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terça-feira, agosto 04, 2015

Histórias do Planeta da Bola (14)... A Taça Latina (parte III)

Cartoon do jornal francês L'Équipe, com
a caracterização das principais estrelas
dos candidatos à conquista
da Taça Latina de 1955
Após um ano de interregno (1954) a Taça Latina voltou em 1955 a integrar o calendário futebolístico dos emblemas do sul do Velho Continente. Paris foi pela segunda vez o palco escolhido para que as estrelas dos campeões de Espanha, Itália, e França, respetivamente, o Real Madrid, o Milan, e o Stade Reims, medissem forças. A estes juntou-se aquela que haveria de ser a equipa sensação desta sexta edição da competição, o Belenenses, conjunto que chegava à capital gaulesa como vice-campeão de Portugal. O campeão nacional luso da temporada 1954/55, o Benfica, ao invés de lutar pela Taça Latina preferiu viajar até ao Brasil para disputar o Torneio Charles Miller, dai o nome dos azuis do Restelo ter figurado num cartaz de autêntico luxo, desde logo marcado pela presença na Cidade de Luz de um conjunto de estrelas do planeta da bola, de verdadeiros magos do futebol, entre outros o italiano Cesare Maldini, os suecos Nils Liedholm, e Gunnar Nordhal, o uruguaio Juan Schiaffino, o francês Raymond Kopa, os espanhóis Gento, Rial e Miguel Muñoz, e o argentino Alfredo Di Stéfano, este último para muitos era já o melhor futebolista do Mundo de então, e é nessa qualidade que chega a Paris debaixo dos holofotes da fama. Porém, nenhuma dessas estrelas brilhou de uma forma tão cintilante quanto a do belenense Matateu, o homem que encantou os parisienses com as suas arrancadas felinas e serpenteantes adornadas com a beleza do seu fortíssimo pontapé canhão

A imagem de Matateu a sair em
do terreno como sobrolho aberto
em consequência da violência madrilena 
Matateu saiu do anonimato para se tornar no jogador sensação do torneio, no mais aplaudido e também no... mais castigado pela dureza dos adversários. Matateu e Belenenses assumiram o papel mais relevante desta edição, pese embora o clube português não tenha ido além do último lugar da classificação final. Ficaram no entanto duas excelentes exibições, tendo a primeira delas ocorrida a 22 de junho diante do poderoso Real Madrid, conjunto que encontrava o Belenenses pela sexta vez na história, sendo que as cinco anteriores haviam sido em caráter amistoso, com o saldo de duas vitórias para cada lado e um empate. E contra todas as previsões iniciais no Parque dos Princípes o Belenenses soltou-se, partiu para cima do poderoso conjunto merengue, atacando sempre com muito perigo a baliza de Alonso. Di Pace e Dimas dispararam mesmo uma bomba cada um deles ao poste da baliza dos campeões de Espanha, e a avalanche azul era de tal maneira intensa que em múltiplos períodos do jogo os belenenses chegaram a ter 10 homens plantados no meio campo madrileno! E o sufoco era maior sempre que Matateu pegava na bola. Um autêntico quebra-cabeças para a defesa dos madrilenos ao longo dos 90 minutos. Perante a impotência em parar as investidas do génio nascido em Moçambique os defensores do Real Madrid só encontaram uma maneira de travar o endiabrado Matateu: recorrendo à falta. Ou melhor, recorrendo a violentas entradas, sendo que numa delas Marquitos colocou o astro moçambicano fora de combate durante sete minutos no sentido deste receber assistência – abriu o sobrolho e teve de ser suturado naquele instante com quatro pontos – fora do retângulo de jogo. O Belenenses jogava e o Real Madrid sofria, mas tal tendência não se viria a verificar no marcador, já que aos 14 minutos Zarragá bateu o guardião José Pereira e fez o primeiro tento da noite. Já no segundo tempo, aos 60 minutos, Payá ampliou a vantagem para os campeões de Espanha, garantindo assim a passagem ao encontro decisivo. Um triunfo falso, injusto, o qual não traduziu o que se passou em campo, conforme traduziu no dia seguinte a imprensa gaulesa. Quanto a Matateu, foi elevado à categoria de herói, de grande estrela do jogo, de tal maneira que o jornal Le Figaro escrevia no dia seguinte que: “Os portugueses tiveram um grande jogador: Matateu, sólido de pernas e senhor de assombrosa agilidade”. Já a revista Miroir Sprint dizia que “Di Stéfano perdeu o sorriso devido ao negro Matateu”. A estrela argentina havia sido eclipsada pelo grande Matateu. 
 
