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sexta-feira, abril 19, 2013

Futebol nos Jogos Olímpicos (9)... Melbourne 1956

Em 1956 o torneio olímpico transpunha pela primeira vez  as fronteiras da Europa. Desde que havia sido oficializado em 1908 o futebol olímpico nunca havia sido jogado fora dos relvados do Velho Continente, o palco onde se assumia indiscutivelmente como ator principal do teatro desportivo. Fora deste continente o belo jogo parecia por aqueles dias ainda não ter adquirido o estatuto de desporto rei, sendo a exceção a América do Sul, onde há muito que já era tratado de forma principesca. Em termos olímpicos o ato de fé de que a modalidade ainda não era venerada a 100% - o mesmo será dizer que ainda não suscitava um interesse profundo - foi que nos Jogos de 1932, em Los Angeles, ela nem sequer fez parte do programa olímpico. Mas a meio do século XX tudo parecia estar a mudar, ou pelo menos a tentar.
Em 1956 os Jogos Olímpicos disputam-se na longínqua Austrália, mais concretamente na cidade de Melbourne, que assim testemunhou a primeira aparição das Olimpíadas no hemisfério sul. O facto de terem decorrido num local tão distante fez com que a esmagadora maioria das delegações tivesse enfrentado um duro desafio financeiro para levar um alargado leque de atletas à grande ilha do Pacífico. Assim sendo - e face às dificuldades financeiras para fazer uma viagem tão longa - a maior parte das nações fizeram-se representar por reduzidas comitivas, com pouquíssimos atletas, transformando a maior parte das competições que integravam o cartaz olímpico de 56 num enorme... deserto. Marcado por muitas ausências esteve igualmente o torneio olímpico de futebol, onde apenas 11 equipas - sim, somente 11 (!!!) - lutaram pelo ouro. Desde 1912, em Estocolomo, que o torneio olímpico não tinha tão poucos concorrentes! Sem dúvida que este não era o melhor cartão de visita para apresentar, e sobretudo fidelizar, o futebol noutros cantos do planeta que não na Europa e na América do Sul.

Outro aspeto que empobreceu muito o torneio olímpico de Melbourne foram as lutas políticas. Cerca de um mês antes do início dos Jogos a União Soviética invade a Hungria com a intenção de contestar uma manifestação popular, que ficou conhecida como a Revolução Húngara de 56, onde o povo magiar exigia uma maior autonomia da sua pátria em relação aos soviéticos. Por esta altura a lendária seleção húngara do início dos anos 50 - campeão olímpica em 1952, e vice campeã do Mundo em 1954 - já se havia desmembrado, com os seus melhores jogadores - entre outros Puskas, Czibor, ou Kocsis - a pedir asilo político a outros países onde continuariam as suas lendárias carreiras desportivas.
Para Melbourne viajaram apenas cinco seleções europeias, a maioria delas oriundas do leste, com destaque para a União Soviética, que pela segunda vez na sua história marcava presença nos Jogos, e para a Jugoslávia, a eterna vice-campeã olímpica, como mais à frente se iria confirmar... mais uma vez. Além destas também seguiram viagem para a Austrália os combinados da Grã-Bretanha, Alemanha (unificada !!!), e a Bulgária. Teoricamente deste grupo pensava-se que pudesse sair o novo campeão olímpico, até porque as restantes seis seleções pertenciam a uma espécie de sub-mundo do futebol, com poucas, ou nenhumas, provas dadas no cenário futebolístico internacional, como eram os casos da Tailândia, Índia, Indonésia, Japão, Estados Unidos da América, e a turma anfitriã, a Austrália. Estes eram os 11 participantes do desolador torneio olímpico de 56, e como já deu para ver da América do Sul nem uma única seleção se aventurou fazer a viagem até à terra dos cangurus, onde o soccer - como lá é conhecido o futebol - era ainda um verdadeiro enigma.
Novidade no torneio olímpico de 1956 o facto de a maioria das seleções ter tido a necessidade de passar por uma fase de qualificação para carimbar o passaporte para a fase final.

Países de leste confirmam favoritismo... com algumas dificuldades pelo meio

Foi no peculiar Melbourne Olympic Park - de arquitetura oval (!) - que decorreram a esmagdora maioria das provas olímpicas de 1956, sendo uma delas o futebol. A 24 de novembro entram em campo União Soviética e a Alemanha unificada - uma das novidades do torneio. Germânicos que apesar de ostentaram o título de campeões do Mundo - conquistado dois anos antes na Suíça pelos alemães do ocidente, isto é, pela República Federal da Alemanha - apresentavam-se em Melbourne com uma equipa constituida por jovens jogadores amadores, sem qualquer experiência internacional. Orientada pela lenda da tática que em 54 havia conduzido os alemães ocidentais à épica conquista do Mundo, Sepp Herberger, a seleção teutónica fez a vida negra aos frios e desconhecidos soviéticos no encontro que abriu a primeira eliminatória do torneio. Aos 23 minutos Anatoli Issaev abriu o marcador de um jogo disputado às 14:30h da tarde... debaixo de um calor sufocante tipicamente australiano. Já na segunda parte, e muito perto do fim, os homens de leste carimbaram o ingresso nos quartos-de-final, quando à passagem do minuto 86 Eduard Streltsov fez o segundo tento da sua seleção. Porém, a boa performance dos germânicos seria justamente premiada com um golo, aos 89 minutos, em cima do apito final do inglês Robert Mann, por intermédio de Ernst Habig. 2-1 final, um triunfo sofrido de uma União Soviética que era uma verdadeira incógnita para o mundo ocidental. 


Olhavam para eles com desconfiança, muito devido ao seu posicionamento político perante o resto do mundo. O seu ainda pouco conhecido desempenho desportivo era classificado por muitos como científico e metódico, e para outros pouco atrativo sob o ponto de vista técnico. Assim era o futebol soviético, protagonizado por aquela misteriosa equipa que na sua camisola vermelha trazia impressa as siglas CCCP. Por trás da cortina de ferro do bloco comunista havia um novo mundo para descobrir sob o ponto de vista desportivo, o qual começou precisamente a deixar-se vislumbrar nestes Jogos de 1956, já que no final eles levariam para casa um impressionante número de 98 medalhas, entre as quais figurava a rodela de ouro que seria conquistada no futebol. Mas já lá iremos. 


