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segunda-feira, dezembro 23, 2013

Momentos altos da vida... da seleção nacional dos Estados Unidos da América

Decorrem (ainda) neste ano de 2013 os festejos do centenário da United States Soccer Federation (Federação de Futebol dos Estados Unidos da América). 100 anos de uma instituição que tem ao longo da sua existência travado uma luta feroz contra a impopularidade, por assim dizer, da qual o soccer (futebol) foi, num passado não muito distante, vítima num país onde outras modalidades - como o basquetebol, o basebol, o hóquei no gelo, ou o futebol americano - sempre foram amadas de uma forma desmedida e têm gerado ao longo de décadas verdadeiras lendas do desporto planetário. No entanto, e ainda para alguns, o soccer ainda é, de forma incompreensível, o parente pobre do desporto da Terra do Tio Sam. Contudo, o país que ainda - e volto a sublinhar outro "ainda" - é olhado - sobretudo na Europa - como tosco na arte de manusear a redondinha teve os seus momentos brilhantes na história do futebol mundial. Recordemo-los pois então...
New York Astor Hotel House em 1913
Quis o destino que a cintilante Nova Iorque fosse o berço da United States Soccer Federation. No New York Astor Hotel House, situado nas proximidades da mundialmente famosa Times Square, um grupo de figuras ligadas à modalidade importada para a América pela mão de imigrantes europeus em meados do século XIX fundou a 5 de abril de 1913 a United States of America Football Association (USFA), a primeira designação do organismo máximo do soccer norte-americano, que só a partir da segunda metade do século XX se iria denominar United States Soccer Federation. Randolph Manning seria eleito o primeiro presidente do recém criado organismo, que no ano seguinte era aceite pela FIFA como membro da entidade que tutela o futebol a nível global.
A primeira seleção nacional dos EUA, que em Estocolmo efetuou o primeiro jogo da sua centenária história
A partir de então a USFA desenvolveu algumas competições nacionais para coroar os clubes que iam surgindo aqui e ali um pouco por todo o extenso território norte-americano, com destaque para a US Open Cup (a taça nacional), cuja primeira edição ocorreu precisamente em 1914. Seria no entanto preciso esperar até 1916 para ver o primeiro onze nacional - vulgo, seleção nacional - entrar em campo. Facto histórico ocorrido a 20 de agosto do citado ano, altura em que o combinado yankee enfrentou a Suécia, em Estocolmo, no primeiro de cinco encontros amigáveis de uma digressão feita por terras suecas e norueguesas com vista à preparação para o torneio olímpico de 1916, o qual viria a ser posteriormente cancelado devido à I Guerra Mundial. E na capital sueca a US National Team teve uma estreia feliz, vencendo os nórdicos por 3-2. Capitaneada por um dos grandes ícones do soccer norte-americano da época, Thomas Swords, lendário avançado que atuava no Fall River Rovers, os soccer boys enfrentavam uma experiente Suécia no plano internacional - os nórdicos já haviam disputado anteriormente, e desde 1890, 31 jogos. Diante de 21 000 espetadores - onde entre os quais se destacava o rei da Suécia, Gustavo V - os Estados Unidos da América (EUA) apresentaram-se muito bem organizados sobre o terreno de jogo, surpreendendo então os suecos com um triunfo por 3-2. Tommy Swords entrou para a história, pois foi dos seus pés que nasceu o primeiro golo oficial da US National Team. Harry Cooper, e Charles Ellis fizeram os restantes golos dos estreantes norte-americanos.
Seleção norte-americana que esteve presente em Paris nos Jogos Olímpicos de 1924
A bela cidade de Paris acolhe em 1924 a sétima edição dos Jogos Olímpicos. No cartaz do evento surge o torneio de futebol, na época considerada a prova mais importante do calendário internacional, já que vencer as Olimpíadas no retângulo de jogo era o equivalente a ser coroado de... rei (campeão) do Mundo. Entre as 22 equipas nacionais presentes figurava a dos EUA, que faziam desta forma a sua estreia numa competição de âmbito internacional. E logo no maior palco de todos. Para a capital gaulesa o selecionador nacional George Burford levou alguns dos melhores intérpretes do soccer americano da altura, caso dos guarda-redes Jimmy Douglas, ou do avançado Andrew Stradan. E seria este último atleta a entrar para a história, já que foi dele o único golo com que os yankees derrotaram a Estónia em jogo alusivo à 1ª eliminatória da competição, realizado em Pershing Park, e no qual o lendário guardião Jimmy Douglas foi eleito o melhor em campo, garças a uma soberba exibição que segurou a magra mas saborosa vitória. O sonho americano terminou na eliminatória seguinte, fase onde encontraram a mágica seleção do Uruguai, liderada desde o setor recuado pelo homem que haveria de sair de Paris endeusado, com a alcunha de Maravilha Negra, Falamos de José Leandro Andrade, claro. 3-0 para os uruguaios, que mais tarde haveriam de se consagrar como campeões olímpicos, ou do Mundo, como na época eram rotulados.
Quatro anos mais tarde foi a vez de Amesterdão receber os Jogos Olímpicos, e mais uma vez o Uruguai voltaria a provar que era de facto a maior potência do futebol internacional ao nível de seleções, abraçando mais uma vez o título olímpico. Na cidade holandesa também estiveram os yankees, que assim continuavam a figurar entre a elite do futebol internacional. George Burford voltou a ser o selecionador dos EUA, o qual pela frente teve uma tarefa árdua para fazer boa figura em solo europeu. E na verdade os EUA foram vítimas de si próprios nesta sua segunda aparição internacional, ou melhor vítimas da má organização da USFA, que ignorou por completo os apelos de George Burford para que não fosse reunida uma equipa à última da hora antes do embarque para a Europa. O que é certo é que nas vésperas da partida para Amesterdão foram realizadas à pressa duas sessões de treinos de captação com diversos jogadores, sendo 16 deles escolhidos para vestir a camisola nacional nas Olimpíadas. Conclusão, em Amesterdão os EUA sairam cedo de cena no seguimento de uma tremenda goleada imposta pela Argentina: 11-2. Para esquecer.
A lendária seleção yankee que em 1930 conquistou, em Montevideu, a sua melhor classificação de sempre num Campeonato do Mundo