Milan e Stade Reims lutam
pela presença na final
No outro duelo da meia-final houve a necessidade de se realizarem dois prolongamentos para apurar o outro finalista, sendo que ao minuto 148 o Stade Reims de Raymond Kopa e do mestre da tática Albert Batteux fez o 3-2 final com que afastou o Milan do jogo decisivo.
E na partida de apuramentos dos terceiros e quarto lugares o futebol harmonioso do Belenenses voltou a pairar sobre o relvado do Parque dos Princípes diante dos milanistas. Os portugueses jogaram melhor, dominaram, mas... era o Milan que marcava. Aos 16 minutos os italianos abrem o marcador, mas pouco depois o árbitro anula mal um golo aos belenenses, de nada valendo os protestos destes. Aliás, queixas em relação à arbitragem o Belenenses teve de sobra, sobretudo no jogo diante do Real Madrid, onde o juiz fez vista grossa à violência dos madrilenos sobre os lusos. Mas voltando à partida ante os italianos, aos 75 minutos estes aumentam a vantagem, mas volvidos apenas dois minutos aparece o génio de Matateu, que um pouco combalido devido às violentas entradas que havia sofrido na véspera realizou uma exibição um pouco mais contida em relação ao jogo com os espanhóis. Mesmo assim foi aplaudido entusiasticamente pelo público parisiense, sobretudo após o magistral passe que fez a Dimas para este reduzir a desvantagem. Porém, aos 83 minutos o Milan sentenciou o jogo com o 3-1 final, mais um resultado injusto para aquilo o que se verificou no relvado, onde os portugueses foram nitidamente melhores. O último lugar da classificação esteve longe de refletir o que os azuis do Restelo fizeram em campo, muito longe.
Capitães do Stade Reims e do Real Madrid
cumprimentam-se antes da final
No dia 26 de junho Real Madrid e Stade Reims subiram ao relvado da catedral do futebol francês para discutir o título. Héctor Rial seria a grande estrela da noite ao apontar os dois únicos golos do encontro – um em cada metade – a favor dos merengues que assim venciam a sua primeira Taça Latina. Este seria o primeiro encontro entre Real Madrid e Stade Reims no espaço de um ano, já que em 1956, naquele mesmo local, ambos os conjuntos voltariam a encontra-se numa final, desta feita na primeira edição da recém criada Taça dos Clubes Campeões Europeus (TCCE). Este seria na verdade o início de um reinado de sete anos consecutivos dos madrilenos na Europa do futebol, já que à Taça Latina de 1955 o clube presidido então por Don Santiago Bernabéu somou seis TCCE consecutivas até 1960! Foi obra!


Nomes e números:

Meias-finais

Recortes da imprensa a dar eco da epopeia do Belenenses e de Mateteu em Paris
Real Madrid (Espanha) – Belenenses (Portugal): 2-0
Stade Reims (França) – Milan (Itália): 3-2

Jogo de apuramentos dos 3º e 4º lugares

Milan (Itália) – Belenenses (Portugal): 3-1

Final

Real Madrid (Espanha) – Stade Reims (França): 2-0

Data: 26 de junho de 1955
Estádio: Parque dos Princípes, em Paris (França)
Árbitro: Joaquim Campos (Portugal)
Real Madrid: Juan Alonso, Joaquín Navarro, Joaquín Oliva, Ragel Lesmes, Miguel Muñóz, José María Zárraga, Luis Molowny, José Luis Pérez Payá, Alfredo Di Stéfano, Héctor Rial, e Francisco Gento. Treinador: José Villalonga.

