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segunda-feira, dezembro 23, 2013

Momentos altos da vida... da seleção nacional dos Estados Unidos da América

Decorrem (ainda) neste ano de 2013 os festejos do centenário da United States Soccer Federation (Federação de Futebol dos Estados Unidos da América). 100 anos de uma instituição que tem ao longo da sua existência travado uma luta feroz contra a impopularidade, por assim dizer, da qual o soccer (futebol) foi, num passado não muito distante, vítima num país onde outras modalidades - como o basquetebol, o basebol, o hóquei no gelo, ou o futebol americano - sempre foram amadas de uma forma desmedida e têm gerado ao longo de décadas verdadeiras lendas do desporto planetário. No entanto, e ainda para alguns, o soccer ainda é, de forma incompreensível, o parente pobre do desporto da Terra do Tio Sam. Contudo, o país que ainda - e volto a sublinhar outro "ainda" - é olhado - sobretudo na Europa - como tosco na arte de manusear a redondinha teve os seus momentos brilhantes na história do futebol mundial. Recordemo-los pois então...
New York Astor Hotel House em 1913
Quis o destino que a cintilante Nova Iorque fosse o berço da United States Soccer Federation. No New York Astor Hotel House, situado nas proximidades da mundialmente famosa Times Square, um grupo de figuras ligadas à modalidade importada para a América pela mão de imigrantes europeus em meados do século XIX fundou a 5 de abril de 1913 a United States of America Football Association (USFA), a primeira designação do organismo máximo do soccer norte-americano, que só a partir da segunda metade do século XX se iria denominar United States Soccer Federation. Randolph Manning seria eleito o primeiro presidente do recém criado organismo, que no ano seguinte era aceite pela FIFA como membro da entidade que tutela o futebol a nível global.
A primeira seleção nacional dos EUA, que em Estocolmo efetuou o primeiro jogo da sua centenária história
A partir de então a USFA desenvolveu algumas competições nacionais para coroar os clubes que iam surgindo aqui e ali um pouco por todo o extenso território norte-americano, com destaque para a US Open Cup (a taça nacional), cuja primeira edição ocorreu precisamente em 1914. Seria no entanto preciso esperar até 1916 para ver o primeiro onze nacional - vulgo, seleção nacional - entrar em campo. Facto histórico ocorrido a 20 de agosto do citado ano, altura em que o combinado yankee enfrentou a Suécia, em Estocolmo, no primeiro de cinco encontros amigáveis de uma digressão feita por terras suecas e norueguesas com vista à preparação para o torneio olímpico de 1916, o qual viria a ser posteriormente cancelado devido à I Guerra Mundial. E na capital sueca a US National Team teve uma estreia feliz, vencendo os nórdicos por 3-2. Capitaneada por um dos grandes ícones do soccer norte-americano da época, Thomas Swords, lendário avançado que atuava no Fall River Rovers, os soccer boys enfrentavam uma experiente Suécia no plano internacional - os nórdicos já haviam disputado anteriormente, e desde 1890, 31 jogos. Diante de 21 000 espetadores - onde entre os quais se destacava o rei da Suécia, Gustavo V - os Estados Unidos da América (EUA) apresentaram-se muito bem organizados sobre o terreno de jogo, surpreendendo então os suecos com um triunfo por 3-2. Tommy Swords entrou para a história, pois foi dos seus pés que nasceu o primeiro golo oficial da US National Team. Harry Cooper, e Charles Ellis fizeram os restantes golos dos estreantes norte-americanos.
Seleção norte-americana que esteve presente em Paris nos Jogos Olímpicos de 1924
A bela cidade de Paris acolhe em 1924 a sétima edição dos Jogos Olímpicos. No cartaz do evento surge o torneio de futebol, na época considerada a prova mais importante do calendário internacional, já que vencer as Olimpíadas no retângulo de jogo era o equivalente a ser coroado de... rei (campeão) do Mundo. Entre as 22 equipas nacionais presentes figurava a dos EUA, que faziam desta forma a sua estreia numa competição de âmbito internacional. E logo no maior palco de todos. Para a capital gaulesa o selecionador nacional George Burford levou alguns dos melhores intérpretes do soccer americano da altura, caso dos guarda-redes Jimmy Douglas, ou do avançado Andrew Stradan. E seria este último atleta a entrar para a história, já que foi dele o único golo com que os yankees derrotaram a Estónia em jogo alusivo à 1ª eliminatória da competição, realizado em Pershing Park, e no qual o lendário guardião Jimmy Douglas foi eleito o melhor em campo, garças a uma soberba exibição que segurou a magra mas saborosa vitória. O sonho americano terminou na eliminatória seguinte, fase onde encontraram a mágica seleção do Uruguai, liderada desde o setor recuado pelo homem que haveria de sair de Paris endeusado, com a alcunha de Maravilha Negra, Falamos de José Leandro Andrade, claro. 3-0 para os uruguaios, que mais tarde haveriam de se consagrar como campeões olímpicos, ou do Mundo, como na época eram rotulados.
Quatro anos mais tarde foi a vez de Amesterdão receber os Jogos Olímpicos, e mais uma vez o Uruguai voltaria a provar que era de facto a maior potência do futebol internacional ao nível de seleções, abraçando mais uma vez o título olímpico. Na cidade holandesa também estiveram os yankees, que assim continuavam a figurar entre a elite do futebol internacional. George Burford voltou a ser o selecionador dos EUA, o qual pela frente teve uma tarefa árdua para fazer boa figura em solo europeu. E na verdade os EUA foram vítimas de si próprios nesta sua segunda aparição internacional, ou melhor vítimas da má organização da USFA, que ignorou por completo os apelos de George Burford para que não fosse reunida uma equipa à última da hora antes do embarque para a Europa. O que é certo é que nas vésperas da partida para Amesterdão foram realizadas à pressa duas sessões de treinos de captação com diversos jogadores, sendo 16 deles escolhidos para vestir a camisola nacional nas Olimpíadas. Conclusão, em Amesterdão os EUA sairam cedo de cena no seguimento de uma tremenda goleada imposta pela Argentina: 11-2. Para esquecer.
A lendária seleção yankee que em 1930 conquistou, em Montevideu, a sua melhor classificação de sempre num Campeonato do Mundo
Apesar da má imagem deixada em Amesterdão os EUA foram uma das seleções convidadas pela FIFA para em 1930 marcar presença na primeira edição do Campeonato do Mundo. O Uruguai, e a sua capital Montevideu, tiveram o privilégio de presenciar o primeiro capítulo da história da maior competição futebolística do planeta. 13 seleções estiveram na América do Sul, entre elas uns EUA muito... europeus. E assim o eram pois o selecionado do técnico Bob Miller era composto na sua esmagadora maioria por imigrantes ingleses e escoceses, embora a grande maioria deles vivesse em solo americano desde a adolescência. Foi pois com um estilo muito britânico que a seleção norte-americana se apresentou em Montevideu, estilo esse ao qual seria acrescentada uma pitada do futebol mais técnico do sul da Europa, graças à arte futebolística de um tal de Billy Gonsalves. Sobre este luso descendente o Museu Virtual do Futebol já dedicou longas linhas noutras viagens ao passado, pelo que há apenas a repetir o facto de que para muitos ele foi o melhor jogador de todos os tempos a vestir a camisola dos EUA. Billy Gonsalves, filho de pais madeirenses, era a estrela do combinado de Bob Miller, e um dos responsáveis pela magnífica campanha que os yankees fizeram em solo uruguaio. Gonsalves podia até ser o maestro da orquestra montada por Miller, mas outros músicos de inegável gabarito faziam parte daquele lendário grupo, casos do regressado guardião Jimmy Douglas, Bart McGhee, Bert Patenaude, ou Tom Florie. Integrados no grupo 4 os States deram uma lição à Bélgica no primeiro encontro da chave, disputado no Parque Central, diante de pouco mais de 18 000 pessoas. 3-0 a favor de Billy Gonsalves e companhia, pertencendo a McGhee (aos 23m), Florie (aos 45m), e Patenaude (69m) a autoria dos remates certeiros.
No encontro seguinte, diante do Paraguai, de novo a chapa 3 foi aplicada pelos yankees aos seus opositores, neste caso com o destaque individual a ir inteiramente para Bert Patenaude, autor dos três tentos, atleta que se tornava desta forma no primeiro futebolista a alcançar um hattrick em fases finais de Campeonatos do Mundo. Com estas duas vitórias os EUA estavam desde logo apurados para as meias-finais do torneio! Quem diria, ainda para mais depois da pobre imagem deixada em Amesterdão dois anos antes. A aventura acabaria no majestoso Estádio Centenário, diante da Argentina, que derrotou os norte-americanos por 6-1, mas com uma pequena ajuda extra do árbitro belga John Langenus, que na voz dos yankees fez vista grossa ao jogo violento dos argentinos que dias mais tarde iriam perder o título mundial para o Uruguai. No final da festa o terceiro lugar do pódio seria ocupado em ex-aequo pela Jugoslávia e pelos EUA, que desta forma arrecadavam a sua melhor classificação numa fase final de um Mundial.
A boa imagem deixada em Montevideu contrastou com a pálida performance patenteada quatro anos mais tarde em Roma, na fase final do Mundial de 34. Diante da poderosa seleção da casa, orientada pelo mestre da tática Vittorio Pozzo, os estado-unidenses - orientados pelo técnico David Gould - foram atropelados por 7-1 (!), cabendo a um descendente de italianos, de seu nome Aldo Donelli, apontar o tento de honra dos EUA, que no seu grupo tinham ainda as lendas Billy Gonsalves, e Tom Florie, os únicos que restavam da seleção de 1930.
Os homens que em 1950 escandalizaram o planeta do futebol
Depois de mais uma pobre prestação olímpica em 1948, onde os EUA voltaram a ser goleados pela Itália de Pozzo, desta feita por 9-0, na 1ª eliminatória dos Jogos de Londres, eis que a história do soccer estado-unidense escreve o seu capítulo mais famoso. Capítulo esse traçado no decorrer da fase final do Campeonato do Mundo de 1950, que nesse ano foi realizado no Brasil, onde os amadores yankees provocaram o maior escândalo da história do belo jogo. Sobre ele já traçámos diversas linhas aqui no Museu, recuperando pois agora para esta viagem ao passado algumas dessas linhas que relatam a impensável vitória do modesto selecionado dos EUA sobre a poderosa Inglaterra.
Belo Horizonte, e o Estádio da Independência, fazem parte do cenário desse célebre encontro - referente à 1ª fase do Mundial - ocorrido na tarde de 29 de Junho. Inglaterra que era considerada uma das seleções favoritas para vencer o torneio, juntamente com Brasil, a Suécia e a Itália. Mas, desde o início, a realidade foi bem diferente das previsões. Lutando contra um intenso calor, a seleção inglesa sofreu a bom sofrer para vencer o Chile por 2-0 na sua estreia na Copa, no Estádio do Maracanã. Ingleses que, refira-se, participavam pela primeira vez numa fase final de um Mundial. E como favorita que era à conquista do caneco poucos duvidavam que a Inglaterra não iria no segundo jogo do certame massacrar os amadores dos EUA.
Seleção norte-americana que tinha apenas um jogador profissional, Ed McIlvenny, de seu nome. A crença na vitória fácil era tanta que o técnico inglês Arthur Drewry decidiu dar folga a vários dos seus principais jogadores, entre eles Stanley Matthews, jogador do qual reza a lenda que havia ficado em Copacabana a apanhar sol!
As equipas entraram em campo, e aos 39 minutos do primeiro tempo um estudante, que trabalhava em part-time como lavador de pratos num restaurante em Nova Iorque, produziu um dos resultados mais inesperados da história do futebol internacional. Joe Gaetjens, assim se chamava, recebeu um passe de Walter Bahr e marcou o único golo da partida, garantindo a vitória dos States.
O resultado era considerado tão improvável pelos ingleses que uma casa de apostas de Londres ofereceu 500 para 1 às pessoas que apostassem nos americanos antes do jogo. História curiosa é, aliás, o facto de que quando o resultado foi conhecido em Inglaterra os súbitos de Sua Majestade pensarem de imediato que se trataria de um erro, e que o resultado não era de 0-1 mas sim de 10-1! Como estavam enganados...
48 anos depois desse jogo, o criador da jogada do golo, Walter Bahr, voltaria ao local do crime, por assim dizer, ao Estádio da Independência, onde confessou que «se a Inglaterra jogasse 10 vezes contra nós, naquela época, teria vencido nove vezes. Mas aquele jogo era nosso. O destino ficou do nosso lado. Os ingleses deveriam ter vencido, mas não marcaram nenhum golo, e à medida que o tempo passava, o nosso futebol foi melhorando. Os ingleses foram ficando em pânico... ».
Este resultado ainda hoje é considerado como a maior surpresa de todos os tempos no planeta da bola!
Porém, a impensável vitória sobre a Inglaterra foi recebida com indiferença nos EUA. Os americanos praticamente ignoravam que haviam vencido aquele jogo até a década de 70, altura em que Gaetjens já havia morrido.
Há poucos anos atrás, foi realizado um filme que retrata precisamente este momento histórico do futebol estado-unidense, intituldado de The Game of Their Lives. E seria mesmo o jogo da vida de até então simples desconhecidos como Joe Gaetjens, Frank Borghi, Harry Keough, Joe Maca, Ed McIlvenny, Charlie Colombo, Walter Bahr, Frank Wallace, Gino Pariani, Joe Gaetjens, John Souza, Ed Souza, e o treinador Bill Jeffrey
Apesar da vitória sobre a Inglaterra, os EUA terminaram em último no seu grupo na Copa de 50, sendo eliminados do torneio juntamente com a Inglaterra e o Chile.
Depois da participação no Mundial do Brasil, os americanos demorariam 40 anos para voltar participar numa fase final de um Mundial, o que só viria a ocorrer em 1990, no Campeonato do Mundo de Itália.
Os EUA em 1990, ano em que regressaram à alta roda do futebol internacional
Nem mesmo o fenómeno da National American Soccer League (NASL) dos anos 60 e 70 conseguiu fazer regressar a seleção yankee à montra do futebol planetário. Como já vimos só em 1990 os EUA voltaram a uma fase final de um Campeonato do Mundo. Facto ocorrido em Itália, e sem grande pompa e circunstância, já que os norte-americanos, pouco ou nada conhecidos na alta roda internacional da época, rapidamente regressaram a casa após três derrotas na fase de grupos, ante a Checoslováquia (1-5), Itália (0-1), e Áustria (1-2). Mais do que fazer saber ao Mundo que os States queriam voltar a ocupar o seu lugar nos grandes palcos do futebol planetário, e de revelar nomes como Tony Meola, Eric Winalda, Tab Ramos, Marcelo Balboa, ou Paul Caligiuri, esta presença em Itália serviu essencialmente para iniciar o renascimento do soccer em Terras do Tio Sam, em fazer da seleção norte-americana uma equipa vencedora, habituada a marcar presença - de lá para cá - em todos os grandes eventos futebolísticos do planeta, com destaque para o Campeonato do Mundo, certame que desde 1990 até aos dias de hoje os EUA não falharam uma única edição.
O primeiro título internacional: a Gold Cup de 1991
A primeira grande conquista do futebol norte-americano ao nível de seleções aconteceu em 1991, ano em que foi disputada a primeira edição da Gold Cup, prova continental organizada pela CONCACAF (Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe). O certame foi realizado em solo norte-americano, e serviu igualmente de teste ao que iria ocorrer três anos mais tarde, altura em que pela primeira vez o país iria receber a organização de um Mundial. Na final da Gold Cup os EUA, dirigidos pelo lendário treinador Bora Milutinovic, derrotaram no Memorial Coliseum, de Los Angeles, as Honduras na marcação de grandes penalidades, por 4-3, após um empate sem golos no final dos 120 minutos.
A esta Gold Cup seguiram-se mais quatro, até aos dias de hoje, perfazendo um total de cinco títulos na prova da CONCACAF, historial que faz com os EUA sejam a par do México a grande potência do futebol daquela zona do globo.
A lenda brasileira Pelé posa ao lado das campeãs do Mundo de 1991
Se no plano masculino os EUA estão ainda um pouco longe de serem considerados uma potência ao lado de países como Brasil, Espanha, Itália, Alemanha, Argentina, Holanda, ou Inglaterra, na vertente feminina eles são indiscutivelmente a maior potência mundial! Não deixa de ser de certo modo estranho como uma modalidade pode ser interpretada de uma maneira tão distinta pelos sexos feminino e masculino. O que é certo é que a meninas norte-americanas têm somado títulos atrás de títulos, fazendo deste o país mais laureado na vitrina dos campeões. O primeiro grande ceptro foi conquistado em 1991, na China, nação que recebeu o primeiro Mundial feminino, tendo os EUA vencido na final a Noruega por 2-1. Ainda que de forma algo tímida o planeta da bola, dominado por homens, fez então uma vénia a jogadoras como Michelle Akers, ou Mia Hamm, duas das maiores jogadores de todos os tempos. Em 1999 as soccer girls voltariam a conquistar o Mundo, desta feita em casa, tendo na final - disputada no Rose Bowl, de Pasadena, cheio como um ovo! - batido nas grandes penalidades a China por 5-4. A popularidade da seleção feminina norte-americana rapidamente se alastrou a todo o país, sendo hoje o soccer a modalidade mais praticada pelo público feminino. Ainda no que toca a palmarés os EUA somam quatro títulos olímpicos, e ainda três ceptros mundiais de sub-20. Dominadoras... claramente.
Voltando ao futebol masculino para recordar em poucas linhas aquele que foi sem margem para dúvidas o grande acontecimento futebolístico realizado em terras norte-americanas: o Campeonato do Mundo de 1994. Com o intuito de enraizar definitivamente o soccer no seu território nacional os responsáveis da United States Soccer Federation convenceram a FIFA a atribuir-lhes a organização do Mundial de 94. O resto do planeta torceu o nariz, perguntando-se como podia um país onde a modalidade é praticamente marginalizada acolher um certame daquele nível? A resposta foi dada no verão de 1994, com uma organização estupenda e grandiosa, como só os EUA conseguem fazer sempre que de grandes eventos se trata. Estádios gigantescos, sempre cheios de público, e acima de tudo de futebol de alto nível praticado pelas seleções presentes fizeram deste - quiçá - o último grande Mundial - a todos os níveis - da história recente da competição. Infundadas foram igualmente as suspeitas de que a seleção da casa dificilmente passaria da primeira fase, e que se iria tornar na primeira anfitriã a não passar a fase de grupos, já que com muita classe nomes - hoje lendas - como Meola, Balboa, Tab Ramos, Eric Winalda, Cobi Jones, e o excêntrico Alexi Lalas não só avançaram a fase de grupos - bateram por 2-1 a Colômbia, empataram a um ante a Suíça, e foram derrotados por 0-1 pela Roménia - como fizeram a vida negra ao futuro campeão Brasil nos oitavos-de-final (brasileiros venceram apenas por 1-0).
O Mundial dos States serviu para que o soccer subisse mais uns degraus na escada da popularidade de um povo que sempre olhou a modalidade com indiferença. Hoje em dia o futebol é o terceiro desporto mais praticado no país (no plano masculino, e o primeiro na vertente feminina, como já vimos), sendo para muitos impensável que a seleção nacional não seja uma presença garantida nas grandes competições internacionais. 

