, Álvaro Pereira, Gamboa, Julinho, Raul Castro e Neca.


Regresso às derrotas no meio da ventania de Leça da Palmeira

A festa duraria pouco, já que na semana seguinte uma curta viagem até Leça da Palmeira seria concluída por um desaire de 2-0 ante o conjunto local. O jornalista do Norte Desportivo, José Parreira, relata que os leceiros iniciam a partida a jogar contra o vento e que o duelo se desenrola com uma certa velocidade. As primeiras oportunidades de golo pertencem ao Leça, «que apesar de jogar contra o vento tem sido mais equipa». Por seu turno, o Académico só a partir da meia hora esboça uma reação, que não dura muito tempo. Na segunda metade, os leceiros, desta feita com o vento a seu favor, comandam abertamente a partida. «O Académico só esporadicamente aparece sobre a meia defesa dos locais. O goal custa a aparecer, as situações de perigo desenham-se continuamente junto dos postes de Levy (de Sousa), mas os dianteiros do Leça, umas vezes por falta de sorte, outras por pelos efeitos caprichosos que o vento imprime ao esférico, não encontram a finalidade desejada». Até que aos 65 minutos acontece uma “embrulhada” na área academista, e «Rocha, por entre um cacho de jogadores, atira a um canto, sem possibilidades para Levy (de Sousa)», abrindo assim o marcador. O Leça não abranda o ritmo, continua a dominar, e já sobre o final, Mendes tem um potente remate que o guardião academista não segurou e na recarga, oportuno, Lúcio fez o 2-0 final de um encontro onde o Académico alinhou com: Levy de Sousa, António Jorge, Rafael, Eliseu, Manau, Marques, Larsen, Gamboa, Julinho, Raul Castro e Carvalho.


Ânimos exaltados no duelo com os vizinhos da Invicta

Na penúltima ronda do campeonato e a precisar de pontuar para ainda ter esperanças de ficar na 1.ª Divisão, o Académico fez uma curtíssima viagem até ao Campo da Constituição, casa do vizinho FC Porto. Portistas que há muito já estavam afastados da luta pelo título de campeão, que estava já praticamente entregue ao Benfica. Sem nada a perder o FC Porto lança-se ao ataque, e logo nos minutos iniciais António Santos envia o esférico para o fundo das redes de Santiago, embora o árbitro invalide o golo por alegado fora de jogo do avançado da casa. Este foi o primeiro sinal de aviso do que iria acontecer logo aos 3 minutos, altura em que António Jorge carrega Correia Dias dentro de área. Desta feita, o árbitro Correia da Costa não tem dúvidas e assinala grande penalidade, a qual seria convertida precisamente por Correia Dias. «Os azuis e brancos usufruem maior quinhão de domínio, obrigando a defesa academista a um trabalho apurado», escreve o jornalista José Parreira. Com uma técnica mais apurada e maior pendor ofensivo, os portistas ameaçam continuamente a baliza de Santiago. Porém, aos 21 minutos o Académico tem uma oportunidade soberana para chegar à igualdade, quando numa das raras incursões à baliza de Béla Andrasik, o defesa Sárria mete mão à bola, com o juiz a apontar para a marca de castigo máximo. 

Correia Dias tenta furar a defesa academista


Na conversão, Raul Castro permite a defesa ao guarda-redes húngaro do FC Porto. Logo de seguida, Carlos Pratas envia uma bola ao poste, e já sob o intervalo este mesmo jogador faz o 2-0 a para os locais, resultado com que as equipas saem para o descanso. O jogo é retomado praticamente com o terceiro golo dos portistas, altura em que no meio de um aglomerado de jogadores na área de Santiago, Pratas é mais rápido a esticar a perna e rematar a bola para o fundo das malhas. O lance gera alguma confusão entre jogadores das duas equipas. António Santos e Eliseu agridem-se mutuamente, com o árbitro a expulsar o jogador do Académico e a deixar o portista em campo! Decisão incompreensível. Eliseu reclama da decisão, e o juiz é obrigado a chamar a polícia para retirar o atleta alvi-negro do terreno. Depois disto, Correia da Costa perde o controlo da partida, e acumula asneiras atrás de asneiras até final. Até que aos 21 minutos da etapa regulamentar Larsen foge aos adversários pelo flanco esquerdo, e aproveitando um dos raros deslizes de Andrasik faz o tento de honra do Académico, ainda assim insuficiente para evitar a derrota. Na Constituição, os academistas alinharam com: Santiago, António Jorge, Rafael, Manau, Eliseu, Marques, Raul Castro, Larsen, Gamboa, Julinho e Raul.


Despedida inglória do palco da “Primeira”

E eis que chegávamos à 22.ª e última jornada do Nacional da 1.ª Divisão de 41/42. Jornada decisiva para as duas equipas que mediam forças no Estádio do Lima, Académico e Carcavelinhos. O conjunto da capital tinha somente mais um ponto que os portuenses, sendo que a ambos só a vitória interessava para poderem continuar a sonhar com a permanência, visto que à mesma hora também o Olhanense lutava pelo mesmo objetivo. O encontro nem parecia de decisões, já que as bancadas do Lima se apresentavam despidas de público. Até ao minuto 10 o perigo rondou com mais insistência a baliza lisboeta, sendo que nas palavras do jornalista Bolero «o balanço ao quarto de hora dá vantagem territorial aos portuenses. Vinca-se a opinião que os academistas jogam melhor. Conduzem os seus ataques com mais método. O Carcavelinhos só a espaços elabora jogadas vistosas». Contudo, aos 20 minutos, contra a corrente do jogo os lisboetas marcam. Um cruzamento de Marques é bem aproveitado por Bernardo, que de cabeça bateu Santiago. O golo animou os rapazes de Alcântara, que passam a ter uma certa vantagem sobre o adversário. No entanto, até final do primeiro tempo o Académico recupera o comando da partida, atua mais próximo da área contrária, mas os seus avançados revelam pouca perícia na conclusão dos lances. A defesa também está nervosa, e Rafael quase oferece o segundo golo aos de Lisboa. Na segunda metade o encontro não muda de feição. «Joga-se mal de parte a parte e o entusiasmo pela luta também é escasso. A bola anda cá e lá em esquemas improvisados. Joga-se como calha e como a bola quer. O jogo quase não tem história», conta Bolero. A partir dos 55 minutos o Académico procura o golo com mais vontade, e o Carcavelinhos defende a sua magra vantagem com “unhas e dentes”. A partida caminha para o final, até que um balde de água fria cai sobre os lisboetas a três minutos dos 90, altura em que Larsen faz o empate. O resultado (1-1) não agrada a ninguém, já que ambas as equipas descem de divisão. O Académico despedia-se assim do principal palco do futebol português. Os portuenses encerraram o campeonato no 10.º lugar, com 13 pontos somados. Neste derradeiro encontro na “primeira” os academistas alinharam com: Santiago, Rafael, António Jorge, Manau, Américo, Gamboa, Raul, Marques, Larsen, Raul Castro e Julinho.