Stade Reims: Paul Sinibaldi, Simon Zimny, Robert Jonquet, Raoul Giraudo, Armand Penverne, Robert Siatka, Michel Hidalgo, Léon Glovacki, Raymond Kopa, René Bliard, e Jean Templin. Treinador: AlbertBatteux.

Golos: 1-0 (Rial, aos 7m), 2-0 (Rial, aos 69m).
A equipa do Real Madrid que em 55 venceu a sua primeira Taça Latina

1956 e 1957: O eclipse da Taça Latina perante o brilho da recém-criada Taça dos Clubes Campeões Europeus

Na primeira meia-final o Milan bateu o Benfica...
A criação da Taça dos Campeões Europeus (TCE) por intermédio da UEFA na temporada de 1955/56 apressou a queda da Taça Latina. Os campeões nacionais do sul do Velho Continente depressa perceberam que a competição uefeira era bem mais atrativa e competitiva que a Taça Latina, uma prova restrita a quatro participantes, pouco competitiva, em contraposto com a TCE, um certame sonhado para todos os campeões nacionais da Europa, bem mais competitiva, como tal. O desinteresse pela Taça Latina verificou-se desde logo na edição de 1956, quando apenas dois dos quatro campeões nacionais dos países que integravam a competição criada em 1949 mostraram vontade em participar. Nice (França) e Athletic de Bilbao (Espanha) foram os dois campeões nacionais que aceitaram deslocar-se a Milão, a sede da sétima edição do certame. Quanto aos restantes envolvidos, o Benfica representou Portugal em substituição do campeão FC Porto que preferiu concentrar-se na competição da UEFA, ao passo que o Milan representou Itália, já que o campeão transalpino de 55/56, a Fiorentina, decidiu poupar forças para a TCE da época seguinte. 
 
... enquanto que na segunda os bascos do Athletic
despacharam os gauleses do Nice
No dia 29 de junho subiram ao relvado da Arena Civica as equipas do Benfica e do Milan, tendo o conjunto italiano sido muito superior ao português ao longo dos 90 minutos. Sob o olhar de 5000 espetadores o primeiro golo surgiu aos 18 minutos, por intermédio de Mariani, após cruzamento de Frignani. A cinco minutos do intervalo o uruguaio Pepe Schiaffino – campeão do Mundo em 1950 – ampliou a vantagem perante a apatia dos lisboetas. Mário Coluna ainda reduziu a desvantagem pouco depois do início do segundo tempo, mas aquela era uma tarde em que futebol ofensivo do Milan haveria de dar mais frutos. Schiaffino voltou a fazer o gosto ao pé aos 12 minutos, para cinco minutos volvidos Caiado dar uma nova esperança ao Benfica após bater pela segunda vez o guardião Buffon. À passagem da meia hora da etapa complementar Bagnoli fez o 4-2 final que apurou os transaplinos para o encontro decisivo. Na outra meia final o Athletic despachou o Nice por duas bolas a zero.
A franceses e portugueses não restou outra alternativa senão lutar pelo último lugar do pódio, tendo havido a necessidade de se jogar um prolongamento de 30 minutos, já que no final do tempo regulamentar o marcador indicava um teimoso empate a zero bolas. No tempo extra a sorte sorrido aos lisboetas que na sequência de golos de Cavém e José Águas levaram para casa o terceiro lugar. 
 