Apesar da má imagem deixada em Amesterdão os EUA foram uma das seleções convidadas pela FIFA para em 1930 marcar presença na primeira edição do Campeonato do Mundo. O Uruguai, e a sua capital Montevideu, tiveram o privilégio de presenciar o primeiro capítulo da história da maior competição futebolística do planeta. 13 seleções estiveram na América do Sul, entre elas uns EUA muito... europeus. E assim o eram pois o selecionado do técnico Bob Miller era composto na sua esmagadora maioria por imigrantes ingleses e escoceses, embora a grande maioria deles vivesse em solo americano desde a adolescência. Foi pois com um estilo muito britânico que a seleção norte-americana se apresentou em Montevideu, estilo esse ao qual seria acrescentada uma pitada do futebol mais técnico do sul da Europa, graças à arte futebolística de um tal de Billy Gonsalves. Sobre este luso descendente o Museu Virtual do Futebol já dedicou longas linhas noutras viagens ao passado, pelo que há apenas a repetir o facto de que para muitos ele foi o melhor jogador de todos os tempos a vestir a camisola dos EUA. Billy Gonsalves, filho de pais madeirenses, era a estrela do combinado de Bob Miller, e um dos responsáveis pela magnífica campanha que os yankees fizeram em solo uruguaio. Gonsalves podia até ser o maestro da orquestra montada por Miller, mas outros músicos de inegável gabarito faziam parte daquele lendário grupo, casos do regressado guardião Jimmy Douglas, Bart McGhee, Bert Patenaude, ou Tom Florie. Integrados no grupo 4 os States deram uma lição à Bélgica no primeiro encontro da chave, disputado no Parque Central, diante de pouco mais de 18 000 pessoas. 3-0 a favor de Billy Gonsalves e companhia, pertencendo a McGhee (aos 23m), Florie (aos 45m), e Patenaude (69m) a autoria dos remates certeiros.
No encontro seguinte, diante do Paraguai, de novo a chapa 3 foi aplicada pelos yankees aos seus opositores, neste caso com o destaque individual a ir inteiramente para Bert Patenaude, autor dos três tentos, atleta que se tornava desta forma no primeiro futebolista a alcançar um hattrick em fases finais de Campeonatos do Mundo. Com estas duas vitórias os EUA estavam desde logo apurados para as meias-finais do torneio! Quem diria, ainda para mais depois da pobre imagem deixada em Amesterdão dois anos antes. A aventura acabaria no majestoso Estádio Centenário, diante da Argentina, que derrotou os norte-americanos por 6-1, mas com uma pequena ajuda extra do árbitro belga John Langenus, que na voz dos yankees fez vista grossa ao jogo violento dos argentinos que dias mais tarde iriam perder o título mundial para o Uruguai. No final da festa o terceiro lugar do pódio seria ocupado em ex-aequo pela Jugoslávia e pelos EUA, que desta forma arrecadavam a sua melhor classificação numa fase final de um Mundial.
A boa imagem deixada em Montevideu contrastou com a pálida performance patenteada quatro anos mais tarde em Roma, na fase final do Mundial de 34. Diante da poderosa seleção da casa, orientada pelo mestre da tática Vittorio Pozzo, os estado-unidenses - orientados pelo técnico David Gould - foram atropelados por 7-1 (!), cabendo a um descendente de italianos, de seu nome Aldo Donelli, apontar o tento de honra dos EUA, que no seu grupo tinham ainda as lendas Billy Gonsalves, e Tom Florie, os únicos que restavam da seleção de 1930.
Os homens que em 1950 escandalizaram o planeta do futebol
Depois de mais uma pobre prestação olímpica em 1948, onde os EUA voltaram a ser goleados pela Itália de Pozzo, desta feita por 9-0, na 1ª eliminatória dos Jogos de Londres, eis que a história do soccer estado-unidense escreve o seu capítulo mais famoso. Capítulo esse traçado no decorrer da fase final do Campeonato do Mundo de 1950, que nesse ano foi realizado no Brasil, onde os amadores yankees provocaram o maior escândalo da história do belo jogo. Sobre ele já traçámos diversas linhas aqui no Museu, recuperando pois agora para esta viagem ao passado algumas dessas linhas que relatam a impensável vitória do modesto selecionado dos EUA sobre a poderosa Inglaterra.
Belo Horizonte, e o Estádio da Independência, fazem parte do cenário desse célebre encontro - referente à 1ª fase do Mundial - ocorrido na tarde de 29 de Junho. Inglaterra que era considerada uma das seleções favoritas para vencer o torneio, juntamente com Brasil, a Suécia e a Itália. Mas, desde o início, a realidade foi bem diferente das previsões. Lutando contra um intenso calor, a seleção inglesa sofreu a bom sofrer para vencer o Chile por 2-0 na sua estreia na Copa, no Estádio do Maracanã. Ingleses que, refira-se, participavam pela primeira vez numa fase final de um Mundial. E como favorita que era à conquista do caneco poucos duvidavam que a Inglaterra não iria no segundo jogo do certame massacrar os amadores dos EUA.
Seleção norte-americana que tinha apenas um jogador profissional, Ed McIlvenny, de seu nome. A crença na vitória fácil era tanta que o técnico inglês Arthur Drewry decidiu dar folga a vários dos seus principais jogadores, entre eles Stanley Matthews, jogador do qual reza a lenda que havia ficado em Copacabana a apanhar sol!
As equipas entraram em campo, e aos 39 minutos do primeiro tempo um estudante, que trabalhava em part-time como lavador de pratos num restaurante em Nova Iorque, produziu um dos resultados mais inesperados da história do futebol internacional. Joe Gaetjens, assim se chamava, recebeu um passe de Walter Bahr e marcou o único golo da partida, garantindo a vitória dos States.
O resultado era considerado tão improvável pelos ingleses que uma casa de apostas de Londres ofereceu 500 para 1 às pessoas que apostassem nos americanos antes do jogo. História curiosa é, aliás, o facto de que quando o resultado foi conhecido em Inglaterra os súbitos de Sua Majestade pensarem de imediato que se trataria de um erro, e que o resultado não era de 0-1 mas sim de 10-1! Como estavam enganados...
48 anos depois desse jogo, o criador da jogada do golo, Walter Bahr, voltaria ao local do crime, por assim dizer, ao Estádio da Independência, onde confessou que «se a Inglaterra jogasse 10 vezes contra nós, naquela época, teria vencido nove vezes. Mas aquele jogo era nosso. O destino ficou do nosso lado. Os ingleses deveriam ter vencido, mas não marcaram nenhum golo, e à medida que o tempo passava, o nosso futebol foi melhorando. Os ingleses foram ficando em pânico... ».
Este resultado ainda hoje é considerado como a maior surpresa de todos os tempos no planeta da bola!