A 26 de novembro perante uma desoladora assistência de pouco mais de 3500 pessoas a experiente Grã-Bretanha massacrava a para lá de modesta Tailândia - que fazia a sua estreia nas andanças olímpicas no que a futebol concerne - com nove golos sem resposta, com destaque para o hattrick de John Laybourne. 
Um dia mais tarde foi a vez da seleção da casa fazer não só a sua estreia em torneios olímpicos mas também num grande evento futebolístico internacional. Completamente desconhecido - para o mundo ocidental - o soccer australiano media forças com o Japão. Segundo crónicas da época os socceroos não se apresentaram no evento na sua melhor condição física, tendo iniciado a sua preparação apenas quatro semanas antes deste ter início. Contudo, apesar de mais fortes sob o ponto de vista técnico os japonenses não conseguiram furar a sólida defensiva local. E como quem não marca sofre aos 26 minutos Graham McMillan apontou - de grande penalidade - o primeiro golo da tarde para a Austrália. Na segunda parte os nipónicos bem tentaram dar a volta por cima, mas a sorte nada queria com eles, e à passagem do minuto 61 Frankie Loughran selou definitivamente o triunfo dos australianos que assim vivenciavam o primeiro momento dourado do seu soccer.

No dia 28 tinham início os quartos-de-final. Aproximadamente 5300 espetadores visionaram a segunda maior goleada verificada no torneio. A favorita Jugoslávia vergava os Estados Unidos da América por concludentes 9-1, com destaque para os hattricks de Muhamed Mujic, e Toza Veselinovic, este último que haveria de ser um dos três melhores marcadores da competição (juntamento com o indiano D'Souza, e o búlgaro Stoyanov), com um total de quatro remates certeiros.
No dia seguinte o fator surpresa pairou sobre o Melbourne Olympic Park. A União Soviética não iria além de um pobre empate a zero golos diante da modesta Indonésia (!) Exibindo um futebol fraco sob o ponto de vista técnico os soviéticos eram obrigados a um segundo jogo ante o combinado asiático marcado para dois dias mais tarde. Surpreedente foi também a vitória da Bulgária sobre a Grã-Bretanha, e logo por números a que os súbitos de Sua Majestade estavam pouco habituados. 6-1 para os búlgaros, que confirmavam assim a superioridade os países do leste europeu sobre a demais concorrência.
Empolgados com a vitória da primeira ronda cerca de 7500 australianos deslocaram-se ao anfiteatro olímpico para ver os socceroos em ação diante da Índia, que aparecia pela terceira vez consecutivo no torneio. Um confronto que ditou desde logo uma certeza: pela primeira vez uma seleção do oriente iria marcar presença nas meias finais de um torneio olímpico. A anteceder o duelo entre autralianos e indianos um episódio curioso, diria mesmo caricato, fez correr muita tinta. Os indianos queriam jogar descalços, à semelhança do que haviam tentado fazer no Campeonato do Mundo de 1938. Aí, a FIFA não permitiu que os atletas daquele país atuassem sem botas específicas para a prática do futebol. Só que em Melbourne quem mandava era o Comité Olímpico Internacional (COI), e como este continuava a defender o desporto amador contra o profissionalismo da FIFA deu aval para que os indianos jogassem da forma que preferissem! No entanto, e depois de muita discussão - com os australianos a protestar tal decisão do COI - os indianos concordariam em jogar de chuteiras. E o que é certo é que com ou sem botas a Índia humilhou a equipa da casa por 4-2, com destaque para três golos de Neville Stephen D' Souza. Quanto aos socceroos, e graças a uma paupérrima exibição, baseada num jogo violento para com os seus adversários, terminavam a sua aventura olímpica.  


Entretanto neste mesmo dia 1 de dezembro a União Soviética era obrigada a horas extras diante da Indonésia, depois do já citado 0-0 no primeiro jogo. Alertados para a surpresa oriental os soviéticos, mesmo sem encantar, puxaram dos seus galões e golearam os indonésios por claros 4-0, com realce para o bis de Sergei Salnikov. 
Este seria o último jogo em que os europeus mostrariam um futebol tecnicamente sombrio, já que nas meias finais o universo futebolístico ficaria finalmente a conhecer aquela que foi vincadamente uma das grandes seleções das décadas de 50 e 60 do século passado. 

Jugoslavos garantem presença na sua terceira final consecutiva


No dia 4 de dezembro o Melbourne Olympic Park era palco do Jugoslávia - Índia, o primeiro encontro alusivo às meias-finais do certame. Sem grandes dificuldades os europeus, mais experientes, e com maior poderio técnico-tático, bateram os asiáticos por claros 4-1, num jogo onde Papec foi a estrela da tarde ao apontar dois dos quatro golos jugoslavos. Os homens dos Balcãs marcavam assim presença na sua terceira final olímpica consecutiva. 
Um dia mais tarde apareceu então - finalmente - o perfume do futebol soviético. Os jogadores de leste mostraram ao planeta da bola o poderio do seu futebol, que sem ser de facto brilhante do ponto de vista técnico primava pela sagaz eficiência tática, pela força e precisão. Eles podiam não ter o encantador brilho técnico do lendário Uruguai das décadas de 20 e 30, por exemplo, mas apresentavam jogadas trabalhadas em laboratório, e um estudo prévio aprofundado sobre os seus adversários, facto que os iria rotular como os primeiros cientistas do futebol. Bom, mas voltando ao campo de batalha, o mesmo será dizer ao relvado do oval Melbourne Olympic Park, para recordar a curta mas merecida vitória soviética sobre a Bulgária, por 2-1, carimbada em prolongamento.


Búlgaros que caíram de pé, restando-lhes agora a luta pela medalha de bronze, cuja disputa decorreu a 7 de dezembro diante da Índia. 
Diante de pouco mais de 21 000 espetadores o combinado europeu finalizou a sua boa prestação neste torneio olímpico com um claro triunfo por três golos sem resposta, conquistado assim uma merecida medalha, a primeira do seu historial no que ao desporto rei diz respeito. 
Neste encontro o destaque individual foi para Todor Diev, autor de dois dos três tentos búlgaros. 
Quanto aos indianos este quarto lugar foi o maior feito do seu - ainda hoje - praticamente desconhecido futebol no plano internacional. 