quarta-feira, julho 17, 2013

Emblemas históricos (12)... Ponta Delgada Soccer Club

Fall River, cidade norte-americana situada no Estado de Massachusetts que no início do século XX foi destino de milhares de emigrantes portugueses, na sua maioria oriundos dos Açores, que deixavam para trás a miséria de um Portugal em profunda depressão - a diversos níveis - e partiam em busca do sonho americano. Homens e mulheres que ali chegados trabalhavam arduamente, horas a fio, nas muitas fábricas existentes em Fall River. Nesta cidade criaram as suas raízes, casaram, tiveram os seus filhos, e ali morreram. Fall River foi pois o lar adotado por milhares de aventureiros lusitanos, que mesmo deixando para trás o seu amado Portugal fizeram questão de levar consigo na bagagem crenças, costumes, tradições, e atividades bem lusitanas que de certo modo os faziam sentir-se próximos do seu país natal naquela terra tão distante e inicialmente desconhecida. Uma dessas atividades populares - não de origem lusitana mas na época já bem vincada na sociedade do país do sul da Europa - era o futebol, ou como estranhamente era denominado em Terras do Tio Sam, soccer. Para além de portugueses, Fall River era povoada por outras comunidades de imigrantes provenientes do Velho Continente, irlandeses, escoceses, ingleses, ou italianos. E tal como os lusos também estes tinham como paixão o futebol, sendo que aos domingos, dia de descanso após uma longa e dura semana de trabalho, as comunidades destes países juntavam-se para praticar - ou para assistir - o seu desporto de eleição. Não tardou muito pois que aqui e acolá começassem a florir os primeiros clubes idealizados pelos imigrantes europeus, sendo que em 1915 via a luz do dia o Ponta Delgada Soccer Club, que como o próprio nome indica foi fundado por açorianos, na sua maioria oriundos da ilha de S. Miguel. E tal como outros emblemas criados por imigrantes europeus o Ponta Delgada SC teve ao longo da sua vida um papel preponderante na dinamização e popularização do soccer em terras americanas, tendo sido um dos atores principais da chamada golden era (era dourada) do belo jogo nos Estados Unidos da América (EUA).