quinta-feira, março 14, 2024

Histórias do Futebol em Portugal (46)… O último ato do Académico do Porto nos palcos da “Primeira” (Parte III)


Estreante nestas andanças de 1.ª Divisão Nacional era o Leça, clube modesto que nesta primeira aparição entre os “Grandes” se fazia representar na sua esmagadora maioria por jogadores da terra, todos amadores, e sem experiência no mais alto patamar do futebol luso. Leça que se deslocou ao Estádio do Lima na 9.ª jornada para disputar um «jogo de vizinhos» como lhe chamou o jornalista Bolero, do Norte Desportivo. Perante reduzida assistência a partida teve um início tímido, sendo que nos primeiros cinco minutos há apenas a registar uma oportunidade de golo perdida do academista Álvaro Pereira. Apesar de ser disputado a grande velocidade, o encontro não apresenta um padrão tático definido, o que o torna um pouco desinteressante. «Ambas as equipas jogam à base da energia, com uma ou outra jogada onde se vislumbra o desejo de conjunto (…) Uma e outra defesa, continuamente em ação, batalham ardorosamente. Se os setores dianteiro e médio têm trabalho sucessivo, o mesmo sucede com as extremas defesas, sempre na liça. Tem motivos de certo agrado esta partida entre leceiros e académicos», assim retratava Bolero.

A equipa do Leça que disputou a 1.ª Divisão em 41/42

À passagem da meia hora de jogo o Académico toma conta dos acontecimentos, perante um Leça que começa a dar sinais de alguma fraqueza à medida que se aproxima o intervalo. Levy de Sousa, guarda-redes do Académico do Porto, é um mero espectador, em contraste com Jaguaré – não o excêntrico guardião brasileiro que jogou no Académico anos antes, mas sim Alfredo Dias, conhecido pelo Jaguaré do Leça – que tem trabalhos redobrados. A avalanche academista produziu resultados antes do descanso, com Marques e Larsen a darem expressão ao marcador. A toada de jogo manteve-se na segunda metade, e quando estavam decorridos 62 minutos Raul Castro desfere um remate a cerca de 30 metros da baliza de Jaguaré, guardião que é traído pela trajetória da bola e não evita desta forma o terceiro tento dos portuenses. Tecnicamente o Académico era superior ao seu adversário, e o marcador seria fechado por Larsen a 15 minutos do fim, na sequência de um canto apontado por Machado. 4-0, vitória de um Académico que alinhou da seguinte forma: Levy de Sousa, António Jorge, Rafael, Manau, Guimarães, Eliseu, Larsen, Raul Castro, Marques, Julinho e Álvaro Pereira.


O derby da Invicta pende para o lado azul-e-branco

E na 10.ª ronda houve aquele que foi o primeiro dérbi da Cidade Invicta no patamar mais alto do futebol em Portugal. Académico e FC Porto mediram forças no Lima. O jornalista Lopes Gaya conta que os portistas entraram em campo a pressionar os academistas, mostrando assim «certas tendências para abrir o ativo, porque aparecem com mais frequência no ataque. Levy (de Sousa) é chamado duas vezes a intervir, e fá-lo com certa felicidade a dois remates, um de Pinga e outro de António Santos». Após este começo mais afoito dos azuis e brancos o jogo entra numa toada de maior equilíbrio, com o Académico a espreitar com mais frequência o ataque, pese embora com a defesa portista sempre atenta. Até que à chegada da meia hora de jogo o FC Porto aplica dois rudes golpes ao Académico. O mesmo é dizer dois golos apontados quase de rajada. O primeiro por intermédio do possante avançado Correia Dias, aos 24 minutos, e o segundo dois minutos volvidos por Carlos Nunes. A equipa comandada pelo técnico Mihaly Siska saiu para o intervalo em vantagem, descanso esse que lhe parece ter feito mal, a julgar por uma entrada na segunda metade algo relaxada. Aproveitou o Académico que logo aos 10 minutos reduz a desvantagem. «Larsen lança um bom centro sobre a esquerda, a bola vai para Julinho que marca (passa) para Álvaro Pereira que fuzila rápido as redes de Béla (Andrasik)». A bola vai ao centro do terreno e… novo golo para o Académico. Julinho recebe a bola de um companheiro seu, e sem marcação corre em direção à baliza portista, rematando sem hipóteses para o fundo das redes. Estava feito o empate para delírio da claque do Académico, que «aplaude com entusiasmo a sua equipa». Do outro lado os adeptos do FC Porto também puxam pelo seu conjunto, e «estabelece-se um curioso duelo de claques. Um orfeão ruidoso a dar ambiente de espectativa ao encontro», descreveu Lopes Gaya. O FC Porto parece despertar da entrada sonolenta, e aos 65 minutos o árbitro Vieira da Costa assinala um livre perigoso para a baliza de Levy de Sousa. Na cobrança, António Baptista envia com habilidade a bola para o fundo da baliza academista, colocando novamente a sua equipa em vantagem. Aos 42 minutos, os portistas acabam com as esperanças dos seus vizinhos em pontuar. «Pratas desce e é carregado com certa violência. Pinga marca o castigo direto com um pontapé bem colocado e fixa o resultado em 4-2». No derby da Invicta o Académico alinhou com: Levy de Sousa, Rafael, António Jorge, Guimarães, Eliseu, Raul Castro, Larsen, Gamboa, Julinho, Marques e Álvaro Pereira.

Lance do dérbi da Cidade Invicta, entre Académico e FC Porto

Na derradeira jornada da primeira volta do campeonato o Académico voltou a não ser feliz na deslocação a Lisboa. Desta feita seria o Carcavelinhos a aplicar a chapa 6 aos portuenses. Sobre encontro não conseguimos encontrar o relato escrito das incidências do mesmo.