Fase da final de 1956 entre milanistas e bascos
A final, disputada a 3 de julho foi resolvida nos últimos 10 minutos de jogo, isto porque até então o resultado era de 1-1, sendo que Bagnoli deu vantagem ao Milan aos 21 minutos e Artexte empatou aos 50. Aos 80 Dal Monte desfez o empate, facto que galvanizou ainda mais os italianos que a dois minutos do fim deram a última machadada nas aspirações dos bascos na sequência de um golo de Schiaffino que selou o triunfo milanista. Cinco anos depois a Taça Latina estava de regresso a Itália.
No ano seguinte a prova teve a sua derradeira aparição no calendário internacional. E se Madrid teve a honra de abrir as cerimónias ao receber a primeira edição da Taça Latina em 1957 teve a missão de dizer adeus à competição. Para a despedida a capital espanhola recebeu os quatro campeões nacionais dos países que deram vida à Taça Latina, nomeadamente, o Real Madrid (Espanha), o Milan (Itália), o Benfica (Portugal), e o Saint-Étienne (França). A final jogou-se entre as duas equipas ibéricas, tendo um lance genial do... génio Alfredo Di Stéfano decidido a contenda a favor dos madrilenos, que juntavam a Taça Latina à TCE conquistada nesse ano de 1957. E assim caia o pano sobre uma competição que apesar de ter tido vida curta conheceu múltiplos momentos de magia futebolística.

Nomes e números (edição de 1956):

Meias-finais

Milan (Itália) – Benfica (Portugal): 4-2
Athletic Bilbao (Espanha) – Nice (França): 2-0

Jogo de atribuição dos 3º e 4º lugares

Benfica (Portugal) – Nice (França): 2-1

Final

Milan (Itália) – Athletic Bilbao (Espanha): 3-1

Data: 3 de julho de 1956
Estádio: Arena Civica, em Milão (Itália)
Árbitro: Maurice Guigue (França)

Milan: Lorenzo Buffon, Eros Fassetta, Francesco Zagatti, Nils Liedholm, Cesare Maldini, Luigi Radice, Amos Mariani, Osvaldo Bagnoli, Giorgio Dal Monte, Juan Alberto Schiaffino, e Amleto Frignani. Treinador: Héctor Puricelli.

Athletic Bilbao: Carmelo Cedrún, José Orúe, Trapeo, Mauri Ugartemendia, Jesús Garay, José María Maguregui, José Artetxe, Felix Markaida, Eneko Arieta, Ignacio Uribe, e Piru Gaínza. Treinador: Ferdinand Daucík.

Golos: 1-0 (Bagnoli, ao 21m), 1-1 (Artexte, aos 50m), 2-1 (Dal Monte, aos 80m), 3-1 (Schiaffino, aos 88m).
O onze do Milan que venceu o Athletic de Bilbao na final de 1956

Nomes e números (edição de 1957):

Meias-finais

Benfica (Portugal) – Saint-Étienne (França): 1-0
Real Madrid (Espanha) – Milan (Itália): 5-1

Jogo de atribuição dos 3º e 4º lugares

Milan (Itália) – Saint-Étienne (França): 4-3
Final

Real Madrid (Espanha) – Benfica (Portugal): 1-0

Data: 23 de junho de 1957
Estádio: Santiago Bernabéu, em Madrid (Espanha)
Árbitro: Marcel Lequesne (França)

Real Madrid: Juan Alonso, Manuel Torres, Marquitos, Rafael Lesmes, Miguel Muñóz, Antonio Ruiz Cervilla, Joseito, Raymond Kopa, Alfredo Di Stéfano, Héctor Rial, e Francisco Gento. Treinador: José Villalonga.

Benfica: José Bastos, Francisco Calado, Manuel Francisco Serra, Ângelo, Zézinho, Alfredo, Francisco Palmeiro, Mário Coluna, José Águas, Salvador Martins, e Domiciano Cavém. Treinador: Otto Glória.