Foi nos anos 20 que o jogo conheceu de facto a sua primeira grande explosão de popularidade junto do povo norte-americano. Era comum ver-se em volta de uma partida assistências a rondar as 10.000 ou 15.000 pessoas, que vibravam com a arte futebolística das primeiras lendas do soccer dos States, casos de Thomas Swords (o primeiro capitão da seleção nacional dos EUA que disputou o seu primeiro jogo internacional em 1916), de Bert Patenaude, ou de Billy Gonsalves, este último também ele um luso descendente, neste caso filho de pais madeirenses, e que para muitos é ainda hoje considerado o maior jogador norte-americano de todos os tempos (nota: sobre ele o Museu Virtual do Futebol já traçou algumas linhas biográficas noutras viagens ao passado). Grandes dominadores do futebol dos EUA daquele tempo eram a quase esmagadora maioria dos combinados de Fall River, nomeadamente o Fall River Marksmen - clube fundado em 1922, que nesta década venceu por sete vezes o título nacional (American Soccer League) e em quatro ocasiões a taça nacional (National Challenge Cup, atualmente conhecida como US Open Cup) - o Fall River Rovers, ou o Fall River Football Club. Mais do que títulos ganhos todos eles encantaram multidões.

Seria no entanto na década seguinte que o Ponta Delgada Soccer Club iria conhecer os seus primeiros momentos de fama. Curiosamente esta seria uma década de declínio para o soccer, muito por culpa da Grande Depressão que assolou os EUA, a qual provocou o encerramento de inúmeras indústrias, atirando milhares de homens e mulheres para o desemprego. Com isto o futebol sofreu, muitos clubes fecharam portas, outros transferiram-se para cidades maiores e mais abastadas. O soccer perdia furor...

Ponta Delgada SC domina era amadora

Perdia furor mas não morria. Sem dinheiro para alimentar uma liga profissional o jogo percorreria então os caminhos do amadorismo, e neles o Ponta Delgada Soccer Club ganhou algumas corridas. O primeiro grande título conquistado pelo clube de origens portuguesas ocorreu a 1 de maio de 1938, dia em que o clube venceu por 2-1 o Pittsburgh Heidelberg na final da National Amateur Cup, uma espécie de campeonato nacional de amadores. Mas o melhor viria na década seguinte. Munido de um grupo de notáveis jogadores, na sua esmagadora maioria luso descendentes, o Ponta Delgada colecionou títulos atrás de títulos, sendo que entre 1946 e 1948 foi três vezes consecutivas campeão da National Amateur Cup. Em 1946 fez mesmo história no soccer dos EUA, ao tornar-se no primeiro clube a atingir as finais de duas competições distintas no mesmo ano, a National Amateur Cup - a qual venceu, como já vimos, após derrotar na final o Castle Shannon of Pittsburgh por 5-2 - e a National Challenge Cup, em cuja final seria derrotado pelos Chicago Vikings por 1-2. No ano seguinte a equipa voltou a marcar presença nas finais de duas competições distintas, mas desta vez o desfecho foi bem mais feliz: venceu as duas! O Ponta Delgada Soccer Club entrava assim para a história do soccer norte-americano ao tornar-se no primeiro emblema a vencer no mesmo ano duas competições distintas. Na final da National Amateur Cup - disputada em maio desse ano - o clube cilindrou por 10-1 o Saint Louis Carondelets, com o destaque individual a ir para Ed Souza, um dos muitos artistas luso-americanos daquele célebre combinado, atleta que nessa tarde apontou cinco golos. A 31 de agosto, na primeira mão da final da Taça dos EUA (National Challenge Cup) o Ponta Delgada esmagou na primeira mão o Chicago Sparta por 6-1, com golos com sotaque português: Ed Souza (2), John Souza, Ed Valentine, e Joe Ferreira, sendo que outro tento saiu dos pés de John Travis. Nesse histórico encontro o Ponta Delgada SC alinhou com: Walter Romanowicz, Joe Machado, Manuel Martin, Joseph Rego-Costa, Joe Ferreira, Jesse Braga, Frank Moniz, Ed Souza, Ed Valentine, John Souza, e John Travis.
Cerca de uma semana depois, na segunda mão da final, nova vitória foi alcançada, desta feita por 3-2, em Chicago, com tentos de Jim Delgado, Joe Ferreira, e John Travis. A alinhação do Ponta Delgada SC foi a seguinte: Walter Romanowicz, Joe Machado, Manuel Martin, Joseph Rego-Costa, Joe Ferreira, Jesse Braga, Frank Moniz, Ed Souza, Ed Valentine, John Souza, e John Travis.Jogaram ainda Jim Delgado, Joseph Michaels, e Victor Lucianno.

Dobradinha chama à atenção da United States Soccer Federation

A dupla conquista do emblema de ascendência lusitana não deixou ninguém indiferente, muito menos os responsáveis máximos do futebol norte-americano, que nesse ano de 1947 viram a seleção nacional yankee integrar a primeira edição da North American Football Confederation Championship, digamos que a competição antecessora da atual Gold Cup. O certame teve lugar em Cuba, entre 13 a 20 de julho, sendo que para além da equipa da casa e dos EUA o México também figurava no cartaz. Grupo norte-americano que era constituído 100 por cento pelos atletas do Ponta Delgada Soccer Club! A convite da United States Soccer Federation (Federação Norte-Americana de Futebol) os jogadores do clube de Fall River trocaram a sua camisola habitual pela da seleção nacional. Uma honra! O resultado, esse, não foi famoso, já que a viagem a Cuba saldou-se por duas pesadas derrotas, uma por 0-5 ante o México - que seria o campeão do evento - e outra por 2-5 ante os anfitriões, tendo os tentos dos soccer boys sido apontados por Ed Souza e Ed Valentine.

Mas não se ficaria por aqui a incursão de jogadores do Ponta Delgada SC na equipa nacional. No ano seguinte os Estados Unidos da América marcavam mais uma vez presença no torneio olímpico de futebol, que nesse ano decorreu em Londres. Para encontrar os melhores atletas capazes de representar condignamente o país o selecionador nacional da altura, Walter Giesler, organizou um jogo entre as estrelas do Este e do Oeste dos EUA. No final dessa triagem, digamos assim, Giesler chamou cinco jogadores do Ponta Delgada Soccer Club para fazer a viagem até à capital britânica, nomeadamente Ed Souza, John Souza, Joe Ferreira, Manuel Martin, e Joseph Rego-Costa. Participação norte-americana que desde cedo foi problemática, já que antes da partida para a Europa a seleção não realizou qualquer treino conjunto, muito menos jogos de preparação, tudo devido ao mau tempo! Preparação essa que foi feita no navio que transportou os yankees para Londres! Surreal! A equipa só tocou na bola já em solo europeu, onde faria alguns jogos de preparação muito em cima do arranque da competição, fatura que acabaria por sair cara ao combinado de Giesler, já que logo na primeira eliminatória dos Jogos de 48 foi afastado pela Itália por concludentes 9-0!

Ed e John Souza presentes na página mais cintilante do soccer norte-americano

Mas se a viagem a Londres foi rotulada de insucesso o mesmo não aconteceria dois anos mais tarde, quando o selecionado norte-americano viajou para o Brasil para participar no Campeonato do Mundo. Para a América do Sul o selecionador Walter Giesler e o treinador de campo Bill Jeffrey levaram dois luso descendentes, dois diamantes extraídos da mina do Ponta Delgada Soccer Club, Ed Souza e John Souza, que apesar de partilharem o mesmo apelido não tinham qualquer laço familiar. E no Brasil eles ajudaram os EUA a escrever a página mais cintilante da sua história, no que a futebol diz respeito, e quiçá o maior escândalo do futebol planteário, altura em que a poderosa seleção inglesa foi derrotada por 0-1 pelos amadores dos States, facto este já relatado neste museu virtual vezes sem conta.
Voltando ao Ponta Delgada Soccer Club, 1950 seria um ano quase brilhante, já que ao título de campeão da National Amateur Cup o emblema esteve muito perto de repetir a dobradinha de 1947, perdendo a final da National Challenge Cup para o Saint Louis Simpkins-Ford, onde aliás atuavam alguns dos heróis norte-americanos do Mundial de 50, casos de Frank Borghi, Gino Pariani, Charles Colombo, entre outros. O clube de origens açorianas arrecadou ainda em 1953 um último título da National Amateur Cup, sendo que dali em diante praticamente se eclipsou do mapa futebol dos EUA, aliás tal como a prórpia modalidade, que só viria a conhecer um novo impulso na década de 70 com a criação da National American Soccer League, e com a chegada do rei Pelé aos EUA para relançar o belo jogo em terras onde ainda hoje ele é olhado com alguma... desconfiança e desinterese.
Em 1985 o Ponta Delgada mudou o nome para Patriot's Bar and Grille (!), até que em 2008 encerrou definitivamente as portas.

Os luso americanos mais sonantes da história do clube

Ao longo das linhas anteriores foram mencionados alguns dos nomes mais sonantes da história do clube, sendo que nas próximas linhas iremos apresentar de forma mais detalhada aqueles que mais brilharam na cena internacional com as cores da seleção norte-americana.

Joseph Ferreira: Tal como a maioria dos jogadores do Ponta Delgada Soccer Club, Joseph Ferreira tinha uma alcunha, no seu caso era chamado de Za-Za. Nasceu a 5 de dezembro de 1916, em Fall River, pois claro. Destacou-se no terreno de jogo como médio defensivo, e tal a maior parte dos seus companheiros deu os primeiros pontapés na bola no Ponta Delgada. Foi um dos rostos principais das décadas (40 e 50) douradas do emblema de Fall River, vivendo por dentro, e em algumas vezes foi mesmo determinante, as principais conquistas do clube. Foi chamado por quatro ocasiões à seleção dos EUA, tendo a primeira ocorrido em 1947, no decorrer da primeira edição do North American Football Confederation Championship, onde atuou como titular na derrota ante o México por 0-5. No ano seguinte vestiu por mais três ocasiões a camisola do seu país, em dois particulares - derrota com a Noruega por 0-11 (!), e vitória sobre Israel por 3-1 - e no torneio olímpico de Londres, onde sentiu na pele a pesada derrota diante da Itália por 0-9. Em 1957, numa altura em que o Ponta Delgada SC entrava na fase decrescente da sua vida, Joe Za-Za Ferreira deixou o clube, rumando para o vizinho Fall River Soccer Club, onde terminaria a carreira. Fall River viu-o nascer e assistiu também ao seu desaparecimento, a 10 de junho de 2007.