Porém, a impensável vitória sobre a Inglaterra foi recebida com indiferença nos EUA. Os americanos praticamente ignoravam que haviam vencido aquele jogo até a década de 70, altura em que Gaetjens já havia morrido.
Há poucos anos atrás, foi realizado um filme que retrata precisamente este momento histórico do futebol estado-unidense, intituldado de The Game of Their Lives. E seria mesmo o jogo da vida de até então simples desconhecidos como Joe Gaetjens, Frank Borghi, Harry Keough, Joe Maca, Ed McIlvenny, Charlie Colombo, Walter Bahr, Frank Wallace, Gino Pariani, Joe Gaetjens, John Souza, Ed Souza, e o treinador Bill Jeffrey
Apesar da vitória sobre a Inglaterra, os EUA terminaram em último no seu grupo na Copa de 50, sendo eliminados do torneio juntamente com a Inglaterra e o Chile.
Depois da participação no Mundial do Brasil, os americanos demorariam 40 anos para voltar participar numa fase final de um Mundial, o que só viria a ocorrer em 1990, no Campeonato do Mundo de Itália.
Os EUA em 1990, ano em que regressaram à alta roda do futebol internacional
Nem mesmo o fenómeno da National American Soccer League (NASL) dos anos 60 e 70 conseguiu fazer regressar a seleção yankee à montra do futebol planetário. Como já vimos só em 1990 os EUA voltaram a uma fase final de um Campeonato do Mundo. Facto ocorrido em Itália, e sem grande pompa e circunstância, já que os norte-americanos, pouco ou nada conhecidos na alta roda internacional da época, rapidamente regressaram a casa após três derrotas na fase de grupos, ante a Checoslováquia (1-5), Itália (0-1), e Áustria (1-2). Mais do que fazer saber ao Mundo que os States queriam voltar a ocupar o seu lugar nos grandes palcos do futebol planetário, e de revelar nomes como Tony Meola, Eric Winalda, Tab Ramos, Marcelo Balboa, ou Paul Caligiuri, esta presença em Itália serviu essencialmente para iniciar o renascimento do soccer em Terras do Tio Sam, em fazer da seleção norte-americana uma equipa vencedora, habituada a marcar presença - de lá para cá - em todos os grandes eventos futebolísticos do planeta, com destaque para o Campeonato do Mundo, certame que desde 1990 até aos dias de hoje os EUA não falharam uma única edição.
O primeiro título internacional: a Gold Cup de 1991
A primeira grande conquista do futebol norte-americano ao nível de seleções aconteceu em 1991, ano em que foi disputada a primeira edição da Gold Cup, prova continental organizada pela CONCACAF (Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe). O certame foi realizado em solo norte-americano, e serviu igualmente de teste ao que iria ocorrer três anos mais tarde, altura em que pela primeira vez o país iria receber a organização de um Mundial. Na final da Gold Cup os EUA, dirigidos pelo lendário treinador Bora Milutinovic, derrotaram no Memorial Coliseum, de Los Angeles, as Honduras na marcação de grandes penalidades, por 4-3, após um empate sem golos no final dos 120 minutos.
A esta Gold Cup seguiram-se mais quatro, até aos dias de hoje, perfazendo um total de cinco títulos na prova da CONCACAF, historial que faz com os EUA sejam a par do México a grande potência do futebol daquela zona do globo.
A lenda brasileira Pelé posa ao lado das campeãs do Mundo de 1991
Se no plano masculino os EUA estão ainda um pouco longe de serem considerados uma potência ao lado de países como Brasil, Espanha, Itália, Alemanha, Argentina, Holanda, ou Inglaterra, na vertente feminina eles são indiscutivelmente a maior potência mundial! Não deixa de ser de certo modo estranho como uma modalidade pode ser interpretada de uma maneira tão distinta pelos sexos feminino e masculino. O que é certo é que a meninas norte-americanas têm somado títulos atrás de títulos, fazendo deste o país mais laureado na vitrina dos campeões. O primeiro grande ceptro foi conquistado em 1991, na China, nação que recebeu o primeiro Mundial feminino, tendo os EUA vencido na final a Noruega por 2-1. Ainda que de forma algo tímida o planeta da bola, dominado por homens, fez então uma vénia a jogadoras como Michelle Akers, ou Mia Hamm, duas das maiores jogadores de todos os tempos. Em 1999 as soccer girls voltariam a conquistar o Mundo, desta feita em casa, tendo na final - disputada no Rose Bowl, de Pasadena, cheio como um ovo! - batido nas grandes penalidades a China por 5-4. A popularidade da seleção feminina norte-americana rapidamente se alastrou a todo o país, sendo hoje o soccer a modalidade mais praticada pelo público feminino. Ainda no que toca a palmarés os EUA somam quatro títulos olímpicos, e ainda três ceptros mundiais de sub-20. Dominadoras... claramente.
Voltando ao futebol masculino para recordar em poucas linhas aquele que foi sem margem para dúvidas o grande acontecimento futebolístico realizado em terras norte-americanas: o Campeonato do Mundo de 1994. Com o intuito de enraizar definitivamente o soccer no seu território nacional os responsáveis da United States Soccer Federation convenceram a FIFA a atribuir-lhes a organização do Mundial de 94. O resto do planeta torceu o nariz, perguntando-se como podia um país onde a modalidade é praticamente marginalizada acolher um certame daquele nível? A resposta foi dada no verão de 1994, com uma organização estupenda e grandiosa, como só os EUA conseguem fazer sempre que de grandes eventos se trata. Estádios gigantescos, sempre cheios de público, e acima de tudo de futebol de alto nível praticado pelas seleções presentes fizeram deste - quiçá - o último grande Mundial - a todos os níveis - da história recente da competição. Infundadas foram igualmente as suspeitas de que a seleção da casa dificilmente passaria da primeira fase, e que se iria tornar na primeira anfitriã a não passar a fase de grupos, já que com muita classe nomes - hoje lendas - como Meola, Balboa, Tab Ramos, Eric Winalda, Cobi Jones, e o excêntrico Alexi Lalas não só avançaram a fase de grupos - bateram por 2-1 a Colômbia, empataram a um ante a Suíça, e foram derrotados por 0-1 pela Roménia - como fizeram a vida negra ao futuro campeão Brasil nos oitavos-de-final (brasileiros venceram apenas por 1-0).
O Mundial dos States serviu para que o soccer subisse mais uns degraus na escada da popularidade de um povo que sempre olhou a modalidade com indiferença. Hoje em dia o futebol é o terceiro desporto mais praticado no país (no plano masculino, e o primeiro na vertente feminina, como já vimos), sendo para muitos impensável que a seleção nacional não seja uma presença garantida nas grandes competições internacionais. 