Golo: 1-0 (Di Stéfano, aos 50m).
Real Madrid posa para a eternidade com a última Taça Latina da história

quarta-feira, julho 29, 2015

Histórias do Planeta da Bola (13)... A Taça Latina (parte II)

Gre-No-Li, o trio sueco que conduziu o Milan
à glória na terceira edição da Taça Latina
Depois de Espanha e Portugal terem acolhido as duas primeiras edições da Taça Latina foi a vez de Itália abrir as portas a uma competição que havia já subido ao patamar internacional da fama futebolística. Turim e Milão foram as duas cidades que sedearam um certame que na sua terceira edição contou com os campeões nacionais de Itália, Portugal, e Espanha, respetivamente o Milan, o Sporting, e o Atlético de Madrid. Os campeões de França, o Nice, não marcaram presença, tendo a nação gaulesa sido representada pelo Lille. A primeira meia-final teve lugar em Milão, a 20 de junho, tendo o Estádio de San Siro como palco de um confronto que colocou frente a frente a turma da casa, o Milan, e o Atlético de Madrid. Milanistas em cuja formação brilhava um trio de craques nórdicos, três jogadores que marcaram uma geração – uma grande geração, há que sublinhá-lo – do futebol da Suécia, o país de onde eram originários Gunnar Gren, Gunnar Nordhal, e Nils Liedholm, os três artistas em questão. A sintonia entre os três era perfeita, tendo sido traduzida em épicos momentos futebolísticos, tanto ao serviço da seleção sueca como do Milan, emblema onde o trio Gre-No-Li – como seria batizado – encantou os tiffosi ao longo de seis temporadas. E na meia-final ante o Atlético os três suecos foram peças fundamentais para a conquista de um triunfo expressivo por parte do Milan, que inaugurou o marcador à passagem do minuto 18 por intermédio de Renosto. Quatro minutos volvidos foi a vez de Nordhal dilatar o marcador. No segundo tempo os campeões de Itália, que como curiosidade neste jogo vestiram uma camisola azul, contrariando assim a tradicional maglia rossenera – camisola negra e encarnada –, chegaram ao 3-0 de novo por intermédio de Renosto, aos 53 minutos. Com o jogo praticamente ganho o Milan abrandou e permitiu a Carlsson reduzir – aos 70 minutos – e dar alguma esperança aos espanhóis. Porém, e de modo a não sofrer uma desilusão, os italianos voltaram à carga, e aos 74 minutos Renosto fez o seu terceiro golo da tarde, selando assim o marcador em 4-1 a favor da sua equipa que assim avançava para a final.

O "violino" Vasques
No dia seguinte, no Stadio Comunale de Turim, Sporting e Lille deram vida a uma partida que terminou empatada por falta de... iluminação! No final do tempo regulamentar as equipas empatavam a uma bola – o tento dos portugueses foi marcado pelo violino Vasques, aos 56 minutos – sendo que com a noite a cair sobre Turim e o facto de o estádio não ter iluminação artificial fez com que a organização agendasse uma partida de desempate para o dia seguinte. Jogo este onde a festa do golo foi uma constante. Por uma dezena de ocasiões a bola beijou as malhas das duas balizas, seis por intermédio dos franceses e quatro pelos portugueses, que assim eram afastados da final. Vasques foi mais uma vez o leão em destaque, já que três dos quatro tentos sportinguistas foram da sua autoria, sendo o outro apontado por Caldeira.
Treinado pelo inglês Randolph Galloway o Sporting chegou a Itália em cima do encontro com o Lille, facto que a juntar ao aspeto de ter de disputar com os franceses dois jogos no período de 24 horas colocou os leões fisicamente... de rastos. O cansaço físico foi pois o principal adversário do Sporting na partida de apuramento dos 3º e 4º lugares diante dos madrilenos, ocorrida em San Siro, diante de 10.000 espetadores e apitada pelo italiano Giuseppe Carpani. Travassos ainda disfarçou o desgaste leonino quando aos oito minutos bateu Dauder e abriu o marcador. Sol de pouca dura, já que cinco minutos passados Carlsson repôs a igualdade com que atingiu o intervalo. No segundo tempo os portugueses caíram de produção, facto aproveitado pelos campeões de Espanha – orientados pelo mago Helenio Herrera – para fazer dois golos na reta final da partida que lhes concederam o lugar mais baixo do pódio.