Joseph Rego-Costa: Três anos mais novo do que o seu companheiro Za-Za Ferreira, Joseph Rego-Costa brilhou no lado direito do setor recuado do terreno, isto é, como defesa/lateral direito. Tendo tido igualmente como berço a cidade de Fall River, Joe Rego-Costa nasceu a 3 de julho de 1919. Nas Olimpíadas de 1948 ele foi o capitão da seleção nacional dos EUA no encontro diante da Itália, tendo sido esta uma das cinco vezes em que envergou a camisola do seu país, sendo que as outras ocasiões ocorreram no North American Football Confederation Championship, onde realizou os dois encontros dessa fase final, digamos assim, e nos particulares ante a Noruega e Irlanda - derrotas, respetivamente, por 0-11, e 0-5. A brilhante carreira de Joe Rego-Costa não foi esquecida, e em 1988 ele foi nomeado para figurar - para a eternidade - no New England Soccer Hall of Fame, uma museu onde repousam os nomes e factos mais relevantes do futebol daquela região dos EUA. Tal como Za-Za Ferreira, Joe Rego-Costa nasceu e morreu em Fall River, no seu caso 27 de abril de 2002 é a data do seu falecimento.

Manuel Martin: Manuel Oliveira Martin, dos cinco craques mais sonantes que o Ponta Delgada Soccer Club deu ao futebol dos EUA ele foi o único que não nasceu em Fall River. Mas não muito longe dali viu a luz do dia pela primeira vez a 29 de dezembro de 1917, mais precisamente em Bristol, Rhode Island, tendo tal como os seus companheiros sido uma das figuras principais das décadas douradas do Ponta Delgada SC. Pela seleção dos EUA atuou em sete ocasiões, com destaque para as presenças no North American Football Confederation Championship de 1947 (fez os dois jogos), na edição desta mesma competição de 1949, ocorrida no México, onde Martin atuou em três encontros, e nos Jogos Olímpicos de 1948. Tal como Joe Rego-Costa atuava no setor recuado do terreno, e depois da sua retirada dos campos de futebol seguiu uma curta carreira de treinador, desempenhando funções de treinador-adjunto na equipa feminina da Uiversidade de Massachusetts.
Em 1983 ele foi nomeado para o New England Soccer Hall of Fame, tendo 14 mais tarde falecido em Fall River.

Ed Souza: Edward Souza-Neto, ou simplesmente Ed Souza, foi um dos mais talentosos avançados do soccer americano de todos os tempos. Ele era o elemento mais novo dos cinco astros nascidos para o futebol no Ponta Delgada SC, tendo nascido a 22 de setembro de 1921. Durante muitos anos foi um dos homens-golo da equipa, destacando-se a sua veia goleadora na dupla campanha vitoriosa de 1947, isto é, na National Amateur Cup e na National Challenge Cup. Integrou a seleção norte-americana no North American Football Confederation Championship de 1947, nos Jogos Olímpicos de 1948, e no Mundial de 1950, tendo sido um dos 11 heróis que atuou na sensacional e inesperada vitória sobre a Inglaterra no célebre jogo realizado em Belo Horizonte. Nesse Campeonato do Mundo realizou ainda mais um encontro, o da última jornada do grupo 2 diante do Chile (derrota por 2-5). Ed Souza, que apesar de partilhar o apelido com o seu companheiro de clube e de seleção John Souza nenhuma relação familiar tinha com este, falecendo a 19 de maio de 1979, em Warren, Rhode Island.

John Souza: Talvez o mais mediático jogador do Ponta Delgada Soccer Club. Uma das estrelas mais cintilantes de sempre do soccer dos EUA, tendo sido o primeiro jogador deste país a fazer parte do onze ideal de um Campeonato do Mundo da FIFA. Nasceu a 12 de julho de 1920, em Fall River, e tal como muitos dos seus companheiros do soccer era filho de pais açorianos. Ganhou a alcunha de Clarkie, aparentemente por ser parecido com o popular ator Clark Gable. Ao serviço do clube da sua terra, o Ponta Delgada SC, John Clarkie Souza venceu os títulos mais importantes do historial do emblema. Atuando como atleta amador, tal como os restantes companheiros, Clarkie trabalhava arduamente durante a semana nas fábricas de Fall River e ao domingo brilhava com as cores do seu clube do coração. Fê-lo até 1951, altura em que resolve mudar de ares, transferindo-se para o New York German-Hungarians, clube pelo qual vence uma National Amateur Cup e uma National Challenge Cup. Pela seleção norte-americana este avançado atuou em 14 ocasições, estreando-se, tal como os seus colegas de clube, no North American Football Confederation Championship, em 1947, prova onde voltaria a representar os States dois anos mais tarde. Também com os EUA atuou em duas edições dos Jogos Olímpicos, mais precisamente em Londres (1948), e em Helsínquia (1952), onde voltou a ver a sua seleção ser massacrada pela Itália, desta feita por 0-8. Mas o ponto alto da sua carreira foi mesmo o Mundial de 1950, no Brasil, onde foi titular nos três encontros que os soccer boys fizeram na América do sul, tendo vivido a tarde mágica de 29 de junho daquele ano, quando em Belo Horizonte a Inglaterra foi batida pelos desconhecidos - para o resto do planeta, pelo menos - norte-americanos. As suas exibições nesse Mundial levaram então a revista brasileira Mundo Esportivo a nomea-lo para o onze ideal do torneio da FIFA. Jogaria até aos 40 anos, e quem o viu atuar diz que poderia ter jogador em qualquer equipa do Mundo, tal era a sua mestria com a bola nos pés. Como a maioria dos heróis de Belo Horizonte também ele foi nomeado para o National Soccer Hall of Fame, tendo falecido já no novo milénio (a 11 de março de 2012). 

Legenda das fotografias:
1-Talvez a fotografia mais relevante da história do Ponta Delgada SC, o dia em que o clube venceu a National Challenge Cup (atualmente conhecida como US Open Cup) de 1947
2-Um jogo de futebol nos anos 20, a década em que a modalidade alcançou índices de popularidade absimal nos EUA
3-John Clarkie Souza, para muitos o jogador mais mediático da história do Ponta Delgada SC
4-Walter Giesler, selecionador nacional dos EUA nos Jogos Olímpicos de 1948 e no Mundial de 1950
5-A histórica equipa dos EUA que derrotou a Inglaterra no Campeonato do Mundo de 1950
6-Joseph Ferreira
7-Joseph Rego-Costa
8-Manuel Martin
9-Ed Souza
10-John Souza

Para ti mãe...

sexta-feira, março 22, 2013

Futebol nos Jogos Olímpicos (8)... Helsínquia 1952

Os anos 50 do século passado ficam inevitavelmente marcados pelo nascimento de uma das mais encantadoras equipas de futebol de todos os tempos, a Hungria. Os mágicos magiares, como ficariam eternizados, escreveram diversos poemas futebolísticos de beleza ímpar que marcaram - e continuam a marcar - a história do belo jogo. Nomes como Sandor Kocsis, Zoltam Czibor, Nandor Hidegkuti, Gyula Grosics, ou Ferenc Puskas - todos eles soberbamente orientados pelo mestre da tática Gusztav Sebes - ascenderam ao Olimpo dos Deuses do Futebol, uma ascensão que começou a ser trilhada precisamente em 1952, nos Jogos Olímpicos que nesse ano decorreram em Helsínquia. A bordo da Máquina do Tempo façamos pois uma viagem até à capital finlandesa, para recordar a primeira nota artística da inesquecível Hungria de Puskas e companhia na alta roda do futebol internacional.
O regresso das Olimpíadas à Escandinávia ficou previamente assinalado pelo estabelecimento de um novo recorde, no que ao futebol diz respeito, claro está. 25 seleções nacionais marcaram presença em Helsínquia para participar na corrida ao ouro olímpico, número que fez com que este fosse desde logo o torneio olímpico mais concorrido da história... até então. Entre os combinados presentes destacam-se três novidades nestas andanças olímpicas, as Antilhas Holandesas, a União Soviética e o Brasil. Finalmente os Jogos Olímpicos tinham o prazer de receber os artistas sul-americanos, que em Helsínquia assinalavam o seu regresso a uma grande competição internacional depois do fiasco protagonizado... no Campeonato do Mundo de 1950, no qual em pleno Maracanã perderam o título mundial para os vizinhos do Uruguai!

A maratona de jogos do torneio olímpico de 52 começou no dia 15 de julho, com a fase pré-eliminar. No Helsingen Pallokentta Stadium os vice-campeões olímpicos em título, a Jugoslávia, não tiveram a menor dificuldade em carimbar o passaporte para a eliminatória seguinte, como expressa a goleada de 10-1 (!) imposta à modesta seleção da Índia. Partida onde o jugoslavo Branko Zebec esteve em destaque ao apontar quatro golos, iniciando aqui o avançado dos Balcãs uma caminhada que o haveria de levar até ao título de melhor marcador do certame, com um total de sete remates certeitos. E ao contrário dos jugoslavos a estreante União Soviética sentiu grandes dificuldades para se livrar da incómoda Bulgária, que em Kotka obrigou os soviéticos a horas extras. Com o marcador a indicar um teimoso nulo no final dos 90 minutos surgiu a necessidade de se jogarem mais 30 minutos de prolongamento, período onde estes últimos acabaram por levar a água ao seu moinho com uma suada vitória por 2-1. E em Turku entrava em ação a futura campeã olímpica, a Hungria. Pela frente os pupilos do mestre Gusztav Sebes tinham a Roménia, conjunto que complicou ao máximo a vida aos magiares. Extremamente bem organizados no plano defensivo os romenos anularam o refinado futebol ofensivo magiar, e só um lance de génio de Czibor, aos 21 minutos, conseguiu furar a muralha romena durante a etapa inicial. Já muito perto do fim, aos 73 minutos, Sandor Kocsis sossegou os húngaros com um remate fatal que bateu o guardião Ion Voinescu, de nada valendo o último fôlego da Roménia (golo de Ion Suru aos 86 minutos) pouco antes do apito final do soviético Nikolaj Latychev. Pelo mesmo score (2-1) registou-se o triunfo de um habitual cliente dos Jogos Olímpicos, a Dinamarca, sobre os frágeis gregos, com os tentos nórdicos a serem apontados por Poul Erik Petersen.
E como não há duas sem três 2-1 foi igualmente o resultado do duelo entre a Polónia e a França, o último deste primeiro dia de competição, tendo o tento de honra dos franceses - que até estiveram a vencer por 1-0 - sido apontado pelo histórico avançado do Stade de Reims Michel Leblond.

Estreia do Brasil...