União Soviética sobe ao lugar mais alto do pódio


E no dia 8 de dezembro o Melbourne Olympic Park registou a sua maior afluência, com quase 87 000 a marcarem presença na grande final do certame. Arbitrado pelo australiano Ron Wright o encontro foi muito equilibrado, ou não estivessem em campo as duas melhores seleções da prova. Equilíbrio que seria furado aos 48 minutos por Anatoli Ilyin, homem que entrou para a história do futebol soviético após apontar o único golo desta final olímpica, o golo que deu a primeira coroa de glória aos... cientistas do futebol. Naquele dia o Mundo ficou a conhecer uma equipa forte, com um fôlego inesgotável, comandada desde a baliza pelo imponente guarda-redes Lev Yashin, que com o seu equipamento negro, as suas enormes mãos, e a sua incrível agilidade entre os postes, impunha respeito a qualquer adversário. Foi neste ano que os soviéticos começaram a sair do seu reservado mundo, em busca da conquista de... novos mundos. Dois anos mais tarde brilhariam a grande altura no Mundial da Suécia, e em 1960 venceram a primeira edição do Campeonato da Europa. 
Quanto à Jugoslávia pela terceira olimpíada consecutiva fica com a prata! Parecia sina.

A figura: Lev Yashin


É apontado por muitos dos historiadores do belo jogo como o melhor guarda-redes de todos os tempos. Ele foi o esteio da geração dourada do futebol soviético, ficando eternizado no Olimpo do futebol como a Aranha Negra. Lev Yashin, o seu lendário nome, rapaz de modestas famílias nascido a 22 de outubro de 1929, em Moscovo, e que se deu a conhecer ao Mundo precisamente no início da década de 50, ao serviço do único clube cujas balizas defendeu ao longo de 20 anos de carreira, o Dínamo de Moscovo. Aos 14 anos trocou o hóquei sobre o gelo - a sua primeira paixão - pelo futebol, onde mostrou atributos até então nunca dantes vistos num guarda-redes. De bom porte atlético ele foi o primeiro keeper a sair sem medo aos pés dos temíveis avançados que ameaçavam a sua área. Dizem até que ele era capaz de ler a mente dos homens-golo... Era detentor de reflexos invejáveis e de um posicionamento tático perfeito entre os postes. Era a voz de comando das suas equipas, da baliza ele dava as ordens aos seus companheiros, já que lá atrás ele lia o jogo com uma mestria invulgar para um guardião. Durante 22 anos ele defendeu então as cores do Dínamo de Moscovo (entre 1950 e 1972), emblema ao serviço do qual conquistou cinco campeonatos soviéticos (1954, 1955, 1957, 1959 e 1963) e três taças da União Soviética (1953, 1967 e 1970). Ao serviço da seleção atuou em 78 ocasiões, tendo vencido a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1956, e o Campeonato da Europa de 1960. Esteve ainda presente em três edições do Campeonato do Mundo (1958, 1962, e 1966), tendo como melhor resultado um quarto lugar - atrás do Magriços de Portugal - no Mundial de Inglaterra, em 66. Disputou um total de 812 jogos na carreira, tendo defendido um impressionante número de 150 grandes penalidades! Vestia-se sempre todo de preto, facto que lhe valeu a eterna alcunha de Aranha Negra. Em 1968 foi condecorado com a Ordem de Lênin pela sua brilhante carreira ao serviço do desporto soviético, tendo em 1971 colocado um ponto final no seu trajeto imaculado. Quando certa ocasião lhe perguntaram o segredo do seu sucesso respondeu que: «tudo se devia ao facto de fumar um cigarro e beber um copo de vodka antes de cada jogo», um ritual que o deixava mais calmo! Em 1975, foi eleito o atleta russo do século, e em 1998, a FIFA elego-o como o melhor guarda-redes do século XX. Em 1963 ele venceu o famoso galardão Bola de Ouro, sendo até hoje o único guarda-redes a conquistar este prémio! Em 1986 perdeu uma perna por causa de uma lesão no joelho.
Viria a faleceu no dia 21 de março de 1990, em Moscovo, vitimado por um cancro no estômago. No Estádio Luzhniki ergueu-se então uma estátua em sua homenagem.

Resultados

1ª Eliminatória

União Soviética - Alemanha: 2-1
(Issaev, aos 23m, Streltsov, aos 86m)
(Habi, aos 89m)

Grã-Bretanha - Tailândia: 9-0
(Laybourne, aos 30m, 82m, 85m, Twissell, aos 12m, aos 20m, Bromilow, aos 75m, aos 78m, Lewis, aos 21m, Topp, aos 90m)

Austrália - Japão: 2-0
(McMillan, aos 26m, Loughran, aos 61m)

Quartos-de-final

Jugoslávia - Estados Unidos da América: 9-1
(Veselinovic, aos 10, aos 84m, aos 90m, Mujic, aos 16, aos 35m, aos 55m, Antic, aos 12m, aos 73m, Papec, aos 20m)
(Zerhusen, aos 42m)

União Soviética - Indonésia: 0-0 / 4-0 (desempate)
(Salnikov, aos 19m, aos 59m, Ivanov, aos 19m, Netto, aos 43m)

Bulgária - Grã-Bretanha: 6-1
(Kolev, aos 40m, aos 85m, Stoyanov, aos 45m, aos 75m, aos 80m,Nikolov, aos 6m)
(Lewis, aos 30m)

Austrália - Índia: 2-4
(Morrow, aos 17m, aos 41m)
(D'Souza, aos 9m, aos 33m, aos 50m, Kittu, aos 80m)

Meias-finais

Jugoslávia - Índia: 4-1
(Papec, aos 54, aos 65m, Veselinovic, aos 57m, Salam (p.b.), aos 78m)
(D'Souza, aos 52m)

União Soviética - Bulgária: 2-1
(Streltsov, aos 112m, Tatushin, aos 116m)
(Kolev, aos 95m)

Jogo de atribuição da medalha de bronze

Bulgária - Índia: 3-0
(Diev, aos 37m, aos 60m, Stoyanov, aos 42m)

Final

União Soviética - Jugoslávia: 1-0

Data: 8 de dezembro de 1956

Estádio: Melbourne Olympic Park

Árbitro: R. Wright (Austrália)