O trio de arbitragem com os capitães do Milan e do Atlético de Madrid
antes do pontapé de saída da meia-final
O mesmo San Siro foi a 24 de junho o palco da grande final da prova, uma final sem grande história, já que o emblema da casa, o Milan atropelou autenticamente um Lille que pouca ou nenhuma resistência ofereceu ao longo dos 90 minutos. Ao intervalo a vantagem (3-0) milanista pecava por escassa, dado o caudal ofensivo que os pupilos de Lajos Czeizler evidenciavam. Nordhal, aos 32 e 37 minutos, e Burino, aos 40 minutos, foram os marcadores do Milan. Na segunda metade os italianos mantiveram a toada ofensiva, quase asfixiante sobre a baliza de Pierre Angel, postura premiada com a obtenção de mais dois golos – um por intermédio de Gunnar Nordhal e outro de Annovazzi. Com o apito final do suíço Eugen Scherz chegou a natural explosão de alegria dos tiffosi que lotaram as bancadas de San Siro. O Milan vencia assim de forma inquestionável a primeira das suas duas Taças Latinas.

Nomes e números:

Foto de jornal que retrata o primeiro golo milanista diante dos madrilenos
Meias-finais

Milan (Itália) – Atlético de Madrid (Espanha): 4-1
Sporting (Portugal) – Lille (França): 1-1/4-6 (desempate)

Jogo de atribuição dos 3º e 4º lugares

Atlético de Madrid (Espanha) – Sporting (Portugal): 3-1

Final

Milan (Itália) – Lille (França): 5-0

Data: 24 de junho de 1951
Estádio: San Siro, em Milão (Itália)
Árbitro: Eugen Scherz (Suíça)

Milan: Lorenzo Buffon, Arturo Silvestri, Andrea Bonomi, Carlo Annovazzi, Omero Tognon, Benigno De Grandi, Renzo Burini, Gunnar Gren, Gunnar Nordahl, Nils Liedholm, e Albano Vicariotto. Treinador: Lajos Czeizler.

Lille: Pierre Angel, Jacques Van Cappelen, Guy Poitevin, Albert Dubreucq, Marceau Somerlinck, Cor van der Hart, Erik Kuld Jensen, Bolek Tempowski, André Strappe, Jean Vincent, e Jean Lechantre. Treinador: André Cheuva.

Golos: 1-0 (Nordhal, aos 32m), 2-0 (Burini, aos 40m), 3-0 (Nordhal, aos 37m), 4-0 (Nordhal, aos 67m), 5-0 (Annovazzi, aos 70m).
A famosa squadra do Milan que triunfou na Taça Latina de 1951

1952: Visca el Barça!

Fase do jogo entre Barça e Juve
Dando seguimento ao sistema de rotatividade no que concerne ao acolhimento da Taça Latina por parte das quatro nações que integravam a competição, em 1952 foi a vez da França, e mais em concreto a deslumbrante cidade de Paris, servir de palco para receber os campeões nacionais de Itália, Portugal, Espanha, e claro, França, respetivamente, a Juventus, o Sporting, o Barcelona, e o Nice. Seria precisamente esta última equipa abrir as cerimónias, juntamente com os campeões de Portugal, no dia 25 de junho. A particularidade nesta quarta edição prendeu-se com o facto de que pela primeira vez se jogou à noite, com iluminação artificial. Assim foi pois desenrolado o duelo entre franceses e portugueses no Parque dos Príncipes, o qual teve início praticamente com o golo dos rapazes da Côte d' Azur, logo ao minuto oito, por intermédio de Carré. A iluminação parece ter encadeado os jogadores do Sporting que ao intervalo perdiam por 3-0! Na segunda parte os leões ainda reagiram, e no espaço de três minutos – entre os 62 e os 64 minutos – reduziram a desvantagem por intermédio de Veríssimo e Albano, mas logo depois Carré aplicava o golpe de morte ao fazer o 4-2 final.