Treinador do Académico não atira a toalha ao chão

Conseguimos sim descobrir uma pequena entrevista concedida ao Norte Desportivo pelo treinador do Académico do Porto nesta temporada, Albertino Ferreira de Andrade, a sua graça. Nesta troca de palavras com aquele jornal portuense, o técnico fazia um balanço da primeira volta do campeonato, começando por opinar que tinha gostado de ver a equipa do Sporting em ação, e que em seu entender o FC Porto parecia querer regressar à boa forma do passado. 

O treinador do Académico:
Albertino Andrade

E sobre a sua equipa, Albertino Andrade não atirava a toalha ao chão, pelo contrário. «O orientador técnico do Académico parece, no entanto, não possuir fibra para o desânimo. (…) Sente na entrega à preparação física dos seus pupilos o melhor dos seus esforços. Percebe nos jogadores de futebol imensas deficiências, que procura corrigir, assim como determinados defeitos de formação». E mais adiante, ao falar dos resultados averbados até então, diz mesmo: «Pouca sorte, muito pouca sorte, é o que tem havido».


Nova viagem para esquecer à capital

O Início da segunda volta do campeonato marca uma nova viagem do emblema do Porto à capital, agora para defrontar o Belenenses, no mítico Estádio das Salésias. Os lisboetas vinham de uma vitória animadora no Campo da Constituição diante do FC Porto, na ronda anterior, e talvez por isso a massa adepta belenense fosse em grande número ver a sua equipa. Por seu turno, o Académico neste jogo «não foi melhor nem pior que noutras deslocações. A equipa, habilidosa por intermédio de alguns elementos, não tem fundo de resistência. No jogo de hoje transpareceu mais uma vez essa ideia. Em lampejos, o grupo consegue organizar algumas jogadas interessantes, mas com a sua linha de médios se divorcia muitas vezes do ataque, a equipa vive partida ao meio quase sempre», assim analisou a turma portuense o correspondente do Norte Desportivo na capital. O Belenenses entrou praticamente a ganhar, quando aos dois minutos Eliseu corta a bola com a mão dentro da área, com o árbitro setubalense Trindade a assinalar de pronto o castigo máximo. Na conversão, Feliciano marcou o primeiro tento dos azuis. O Belenenses teve quase sempre o ascendente do encontro, sendo que os campeões do Porto apenas se mostraram mais audazes no segundo quarto de hora da primeira parte. «De resto, a vontade mais forte foi a do Belenenses». Porém, contra a maré azul os academistas empatam a partida à passagem do minuto 19, por intermédio de Larsen. Empate que seria sol de pouca dura, já que três minutos passados António Jorge derruba Gilberto dentro da área e o árbitro não volta a ter dúvidas em assinalar nova grande penalidade a favor dos de Belém. Feliciano volta a não dar hipóteses de defesa a Levy de Sousa. E ainda antes do intervalo os locais ampliaram a vantagem, por intermédio de Artur Quaresma. «No segundo período, inicialmente, ainda o Académico se manteve com certa galhardia, mas depois o encontro entrou num período de certa monotonia dada a superioridade dos visitados», escrevia o Norte Desportivo. E seria dessa forma que Gilberto faria o quarto tento dos lisboetas, que praticamente sentenciou a partida, de nada valendo o facto de Larsen, aos 64 minutos, ter reduzido para 4-2, que seria, assim, o resultado final de um jogo onde o Académico alinhou com: Levy de Sousa, António Jorge, Rafael, Manau, Eliseu, Raul Castro, Larsen, Gamboa, Julinho, Marques e Álvaro Pereira.

(continua)

quinta-feira, março 17, 2022

Histórias do Futebol em Portugal (34)... A estreia do Salgueiros na alta roda do futebol nacional

A equipa do Salgueiros que se estreou 
na 1.ª Divisão em 43/44
Com 110 anos de história, o Sport Comércio e Salgueiros procura hoje regressar a um lugar que por direito é seu: o patamar mais alto do futebol nacional, isto é, a 1.ª Liga. Com 24 presenças entre a elite do futebol luso, o clube portuense encontra-se entre os 20 primeiros do ranking de clubes com mais participações no escalão maior de Portugal.

A velha Europa procurava ainda sair do conflito bélico de proporções catastróficas que constituiu a 2.ª Guerra Mundial (1939-1945) quando o popular Salgueiral subiu pela primeira vez ao palco principal do futebol português. Facto ocorrido na temporada de 1943/44, altura que se jogou a 10,ª edição do Campeonato Nacional da 1.ª Divisão, e onde o Sporting - que ainda só tinha três dos seus Cinco Violinos - procurava destronar o Benfica de Guilherme Espírito Santo e de Julinho do trono do desporto rei nacional, e em que o FC Porto de Pinga e Correia Dias procurava sob a batuta do húngaro Lippo Hertzka, ex-treinador de Benfica e Real Madrid, recuperar um título que lhe fugia há três anos para os rivais da capital. Mas havia outros emblemas históricos que procuravam um lugar ao sol neste Nacional de 43/44, casos do Belenenses, da Académica, do Olhanense, do Atlético, ou dos dois Vitórias (o de Guimarães e o de Setúbal). E no meio da nata do futebol lusitano surgia um caloiro, o Salgueiros, emblema que surpreendeu o país futebolístico ao classificar-se em 2.º lugar no Campeonato Regional do Porto dessa temporada - e que antecedia o Nacional da 1.ª Divisão -, atrás do FC Porto, clube que dominava o futebol nortenho de então, mas à frente de clubes que haviam já pisado o palco do escalão maior de Portugal, casos do Leixões, do Académico do Porto, do Boavista e do próprio Leça.