União Soviética: Yashin; Baschaschkin, Ogognikov  e Kuznetsov; Netto e Maslenkin; Tatushin, Isaev, Simonian, Salinikov e Ilyin

Jugoslávia: Radenkovic; Koscak e Radovic; Santek, Spajic e Krstic; Sekularac, Antic, Papek, Veselinovic e Mujic

Golo: 1-0 (Ilyin, aos 48m)

Vídeo: URSS - JUGOSLÁVIA

Legenda das fotografias:
1-Cartaz oficial dos Jogos Olímpicos de 1956
2-fase do encontro entre Alemanha e União Soviética
3-O oval Melbourne Olympic Park
4-Bilhete do torneio olímpico de futebol de 1956
5-Britânicos levaram a melhor sobre os estreantes e frágeis tailandeses
6-O jugoslavo Toza Veselinovic, um dos três goleadores do torneio

7-Lance do duelo entre soviéticos e indonésios
8-Jugoslávia ultrapssa a Índia nas meias-finais
9-Lance do jogo de apuramento dos 3º e 4º lugares
10-A equilibrada final olímpica de 56
11-A estrela da companhia soviética, a Aranha Negra Lev Yashin
12-Lance do Austrália - Japão
13-Imagem da grande final...
14-... que coroou a União Soviética como a campeã olímpica de 1956

sexta-feira, maio 23, 2008

História dos Europeus de Futebol (2)... Espanha 1964

O sucesso da primeira edição do Campeonato da Europa (na altura ainda denominado de Taça da Europa das Nações) foi notório na segunda edição da competição com o aumento do número de países participantes. Os 17 do certame inaugural passaram quatro anos depois para 29! Entre os novos aderentes destacavam-se a presença de duas super potências do futebol mundial, a Itália, e a Inglaterra. Dos 33 países filiados então na UEFA apenas quatro continuavam renitentes em aderir ao evento, nomeadamente a República Federal da Alemanha, o Chipre, a Finlândia, e a Escócia. A fase de qualificação não sofreu grandes alterações em relação à edição inaugural com a excepção da inclusão de mais uma eliminatória em virtude do aumento de participantes. Surpresas nas rondas de apuramento para a fase final existiram algumas, desde já a eliminação da Checoslováquia (aos pés da República Democrata da Alemanha) na ronda pré-eliminar. Checoslovacos que quatros anos antes tinham sido 3ºs no Euro 60, realizado como se sabe na França. Franceses que também nesta ronda eliminariam a estreante e poderosa Inglaterra. Nos oitavos-de-final a grande surpresa chamou-se Luxemburgo, equipa amadora e completamente desconhecida que eliminou a favorita Holanda. Os luxemburgueses estiveram às portas da fase final do Euro 1964, perdendo somente com a Dinamarca (na última ronda antes da fase-final) no terceiro jogo (depois de dois empates, um em casa e outro fora). Para além dos dinamarqueses atingiam a tão desejada e sonhada fase final do Euro 64, a Hungria, a campeã europeia em título União Soviética, e a Espanha. Seria este último país que a UEFA responsabilizaria de acolher a fase final do Campeonato da Europa de 1964.


A fase final do Euro 64…


As cidades de Madrid e Barcelona foram as escolhidas para albergar os quatro jogos da fase final. As expectativas na selecção da casa eram enormes, todo um país se uniu em torno da sua equipa, inclusive o ditador Franco que aproveitou o evento para vincar a sua conduta política (o fascismo) com que vinha conduzindo o país. Tal como Mussolini havia feito no Mundial 1934 Franco aproveitou este Euro 1964 para promover a sua… política. Bom, mas passando ao que interessa mesmo, ao futebol, a primeira meia-final ocorreu no dia 17 de Junho num lotadíssimo Estádio Santiago Bernabéu, a casa do maior clube da Europa da época, o Real Madrid, entre a Espanha e a Hungria. 125 mil espectadores, um recorde que prevalece até aos dias de hoje num jogo de uma fase final de um Europeu, assistiram a uma difícil vitória da Espanha sobre a Hungria por 2-1. Os magiares, que sob a orientação técnica de Lajos Baroti (que anos mais tarde treinaria o Benfica) viviam uma fase de renovação. Longe iam os tempos em que a Hungria era tida como a melhor selecção do Mundo, onde pontificavam nomes como Puskas, Kocsis, ou Czibor. Esta Hungria aparecia em Espanha muito renovada, mas com alguns jogadores de grande gabarito como por exemplo Ferenc Bene, e Florian Albert, este último a grande estrela da companhia. Por seu lado a Espanha tinha uma equipa muito aguerrida, o exemplo perfeito daquilo que hoje é conhecido como a "fúria espanhola". A comandar esse grupo de guerreiros estava Luís Suaréz, um homem que ainda hoje é considerado por muitos como o maior jogador espanhol de todos os tempos. A equipa da casa foi quem mais fez pelo triunfo ao longo desta partida, e viu os seus esforços serem recompensados na etapa inicial com um tento de Jesus Pereda, aos 35 minutos. Quando os 125 mil adeptos espanhóis já festejavam a passagem à final, Bene, aos 84 minutos, restabeleceu a igualdade levando o jogo para prolongamento. A luta continuaria no tempo extra e eis que aos 115 minutos o velho estádio do Real Madrid veio abaixo quando um homem da casa, Amancio, colocou a Espanha na final ao fazer o 2-1. Até final o herói espanhol foi o guardião basco Iribar que com um grande naipe de defesas impediu os magiares de chegar a uma nova igualdade.


A outra meia-final…


No mesmo dia jogavam em Nou Camp, de Barcelona, a União Soviética e a Dinamarca. Os campeões da Europa em título chegavam a Espanha como o alvo a abater, e com uma equipa totalmente renovada em relação àquela que quatro anos havia conquistado em França a primeira edição do Europeu. Yashin, Ivanov, e Ponedelnik eram os únicos sobreviventes da equipa de 60. E para chegar à sua segunda final os soviéticos tiveram pela frente uma equipa esforçada da Dinamarca, mas que no fundo não passavam de um grupo de bons rapazes semi-profissionais que vinham a Espanha aprender com os melhores e… fazer turismo. A diferença entre as duas equipas foi nitidamente sentida em campo, e a União Soviética aplicou a chapa três ao conjunto nórdico sem grande dificuldade. No entanto, os dinamarqueses ainda fizeram duas ou três gracinhas neste jogo, pondo à prova aquele que era considerado o melhor guarda-redes do Mundo, Lev Yashin.