quarta-feira, julho 17, 2013

Emblemas históricos (12)... Ponta Delgada Soccer Club

Fall River, cidade norte-americana situada no Estado de Massachusetts que no início do século XX foi destino de milhares de emigrantes portugueses, na sua maioria oriundos dos Açores, que deixavam para trás a miséria de um Portugal em profunda depressão - a diversos níveis - e partiam em busca do sonho americano. Homens e mulheres que ali chegados trabalhavam arduamente, horas a fio, nas muitas fábricas existentes em Fall River. Nesta cidade criaram as suas raízes, casaram, tiveram os seus filhos, e ali morreram. Fall River foi pois o lar adotado por milhares de aventureiros lusitanos, que mesmo deixando para trás o seu amado Portugal fizeram questão de levar consigo na bagagem crenças, costumes, tradições, e atividades bem lusitanas que de certo modo os faziam sentir-se próximos do seu país natal naquela terra tão distante e inicialmente desconhecida. Uma dessas atividades populares - não de origem lusitana mas na época já bem vincada na sociedade do país do sul da Europa - era o futebol, ou como estranhamente era denominado em Terras do Tio Sam, soccer. Para além de portugueses, Fall River era povoada por outras comunidades de imigrantes provenientes do Velho Continente, irlandeses, escoceses, ingleses, ou italianos. E tal como os lusos também estes tinham como paixão o futebol, sendo que aos domingos, dia de descanso após uma longa e dura semana de trabalho, as comunidades destes países juntavam-se para praticar - ou para assistir - o seu desporto de eleição. Não tardou muito pois que aqui e acolá começassem a florir os primeiros clubes idealizados pelos imigrantes europeus, sendo que em 1915 via a luz do dia o Ponta Delgada Soccer Club, que como o próprio nome indica foi fundado por açorianos, na sua maioria oriundos da ilha de S. Miguel. E tal como outros emblemas criados por imigrantes europeus o Ponta Delgada SC teve ao longo da sua vida um papel preponderante na dinamização e popularização do soccer em terras americanas, tendo sido um dos atores principais da chamada golden era (era dourada) do belo jogo nos Estados Unidos da América (EUA).

Foi nos anos 20 que o jogo conheceu de facto a sua primeira grande explosão de popularidade junto do povo norte-americano. Era comum ver-se em volta de uma partida assistências a rondar as 10.000 ou 15.000 pessoas, que vibravam com a arte futebolística das primeiras lendas do soccer dos States, casos de Thomas Swords (o primeiro capitão da seleção nacional dos EUA que disputou o seu primeiro jogo internacional em 1916), de Bert Patenaude, ou de Billy Gonsalves, este último também ele um luso descendente, neste caso filho de pais madeirenses, e que para muitos é ainda hoje considerado o maior jogador norte-americano de todos os tempos (nota: sobre ele o Museu Virtual do Futebol já traçou algumas linhas biográficas noutras viagens ao passado). Grandes dominadores do futebol dos EUA daquele tempo eram a quase esmagadora maioria dos combinados de Fall River, nomeadamente o Fall River Marksmen - clube fundado em 1922, que nesta década venceu por sete vezes o título nacional (American Soccer League) e em quatro ocasiões a taça nacional (National Challenge Cup, atualmente conhecida como US Open Cup) - o Fall River Rovers, ou o Fall River Football Club. Mais do que títulos ganhos todos eles encantaram multidões.

Seria no entanto na década seguinte que o Ponta Delgada Soccer Club iria conhecer os seus primeiros momentos de fama. Curiosamente esta seria uma década de declínio para o soccer, muito por culpa da Grande Depressão que assolou os EUA, a qual provocou o encerramento de inúmeras indústrias, atirando milhares de homens e mulheres para o desemprego. Com isto o futebol sofreu, muitos clubes fecharam portas, outros transferiram-se para cidades maiores e mais abastadas. O soccer perdia furor...