Eng. Vidal Pinheiro
A boa campanha efetuada no Regional portuense trazia otimismo às hostes salgueiristas na antecâmara da 1.ª Divisão Nacional, conforme é possível comprovar numa entrevista concedida pelo então dirigente encarnado Vidal Pinheiro à revista "Stadium" - publicação que nos ajuda a escrever esta efeméride em torno da estreia do Salgueiros no escalão maior e cujas imagens ajudam a ilustrar esta viagem ao passado. Nessa conversa conduzida pelo jornalista Mário Afonso, o histórico Engenheiro Vidal Pinheiro, então presidente da chamada Comissão de Melhoramentos do clube, afirmava que o Salgueiros estava na 1.ª Divisão Nacional por mérito próprio, e não porque devesse essa subida a favores de qualquer espécie. «Depois do F. C. do Porto, o Salgueiros foi o clube mais regular. As suas únicas derrotas foram infligidas pelo campeão; os restantes vencemo-los com resultados mais ao menos volumosos», dizia o dirigente.  Quando questionado mais adiante sobre as possibilidades do clube nesta participação então inédita na 1.ª Divisão, o Eng. Vidal Pinheiro respondia que «haverá, certamente. um certo "tatear" nos primeiros jogos, mas, depois, haveremos de fazer algo de jeito. Boa posição na escalão (tabela)? Não sei.... tudo depende. Mas o que lhe posso afirmar é que nem deixaremos mal colocado o nosso nome e o brio da cidade que representamos de parceria com o F. C. do Porto, nem seremos um "mau amigo" do nosso campeão», vaticinava.

Questionado ainda se havia boa disposição no plantel, Vidal Pinheiro era perentório em dizer que ânimo, coragem e fé não faltava num grupo em que ele confiava em pleno para uma boa campanha. Quanto a moral, resistência.... «Sim, devem tê-la em grau superlativo. Recordemos, por momentos que só este ano após tanta vicissitude conseguimos atingir o fim almejado: entrar no Campeonato Nacional da 1.ª Divisão. Portanto, creio que não poderão ter mais moral do que nesta época. Quanto à resistência, eu lhe explico: deve ter notado que o grupo, ao concluir qualquer encontro, não dava, este ano, aquela exteriorização de fadiga, como em anos transatos. Sabe porquê? Pela simples razão de todos os jogadores terem sido obrigados a seguir, durante o defeso, um curso de gimnástica e preparação atlética, de forma que ao iniciar-se o campeonato regional, todos estivessem em boas condições físicas».

Vidal Pinheiro estava certo de que esta subida à 1.ª Divisão Nacional iria dar muito mais visibilidade a um clube que... não era só futebol. «Uma coisa lhe quero dizer. Para já, conseguimos isto: que se falasse, durante todo um ano no nome do meu clube. Já não é como outrora, em que, após a época do futebol, o Salgueiros desaparecia das gazetas, esquecido até ao ano seguinte. Agora não. Falou-se nele constantemente: a propósito da natação, do atletismo, do basquetebol, do andebol, do ciclismo, etc». Era o este o Salgueiros que Vidal Pinheiro e seus pares vinham trabalhando afincadamente naqueles anos, um clube eclético que pretendia chamar a atenção do público do desporto português. E conseguiu-o.

Dores de crescimento fizeram-se sentir no início

Atlético - Salgueiros
Tal como o Eng. Vidal Pinheiro previu na antevisão deste Nacional da 1.ª Divisão de 43/44, o Salgueiros acusou inicialmente alguma inexperiência na alta roda do futebol português. Algum desconhecimento até, face aos grupos do sul, com quem não estaria habituado a medir forças, acabando por pagar essa fatura sobretudo na primeira volta do campeonato. De facto, o Salgueiros surgiu muito tímido nos campos de batalha do futebol luso, e mais do que averbar derrotas mostrou muitas fragilidades ao nível do seu jogo. Porém, com o avançar da época a equipa foi ganhando outra alma, outro ânimo, mostrando que afinal também tinha valor e bom futebol para figurar entre a elite portuguesa. Mas vamos ao filme da primeira passagem do Salgueiral pelo palco maior do nosso futebol. O pontapé de saída aconteceu na Tapadinha, mítica casa do Atlético, onde as coisas não correram de feição aos encarnados, a julgar não pelo desaire por 4-0, mas de igual modo pelo conceituado jornalista da "Stadium", Tavares da Silva, que foi duro nas palavras na apreciação ao jogo dos salgueiristas: «O sub-campeão do Porto - segundo opinião unânime - traz para a prova pouco valor. Se isso não importa, de momento, interesso no futuro, porque o grupo representa a 2.ª região futebolística do país. Da má exibição - é possível que o bloco se ajeite melhor em futuras digressões - nada ficou senão a afirmação de um guarda-redes de razoável categoria (Peixoto). Pouco mais do que isto o Salgueiros deixou na sua primeira visita, podendo no entanto citar-se alguns dos seus lances na organização da defesa - porque o ataque quase não existiu».

Na ronda seguinte a tarefa do Salgueiros em apagar a má exibição da estreia era uma missão quase impossível, ou não tivesse pela frente o campeão nacional em título, o Benfica. Os lisboetas, orientados pelo antigo guarda-redes de Académico do Porto e Boavista, Janos Biri, surgiram no Campo Augusto Leça, o reduto dos salgueiristas, com uma linha de ataque de respeito, formada por Julinho, Rogério Pipi e Alfredo Valadas. No entanto, e de acordo com a pena de Tavares da Silva, o Benfica não esteve nos seus melhores dias nesta visita ao Porto, jogando no aproveitamento do erro do adversário. Erros que ao que tudo indica terão sido muitos para os encarnados do Norte. Para o consagrado jornalista, o Salgueiros voltou a mostrar sinais de muita fragilidade, tendo a equipa sido sempre dominada pelos campeões nacionais, que acabariam por vencer por claros 6-1. Contudo, apesar de dominados, os portuenses quando atacavam conseguiam provocar algum desentendimento entre a defesa benfiquista, uma nota que Tavares da Silva fez sobressair na sua crónica e que considerou um aviso a ter em conta aos lisboetas para quando defrontassem equipas que estivessem mais ao seu (alto) nível. Outra nota a realçar é o golo salgueirista, o primeiro na alta roda do futebol nacional, tendo o seu autor sido o médio Viana, um nome que ficará assim na história deste clube.