A ronda pré-eliminar teve os seguintes capítulos no dia 16. E começou com uma chuva de golos no Egito - Chile (5-4 a favor dos africanos), enquanto que ao mesmo tempo, na cidade de Turku, o Brasil fazia a sua estreia olímpica, diante da Holanda. Brasileiros que não contavam com as suas principais estrelas da época, casos de Nilton Santos, Djalma Santos, Ademir, ou Zizinho, estes dois últimos os nomes sonantes do escrete canarinho que dois anos antes havia perdido em casa o Campeonato do Mundo para o Uruguai. E não estavam estas super-estrelas do futebol brasileiro de então porque convém - mais uma vez - relembrar que o Comité Olímpico não permitia que atletas profissionais participassem nos Jogos, e como a maior parte destes jogadores dedicava-se já única e exclusivamente ao futebol o Brasil viajou para a Finlândia com uma equipa de amadores... ou pelo menos assim se definiam. Orientado pelo técnico Newton Alves Cardoso - o selecionador principal da altura, Zezé Moreira nem sequer viajou com a comitiva ! - o combinado brasileiro era composto na sua totalidade por atletas oriundos de clubes do Rio de Janeiro (!), sendo o Fluminense o emblema que mais futebolistas cedeu à seleção, quatro para sermos mais precisos. E na estreia os brasileiros até começaram por apanhar um susto, quando à passagem do primeiro quarto de hora Van Roesell abre o marcador para a Holanda. Contudo, a apurada técnica canarinha - refira-se que pela primeira vez o Brasil envergava numa grande competição internacional a mítica camisola canarinha (amarela), cor que substituiu para sempre o azarado branco do Mundial de 50 - veio ao de cima, e 10 minutos volvidos Humberto repunha a igualdade. E os minutos que se seguiram até ao intervalo foram tomados de assalto pela estrela da tarde, Larry. 
Larry Pinto de Faria, de seu nome completo, nascido 20 anos antes (1932) em Nova Friburgo (Rio de Janeiro) teve o seu momento de fama com a mágica camisola canarinha precisamente nestes Jogos Olímpicos. Na primeira parte desse célebre encontro ante os holandeses ele fez dois golos (aos 33 e aos 36 minutos) que ao intervalo colocavam os artistas brasileiros numa boa posição para seguir em frente. Avançado elegante e com uma técnica virtuosa Larry espalhou todo o seu perfume nos relvados finlandeses onde o Brasil atuou. Na época jogava no Fluminense, clube onde se havia iniciado um ano antes destas Olimpíadas, e onde iria permanecer até 1954, altura em que viaja para Porto Alegre para defender as cores do Internacional. No Colorado Larry foi rei, tendo conquistado a exigente torcida do clube logo no primeiro dérbi ante o Grêmio, após marcar quatros dos seis golos com que o Inter derrotou o seu eterno rival. Em Porto Alegre permanceria até ao final da sua carreira (1961), tendo disputado mais de 250 jogos e apontado quase 180 golos (176 para sermos mais exatos). Mais do que um goleador era um jogador requintado, elegante - como já referimos - características que faziam dele um atleta diferente. No Inter de Porto Alegre cerebral Larry - como seria batizado pelos adeptos do clube - formou uma dupla mortífera com Bodinho, uma dupla que rivalizava em popularidade, e sobretudo em produtividade, com a de Pelé e Coutinho, no Santos. O jogador que depois de pendurar as chuteiras tornou-se deputado estadual vestiu por seis ocasiões a camisola do Brasil, três delas nestes Jogos de 1952, tendo apontado quatro golos, curiosamente todos eles em Helsínquia - e arredores -, facto que o tornaria na figura central do Brasil nesta sua primeira aparição olímpica.
Bom, voltando ao encontro de Turku, na segunda parte o escrete dilatou a vantagem construída pelo cerebral Larry. Aos 81 minutos Jansen faz o 4-1, para cinco minutos depois um tal de Vavá selar o resultado em 5-1. Vavá que seis anos mais tarde seria juntamente com Pelé, Garrincha, Zagallo, Djalma Santos, ou Nilton Santos, um dos responsáveis pela conquista do primeiro título mundial para os canarinhos. 
Nesse mesmo dia gritou-se a palavra "escândalo" no seio dos Jogos. A poderosa Grã-Bretanha - formada na sua grande maioria pelos mestres ingleses -era humilhada pela frágil seleção do Luxemburgo por 3-5 (após prolongamento), e saia pela porta pequena do torneio olímpico. Esta era a segunda humilhação que os britânicos sofriam no curto espaço de dois anos no panorama internacional, tendo a primeira ocorrido no Campeonato do Mundo de 1950, quando em Belo Horizonte os amadores dos Estados Unidos da América derrotaram a seleção da Inglaterra por 1-0, jogo esse de que já fizemos eco nas vitrinas virtuais do Museu. E por falar em Estados Unidos da América, quiseram os caprichos do sorteio deste torneio olímpico que os soccer boys defrontassem pela terceira Olimpíada consecutiva a poderosa Itália. E nem mesmo a presença de jogadores como Charlie gloves (luvas) Colombo, John Souza, ou Harry Keough, três dos heróis de Belo Horizonte ante a Inglaterra, intimidou a squadra azzurra - orientada pelo lendário Giuseppe Meazza -, que sem misericórdia voltou a esmagar os norte-americanos tal como havia feito nos Jogos Olímpicos de 1948, desta feita por 8-0. 
Aventura finlandesa durou pouco
Assim sendo Itália, Brasil, Luxemburgo, Hungria, Jugoslávia, União Soviética, Dinamarca, Polónia, e Egito avançavam para a 1ª eliminatória, juntando-se às isentas Finlândia, Noruega, Áustria, República Federal da Alemanha (RFA), Turquia, Antilhas Holandesas, e a campeã olímpica em título, a Suécia. A 1ª eliminatória arrancou a 19 de julho, no majestoso Estádio Olímpico de Helsínquia, onde se desenrolaram a esmagadora maioria das modalidades dos Jogos, com a derrota da seleção da casa, a Finlândia, aos pés de uma Áustria em reconstrução... após o desmembramento do Wunderteam (equipa maravilha) dos anos 30 edificada por Hugo Meisl. Austríacos que só garantiram a passagem aos quartos-de-final a 10 minutos do fim, quando Herbert Grohs fez o 4-3 perante o semblante carregado de 33 000 finlandeses, que viam desta forma a aventura olímpica da sua seleção durar apenas 90 minutos. Em Turku entrava em campo a RFA, liderada pelo mestre Sepp Herberger, o homem que dois anos mais tarde iria guiar os germânicos à conquista do seu primeiro Campeonato do Mundo. Nas Olimpíadas de 52 a RFA entrava com o pé direito, fruto de uma vitória tranquila sobre o Egito por 3-1. Em Tampere, União Soviética e Jugoslávia protagonizaram um jogo que seria um hino ao futebol espetáculo. Com um elevado - e apurado - caudal ofensivo ambos os conjuntos chegaram ao fim do prolongamento empatados a cinco golos (!), facto que obrigou a que dois dias depois fosse realizada uma partida de desempate. No plano individual o jugoslavo Zebec fez mais dois tentos e cimentou assim a liderança na lista dos melhores marcadores da prova. 
No dia 20, em Kotka, o Brasil sentia enormes dificuldades para ultrapassar o modesto Luxemburgo. Modesto ou não, como diriam por aqueles dias os britânicos... Aos 42 minutos, apenas e só, o cerebral Larry - quem mais podia ser - fura a bem escalonada defesa da seleção europeia, quebrando assim a monotonia instalada pela ausência de golos que se verificava. No reatamento - segunda parte - Humberto faz aos 49 minutos o 2-0, mas os luxemburgueses estavam ainda longe de se darem por vencidos. Procuraram intensamente um golo que relançasse o jogo, procura que chegaria no entanto tarde demais (minuto 86), com um golo de Julien Gales, e que não foi mais do que um prémio para coroar a excelente - mais uma - exibição da seleção do pequeno país. No dia seguinte assistiu-se a uma aula de futebol-arte protagonizada pela Hungria. Com uma exibição sublime os mágicos magiares derrotaram por três golos sem resposta a forte Itália - com destaque para o bis (dois golos) de Peter Palotas - que deixou o habitual titular Czibor no banco dos suplentes. O Mundo começava a conhecer a famosa e encantadora Hungria criada por Sebes. Em Turku a Dinamarca afastava a Polónia com uma vitória por 2-0, enquanto que a Turquia sentia grandes dificuldades para derrotar os novatos das Antilhas Holandesas por 2-1. Implacável seria o triunfo dos campeões em título, a Suécia - que se fez representar no torneio sem o seu famoso trio Gre-no-li (Gren, Nordahl, e Liedholm) ante os vizinhos da Noruega, por 4-1. Por fim, no dia 22, e sob arbitragem do conceituado árbitro inglês Arthur Ellis, a Jugoslávia derrotava por 3-1 a União Soviética no único jogo de desempate desta 1ª eliminatória. 
Veia goleadora de Puskas dá-se a conhecer ao Mundo
No dia seguinte (23 de julho) arrancaram os quartos-de-final. No Helsingen Pallokentta Stadium a Suécia sobe mais um degrau rumo à defesa do título, após vencer por 3-1 o combinado da Áustria, que até esteve a vencer por 1-0 até... 10 minutos do fim! No dia 24, no mesmo estádio, o Brasil despedia-se dos Jogos. O escrete até começou melhor, com Larry - sempre ele - a abrir o marcador aos 14 minutos. Já na segunda parte, aos 74 minutos, o defesa Zózimo - que mais tarde haveria de se sagrar bi-campeão do Mundo (em 58 e 62) - ampliou a vantagem, e pouca gente duvidaria que a aventura olímpica do Brasil não teria um novo capítulo nas meias-finais. Porém, a garra e força dos alemães veio ao de cima nos instantes finais, e um minuto depois do golo de Zózimo, Schroeder reduz para 1-2. Os brasileiros eram agora encostados à parede face à avalanche ofensiva dos germânicos. Postura que seria premiada a um minuto dos 90, quando Klug fez o empate a dois que obrigou a que se jogassem mais 30 minutos de futebol. Ai a RFA mandou, e com mais dois golos mandou os artistas brasileiros mais cedo para casa. A força tinha vencido o futebol arte. 
Em Kotka houve um autêntico vendaval. Um Vendaval de golos e de bom futebol, da responsabilidade da mágica Hungria. 7-1, o resultado com que os húngaros batiam os turcos, com realce para dois golos de Ferenc Puskas, a grande estrela magiar. Com a ajuda do goleador Zebec - mais um golo - a Jugoslávia derrotava por 5-3 a Dinamarca e continuava assim na caça ao ouro. 
Mais um recital de explêndido futebol orquestrado pelos mágicos magiares
30 000 pessoas acorreram ao Estádio Olímpico de Helsínquia para ver jogar aqueles húngaros que encantavam o planeta da bola. E em boa hora o fizeram, porque no encontro que abriu as meias-finais do evento assistiram a mais um belo recital de futebol orquestrado pelos artistas Puskas, Palotas, Czibor, ou Kocsis. 6-0, números mais do que expressivos do domínio húngaro sobre os suecos, que assim diziam adeus à possibilidade de revalidar o ceptro. Menos público (cerca de 25 000 pessoas) assistiu no dia seguinte ao triunfo da Jugoslávia sobre a RFA, com destaque para a exibição individual de Rajko Mitic, autor de dois dos três golos da sua seleção, que assim pela segunda Olimpíada consecutiva ia lutar pela medalha de ouro. 
Antes disso, a 1 de agosto, disputou-se no Estádio Olímpico da capital da Finlândia a discussão pela medalha de bronze, tendo a Suécia ficado então com o lugar mais baixo do pódio, depois de bater a RFA por 2-0, com golos de Rydell (aos 11 minutos), e Lofgren (à passagem do minuto 86).
Futebol-arte dos húngaros pintado de ouro
E no dia 2 de agosto perto de 60 000 pessoas lotaram o Estádio Olímpico para assistir à grande final. Favoritos à conquista do ouro? Talvez a Hungria, que pelo que tinha demonstrado até ali partia uns metros à frente do seu adversário. Mas este já havia mostrado momentos de grande futebol também, com exibições de gala (que o digam União Soviética e RFA)... além de que era detentor do melhor ataque da prova. Estavam assim lançados os dados para o que se esperava ser uma grande partida de futebol. Com duas boas equipas em campo o equilíbrio foi nota dominante do princípio ao fim, e mesmo com inúmeras oportunidades de golo de parte a parte o marcador permaneceu em branco durante os primeiros 45 minutos. Na etapa complementar o ritmo de jogo manteve-se, as oportunidades continuavam a surgir, mas os temíveis avançados dos dois lados da barricada teimavam em não abrir fogo. Até que aos 70 minutos surgiu - finalmente - em campo o génio de Ferenc Puskas. Dominando com arte a bola na entrada da área balcã, tirou dois adversários do caminho para posteriomente fuzilar o guarda-redes Vladimir Beara e abrir assim o marcador. O golo empolgou Puskas, que continuou a deslumbrar no relvado do Olímpico de Helsínquia, tendo a dois minutos do final efetuado um cruzamento fatal para a área contrária, onde apareceu Zoltan Czibor que aproveitando o desnorte defensivo dos jugoslavos rematou para o fundo das redes, selando assim o resultado final em 2-0, o qual coroava a Hungria como a nova campeã olímpica. O futebol-arte dos húngaros não acabaria aqui. Um ano mais tarde (1953) humilharam a poderosa Inglaterra em pleno Estádio de Wembley por 6-3, e em 1954 só não foram campeões do Mundo porque... a sorte nada quis com eles. 
A figura: Ferenc Puskas
Foi, sem margem para dúvidas, um dos maiores futebolistas da história do futebol. Ele foi o líder - dentro de campo - daquela mágica seleção da Hungria que encantou o Mundo na década de 50. A mesma Hungria que esteve quatro anos (entre 1950 e 1954) sem conhecer uma única derrota (!). Ferenc Puskas foi o maior símbolo futebolístico daquele país do leste europeu, um símbolo eterno, um símbolo que representa na perfeição uma das melhores equipas de futebol de todos os tempos. Nasceu em Budapeste, a 2 de abril de 1927, a iniciou a sua brilhante carreira com apenas 16 anos, em 1943, no Kispest. Em 1949 transfere-se para o gigante Honved, clube ao serviço do qual vence quatro campeonatos do seu país. Detentor de uma técnica magistral, aliada a um apurado instinto pelo golo, Puskas brilharia então ao serviço da seleção do seu país, cuja camisola envergou em 85 ocasiões, tendo marcado uma soma impressionante de 84 golos. Em termos coletivos a medalha de ouro em Helsínquia foi o momento mais cintilante da sua carreira ao serviço do seu país natal, tendo a maior deceção ocorrido dois anos mais tarde, no Campeonato do Mundo realizado na Suíça, onde a sorte nada quis com a super favorita Hungria, a melhor equipa daquela época, e a grande favorita à conquista do Mundo. Mesmo não vencendo o título coletivo Puskas foi eleito o melhor jogador desse Mundial, e por aquela altura não havia nenhum clube do planeta que não sonhasse tê-lo no seu plantel. O Major Galopante - alcunha surgida pelo facto de Puskas ter sido oficial do exêrcito húngaro - aproveitou nos finais dos anos 50 uma viagem do Honved a Espanha - para disputar um jogo da Taça dos Campeões Europeus (TCE) ante o Athletic Bilbao - para se libertar do bloco comunista que tomava conta do leste da Europa, e que impedia que talentosos jogadores como ele pudessem trabalhar ao serviço dos grandes clubes do Ocidente. Nessa viagem Puskas, e outros companheiros seus, como Kocsis, ou Czibor, refugiaram-se, digamos assim, em Espanha, recusando regressar ao seu país natal, e depois de muitas lutas burucráticas viram os seus certificados internacionais liberados pelas altas instâncias do futebol, tornando-se deste modo jogadores livres. Conhecedor do seu potencial o colosso Real Madrid não perdeu tempo a contratar o Major Galopante, corria o ano de 1958. Na capital espanhola Puskas juntou-se a outra lenda dos relvados, Di Stéfano, e juntos tornaram o Real Madrid ainda mais forte do que aquilo que já era. Com a camiseta blanca venceu duas TCE, e cinco campeonatos de Espanha. Ainda se naturalizou espanhol, tendo realizado quatro encontros com a roja. Depois de abandonar a carreira de futebolista foi treinador, tendo orientado um alargado leque de equipas de países como a Espanha, Paraguai, Grécia, Chile, Austrália, ou Estados Unidos da América. Viria a falecer a 17 de novembro de 2006, com 79 anos, e desde então a FIFA atribuiu o seu nome ao prémio que coroa o marcador do golo mais bonito de cada ano.
Resultados:
Pré-eliminatória
Jugoslávia - Índia: 10-1
(Zebec, aos 17m, aos 23m, aos 60m, aos 87m, Mitic, aos 14m, aos 43m, Vukas, aos 2m, aos 62m, Ognjanov, aos 52m, aos 67m)
(Khan, aos 89m)
União Soviética - Bulgária: 2-1
(Bobrov, aos 100m, Trofimov, aos 104m
(Kolev, aos 95m)
Roménia - Hungria: 1-2
(Suru, aos 86m)
(Czibor, aos 21m, Kocsis, aos 73m)
Dinamarca - Grécia: 2-1
(Petersen, aos 36m, aos 37m)
(Emmanouilides, aos 85m)
Polónia - França: 2-1
(Trampisz, aos 31m, Krasowka, aos 49m)
(Leblond, aos 30m)
Egito - Chile: 5-4
(Eldizwi, aos 66m, aos 75m, aos 80m, Elmeckawi, aos 43m, Elfar, aos 27m)
(Jara, aos 7m, aos 78m, Vial, aos 14m, aos 88m)
Holanda - Brasil: 1-5
(Van Roesell, aos 15m)
(Larry, aos 33m, aos 36m, Humberto, aos 25m, Jansen, aos 81m, Vavá, aos 86m)
Itália - Estados Unidos da América: 8-0
(Gimona, aos 3m, aos 51m, aos 75m, Pandolfini, aos 16m, aos 62m, Venturi, aos 27m, Fontanesi, aos 52m, Mariani, aos 87m)
Luxemburgo - Grã-Bretanha: 5-3
(Roller, aos 60m, aos 95m, aos 97m, Gales, aos 102m Letsch, aos 91m)
(Robb, aos 12m, Slater, aos 101, Lewis, aos 118m)
1ª eliminatória
Finlândia - Áustria: 3-4
(Stolpe, aos 11m, aos 34m, Rytkonen, aos 36m)
(Gollnhuber, aos 8m, aos 30m, Stumpf, aos 59m, Grohs, aos 79m)
RFA - Egito: 3-1
(Schroeder, aos 38m, aos 61m, Klug, aos 33m)
(Eldizwi, aos 64m)
Jugoslávia - União Soviética: 5-5 / 3-1 (desempate)*
(Zebec, aos 44m, aos 59m, Mitic, aos 29m, Bobek, aos 46m, Ognjanov, aos 33m)
(Bobrov, aos 53m, aos 77m, aos 87m, Petrov, aos 89m, Trofimov, aos 75m)