Ponta Delgada SC domina era amadora

Perdia furor mas não morria. Sem dinheiro para alimentar uma liga profissional o jogo percorreria então os caminhos do amadorismo, e neles o Ponta Delgada Soccer Club ganhou algumas corridas. O primeiro grande título conquistado pelo clube de origens portuguesas ocorreu a 1 de maio de 1938, dia em que o clube venceu por 2-1 o Pittsburgh Heidelberg na final da National Amateur Cup, uma espécie de campeonato nacional de amadores. Mas o melhor viria na década seguinte. Munido de um grupo de notáveis jogadores, na sua esmagadora maioria luso descendentes, o Ponta Delgada colecionou títulos atrás de títulos, sendo que entre 1946 e 1948 foi três vezes consecutivas campeão da National Amateur Cup. Em 1946 fez mesmo história no soccer dos EUA, ao tornar-se no primeiro clube a atingir as finais de duas competições distintas no mesmo ano, a National Amateur Cup - a qual venceu, como já vimos, após derrotar na final o Castle Shannon of Pittsburgh por 5-2 - e a National Challenge Cup, em cuja final seria derrotado pelos Chicago Vikings por 1-2. No ano seguinte a equipa voltou a marcar presença nas finais de duas competições distintas, mas desta vez o desfecho foi bem mais feliz: venceu as duas! O Ponta Delgada Soccer Club entrava assim para a história do soccer norte-americano ao tornar-se no primeiro emblema a vencer no mesmo ano duas competições distintas. Na final da National Amateur Cup - disputada em maio desse ano - o clube cilindrou por 10-1 o Saint Louis Carondelets, com o destaque individual a ir para Ed Souza, um dos muitos artistas luso-americanos daquele célebre combinado, atleta que nessa tarde apontou cinco golos. A 31 de agosto, na primeira mão da final da Taça dos EUA (National Challenge Cup) o Ponta Delgada esmagou na primeira mão o Chicago Sparta por 6-1, com golos com sotaque português: Ed Souza (2), John Souza, Ed Valentine, e Joe Ferreira, sendo que outro tento saiu dos pés de John Travis. Nesse histórico encontro o Ponta Delgada SC alinhou com: Walter Romanowicz, Joe Machado, Manuel Martin, Joseph Rego-Costa, Joe Ferreira, Jesse Braga, Frank Moniz, Ed Souza, Ed Valentine, John Souza, e John Travis.
Cerca de uma semana depois, na segunda mão da final, nova vitória foi alcançada, desta feita por 3-2, em Chicago, com tentos de Jim Delgado, Joe Ferreira, e John Travis. A alinhação do Ponta Delgada SC foi a seguinte: Walter Romanowicz, Joe Machado, Manuel Martin, Joseph Rego-Costa, Joe Ferreira, Jesse Braga, Frank Moniz, Ed Souza, Ed Valentine, John Souza, e John Travis.Jogaram ainda Jim Delgado, Joseph Michaels, e Victor Lucianno.

Dobradinha chama à atenção da United States Soccer Federation

A dupla conquista do emblema de ascendência lusitana não deixou ninguém indiferente, muito menos os responsáveis máximos do futebol norte-americano, que nesse ano de 1947 viram a seleção nacional yankee integrar a primeira edição da North American Football Confederation Championship, digamos que a competição antecessora da atual Gold Cup. O certame teve lugar em Cuba, entre 13 a 20 de julho, sendo que para além da equipa da casa e dos EUA o México também figurava no cartaz. Grupo norte-americano que era constituído 100 por cento pelos atletas do Ponta Delgada Soccer Club! A convite da United States Soccer Federation (Federação Norte-Americana de Futebol) os jogadores do clube de Fall River trocaram a sua camisola habitual pela da seleção nacional. Uma honra! O resultado, esse, não foi famoso, já que a viagem a Cuba saldou-se por duas pesadas derrotas, uma por 0-5 ante o México - que seria o campeão do evento - e outra por 2-5 ante os anfitriões, tendo os tentos dos soccer boys sido apontados por Ed Souza e Ed Valentine.

Mas não se ficaria por aqui a incursão de jogadores do Ponta Delgada SC na equipa nacional. No ano seguinte os Estados Unidos da América marcavam mais uma vez presença no torneio olímpico de futebol, que nesse ano decorreu em Londres. Para encontrar os melhores atletas capazes de representar condignamente o país o selecionador nacional da altura, Walter Giesler, organizou um jogo entre as estrelas do Este e do Oeste dos EUA. No final dessa triagem, digamos assim, Giesler chamou cinco jogadores do Ponta Delgada Soccer Club para fazer a viagem até à capital britânica, nomeadamente Ed Souza, John Souza, Joe Ferreira, Manuel Martin, e Joseph Rego-Costa. Participação norte-americana que desde cedo foi problemática, já que antes da partida para a Europa a seleção não realizou qualquer treino conjunto, muito menos jogos de preparação, tudo devido ao mau tempo! Preparação essa que foi feita no navio que transportou os yankees para Londres! Surreal! A equipa só tocou na bola já em solo europeu, onde faria alguns jogos de preparação muito em cima do arranque da competição, fatura que acabaria por sair cara ao combinado de Giesler, já que logo na primeira eliminatória dos Jogos de 48 foi afastado pela Itália por concludentes 9-0!

Ed e John Souza presentes na página mais cintilante do soccer norte-americano

Mas se a viagem a Londres foi rotulada de insucesso o mesmo não aconteceria dois anos mais tarde, quando o selecionado norte-americano viajou para o Brasil para participar no Campeonato do Mundo. Para a América do Sul o selecionador Walter Giesler e o treinador de campo Bill Jeffrey levaram dois luso descendentes, dois diamantes extraídos da mina do Ponta Delgada Soccer Club, Ed Souza e John Souza, que apesar de partilharem o mesmo apelido não tinham qualquer laço familiar. E no Brasil eles ajudaram os EUA a escrever a página mais cintilante da sua história, no que a futebol diz respeito, e quiçá o maior escândalo do futebol planteário, altura em que a poderosa seleção inglesa foi derrotada por 0-1 pelos amadores dos States, facto este já relatado neste museu virtual vezes sem conta.
Voltando ao Ponta Delgada Soccer Club, 1950 seria um ano quase brilhante, já que ao título de campeão da National Amateur Cup o emblema esteve muito perto de repetir a dobradinha de 1947, perdendo a final da National Challenge Cup para o Saint Louis Simpkins-Ford, onde aliás atuavam alguns dos heróis norte-americanos do Mundial de 50, casos de Frank Borghi, Gino Pariani, Charles Colombo, entre outros. O clube de origens açorianas arrecadou ainda em 1953 um último título da National Amateur Cup, sendo que dali em diante praticamente se eclipsou do mapa futebol dos EUA, aliás tal como a prórpia modalidade, que só viria a conhecer um novo impulso na década de 70 com a criação da National American Soccer League, e com a chegada do rei Pelé aos EUA para relançar o belo jogo em terras onde ainda hoje ele é olhado com alguma... desconfiança e desinterese.
Em 1985 o Ponta Delgada mudou o nome para Patriot's Bar and Grille (!), até que em 2008 encerrou definitivamente as portas.