FC Porto - Salgueiros
A grande sala de visitas do futebol portuense daquela altura, o mesmo será dizer o Estádio do Lima, foi a paragem seguinte do Salgueiros, que na 3.ª ronda enfrentava o vizinho e campeão regional FC Porto. E quem pensava um novo massacre enganou-se redondamente, pois o Salgueiral não só vendeu cara a derrota (3-1) ante os azuis-e-brancos como também fez uma agradável exibição, facto que mereceu destaque no relato do jornalista portuense Mário Afonso para a "Stadium". Para este homem das letras o Salgueiros tinha feito a sua melhor exibição até então neste campeonato, e o facto de ter sido ante um dos candidatos ao título era ainda mais digno de registo. Mas para Mário Afonso esta boa exibição aconteceu porque há equipas que se transcendem quando atuam perante outros conjuntos, e neste caso puxou da rivalidade que existia entre os dois emblemas para justificar esta boa exibição dos encarnados de Paranhos. «Quando joga contra o F. C. Porto, o Salgueiros parece outro. Vale muito mais. Quase não se acreditava que estivesse no Lima o mesmo grupo que jogou contra o Benfica! O Salgueiros, animado pela rivalidade que mantém com o campeão, e costumado ao ambiente, conseguiu praticar um futebol de conjunto, vivo, enérgico e com certa ligação. Daí, equilíbrio, jogo repartido pelas duas metades da relva do Lima. Porque não pode dizer-se que o Porto tenha jogado mal, e só ainda faz brilhar um pouco mais o seu adversário. (...) O elemento mais destacado do Salgueiros continua a ser o guarda-redes Peixoto. Um nome a apontar e a ver em exibições futuras: Oliveira, o avançado-centro». E foi precisamente de Oliveira o único golo do Salgueiros nesta derrota com... algum sabor a vitória pela boa exibição conseguida.

Estudantes testemunham uma vitória histórica!

Salgueiros - Académica
Apesar de novato nestas andanças e de nas primeiras duas jornadas ter mostrado um nível abaixo do que era exibido na alta roda do futebol português, não foi preciso esperar muito para que as hostes salgueiristas festejassem a primeira vitória no campeonato nacional. A primeira da sua história, visto desde os dias de hoje. Facto ocorrido na 4.ª jornada, no Campo Augusto Leça, diante da Académica de Coimbra. Um triunfo, por 3-1, que para o jornalista Tavares da Silva devia ser levado em conta, desde logo pelo fraco nível exibicional que os portuenses haviam mostrado nos primeiros jogos, pense embora na sua opinião este triunfo não se tenha devido tanto a uma grande exibição do Salgueiral. Na sua visão esta vitória teve como base o fator aproveitamento de três jogadores que atuavam nos setores recuados e intermédios do terreno: em primeiro lugar o guarda-redes Peixoto, o qual esteve magistral na 2.ª parte; o esforçado defesa João (Santos); e o médio centro Sousa, que imprimiu à equipa a necessária ligação tornando possível a realização dos golos. E se os estudantes estiveram bem no primeiro tempo, após o golo do empate baixaram de rendimento, facto aproveitado pelo Salgueiros para conquistar os primeiros pontos nesta prova.

Sporting - Salgueiros
A este triunfo seguiu-se a derrota mais pesada do grupo neste Nacional de 43/44, facto que aconteceu na visita ao reduto do poderoso Sporting, orientado por Joseph Szabo, e cuja força residia em jogadores como Fernando Peyroteo, Albano, Mourão, Cruz, entre tantos outros. 10-0 foi o pesado resultado final de um encontro onde o Salgueiros, de acordo com Tavares da Silva, chegou em alguns momentos a dar «agradável impressão da sua movimentação geral, nada há mais a dizer senão salientar a má tarde do seu guarda-redes, embora multo desprotegido».

Salgueiros - Belenenses
O oponente seguinte foi outro histórico do futebol luso, no caso o Belenenses, que na 6.ª jornada visitou o Campo Augusto Leça. Para este encontro os azuis de Belém apresentaram no seu "onze" um novo guarda-redes, que dava pelo nome de Capela, e que iria dali em diante marcar uma era no emblema da Cruz de Cristo. Segundo a crónica de Tavares da Silva na "Stadium", o estreante guardião cumpriu a sua missão, pese embora não tenha tido pela frente uma linha avançada que lhe causasse muito trabalho. Mas nas poucas vezes que foi chamado a intervir, fê-lo com segurança e classe. O Belenenses na opinião do jornalista não fez uma exibição de grande brilho, chegou para as encomendas, e quando garantiu a vitória atuou mais em ritmo de treino, acabando a partida por perder algum interesse. E mesmo a expulsão do belenense Mário Coelho, no final da primeira parte, não pôs em causa a supremacia do combinado orientado pelo húngaro Sándor Peics. Quanto ao Salgueiros, esse quase todo esteve mal, na visão de Tavares da Silva, «até a defesa, que costuma comportar-se menos mal. Só se salvou o médio centro Coura, rapaz com merecimento activo e com boa posição em campo, e um pouco Augusto, o interior direito. O ataque do Salgueiros quase não existiu, devendo anotar-se simplesmente sua reação no começo do jogo, no pôs intervalo. O que não quer dizer que o team não tenha posto na luta, em todos os momentos, uma bela energia». 6-1 foi o resultado final para o Belenenses, cabendo a Silva marcar o tento de honra dos salgueiristas.

Salgueiros - Olhanense
Seguiram-se mais dois jogos em casa, o primeiro deles ante os antigos campeões de Portugal, dez anos antes, o Olhanense. Nova derrota para o Salgueiral, desta feita por 2-5. Um resultado que para Tavares da Silva borrava o quadro da classificação geral, já que segundo aquele jornalista enquanto todas as outras equipas davam sinais de progressão, sendo que o Salgueiros não acompanhava essa tendência. E mesmo o setor defensivo, que até então era o que se exibia em melhor forma no campo em encontros anteriores, neste jogo abriu brechas por todo o lado. Apesar de evidenciar dificuldades, o conjunto de Paranhos continuava a dar sinais de querer contrariar a tendência de que era uma equipa ainda inexperiente nestas andanças, como comprovam as palavras do jornalista da "Stadium": «Não quer isto significar que os "salgueiros" não tenham dado um ar de graça, no passado domingo. Pelo contrário, durante certo período da segunda parte o ataque realizou coisas de bom jeito, mas depois perdeu o norte, reduzindo-se a uma ou outro tentativa, feita de quando em vez. Não fôra, mais uma vez, o médio Coura, e a coisa ainda seria pior. O Salgueiros estreou dois jogadores: Renato, a interior-direito e depois avançado-centro, e Faria, interior-esquerdo. Esta orientação, tirar dois interiores e pôr lá outros dois de uma só vazada, mostra claramente as dificuldades que o agrupamento atravessa, e os trabalhos de cabeça que os dirigentes se dão para modificar um estado de coisas que já não tem modificação possível, pelos vistos. Os estreantes revelaram alguma habilidade. Já não é mau de todo». Mas o cenário haveria de mudar, como veremos mais à frente. Ante os olhanenses os golos salgueiristas foram apontados pelo estreante Renato e por Silva.