Os 3º e 4º lugares…


Também em Nou Camp, no dia 20 de Junho, foi disputada a partida para a apurar os 3º e 4º classificados. Um jogo que foi disputado quase sem público, somente 4 000 espectadores deslocaram-se ao anfi-teatro da Catalunha para verem jogar Hungria e Dinamarca. Era caso para se dizer que os catalães estavam mais interessados no que se passaria no dia seguinte onde a Espanha poderia obter a sua primeira grande vitória internacional do que neste jogo. Tal como na meia-final a Dinamarca fazia o papel de equipa mais fraca, não sendo de estranhar que desde muito cedo os húngaros confirmassem o seu favoritismo com um golo obtido aos 11 minutos por Bene. Mas de repente os dinamarqueses vão buscar forças onde ninguém imaginava e aos 82 minutos Bertelsen empata a partida obrigando a um prolongamento. A surpresa estava feita. Mas a maior qualidade técnica dos magiares viria ao de cima no tempo extra com a obtenção de dois golos (da autoria de Novak) que selariam em 3-1 o resultado final, dando assim a medalha de bronze à Hungria.


Espanha conquista o seu maior feito no futebol


O fascismo de Franco contra o comunismo dos soviéticos, era assim que era visto o duelo da final do Euro 64. Franco que num camarote do Santiago Bernabéu fez parte de uma multidão de 105 00 espectadores que ansiavam por uma vitória da "fúria espanhola" sobre uma das melhores equipas da época. A Espanha entrou à Espanha, cheia de motivação e com vontade de resolver bem cedo a questão. E logo aos 6 minutos Pereda pôs os seus compatriotas em delírio ao apontar o primeiro golo do jogo. Solicitado por Amancio o extremo-direito Luis Suaréz centrou de primeira para a área com a bola depois de tocar nos pés de um defesa soviético a ir para aos pés de Pereda que abriu o marcador. A festa da casa duraria apenas dois minutos, pois após um lançamento de Mudrik para Khusainov, que beneficia de um erro clamoroso de Revilla, este último jogador soviético bate o guarda-redes Iribar e faz o 1-1. A partir daí o jogo passou a ser disputado essencialmente a meio-campo com os guarda-redes Iribar e Yashin a serem meros espectadores. Os soviéticos apostavam no rigor, os espanhóis na sua grande estrela Suaréz. E quando já todos esperavam por um novo prolongamento o milagre aconteceu. Ao minuto 84 Pereda desmarca-se pela direita, cruza a meia altura para a entrada fulgurante de Marcelino que bateu sem apelo nem agrado o desamparado Yashin. Era a loucura em Madrid. A Espanha acabava de vencer o seu primeiro, e único até ao momento, grande título internacional de futebol.


Curiosidades do Euro 64…


-A ausência de fair-play: No golo decisivo da Espanha ante a Hungria, na meia-final, o árbitro bela Bavier deveria ter parado o jogo para dar assistência ao médio húngaro Nagy, que estava deitado no relvado. Não o fez, e Lapetra marcou o canto, Marcelino cruzou e Amancio rematou para o fundo das redes.


-Se a final tivesse terminada empatada nos 120 minutos teria sido necessário uma finalíssima, marcada para o dia 23 de Junho, no Estádio Mestalla, de Valência. E se nessa finalíssima a igualdade durasse após o prolongamento a decisão da questão seria resolvida por… moeda ao ar!
-Num domingo de chuva em Madrid, a Espanha nem sentiu a falta de um dos seus jogadores mais talentosos, Del Sol, que foi convocado pelo seleccionador Villalonga mas só apareceu em Espanha no dia 15 por imposição do seu clube de então a Juventus. Na meia-final foi suplente, mas na final nem ao banco foi.



Jogos:


Meias-finais


17 de Junho, em Madrid

Espanha – Hungria: 2-1 (Pereda, aos 35’; Amancio, aos 115’) (Bene, aos 84’)


17 de Junho, em Barcelona

Dinamarca – União Soviética: 0-3 (Voronin, aos 19’; Ponedelnik, aos 40’; Ivanov, aos 87’)


Jogos dos 3º e 4º lugares


20 de Junho, em Barcelona

Hungria – Dinamarca: 3-1 (Bene, aos 11’; Novak, aos 107’, e 110’) (Bertelsen, aos 82’)



Final


21 de Junho, no Estádio Santiago Bernabéu, em Madrid


Espanha - União Soviética: 2-1


Árbitro: Arthur Holland (Inglaterra)


Espanha: José Iribar, Feliciano Revilla, Fernando Olivella, Isacio Calleja, Ignacio Zoco, José Fuste, Amancio, Jesus Pereda, Marcelino Martinez, Luís Suaréz, e Carlos Lapetra. Treinador: José Villalonga


União Soviética: Lev Yashin, Victor Chusitkov, Albert Schesternev, Edouard Mudrik, Valeri Voronin, Victor Anickine, Igor Chislenko, Valentin Ivanov, Victor Pondedelnik, Alexei Korneev, e Galimzian Khusainov. Treinador: Gavril Kachalin


Marcadores: Pereda, aos 6’, Khusainov, aos 8’, e Marcelino, aos 84’.
Onze ideal do Europeu:



Yashin (União Soviética) Rivilla (Espanha) Olivella (Espanha) Amancio (Espanha) Novak (Hungria) Zoco (Espanha) Suaréz (Espanha) Bene (Hungria) Albert (Hungria) Ivanov (União Soviética) Pereda (Espanha)
Melhores marcadores:*


Pereda (Espanha) Bene (Hungria) Novak (Hungria)


*todos com dois golos
Legendas das fotografias:


1- Logotipo oficial do Espanha 1964


2- O "onze" da Espanha que fez história na final ante a poderosa União Soviética


3- Um momento do empolgante jogo das meias-finais entre espanhóis e magiares


4- Espanha celébra um golo na final contra os soviéticos


5. A estrela da selecção húngara: Florian Albert


6- Espanhóis posam para a fotografia já com a taça na mão


7- O treinador espanhol Villalonga é levado em ombros após a vitória final


8- Um dos muitos duelos da grande final


9- O palco da final: o majestoso Santiago Bernabéu, em Madrid


10- Primeira página do diário desportivo espanhol Marca noticiando a grande conquista


11- O espanhol Pereda, um dos melhores marcadores do Euro 64


12- Mais um momento de grande perigo protagonizado pela Espanha na grande final
Vídeo: ESPANHA - URSS



sexta-feira, maio 09, 2008

História dos Europeus de Futebol (1)... França 1960

Vamos dar hoje início a uma maravilhosa viagem pela não menos maravilhosa História dos Campeonatos da Europa de Futebol. À semelhança do que temos vindo a fazer com os Mundiais iremos relatar as principais histórias e factos da mais importante competição europeia. Inauguramos esta vitrina quando falta menos de um mês para na Áustria e na Suíça ter início a 13ª edição do Europeu de futebol. E como em todas as histórias vamos começar pelo início, isto é, por fazer uma viagem até 1955 ano em que o francês Henry Delauny, secretário-geral da UEFA, teve a ideia de criar uma competição continental ao nível de selecções. Na altura, eram disputados três grandes torneios no âmbito de selecções no Velho Continente, mais precisamente o Campeonato Internacional das Nações Britânicas (o qual juntava a Inglaterra, a Escócia, o País de Gales, e a Irlanda do Norte), a Taça Nórdica (disputada pela Dinamarca, Finlândia, Noruega, e Suécia), e o Campeonato da Europa Central (no qual participavam a Áustria, Hungria, Checoslováquia, e a Suíça). E eis então que nesse ano de 1955 Delauny propôs a criação de um campeonato que agregasse todas as nações da Europa, uma ideia que no entanto não seria bem acolhida por muitas da potências futebolísticas europeias da época, casos das selecções britânicas, da Alemanha, da Itália, e ainda da Suécia. Ficou desde logo definido que a nova competição se passaria a denominar Taça da Europa das Nações, nome que seria definitivamente alterado para Campeonato da Europa de Futebol, em 1968. Ficou igualmente assente que a competição seria disputada de quatro em quatro anos, à semelhança do que acontecia com os Campeonatos do Mundo. Em termos de formato foi definido que a Taça da Europa das Nações seria disputada por rondas pré-eliminares até aos quartos-de-final (jogadas sempre a duas mãos), sendo que as meias-finais, o jogo dos 3º e 4º lugares, e a final eram consideradas as verdadeiras fase finais da competição, e seriam disputadas num dos quatro países qualificados para essa fase final. A primeira fase final, ou primeiro Europeu, se preferirem, foi disputado no ano de 1960, sendo que as eliminatórias começaram dois anos antes. O pontapé de saída foi dado em Dublin, na República da Irlanda, a 5 de Abril, num jogo entre a equipa da casa e a Checoslováquia, tendo o primeiro golo sido da autoria do irlandês Liam Tuohy. Até à fase final seriam realizadas mais 24 partidas. Refira-se que nesta primeira fase de qualificação inscreveram-se 17 países (República da Irlanda, Checoslováquia, União Soviética, Hungria, França Grécia, Roménia, Turquia, Noruega, Áustria, Jugoslávia, Bulgária, República Democrata da Alemanha, Portugal, Polónia, Espanha, e Dinamarca). E os primeiros participantes da fase final de um Europeu seriam a Checoslováquia, a União Soviética, a Jugoslávia, e a França. E seria a este último país que a UEFA entregaria a responsabilidade de acolher a fase final da nova competição.


Domínio dos países de leste na fase final

E eis que chegamos ao momento alto da nova competição continental, o momento em que quatro selecções iriam lutar pela conquista da Taça da Europa, um bonito troféu que seria mais tarde baptizado com o nome do mentor desta prova, Henry Delauny, que não chegaria a ver o seu sonho ser tornado em realidade, uma vez que faleceu algum tempo antes da fase final. E o pontapé de saída foi dado no majestoso Parques dos Príncipes, em Paris, a 6 de Julho de 1960, que recebeu as equipas da França e da Jugoslávia, em jogo referente à primeira meia-final da competição. Um jogo que ficaria para a história, não só porque se tratou do primeiro de uma fase final do Europeu mas também pela grandioso espectáculo protagonizado pelas duas equipas. Os franceses mesmo sem a sua maior estrela da altura, Just Fontaine, que dois anos antes havia brilhado no Mundial da Suécia, estavam convencidos que iriam demonstrar em campo toda a sua superioridade para assim chegar ao primeiro sucesso europeu. Não foi a ausência de Fontaine que afectou a exibição dos franceses que estiveram em grande parte do jogo à frente do marcador. O golo inaugural da fase final foi no entanto apontado pelos visitantes por intermédio da sua estrela maior, Milan Galic, aos 11 minutos. Um minuto depois Vincent igualou para a França, para aos 43 minutos François Heutte colocar os anfitriões pela primeira vez na frente. Na 2ª parte o espectáculo continuou e aos 53 minutos Wisniesky aumenta a vantagem da França. Contudo, do outro lado estava uma grande equipa que nunca se deu por vencida, e aos 55 minutos reduz a desvantagem por intermédio de Zanetic. A faltar menos de meia hora para o árbitro belga Gaston Grandain dar por terminado o jogo o Parque dos Príncipes entra em delírio com o quarto golo da equipa da casa, da autoria de François Heutte, que bisava assim na partida. Poucos acreditariam que Les Blues não estariam na grande final. Mas o sonho acabaria por virar pesadelo em apenas cinco minutos, com os jugoslavos a apontarem três golos e a colocarem o resultado final em 5-4 a seu favor, carimbando o passaporte para a final. Tomislav Knez, aos 75 minutos, e Drazen Jerkovic, aos 78 e 79 minutos, foram os homens que calaram o anfiteatro parisiense. A outra meia-final foi disputada em Marselha, no Stade Velodrome, entre soviéticos e checoslovacos. Um jogo onde os soviéticos liderados pelo grande guarda-redes Lev Yashin desde cedo deram mostras de querer vencer. As oportunidades de golos do jogo pertenceram-lhes quase todas, não sendo de estranhar que derrotassem a sua congénere da Checoslováquia por 3-0. A estes últimos nem a sua estrela-mor, Masopust, considerado um dos melhores jogadores do Mundo da época, lhes valeu. A grande estrela do jogo foi Yashin, apelidado pelos críticos do futebol como a "aranha-negra" e tido por muitos como o melhor guardião de sempre. Neste jogo defendeu uma grande penalidade.