Os luso americanos mais sonantes da história do clube

Ao longo das linhas anteriores foram mencionados alguns dos nomes mais sonantes da história do clube, sendo que nas próximas linhas iremos apresentar de forma mais detalhada aqueles que mais brilharam na cena internacional com as cores da seleção norte-americana.

Joseph Ferreira: Tal como a maioria dos jogadores do Ponta Delgada Soccer Club, Joseph Ferreira tinha uma alcunha, no seu caso era chamado de Za-Za. Nasceu a 5 de dezembro de 1916, em Fall River, pois claro. Destacou-se no terreno de jogo como médio defensivo, e tal a maior parte dos seus companheiros deu os primeiros pontapés na bola no Ponta Delgada. Foi um dos rostos principais das décadas (40 e 50) douradas do emblema de Fall River, vivendo por dentro, e em algumas vezes foi mesmo determinante, as principais conquistas do clube. Foi chamado por quatro ocasiões à seleção dos EUA, tendo a primeira ocorrido em 1947, no decorrer da primeira edição do North American Football Confederation Championship, onde atuou como titular na derrota ante o México por 0-5. No ano seguinte vestiu por mais três ocasiões a camisola do seu país, em dois particulares - derrota com a Noruega por 0-11 (!), e vitória sobre Israel por 3-1 - e no torneio olímpico de Londres, onde sentiu na pele a pesada derrota diante da Itália por 0-9. Em 1957, numa altura em que o Ponta Delgada SC entrava na fase decrescente da sua vida, Joe Za-Za Ferreira deixou o clube, rumando para o vizinho Fall River Soccer Club, onde terminaria a carreira. Fall River viu-o nascer e assistiu também ao seu desaparecimento, a 10 de junho de 2007.

Joseph Rego-Costa: Três anos mais novo do que o seu companheiro Za-Za Ferreira, Joseph Rego-Costa brilhou no lado direito do setor recuado do terreno, isto é, como defesa/lateral direito. Tendo tido igualmente como berço a cidade de Fall River, Joe Rego-Costa nasceu a 3 de julho de 1919. Nas Olimpíadas de 1948 ele foi o capitão da seleção nacional dos EUA no encontro diante da Itália, tendo sido esta uma das cinco vezes em que envergou a camisola do seu país, sendo que as outras ocasiões ocorreram no North American Football Confederation Championship, onde realizou os dois encontros dessa fase final, digamos assim, e nos particulares ante a Noruega e Irlanda - derrotas, respetivamente, por 0-11, e 0-5. A brilhante carreira de Joe Rego-Costa não foi esquecida, e em 1988 ele foi nomeado para figurar - para a eternidade - no New England Soccer Hall of Fame, uma museu onde repousam os nomes e factos mais relevantes do futebol daquela região dos EUA. Tal como Za-Za Ferreira, Joe Rego-Costa nasceu e morreu em Fall River, no seu caso 27 de abril de 2002 é a data do seu falecimento.

Manuel Martin: Manuel Oliveira Martin, dos cinco craques mais sonantes que o Ponta Delgada Soccer Club deu ao futebol dos EUA ele foi o único que não nasceu em Fall River. Mas não muito longe dali viu a luz do dia pela primeira vez a 29 de dezembro de 1917, mais precisamente em Bristol, Rhode Island, tendo tal como os seus companheiros sido uma das figuras principais das décadas douradas do Ponta Delgada SC. Pela seleção dos EUA atuou em sete ocasiões, com destaque para as presenças no North American Football Confederation Championship de 1947 (fez os dois jogos), na edição desta mesma competição de 1949, ocorrida no México, onde Martin atuou em três encontros, e nos Jogos Olímpicos de 1948. Tal como Joe Rego-Costa atuava no setor recuado do terreno, e depois da sua retirada dos campos de futebol seguiu uma curta carreira de treinador, desempenhando funções de treinador-adjunto na equipa feminina da Uiversidade de Massachusetts.
Em 1983 ele foi nomeado para o New England Soccer Hall of Fame, tendo 14 mais tarde falecido em Fall River.

Ed Souza: Edward Souza-Neto, ou simplesmente Ed Souza, foi um dos mais talentosos avançados do soccer americano de todos os tempos. Ele era o elemento mais novo dos cinco astros nascidos para o futebol no Ponta Delgada SC, tendo nascido a 22 de setembro de 1921. Durante muitos anos foi um dos homens-golo da equipa, destacando-se a sua veia goleadora na dupla campanha vitoriosa de 1947, isto é, na National Amateur Cup e na National Challenge Cup. Integrou a seleção norte-americana no North American Football Confederation Championship de 1947, nos Jogos Olímpicos de 1948, e no Mundial de 1950, tendo sido um dos 11 heróis que atuou na sensacional e inesperada vitória sobre a Inglaterra no célebre jogo realizado em Belo Horizonte. Nesse Campeonato do Mundo realizou ainda mais um encontro, o da última jornada do grupo 2 diante do Chile (derrota por 2-5). Ed Souza, que apesar de partilhar o apelido com o seu companheiro de clube e de seleção John Souza nenhuma relação familiar tinha com este, falecendo a 19 de maio de 1979, em Warren, Rhode Island.