O jogo seguinte mostrou, ainda que ao de leve, essa subida de forma, já que na receção ao Vitória Sport Clube (de Guimarães) a turma portuense conquistou mais um ponto, fruto de um empate a duas bolas. Sobre o jogo não há muitos relatos na "Stadium", que ressalva apenas que o Salgueiros lutou com entusiasmo. Coura e Silva apontaram os tentos dos salgueiristas.

O outro Vitória a competir nesta 1.ª Divisão de 43/44, neste caso o de Setúbal, foi o oponente seguinte. 2-1 a favor dos sadinos, foi o resultado final de uma partida que segundo Tavares da Silva teve um rol de oportunidades desperdiçadas, tantas foram as vezes que os avançados estiveram cara a cara com os guarda-redes e não os conseguiram bater. Os portuenses continuavam a dar indícios de crescimento no campeonato a julgar pelas palavras do jornalista: «o Salgueiros foi mais ameaçador do que o Vitória. Inesperadamente ameaçador, pois ao conseguir um goal, este teve o efeito de despertar as energias do adversário. Só quando começou a perder é que o Vitória se lembrou que tinha de ganhar...». O goleador Silva foi mais uma vez o artilheiro de serviço dos encarnados neste encontro.

Segunda volta mostra um Salgueiros diferente... para melhor

Salgueiros - Atlético
Em janeiro de 1944 arrancou a segunda volta do Nacional da 1.ª Divisão, tendo o Salgueiros retribuído a visita à Tapadinha em novembro do ano anterior. O Atlético era por esta altura uma das boas equipas do campeonato, ocupando os lugares da frente do pelotão, fruto da bela campanha que vinha fazendo. E Tavares da Silva na sua crónica habitual na "Stadium" frisou precisamente isso para justificar o triunfo dos lisboetas no Campo Augusto Leça por 3-0. No entanto, o Salgueiros continuava a dar sinais de crescimento... «O Salgueiros forçou a marche do encontro de modo a dominar durante largos períodos do jogo, instalando-se na grande área dos lisboetas. Mas estes nunca perderam o sangue frio, e aqueles nunca o encontraram em frente das redes para fazer aquilo que parece mais fácil mas que é o mais difícil: goal. A serenidade com que o Atlético suportou a tempestade, defendendo uma vitória preciosa que - certo, certo - nunca esteve praticamente ameaçada, diz-nos, além de tudo, que o grupo está a adquirir a categoria dos grandes teams». E a prova disso foi que os lisboetas acabariam este campeonato em 3.º lugar, à frente de clubes de maior poderio, como o FC Porto, ou o Belenenses.

De Lisboa era também o adversário seguinte dos encarnados do Porto, mas este de maior peso, já que lutava com o eterno rival Sporting pelo título de campeão nacional.

Benfica - Salgueiros
Numa altura da temporada em que os clubes já levavam muitos jogos nas pernas, o Benfica optou na receção ao Salgueiros por fazer descansar alguns dos seus titulares, substituídos por nomes menos conhecidos, como Cerqueira, Carvalho e Teixeira II, facto que terá, quiçá, pesado no facto de os benfiquistas terem feito uma exibição algo "cinzenta", pouco condizente com um candidato ao título. Valeu a inspiração de uma das suas maiores estrelas, Julinho, autor de quatro dos seis golos com que os comandados de Janos Biri bateram os salgueiristas por 6-1. Sobre estes últimos Tavares da Silva trazia boas novas: «É de notar também que o Salgueiros apresenta progressos nos esquemas do seu jogo - sinal evidente de que a permanência na competição de honra lhe tem feito bem». Renato foi o marcador do único tento do Salgueiral no Campo Grande.

De regresso à Cidade Invicta na jornada que se seguiu para defrontar o vizinho FC Porto, que estava longe de convencer neste campeonato. Foi uma partida que para o principal redator da "Stadium" teve duas partes distintas, uma pautada pelo equilíbrio e outra pelo... desequilíbrio. A primeira muito por culpa do facto de a equipa na teoria mais fraca, o Salgueiros, ter querido impor-se, de jogar de igual para o com o seu velho rival. A outra, quando essa mesma equipa de nível inferior perdeu o fôlego e começou a desaparecer do encontro, aspeto aproveitado para os portistas abrirem o marcador e chegarem à goleada final de 5-0. «Foi assim mesmo. Belo jogo, na primeira parte, com os grupos em acentuado equilíbrio, e porventura o Salgueiros, mais perigoso. Depois, no segundo tempo, o Salgueiros deixou-se dominar pela resistência e melhor técnica do adversário, que pôs a bola rente ao terreno para o passe da precisão, utilizando os extremos. Porque o mérito do Salgueiros está na luta que deu. Depois de sofrer o quinto goal - ainda quis espreguiçar-se, verdade seja. Era tarde!», assim resumiu Tavares da Silva o jogo.

Na ronda seguinte o Salgueiros sentiu o amargo sabor da vingança dos estudantes de Coimbra, que na primeira volta haviam sido batidos no Campo Augusto Leça. Frente a frente estavam as duas últimas equipas da classificação geral, pelo que só a vitória servia a cada uma delas para largar a "lanterna vermelha". Foi mais feliz a Académica, que no Campo de Santa Cruz entrou determinada não só a fugir ao último posto, mas de igual forma a vingar a tal derrota no Porto. Foi uma Briosa de ataque, conforme disse Tavares da Silva na sua crónica, e a comprovar isso foi o resultado de 9-4 a favor dos locais. Renato, Toninho, Oliveira e Alfredo foram os artilheiros do Salgueiros, que neste encontro marcou o maior número de golos, quatro, num só encontro desta época de estreia no escalão maior.