O último lugar do pódio…


A 9 de Julho o Velodrome de Marselha recebia a partida para a apurar os 3º e 4º classificados. Ao campo subiam as equipas derrotadas nas meias-finais, França e Checoslováquia. Os franceses ainda abalados pelo "terramoto jugoslavo" dias antes entraram em campo com várias alterações no seu "onze". Para eles ser segundos no "seu" Europeu era igual a ser últimos. Postura diferente foi encarada pelos checoslovacos que entraram em campo com o pensamento na vitória desde o apito inicial. Além de que acabar a competição no último lugar do pódio era uma situação de algum prestígio. Os franceses arrastaram-se pelo campo durante todo o jogo, facto aproveitado pelos jogadores de leste para se adiantar no marcador aos 58 minutos por Bubnik. Acabariam por selar o triunfo a dois minutos do fim por intermédio de Pavlovic.


…e a grande final

A 10 de Julho o Parque dos Príncipes engalanou-se para receber os dois finalistas do evento. Sob a arbitragem do inglês Arthur Ellis soviéticos e jugoslavos entraram em campo com vontade de fazer história. Do lado dos soviéticos a transpiração, do dos jugoslavos a inspiração. É desta forma que se pode fazer a leitura desta final. O futebol rendilhado e mais técnico dos jugoslavos seria ultrapassado pelo rigor, pela força e pela frieza táctica soviética. Jugoslávia que aproveitando a sua frescura física se adiantou no marcador aos 43 minutos por Milan Galic. No segundo tempo a União Soviética puxou dos seus galões e empatou o jogo ao minuto 49, por Metreveli. Com alguma dificuldade a equipa jugoslava ainda conseguiu levar a decisão para prolongamento. E aos 113 minutos os soviéticos deram a machadada final ao apontar o segundo, por Victor Ponedelnik, sendo que para a desgastada Jugoslávia era já quase impossível dar a volta ao marcador. Comandados por Yashin, e influenciados por "astros" como Valentin Ivanov, e Igor Netto a União Soviética sagra-se assim a primeira CAMPEÃ DA EUROPA DE NAÇÕES. Os soviéticos foram uns vencedores justos, embora não tenham entusiasmado. Contudo, mereceram a vitória graças à sua condição física e determinação. E ainda por levarem o novo torneio mais a sério que outros.


Meias-finais


6 de Julho, em Paris
França – Jugoslávia: 4-5 (Vincent, 12’; Heutte, 43’ e 62’; Wisnieski, 53’) (Galic, 11’; Zanetic, 55’; Knez, 75’; Jerkovic, 78’ e 79’)


6 de Julho, em Marselha

Checoslováquia – União Soviética: 0-3 (Ivanov, 34’ e 56’; Ponedelnik, 66’)


Jogo dos 3º e 4º lugares


9 de Julho, em Marselha

Checoslováquia – França: 2-0 (Bubnik, 58’; Pavlovic, 88’)
Final 

10 de Julho, em Paris

União Soviética – Jugoslávia: 2-1

Árbitro: Arthur Ellis (Inglaterra)

União Soviética: Lev Yashin, Givi Chokheli, Anatoli Maslenkine, Anatoli Krutikov, Iouri Voinov, Igor Netto, Slava Matreveli, Valentin Ivanov, Victor Ponedelnik, Valentin Boubokine, e Mikhail Meshki. Treinador: Gavril Kachalin

Jugoslávia: Blagoge Vidinic, Vladimir Durkovic, Fahrudin Jusufi, Ante Zanetic, Jovan Miladinovic, Zeljko Perusic, Dragoslav Sekularac, Drazen Jerkovic, Milan Galic, Zeljko Matus, e Bora Kostic. Treinador: Ljubomir Lovric

Golos: Galic (43’), Metreveli (49’), e Ponedlenik (113’). Onze Ideal do Europeu:

Yashin (União Soviética) Durkovic (Jugoslávia) Masopust (Checoslováquia) Ivanov (União Soviética) Novak (Checoslováquia) Metreveli (União Soviética) Netto (União Soviética) Sekularac (Jugoslávia) Kostic (Jugoslávia) Galic (Jugoslávia) Ponedelnik (União Soviética) Melhores marcadores:*

Heutte (França) Galic (Jugoslávia) Jerkovic (Jugoslávia) Ivanov (União Soviética) Ponedelnik (União Soviética)

*todos com dois golosLegendas das fotografias:

1- Logotipo oficial do primeiro Campeonato da Europa de Futebol

2- A bonita taça que premeia o vencedor do Europeu, baptizada de Henry Delauny

3- Soviéticos saudam o público após garantirem o triunfo na final

4- O palco da primeira final do Euro: o Parque dos Príncipes, de Paris

5- Capitão soviético Netto ergue a taça

6- O lendário guarda-redes Lev Yashin, considerado a grande estrela deste Europeu 1960

7- François Heutte, o melhor marcador da França no Euro 1960

8- Dois capitães de equipa cumprimentam o árbitro inglês Ellis antes do pontapé inicial da final

9- Soviéticos dão a volta de honra ao campo com o capitão Netto a segurar o troféu conquistado