John Souza: Talvez o mais mediático jogador do Ponta Delgada Soccer Club. Uma das estrelas mais cintilantes de sempre do soccer dos EUA, tendo sido o primeiro jogador deste país a fazer parte do onze ideal de um Campeonato do Mundo da FIFA. Nasceu a 12 de julho de 1920, em Fall River, e tal como muitos dos seus companheiros do soccer era filho de pais açorianos. Ganhou a alcunha de Clarkie, aparentemente por ser parecido com o popular ator Clark Gable. Ao serviço do clube da sua terra, o Ponta Delgada SC, John Clarkie Souza venceu os títulos mais importantes do historial do emblema. Atuando como atleta amador, tal como os restantes companheiros, Clarkie trabalhava arduamente durante a semana nas fábricas de Fall River e ao domingo brilhava com as cores do seu clube do coração. Fê-lo até 1951, altura em que resolve mudar de ares, transferindo-se para o New York German-Hungarians, clube pelo qual vence uma National Amateur Cup e uma National Challenge Cup. Pela seleção norte-americana este avançado atuou em 14 ocasições, estreando-se, tal como os seus colegas de clube, no North American Football Confederation Championship, em 1947, prova onde voltaria a representar os States dois anos mais tarde. Também com os EUA atuou em duas edições dos Jogos Olímpicos, mais precisamente em Londres (1948), e em Helsínquia (1952), onde voltou a ver a sua seleção ser massacrada pela Itália, desta feita por 0-8. Mas o ponto alto da sua carreira foi mesmo o Mundial de 1950, no Brasil, onde foi titular nos três encontros que os soccer boys fizeram na América do sul, tendo vivido a tarde mágica de 29 de junho daquele ano, quando em Belo Horizonte a Inglaterra foi batida pelos desconhecidos - para o resto do planeta, pelo menos - norte-americanos. As suas exibições nesse Mundial levaram então a revista brasileira Mundo Esportivo a nomea-lo para o onze ideal do torneio da FIFA. Jogaria até aos 40 anos, e quem o viu atuar diz que poderia ter jogador em qualquer equipa do Mundo, tal era a sua mestria com a bola nos pés. Como a maioria dos heróis de Belo Horizonte também ele foi nomeado para o National Soccer Hall of Fame, tendo falecido já no novo milénio (a 11 de março de 2012). 

Legenda das fotografias:
1-Talvez a fotografia mais relevante da história do Ponta Delgada SC, o dia em que o clube venceu a National Challenge Cup (atualmente conhecida como US Open Cup) de 1947
2-Um jogo de futebol nos anos 20, a década em que a modalidade alcançou índices de popularidade absimal nos EUA
3-John Clarkie Souza, para muitos o jogador mais mediático da história do Ponta Delgada SC
4-Walter Giesler, selecionador nacional dos EUA nos Jogos Olímpicos de 1948 e no Mundial de 1950
5-A histórica equipa dos EUA que derrotou a Inglaterra no Campeonato do Mundo de 1950
6-Joseph Ferreira
7-Joseph Rego-Costa
8-Manuel Martin
9-Ed Souza
10-John Souza

Para ti mãe...

sexta-feira, outubro 19, 2007

Estrelas cintilantes (8)... Frank Borghi

Já aqui falámos daquela que é considerada até hoje como a maior surpresa – ou o maior escândalo – de todos os tempos do futebol Mundial, mais precisamente da vitória dos amadores dos Estados Unidos da América (EUA) sobre a gigante Inglaterra (por 1-0) no Mundial de 1950 (ver post Grandes Clássicos da Bola (1), de Abril de 2007).
Já aqui falámos também do homem que tornou essa surpresa possível (o autor do golo), de seu nome Joe Gaetjens (ver post Estrelas Cintilantes (1), de Abril de 2006).
Hoje iremos visitar outro dos heróis de Belo Horizonte (localidade brasileira onde decorreu esse célebre jogo), mais precisamente Frank Borghi, o homem que brilhantemente defendeu nesse Campeonato do Mundo, e em particular no desafio ante os ingleses, as redes dos EUA.
Descendente de italianos Borghi nasceu a 9 de Abril de 1925, em St. Louis, estado de Missouri, e foi um dos mais brilhantes guarda-redes norte-americanos de todos os tempos apesar de somente ter vestido por nove vezes a camisola da selecção principal dos EUA. Curiosamente começou a sua carreira desportiva como jogador de basebol.
No entanto, a paixão pelo soccer (futebol) era enorme em St. Louis, localidade onde havia um grande número de jogadores e equipas de futebol, e Frank não tardou em dedicar-se a 100% ao desporto rei. Aliás, na década de 50 Saint Louis era considerada o “o grande viveiro do futebol” dos EUA, a localidade onde se encontravam os melhores jogadores do país. Curioso também é o facto de Borghi ter escolhido a posição de guarda-redes pela força do seu lançamento de braços (pela razão de ter actuado na posição de lançador nos tempos em que jogava basebol). Com os braços ele conseguia colocar a bola em qualquer posição do campo, e diz quem o viu jogador que nunca usou o pontapé para colocar a bola em campo.
Como profissional jogou pelos St. Louis Simpkins-Ford onde venceu duas US Open Cup's, em 1948 e 1950. Mas o grande momento da sua carreira foi a chamada à selecção dos EUA que disputou o Mundial de 1950, que decorreu no Brasil.
Uma equipa formada exclusivamente por jogadores amadores, que partiu para o Brasil apenas com o intuito de aprender um pouco mais sobre o futebol com os mestres do Brasil, Inglaterra, Itália, Espanha, Suécia, ou Uruguai, as potências da altura.
A fragilidade da equipa norte-americana era de tal maneira evidente que a Inglaterra encarou o desafio com os soccer boys como um mero treino. Uma decisão que saiu cara aos inventores do futebol já que em Belo Horizonte os EUA, que na noite anterior ao jogo tinham ficado na farra até altas horas da madrugada, bateram os ingleses por 1-0. A par de Gaetjens (o autor do golo) Borghi foi o herói da tarde ao defender tudo o que havia para defender. Ele defendeu ainda a baliza dos EUA nos outros dois jogos que a equipa disputou nesse Mundial. Em 1976 ele foi incluído no United States National Soccer Hall of Fame (Museu do Futebol dos EUA).