Salgueiros - Sporting
Após esta pesada derrota o Campo Augusto Leça engalanou-se para receber uma das mais fortes equipas daqueles anos, o Sporting, liderado por um Peyroteo letal! Com muito menos armas que o poderoso adversário, o Salgueiros deu luta, aliás, esta era uma postura que vinha patenteado de há uns jogos a esta parte, sinal de que começava a ambientar-se a estes palcos grandes. Porém, e segundo as palavras de Tavares da Silva, faltavam elementos condizentes com a elite do futebol português, isto é, jogadores de 1.ª Divisão ao Salgueiros. Facto que provocava nas suas palavras alguns momentos de desorganização na equipa nortenha. «Por tudo quanto ficou dito, deve já destacar-se o comportamento do Salgueiros na primeira parte, equilibrando a partida em termos de ver-se, mesmo com um pouco de emoção. Que, aquilo que sucedeu no segundo tempo, não deve causar a mais leve estranheza. A experiência, o fôlego, a melhor técnica, e ainda, por cima de tudo, a robustez do Sporting, impuseram-se de tal modo que o guarda-redes do Salgueiros não pode sossegar um simples minuto, pois a bola raramente saiu da sua órbita. Nessa altura, o Sporting impôs-se de alto a baixo, não estando em causa a classificação do jogo produzido e o resultado não podia ser outro, a não ser uma vitória mais volumosa». Pois é, 5-1 a favor dos sportinguistas, que haveriam de vencer esta edição do Campeonato Nacional, sendo que neste encontro Fernando Peyroteo apontou quatro dos cinco golos da sua equipa, ao passo que Coura fez o gosto ao pé para os nortenhos.

Belenenses - Salgueiros
Igual resultado, o mesmo será dizer uma derrota com números semelhantes, aconteceu na jornada seguinte em nova visita do Salgueiros à capital, desta feita para defrontar o Belenenses. Nas Salésias os azuis de Belém não sentiram dificuldades em bater os portuenses, pese embora tenham demorado a encontrar o caminho da baliza de Peixoto, algo que de acordo com Tavares da Silva terá apimentado o encontro na sua fase inicial. Quanto à performance dos nortenhos no Estádio das Salésias, o jornalista disse que «o simpático grupo do Salgueiros mostrou-se animoso, como sempre, mas o seu quadro, como já temos dito, não está ainda à altura da prova. Só nos jogos em casa pode oferecer realmente dificuldades aos adversários». Renato apontou o tento dos encarnados de Paranhos neste jogo.

Como não há duas sem três, a visita a Olhão cifrou-se numa nova de derrota também por 5-1. Um futebol rápido e ofensivo ajuda a justificar este triunfo do Olhanense. Contudo, não se julgue que o Salgueiros foi "bombo da festa", já que na crónica do encontro, a equipa portuense foi ofensiva, batalhadora, «chegando, mesmo, a desenvolver esquemas de jogo que lembraram à defesa algarvia a necessidade de se conservar alerta. Isto confirma aquilo que temos dito sobre o Salgueiros, isto é, que a prova só lhe tem feito bem - além de dar aos seus dirigentes preciosas indicações relativamente ao futuro», assim escrevia Tavares da Silva. Alfredo apontou o golo do Salgueiros no Algarve.

Salgueiros - Vitória de Setúbal
O Campo de Benlhevai, em Guimarães, foi a derradeira saída do Salgueiral neste Nacional. Pela frente tinha um Vitória que esteve longe de fazer uma boa prova, muito pelo contrário. Nesta jornada, a penúltima, o Sporting consagrava-se campeão nacional, ao passo que o Salgueiros com a derrota pela margem mínima (1-2) no Minho assegurava... a "lanterna vermelha" da prova. Em Guimarães os locais atacaram desde início e chegaram ao intervalo a vencer por 2-0. No reatamento, os portuenses reagiram, dando algum trabalho à defesa vitoriana, embora somente por uma ocasião tenham tido êxito, por intermédio de Ribeiro.

E eis que chegávamos à última jornada deste Campeonato Nacional, sendo que no Porto o Salgueiros encerrava a sua estreia entre os maiores do futebol nacional com uma receção ao Vitória de Setúbal. Já com a classificação definida, o Salgueiros perdeu por 3-5 um encontro onde o seu jogador Renato brilhou ao apontar os três golos dos encarnados. Falando de contas, o emblema de Paranhos ficou na última posição, com três pontos somados, 23 golos marcados e 84 sofridos, números que à primeira vista são maus, mas que se olharmos ao "resto da história" significaram só o início de uma caminhada entre a elite do futebol português, o lugar que este histórico clube conquistou nas décadas seguintes e que como tal é seu por mérito próprio.

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Estrelas cintilantes (24)... Correia Dias

Tempos houve em que o amor à camisola falava mais alto do que qualquer ordenado ou prémio de jogo chorudo. Nenhum dinheiro do Mundo pagava a honra e o prazer de jogar com o emblema do coração ao peito. Era o tempo do futebol romântico, puro, e sem os tiques de vedetismo e exploração que o belo jogo hoje em dia ostenta.
A nossa estrela de hoje foi um desses eternos apaixonados pelo clube dos seus olhos...
E dando continuidade na vitrina alusiva às “estrelas cintilantes” a jogadores de peso – recordámos que na nossa última passagem por esta vitrina visitámos o célebre Willy “Fatty” (gordo) Foulke – iremos sem mais demoras traçar umas breves linhas sobre o corpulento avançado do FC Porto na década de 40 Correia Dias.
Manuel Belo Correia Dias nasceu no longínquo ano de 1919, a 24 de Março, tendo como berço a Cidade de Ovar, bem próxima do Porto.
Seria nesta última urbe que Manuel daria os primeiros pontapés oficiais na bola... ao serviço do seu grande amor, o FC Porto. Seria como “dragão” que o jovem Manuel faria toda a sua formação de futebolista tendo chegado à equipa principal dos azuis-e-brancos na temporada de 1941/42. E logo na estreia deu nas vistas com dois golos ao Vitória de Guimarães!
O jovem Manuel passou então a popularizar-se nos rectângulos de jogo como o temido avançado Correia Dias. Temido não só pelo seu instinto natural para o golo como igualmente pelos seus 113 quilos de peso! É verdade. Ainda hoje é reconhecido como o avançado mais corpulento do futebol lusitano.
Tornou-se desde logo num ídolo para os adeptos portistas, não somente pelo seu aspecto físico e peculiar jeito para o pontapé na bola como também pelo facto de se ter tornado num dos maiores goleadores do clube portuense. Neste aspecto é de sublinhar que foi precisamente na sua temporada de estreia ao mais alto que Correia Dias se consagrou como o melhor marcador do Campeonato Nacional da 1ª Divisão com 34 remates certeiros.
Não venceu qualquer título colectivo de alto gabarito pelo seu FC Porto, contudo foi peça influente numa das mais célebres vitórias de uma equipa portuguesa sobre um combinado internacional. Tal efeméride deu-se a 6 de Maio de 1948 quando no mítico Estádio do Lima (Porto) o FC Porto recebeu o poderoso Arsenal de Londres. Ingleses que na época eram considerados a melhor equipa do planeta. Resultado final desse histórico encontro (do qual aqui já falámos na vitrina dedicada aos “grandes clássicos” da bola): 3-2 a favor os portugueses, tendo Correia Dias apontado dois golos aos pupilos do lendário mestre da táctica Herbert Chapman.
E Correia Dias podia muito bem não ter participado nesta epopeia portista, já que em 46/47 ele abandonou temporariamente o futebol alegando motivos de ordem pessoal. No entanto o FC Porto sentiu a sua falta e o treinador Eládio Vascheto convenceu-o a voltar à acção. O amor ao clube falou mais alto e Correia Dias não conseguiu dizer não. Neste regresso sublinharia que jogaria de graça, que não queria um tostão do seu clube, mas por uma questão de igualdade e disciplina foi obrigado a aceitar um ordenado semelhante ao que o restante plantel auferia. Mas Correia Dias não precisava de dinheiro para defender a sua dama, jogava por amor.
E assim o fez até ao final da sua carreira, mais precisamente até à temporada de 48/49. Pelo seu FC Porto actuou por 114 ocasiões e fez balançar as redes em 110 ocasiões! Notável.