*(Mitic, aos 19m, Bobek, aos 29m, Cajkovski, aos 54m)
(Bobrov, aos 6m)
Brasil - Luxemburgo: 2-1
(Larry, aos 42m, Humberto, aos 49m)
(Gales, aos 86m)
Suécia - Noruega: 4-1
(Brodd, aos 23m, aos 35m, Rydell, aos 81m, Bengtsson, aos 89m)
(Sorensen, aos 83m)
Hungria - Itália: 3-0
(Palotas, aos 11m, aos 20m, Kocsis, aos 83m)
Dinamarca - Polónia: 2-0
(Seebach, aos 17m, Nielsen, aos 69m)
Turquia - Antilhas Holandesas: 2-1
(Tokac, aos 9m, Bilge, aos 76m)
(Briezen, aos 79m)
Quartos-de-final
Suécia - Áustria: 3-1
(Sandberg, aos 80m, Brodd, aos 85m, Rydell, aos 87m)
(Grohs, aos 40m)
RFA - Brasil: 4-2
(Schroeder, aos 75m, aos 96m, Klug, aos 89m, Zeitler, aos 120m)
(Larry, aos 12m, Zózimo, aos 74m)
Hungria - Turquia: 7-1
(Puskas, aos 54m, aos 72m, Kocsis, aos 32m, aos 90m, Palotas, aos 18m, Lantos, aos 48m, Bozsik, aos 70m)
(Guder, aos 57m)
Jugoslávia - Dinamarca: 5-3
(Cajkovski, aos 19m, Ognjanov, aos 35m, Vukas, aos 41m, Bobek, aos 78m, Zebec, aos 81m)
(Lundberg, aos 63m, Seebach, aos 85m, Hansen, aos 87m)
Meias-finais
Hungria - Suécia: 6-0
(Kocsis, aos 65m, aos 69m, Puskas, ao 1m, Palotas, aos 16m, Hidegkuti, aos 67m, Lindh (p.b.), aos 36m)
Jugoslávia - RFA: 3-1
(Mitic, aos 3m, aos 24m, Cajkovski, aos 30m)
(Stollenwerk, aos 12m)
Jogo de atribuição da medalha de bronze
Suécia - RFA: 2-0
(Rydell, aos 11m, Lofgren, aos 86m)
Final
Hungria - Jugoslávia: 2-0
Data: 2 de agosto de 1952
Estádio: Olímpico de Helsínquia (Finlândia)
Árbitro: Arthur Ellis (Inglaterra)
Hungria: Gyula Grosics; Jeno Buzansky e Gyula Lorant; Jozsef Boszik, Mihaly Lantos e Jozsef Zakarias; Nandor Hidegkuti, Sandor Kocsis, Peter Palotas, Ferenc Puskas e Zoltan Czibor. Treinador: Gusztav Sebes. 
Jugoslávia: Vladimir Beara; Branko Stankovic e Tomislav Crnkovic; Zlatko Cajkovski, Ivan Horvat e Vujadin Boskov; Tihomir Ognjanov, Rajko Mitic, Bernard Vukas, Stjepan Bobek e Branko Zebec. Treinador: Milorad Arsenijevic.
 Golos: 1-0 (Puskas, aos 70m), 2-0 (Czibor, aos 88m)