10- Yashin e Netto mostram a taça na chegada a Moscovo

11-A equipa da casa: a França

12- Victor Ponedelnik, o autor do golo do triunfo na final

13- Uma das grandes estrelas deste primeiro Euro, o jugoslavo Milan Galic

14- O "onze" da União Soviética que ficou imortalizado na história


Vídeo: URSS - JUGOSLÁVIA



sábado, janeiro 05, 2008

A Bola de Ouro... e os seus vencedores

Instituída pela prestigiada revista francesa France Football em 1956, a Bola de Ouro é o prémio que anualmente é atribuído ao melhor futebolista a atuar no planeta da bola. Inicialmente o prémio era atribuído apenas a jogadores que atuassem em campeonatos da Europa e que tivessem nacionalidade europeia. As exceções à regra foram os argentinos Di Stéfano e Sivori, e o moçambicano Eusébio, jogadores que na altura em que venceram este importante galardão estavam já naturalizados europeus. Esta foi a principal, e única, razão pela qual jogadores excecionais como Pelé, Garrincha, Zico, Romário, Maradona, Kempes, ou Francescoli nunca conquistaram o troféu. Até que em 1995 a France Football decidiu abrir as portas a qualquer futebolista europeu, ou não, que jogasse em clubes do Velho Continente. O primeiro não-europeu a vencer o prémio seria o liberiano George Weah. Em 2007 a famosa revista francesa decide que dali em diante o vencedor do prémio pode ser um futebolista que atue em qualquer parte do Mundo. Este prémio é o sonho de qualquer jogador do Mundo, já que ele significa precisamente ser-se considerado o... melhor jogador do planeta. O galardão é atribuído por 52 jornalistas europeus de países diferentes. A partir de 2010 a FIFA junta-se à France Football na atribuição do prémio para designar o melhor futebolista do ano civil. Algo que acontece até 2016, altura em que o galardão volta a ser da exclusiva responsabilidade da revista francesa, com a FIFA a criar o seu próprio prémio - Best FIFA Football Awards - para coroar o melhor jogador do ano. Desde 1956, ano em que o inglês Sir Stanley Matthews inaugurou a galeria dos vencedores, até à data muitos foram os craques que foram agraciados com este prestigiado e bonito troféu. O argentino Lionel Messi é o jogador com mais Bolas de Ouro guardadas na sua vitrina pessoal, oito para sermos mais precisos! São cinco os países com mais Bolas de Ouro arrecadadas por jogadores seus, mais precisamente a Alemanha, a Holanda, Argentina, França e Portugal, cada um com sete conquistas, sendo que os portugueses o fizeram por intermédio de Cristiano Ronaldo (em 2008, 2013, 2014, 2016 e 2017), Luís Figo (2000) e Eusébio (1965). O clube cujos seus jogadores mais troféus conseguiram é o Barcelona, com 14 conquistas. Seguidamente apresentamos os ilustres vencedores do não menos ilustre galardão. 
1956: MATTHEWS (Inglaterra/Blackpool)
1957: DI STÉFANO (Espanha/Real Madrid)
 1958: KOPA (França/Real Madrid)
1959: DI STÉFANO (Espanha/Real Madrid)
1960: SUÁREZ (Espanha/Barcelona)
1961: SIVORI (Itália/Juventus)
1962: MASOPUST (Checoslováquia/Dukla Praga)
 1963: YASHIN (URSS/Dynamo Moscovo)
 1964: LAW (Escócia/Manchester United)
1965: EUSÉBIO (Portugal/Benfica)1966: CHARLTON (Inglaterra/Manchester United)
1967: ALBERT (Hungria/Ferencvaros)  
1968: BEST (Irlanda do Norte/Manchester United)
                                                         1969: RIVERA (Itália/Milan)
 1970: MULLER (Alemanha/Bayern)
1971: CRUYFF (Holanda/Ajax)
 1972: BECKENBAUER (Alemanha/Bayern)
1973: CRUYFF (Holanda/Ajax/Barcelona)
 1974: CRUYFF (Holanda/Barcelona)
1975: BLOKHIN (URSS/Dynamo Kiev)
 1976: BECKENBAUER (Alemanha/Bayern)
1977: SIMONSEN (Dinamarca/Monchengladbach)
1978: KEEGAN (Inglaterra/Hamburgo)
1979: KEEGAN (Inglaterra/Hamburgo) 

1980: RUMMENIGGE (Alemanha/Bayern)
 1981: RUMMENIGGE (Alemanha/Bayern)
1982: ROSSI (Itália/Juventus)
1983: PLATINI (França/Juventus)
1984: PLATINI (França/Juventus)
 1985: PLATINI (França/Juventus)
1986: BELANOV (URSS/Dynamo Kiev)
1987: GULLIT (Holanda/PSV/Milan)
1988: VAN BASTEN (Holanda/Milan)
1989: VAN BASTEN (Holanda/Milan)
1990: MATTHAUS (Alemanha/Inter)
1991: PAPIN (França/Marselha)1992: VAN BASTEN (Holanda/Milan)
1993: BAGGIO (Itália/Juventus)
1994: STOITCHKOV (Bulgária/Barcelona)
1995: WEAH (Libéria/Milan)
1996: SAMMER (Alemanha/Borussia Dortmund)
1997: RONALDO (Brasil/Barcelona/Inter)
1998: ZIDANE (França/Juventus)
1999: RIVALDO (Brasil/Barcelona)
2000: FIGO (Portugal/Barcelona/Real Madrid)
2001: OWEN (Inglaterra/Liverpool)
2002: RONALDO (Brasil/Inter/Real Madrid)
2003: NEDVED (República Checa/Juventus)
2004: SHEVCHENKO (Ucrânia/Milan)2005: RONALDINHO (Brasil/Barcelona)
2006: CANNAVARO (Itália/Juventus/Real Madrid) 2007: KAKÁ (Brasil/Milan) 2008: CRISTIANO RONALDO (Portugal/Manchester United)
2009: MESSI (Argentina/Barcelona)
2010: MESSI (Argentina/Barcelona)2011: MESSI (Argentina/Barcelona)
2012: MESSI (Argentina/Barcelona) 
2013: CRISTIANO RONALDO (Portugal/Real Madrid)
2014: CRISTIANO RONALDO (Portugal/Real Madrid)
2015: MESSI (Argentina/Barcelona)
  2016: CRISTIANO RONALDO (Portugal/Real Madrid)
 2017: CRISTIANO RONALDO (Portugal/Real Madrid)
 2018: LUKA MODRIC (Croácia/Real Madrid) 
 2019: MESSI (Argentina/Barcelona)

2020: Devido à pandemia de Covid-19 que paralisou grande parte 
da época 19/20, o prémio não foi atribuído em 2020
 
2021: MESSI (Argentina/Barcelona/Paris SG)
2022: KARIM BENZEMA (França/Real Madrid)
2023: MESSI (Argentina/Paris SG/Inter Miami)
2024: RODRI (Espanha/Manchester City)