quinta-feira, novembro 26, 2009

Grandes Clássicos da Bola (6)... FC Porto - Arsenal (3-2)...

Pode ter sido um mero jogo de carácter particular mas ainda hoje é encarado para os “historiadores” do futebol como uma das vitórias mais brilhantes de uma equipa portuguesa sobre uma sua congénere internacional. É uma partida carregada de um simbolismo enorme, em especial para o emblema que a conquistou, o Futebol Clube do Porto, já que foi obtida sobre aquela que na época era tão só considerada a melhor equipa do Mundo, o Arsenal Football Club.
Foi a vitória do pequeno e frágil “David” contra o todo poderoso e assustador “Golias” numa altura em que o desporto-rei vivia ainda muito longe do mediatismo e profissionalismo que ostenta hoje em dia.
Viajemos então até ao ano de 1948, mais em concreto até 6 de Maio, dia em que Cidade do Porto estava em festa pois o seu clube mais representativo recebia nada mais nada menos do que a equipa que os críticos da modalidade consideravam ser a mais perfeita do Mundo sob todos os aspectos. Tanto é que assim que foi anunciada, meses antes, esta partida suscitou de imediato um interesse desmedido na população portuense. O caso não era para menos, a melhor equipa do Mundo da altura, oriunda do país que inventou o futebol (Inglaterra) estaria de visita à humilde Cidade do Porto.
Desde logo se fizeram previsões de que os amadores do FC Porto não teriam a mínima das hipóteses em levar de vencido um conjunto que era composto por alguns dos melhores jogadores do planeta.
Dizer em jeito de nota que a visita do Arsenal a Portugal foi inserida numa digressão – até chegar ao nosso país 100% vitoriosa - que a turma britânica efectuou por diversos países da Europa naquele ano.
E chegávamos ao grande dia, o saudoso Estádio do Lima foi o palco para levar à cena este “bailado futebolístico”. Contra todas as previsões a equipa da casa “agigantou-se ao gigante” londrino. Perdeu o medo, e avançou para uma das exibições mais brilhantes de que há memória da sua história centenária.
A marcha do marcador não podia ser mais explicita do domínio avassalador que a então desconhecida – em termos internacionais – equipa portuguesa exercia sobre os afamados craques do Arsenal. Aos 20 minutos de jogo o Porto já vencia por 3-0!!! Há dias descobri num “baú virtual” de histórias futebolísticas a narrativa dos três golos azuis-e-brancos. Não resisti a trazê-los aqui para enriquecer ainda mais um pedaço de história só por si rico de natureza. Aqui vai:
1-0 AOS 9 MINUTOS por ARAÚJO
Gastão abriu para Joaquim que endossou a Araújo. A cerca de 30 metros rematou com impecável direcção, indo a bola entrar no ângulo superior esquerdo, depois de tabelar no poste.
2-0 AOS 18 MINUTOS por CORREIA DIAS
Joaquim abriu em profundidade para Lourenço seguindo a bola para Araújo que com um leve toque a colocou em Correia Dias rematando a meia altura sem possibilidade de defesa.
3-0 AOS 20 MINUTOS por CORREIA DIAS
Triangulação entre Gastão ,Joaquim e Araújo foi inteligentemente aproveitada para atrair a si a defesa. No momento preciso um passe para Correia Dias que marca o golo.
O Arsenal ainda reduziria a desvantagem para 2-3, mas insuficiente para tirar o mérito e o brilho da vitória aos jogadores do FC Porto. Um resultado e sobretudo uma exibição portista que todos aqueles que lotaram por completo o desaparecido Estádio do Lima jamais esqueceram. De tal modo que desde logo uma comissão de sócios e admiradores do FC Porto tratou de angariar fundos para presentear o clube da Invicta com um troféu alusivo a essa histórica vitória. Concepcioanado pela Ourivesaria Aliança, na sequência de um esboço dos escultores Marinho Brito e Albano França, este é sem margem para dúvidas um dos troféus mais bonitos e imponentes que figuram nas vitrinas do FC Porto.
Mais do que a celebração de uma vitória histórica simboliza o espírito apaixonado e o orgulho (no seu clube) de um grupo de adeptos do emblema portista.
A bonita peça foi entregue à Direcção do clube a 21 de Outubro de 1949, mais de um ano depois do jogo. Para a concepção deste troféu (mais tarde baptizado como Taça Arsenal), foram utilizados diversos materiais, entre outros, ouro, prata, esmalte, cristal, madeira fina e veludo. Pesa 300 quilos e inclui 130 quilos de prata.
Uma bela obra de arte nascida de uma não menos bela vitória do seguinte onze do FC Porto: Barrigana, Alfredo Pais, Francisco, Virgílio, Romão, Joaquim, Lourenço, Araújo, Correia Dias, Gastão e Catolino. Treinador: Vachetto.