Vídeo: HUNGRIA - JUGOSLÁVIA

Legenda das fotografias:
1-Cartaz oficial dos Jogos Olímpicos de 1952
2- Branko Zebec, o melhor marcador do torneio olímpico, com sete golos
3- Lance do Brasil - Holanda
4-Larry, a grande figura da seleção brasileira em Helsínquia
5-Capitães dos Estados Unidos da América e da Itália trocam galhardetes antes do pontapé de saída
6-Imagem aérea do Estádio Olímpico de Helsínquia
7-A seleção do Brasil que fez a estreia em Jogos Olímpicos
8-Lance do RFA-Brasil
9-O lendário treinador húngaro Gusztav Sebes
10-Remate de Puskas na final
11-Ferenc Puskas, a figura do torneio olímpico de 1952
12-Mais um remate do Major Galopante na grande final
13-A mágica seleção da Hungria, faz a festa final

terça-feira, janeiro 22, 2013

Futebol nos Jogos Olímpicos (7)... Londres 1948

Aquele que na primeira metade do século XX era indiscutivelmente o único evento - desportivo ou não - capaz de agregar ao seu redor, e sobretudo unir, povos de diferentes raças, credos, religiões, ou ideais políticos, foi uma vez mais travado pela erupção da guerra. Desta vez o tempo de paragem foi bem longo, tendo o demorado e penoso inverno durado 12 anos (!) - entre 1936 e 1948. 
Finda a II Guerra Mundial (1939-1945) o Mundo reerguia-se lentamente, tratando das - muitas - feridas causadas pelo confronto bélico, pelo que seria num planeta em reconstrução que em 1948 Londres acolhe pela segunda vez na sua história os Jogos Olímpicos. No plano futebolístico a 11ª edição das Olimpíadas da Era Moderna confirmou o que já se vinha verificando desde os Jogos de 1932, isto é, que o desporto rei perdia fulgor no seio do grande evento desportivo planetário. Futebol que por esta altura vivia debaixo dos holofotes do profissionalismo - inimigo do amadorismo olímpico - e como tal eram cada vez menos as seleções e jogadores de topo que participavam na festa olímpica, fazendo com que o torneio de futebol fosse olhado com muito pouco interesse pelas gentes ligadas a esta modalidade. Apesar de pouco mediático o torneio olímpico de 1948 figura na história como um dos mais produtivos no que concerne a golos. No total foram 102 as ocasiões em que a bola beijou as malhas das balizas, o equivalente a uma media de 6 golos por jogo. Números que ganham um contorno mais impressionante se atendermos ao facto de que apenas foram disputadas 18 partidas!
Recordes à parte os Jogos de Londres coroaram como campeã olímpica uma seleção pouco habituada a festejar títulos, pese embora fosse uma presença habitual neste tipo de eventos. A Suécia conquistou na catedral do futebol planetário, o mesmo é dizer, Wembley, o título mais pomposo da sua história, sucendendo desta forma à Itália no trono olímpico.

A maratona do torneio olímpico teve início a 26 de julho, em Portsmouth, cidade costeira do sul de Inglaterra que a par de Brighton, Brentford, e Londres, claro está, acolheu os duelos futebolísticos. No primeiro encontro da ronda pré-eliminar a Holanda bateu por 3-1 a República da Irlanda com destaque para o bis (dois golos) de Faas Wilkes. No mesmo dia, mas em Brighton, o estreante Afeganistão foi humilhado pelo frágil Luxemburgo por 0-6! Uma partida onde a inexperiência e a falta de habilidade - há que dizê-lo - dos afegãos foi por demais evidente. Do lado luxemburguês Julien Gales e Marcel Paulus foram as estrelas da tarde, ao apontar cada um deles dois golos.
E no dia 31 de julho o torneio olímpico chegou a Londres. Em Craven Cottage, recinto do Fulham, a Jugoslávia acabava com a euforia do Luxemburgo, na sequência de uma expressiva vitória por 6-1, com golos para todos os gostos e feitios num jogo que abriu a 1ª eliminatória. Craven Cottage que foi um dos oito estádios londrinos onde se desenrolaram a esmagadora maioria dos 18 encontros da competição.
Selhurst Park, no sul da capital inglesa, foi outro, sendo que no seu relvado evoluíram nesse mesmo dia 31 de julho as equipas da Dinamarca e do Egito, esta última o único representante do continente africano no torneio. O jogo foi equilibrado, e com raras oportunidades de golo, pelo que a primeira vez que o esférico tocou o fundo de uma das balizas o relógio marcava 82 minutos de jogo! O dinamarquês Karl Aage Hansen seria o autor desse tento inaugural, ao qual os egípcios responderam um minuto mais tarde por intermédio de El Guindy, que repunha assim a teimosa igualdade no marcador. Seguiu-se um prolongamento de 30 minutos, onde os europeus foram mais fortes. Hansen voltou a fazer o gosto ao pé à passagem do minuto 95, sendo que a um minuto dos 120 Ploger carimbou de vez o passaporte dos escandinavos para os quartos-de-final.
Suado foi o triunfo da experiente França ante os caloiros da India, conforme traduz o magro resultado de 2-1. O tento da vitória gaulesa foi apontado aos 89 minutos (!) por intermédio de René Persillon.

A tarde de 31 de julho terminou em Highbury, a casa do popular Arsenal de Londres, que nesse dia registou casa cheia para ver a seleção anfitriã entrar em ação. Orientada por Matt Busby, lendário treinador do Manchester United, a Grã-Bretanha sentiu enormes dificuldades para ultrapassar a Holanda. Os holandeses inauguraram inclusive o marcador por Appel, e seguraram de forma heróica até ao final dos 90 minutos uma surpreendente igualdade a três golos. No tempo extra - aos 111 minutos - o avançado-centro do Bradford, Harry McIlvenny, sossegou as mais de 20 000 almas britânicas presentes ao apontar o 4-3 final que catapultou a turma da casa para a fase seguinte.
Os restantes encontros desta 1ª ronda ocorreram a 2 de agosto. A Turquia não sentiu grandes dificuldades ante uma China que tão boa conta tinha dado de si nos Jogos de 1936 - onde fez a vida negra à experiente Grã-Bretanha. 4-0, foi o resultado que catapultou os europeus para os quartos-de-final.
E no estádio do Tottenham, a futura campeã olímpica, a Suécia, despachava por 3-0 a Áustria, com destaque para os dois golos de Gunnar Nordahl, um dos elementos que integrou o mais famoso trio  do futebol sueco a par de Gunnar Gren, e Nils Leidholm, três nomes que se deram a conhecer ao Mundo precisamente nos Jogos Olímpicos de 48. Surpreendente foi o triunfo da Coreia do Sul sobre o México, por 5-3, num encontro onde uma vez mais se sentiu a festa do golo.

Por último, no Griffin Park, de Brentford, entraram em campo os detentores do ceptro olímpico, a Itália. O adversário da Squadra Azzurra era um velho conhecido desta, o combinado dos Estados Unidos da América (EUA), que se havia cruzado no caminho dos europeus nos Jogos de 1936, e no Mundial de 1934, dois torneios vencidos, como se sabe, pelos italianos. E como não há duas sem três também em Londres os europeus levaram de vencidos os soccer boys, desta feita por expressivos 9-0 (!), o resultado mais diltado desta 1ª eliminatória. Destaque para Francesco Pernigo, autor de quatro dos nove tentos dos italianos. Do lado dos norte-americanos esta foi uma experiência algo traumática para alguns homens que dois anos mais tarde haveriam de protagonizar aquela que muitos consideram como a maior surpresa - ou escândalo, se preferirem - ocorrida na fase final de um Campeonato do Mundo. Em 1950 o Brasil iria receber o quarto Mundial da FIFA, o primeiro em que os mestres ingleses participaram. Uma estreia que no entanto iria ser desastrosa, a todos os títulos, e que teve o seu pior momento a 29 de junho desse ano, em Belo Horizonte, local onde Sir Stanley Matthews e companhia foram humilhados pelos amadores dos EUA. Nesse célebre jogo - sobre o qual o Museu Virtual do Futebol já dedicou algumas páginas - participaram alguns nomes que integraram a modesta equipa yankee nas Olimpíadas londrinas, casos de Charlie Gloves (luvas) Colombo, Walter Bahr, Gino Pariani, Ed Souza, e John Souza, estes dois últimos descendentes de emigrantes portugueses. Aliás, e por falar em descendentes lusos, a seleção dos EUA que se deslocou a Londres foi integrada por uma mão cheia de atletas com raízes em Portugal. Para além de Ed e John Souza (que embora partilhassem o mesmo apelido não eram familiares) vestiram a camisola norte-americana Joseph Za-Za Ferreira, Joseph Rego-Costa, e Manuel Martin, todos eles jogadores do Ponta Delgada Soccer Club, um emblema da região de Massachusetts fundado pela comunidade portuguesa (na sua grande maioria oriunda dos Açores) ali residente.