Legenda das fotografias:

1- Frank Borghi envergando a camisola dos EUA
2. O histórico "11" que derrotou a poderosa Inglaterra por 1-0 no Mundial de 1950
3- Envergando as cores do St. Louis Simpkins-Ford

sexta-feira, abril 20, 2007

Grandes Clássicos da Bola (1)... Estados Unidos - Inglaterra (1-0)

Inauguramos hoje um novo cantinho aqui no Museu Virtual do Futebol, o espaço dedicado aos grandes jogos da história deste não menos grande desporto. Vamos pois recordar alguns dos encontros que fizeram história quer ao nível dos Campeonatos do Mundos, quer dos Campeonatos da Europa ou das competições europeias de clubes. Jogos que com o passar dos anos se tornaram em verdadeiros clássicos.
E começamos esta nossa viagem por uma partida que poucos conhecem, ou se lembram, e que data de 1950. Ano em que o Brasil acolheu pela primeira vez, e única até à data, uma fase final de um Mundial de Futebol. Um campeonato de má memória para os brasileiros, pois perderiam o "seu" Mundial para os vizinhos e rivais do Uruguai. Bom, mas isso são histórias que iremos contar noutra altura.
O jogo que hoje iremos fazer referência aconteceu então nesse Mundial, mais precisamente na cidade de Belo Horizonte, no Estádio da Independência, que recebeu na tarde de 29 de Junho as equipas dos Estados Unidos da América e da Inglaterra. Um encontro referente à 1ª fase desse célebre Mundial. Inglaterra que era considerada uma das seleções favoritas para vencer o torneio, juntamente com Brasil, Suécia e Itália. Mas, desde o início, a realidade foi bem diferente das previsões. Lutando contra um intenso calor, a selecção inglesa sofreu a bom sofrer para vencer o Chile por 2-0 na sua estreia na "Copa", no Estádio do Maracanã. Ingleses que, refira-se, participavam pela primeira vez numa fase final de um Mundial. E como favorita que era à conquista do "caneco" poucos duvidavam que a Inglaterra não iria no segundo jogo do Mundial massacrar os amadores dos Estados Unidos da América.
Selecção americana que tinha apenas um jogador profissional, Ed McIlvenny. A crença na vitória fácil era tanta que o técnico inglês Arthur Drewry decidiu dar folga a vários dos seus principais jogadores.
Um desses jogadores que não participou no jogo foi o lendário Stanley Matthews, o que rendeu duras críticas a Drewry depois da derrota.
As equipas entraram em campo, e aos 39 minutos do 1º tempo um estudante, que trabalhava em meio período como lavador de pratos em Nova Iorque, produziu um dos resultados mais inesperados da história do futebol internacional. Joe Gaetjens, de seu nome, recebeu um passe de Walter Bahr e marcou o único golo da partida, garantindo a vitória dos Estados Unidos.
O resultado era considerado tão improvável pelos ingleses que uma casa de apostas de Londres ofereceu 500 para 1 às pessoas que apostassem nos americanos antes do jogo. História curiosa é, aliás, o facto de que quando o resultado foi conhecido em Inglaterra os súbitos de Sua Majestade pensarem de imediato que se trataria de um erro, e que o resultado não era 0-1 mas sim 10-1! Como estavam enganados...
48 anos depois desse jogo, o criador da jogada do golo, Walter Bahr, voltou ao "local do crime", por assim dizer, ao Estádio da Independência, onde confessou que «se a Inglaterra jogasse 10 vezes contra nós, naquela época, teria vencido nove vezes. Mas aquele jogo era nosso. O destino ficou do nosso lado. Os ingleses deveriam ter vencido, mas não marcaram nenhum golo, e à medida que o tempo passava, o nosso futebol foi melhorando. Os ingleses foram ficando em pânico... ».
Este resultado ainda hoje é considerado como a maior surpresa de todos os tempos no planeta da bola!
Porém, a impensável vitória sobre a Inglaterra foi recebida com indiferença nos Estados Unidos da América. Os americanos praticamente ignoravam que haviam vencido aquele jogo até a década de 70, altura em que Gaetjens já havia morrido.
O destino do autor do golo ainda hoje é um mistério. Joe Gaetjens era natural do Haiti, e suspeita-se que ele tenha sido morto a tiros na capital do país, Porto Príncipe, em 10 de Julho de 64.
Em 1976, o seu nome foi incluído no Hall da Fama do futebol americano. Aliás, nos primeiros dias de abertura deste Museu dedicámos já um "post" a este herói.
Recentemente, foi realizado um filme que retrata precisamente este momento histórico do futebol estado-unidense, intitulado de "The Game of Their Lives".
Apesar da vitória sobre a Inglaterra, os Estados Unidos terminaram em último no seu grupo na "Copa de 50", sendo eliminado do torneio juntamente com a Inglaterra e o Chile.
Depois da participação no Mundial do Brasil, os americanos demorariam 40 anos para voltar participar numa fase final de um Mundial, o que só ocorreu em 1990, no Mundial de Itália.
Para a história fica então a ficha técnica do grande momento da história do "soccer" norte-americano:
29 de Junho de 1950: Estádio Independência, Belo Horizante, Brasil. Assistência: 10 051 espectadores Árbitro: Generoso Dattilo, de Italia
Estados Unidos (1): Frank Borghi, Harry Keough, Joe Maca, Ed McIlvenny (c), Charlie Colombo, Walter Bahr, Frank Wallace, Gino Pariani, Joe Gaetjens, John Souza, Ed Souza. Treinador: Bill Jeffrey
Inglaterra (0): Bert Williams, Alf Ramsey, John Aston, Tommy Wright, Laurie Hughes, Jimmy Dickinson, Thomas Finney, Stanley Mortensen,
Roy Bentley, Wilf Mannion, Jimmy Mullen. Treinador: Walter Winterbott
Marcador: Joe Gaetjens (39’)


Legendas das fotografias:

1- "Onze" dos EUA no célebre jogo de 50 diante da poderosa equipa inglesa: Em cima (da esquerda para a direita): Walter J Geisler,Joseph A Maca,Charles M Colombo,Frank C Borghi,Harry J Keough,Walter A Bahr,Coach William"Bill"Jeffrey. Em baixo (também da esquerda para a direita):
Frank Wallace, Edward J McIlvenny, Virginio P Pariani, Josrph N Gaetjens, John B Sosa, Edward N Sosa.
2- Capitães dos dois conjuntos cumprimentam-se antes do início do jogo.
3- Joe Gaetjens é levado em ombros após o apito final do árbitro.
4- Walter Bahr, o autor do centro para o golo de Gaetjens.

Vídeo: RESUMO DA SURPREENDENTE VITÓRIA DOS ESTADOS UNIDOS SOBRE A INGLATERRA EM 1950