Coreanos levam uma dúzia (de golos) na bagagem

Em Selhurst Park, a 5 de agosto, aconteceu a goleada do torneio. A Suécia, orientada por Rudolf Kock, esmagou a Coreia do Sul por 12-0! Uma dúzia de golos resultante de uma magnífica exibição do trio sueco Gre-no-li (alusivo aos jogadores Gren, Nordahl, e Leidholm), que entre si apontaram sete dos 12 tentos nórdicos. Em Ilford (arredores de Londres) a Jugoslávia derrotava a Turquia por 3-1, enquanto que ao mesmo tempo no estádio do Arsenal a campeã olímpica em título, era humilhada pela Dinamarca por 5-3 (!), tendo para isso contribuido uma das estrelas do conjunto nórdico, John Hansen, autor de quatro golos.
Em Craven Cottage assitistiu-se a um duelo de vizinhos. Grã-Bretanha e França mediram forças no relvado do Fulham num encontro pautado pelo equilíbrio, onde só um lance de génio poderia desamarrar o teimoso nulo em que se arrastou a contenda até quase à meira hora da etapa inicial. Altura em que apareceu o tal génio, de seu nome Bob Hardisty, o autor do único golo do encontro. 36 anos depois a Grã-Bretanha estava de novo nas meias-finais de um torneio olímpico.

Duelo viking no adeus ao ouro da equipa da casa

As meias-finais foram repartidas pelos dias 10 e 11 de agosto, pelo facto de que a partir desta altura todos os jogos se iriam realizar no majestoso Estádio de Wembley. E no primeiro duelo pelo acesso à final entraram no sagrado relvado os vizinhos escandinavos da Suécia e da Dinamarca. Logo aos três minutos Seebach colocou esta última seleção a vencer por 1-0. Vantagem que seria de pouca dura, já que 15 minutos volvidos Carlsson faria o primeiro dos seus dois golos neste jogo. Ainda antes do descanso a Suécia faria mais... três golos, que praticamente liquidariam as esperanças dos vikings dinamarqueses em repetir as finais das Olimpíadas de 1908 e 1912. John Hansen, aos 77 minutos, ainda fez mais um golo para a Dinamarca, mas já era tarde demais para iniciar uma possível reviravolta. John Hansen que a par do sueco Gren conquistaria o título de melhor marcador do torneio, com sete remates certeiros.
O segundo finalista foi encontrado no dia seguinte, e de forma surpreendente. Diante de 40 000 pessoas a Jugoslávia derrotou em pleno Wembley a turma da casa por 3-1 (!), avançando assim para o jogo mais desejado do torneio olímpico.

Dinamarca vinga derrota de 1908

Ainda ferida pela impensável derrota ante a seleção vinda dos Balcãs a Grã-Bretanha regressou a Wembley no dia 13 de agosto para - pelo menos - ficar com a medalha de bronze. Tarefa que no entanto não se afigurava nada fácil, já que o opositor dos pupilos de Matt Busby era uma das equipas que melhor futebol havia apresentado em solo britânico, além de que no seu "onze" figurava um verdadeiro homem-golo chamado John Hansen. O temível avançado voltou a liderar os nórdicos nesta derradeira etapa final na luta por uma medalha, apontando dois dos cinco golos com que a sua equipa bateu o conjunto da casa (resultado final foi de 5-3), levando assim para casa uma honrosa medalha de bronze, e mais do que isso vingando a derrota de 1908, ano em que também em Londres, mas no White City Stadium, a Grã-Bretanha venceu a Dinamarca por 2-0 e conquistava a sua primeira medalha de campeão olímpico. 

Suécia entra para o Olimpo do Futebol Mundial

No mesmo dia, horas mais tarde após a conquista do bronze dinamarquês, Wembley registou a sua maior enchente deste torneio olímpico. 60 000 pessoas lotaram o famoso estádio com a finalidade de presenciarem a grande final, entre a empolgante Suécia do trio Gre-no-li, e a surpreendente Jugoslávia, sem grandes estrelas individuais, mas com um coletivo forte e habilidoso. No entanto este não era um argumento suficientemente forte para contrariar o favoritismo sueco, e logo aos 24 minutos se percebeu que muito dificilmente os nórdicos não iriam vencer o título. Gunnar Gren, que efetuou uma exibição memorável, abriu o marcador, trazendo justiça face ao que se vinha passando em campo. Contudo, e um pouco contra a corrente, os jugoslavos empataram, quando faltavam apenas três minutos para o inrtervalo, por intermédio de Bobek.
Golo que não intimidou os suecos, muito pelo contrário, que numa segunda parte verdadeiramente avassaladora encostaram os homens dos Balcãs às cordas. Primeiro por Gunnar Nordahl, aos 48 miuntos, e depois novamente por intermédio de Gren, que de grande penalidade faria aos 67 minutos o 3-1 final que coroou a Suécia como a nova campeã olímpica. Nada mais justo para um conjunto que apresentou um futebol ofensivo de grande qualidade, onde se destaca o facto de ter apontado 22 golos em quatro jogos disputados! Notável.

A figura: Gre-no-li (Gren, Nordahl, e Leidholm) 

Não um, nem dois, mas sim três. Três jogadores formaram a figura do torneio olímpico de 1948. Um trio que guiou a Suécia ao ouro em 48, e que 10 anos mais tarde esteve muito perto de a colocar no patamar mais alto do planeta. Mas Pelé, Garrincha, e companhia não permitiram tal veleidade. Gunnar Gren, Gunnar Nordahl, e Nils Liedholm, os três nomes que formaram o trio mais famoso do futebol sueco, e um dos mais afamados em termos internacionais, três lendas que jogavam quase de olhos fechados entre si, tal era a familiaridade com que conheciam o estilo de jogo uns dos outros. Notabilizaram-se nas Olimpiadas de Londres, facto que lhes valeria o passaporte para o estrelato mundial, já que depois da conquista da medalha de ouro rumaram os três para os italianos do Milan, onde ganharam (mais) fama e fizeram fortuna. Durante mais de uma década os três jogadores venceram inúmeros títulos pelos milaneses, construindo um palmarés invejável, e mais invejável poderia ter sido caso em 1958 tivessem alcançado o ceptro mais desejado por um jogador de futebol, o de campeão do Mundo.
Nesse ano a Suécia acolheu o Campeonato do Mundo, cabendo ao trio Gre-no-li comandar de novo a Suécia numa campanha fantástica, que só seria travada na final de Estocolmo pelo super Brasil de Vavá, Didi, Zagallo, Garrincha, e de um tal menino de 17 anos chamado Pelé.

Resultados:

Pré-eliminatória

Holanda - República da Irlanda: 3-1
(Wilkes, ao 1m, aos 74m, Roosenburg, aos 11m)
(O´Kelly, aos 52m)

Luxemburgo - Afeganistão: 6-0

1ª eliminatória

Dinamarca - Egito: 3-1
(Hansen, aos 82m, aos 95m, Ploger, aos 119m)
(El Giundy, aos 83m)

Grã-Bretanha - Holanda: 4-3
(McBain, aos 22m, Hardisty, aos 58m, Kelleher, aos 77m, McIlvenny, aos 111m)
(Appel, aos 9m, aos 63m, Wilkes, aos 81m)

França - India: 2-1
(Courbin, aos 30m, Persillon, aos 89m)
(Raman, aos 70m

Jugoslávia - Luxemburgo: 6-1
(Stankovic, aos 57m, Mihajlovic, aos 61m, Cajkovski, aos 65m, aos 70m, Mitic, aos 74m, Bobek, aos 87m)
(Shcammel, aos 10m)

Turquia - China: 4-0
(Kilic, aos 18m, aos 61m, Saygun, aos 72m, Kucukandonyadis, aos 87m)

Suécia - Áustria: 3-0
(Nordahl, aos 2m, aos 10m, Rosen, aos 71m)

México - Coreia do Sul: 3-5
(Cardenas, aos 23m, Figueroa, aos 85m, Ruiz, aos 89m)
(Choi, aos 13, Bai, aos 30m, Yung, aos 73m, aos 66m, Chung, aos 87m)

Itália - Estados Unidos da América: 9-0
(Pernigo, aos 2m, aos 57m, aos 88m, aos 90m, Stellin, aos 25m, Turconi, aos 46m, Cavigioli, aos 72m, aos 87m)

Quartos-de-final

Grã-Bretanha - França: 1-0
(Hadisty, aos 29m)

Dinamarca - Itália: 5-3
(Hansen aos 30m, aos 53m, aos 74m, aos 82m, Ploger, aos 84m)
(Caprile, aos 50m, aos 67m, Pernigo, aos 81m)

Suécia - Coreia do Sul: 12-0
(Nordhal, aos 25m, aos 40m, aos 78m, aos 80m, Liedholm, aos 11, aos 62m, Carlsson, aos 61m, aos 64, aos 82m, Rosen, aos 72m aos 85m, Gren, aos 27m)

Turquia - Jugoslávia: 1-3
(Gulesin, aos 33m)
(Cajkovski, aos 21m, Bobek, aos 60m, Wolfl, aos 80m)

Meias-finais

Suécia - Dinamarca: 4-2
(Rosen, aos 31m, aos 37m, Carlsson, aos 18m, aos 42m)
(Seebach, aos 3m, Hansen, aos 77m)

Grã-Bretanha - Jugoslávia: 1-3
(Donovan, aos 20m)
(Bobek, aos 19m, Wolfl, aos 24m, Mitic, aos 48m)

Jogo de atribuição da medalha de bronze

Grã-Bretanha - Dinamarca: 3-5
(Aitkew, aos 5m, Hardisty, aos 33m, Amor, 63m)
(Praest, aos 12m, aos 49m, Hansen, aos 16m, aos 77m, Sorensen, aos 41m)

Final

Suécia - Jugoslávia: 3-1

Data: 13 de agosto de 1948

Estádio: Wembley, em Londres (Inglaterra)

Árbitro: William Ling (Inglaterra)

Suécia: Torsten Lindberg, Knut Nordahl, Erik Nilsson, Boerje Rosengren, Bertil Nordahl, Sune Andersson, Kjell Rosen, Gunnar Gren, Gunnar Nordahl, Henry Carlsson, Nils Liedholm. 

Jugoslávia: Lovric, Brozovic, B Stankovic, Zlatko Cajkovkski, Jovanovic, Atanackovic, Cimermanic, Mitic, Bobek, Zeljko Cajkovski, e Vukas.

Golos: 1-0 (Gren, aos 24m), 1-1 (Bobek, aos 42m), 2-1 (Nordahl, aos 48m), 3-1 (Gren, aos 67m)
 Legenda das fotografias:
1-Cartaz oficial dos Jogos Olímpicos de 1948
2-Escolha de campo antes do jogo entre China e Turquia
3-As equipas da Grã-Bretanha e Holanda perfiladas em Highbury Stadium
4-Lance do Coreia do Sul-México
5-Um dos 12 golos suecos ante os coreanos
6-Embate entre britânicos e jugoslávo
7-O majestoso Estádio de Wembley
8-Lance da final
9-O trio Gre-no-li ao serviço do Milan

10-A equipa da casa
11-Mais um lance da final de Wembley
12-Suecos levados em ombros após o histórico triunfo olímpico