O cartaz da grande final
No dia seguinte foi a vez do Barça e da Juve subirem ao relvado da catedral do futebol gaulês, para protagonizarem um encontro emotivo e cheio de golos. O Barcelona entrou ao ataque e logo ao minuto três Manchón fez o primeiro da noite, para à passagem dos 20 minutos Basora ampliar a vantagem catalã. À beira do descanso o inspirado Boniperti reduziu a desvantagem, mas no reatamento o mágico húngaro Kubala voltou a distanciar o Barça no marcador. O ataque dos campeões de Espanha estava endiabrado, e quatro minutos volvidos Basora fez o 4-1. A Vecchia Signora não baixou os braços e de novo Boniperti fez o gosto ao pé a dez minutos do apito final do francês Vincenti. Dois minutos antes do segundo tento transalpino Hansen desperdiçou uma grande penalidade a favor da Juve, ao permitir a defesa do mítico guardião Ramallets. 4-2 a favor do Barça que assim lograva atingir a sua segunda final da Taça Latina.
No encontro de atribuição dos terceiro e quarto lugares o Sporting voltou a andar à deriva no relvado do Parque dos Princípes. Com apenas 15 minutos de jogo disputados os lisboetas já perdiam por 3-0 (!) ante a Juventus – com golos de Boniperti (5m), Hansen (7m), e Vivolo (15m). Ainda antes do descanso João Martins – o tal que alguns anos mais tarde viria a apontar o primeiro golo da história das competições europeias organizadas pela UEFA – reduziu, e já na segunda parte o mesmo jogador fez de novo o gosto ao pé para selar o resultado final em 2-3. Treinados pela antiga lenda do futebol húngaro Gyorgy Sarosi – que havia brilhado em diversas edições da Taça Mitropa ao serviço do Ferencvaros – a Juve levava para casa o prémio de consolação, o terceiro lugar.

A loucura na chegada dos campeões à Catalunha
No dia 29 de junho e sob a arbitragem do português Rui dos Santos os holofotes do Parque dos Princípes centraram-se nas estrelas do Barcelona e do Nice, os dois finalistas da quarta edição da Taça Latina. Assistiu-se a uma partida equilibrada, em que o nulo teimava em não sair do marcador, um jogo em que os catalães encontraram pela frente uma equipa que contrariamente ao que havia feito a Juve na meia-final se opôs com vigor às investidas do perigoso ataque dos campeões de Espanha. Foi preciso esperar até ao minuto 79, altura em que o capitão César apontou o único golo do encontro a favor do Barça que assim arrecadava a sua segunda coroa de glória continental. Esta foi aliás uma temporada muito especial para o Barcelona, eternizada como a época das “5 Copas”. Cinco vitórias noutras tantas competições disputadas, um saldo que conferiu a imortalidade à equipa treinada pelo checoslovaco Ferdinand Daucik. À Taça Latina juntavam-se os títulos de campeão de Espanha, o de vencedor da Copa del Rey (Taça de Espanha), da Copa Eva Duarte (antecessora da atual supertaça espanhola), e da Copa Martini & Rossi (na época um torneio muito afamado em terras espanholas). Rezam as crónicas que a viagem dos catalães de Paris até Barcelona foi feita em clima de apoteose, com uma verdadeira caravana de carros e de motos a acompanhar os novos campeões da... Europa. A loucursa subiu de tom assim que a equipa chegou à Cidade Condal, onde a esperavam milhares de adeptos, orgulhosos dos seus rapazes. Com a taça nas mãos o capitão César subiu até à varanda do ayuntamiento – câmara municipal – para partilhar a doce conquista com o povo catalão.

Nomes e números:

Meias-finais

Nice (França) – Sporting (Portugal): 4-2
Barcelona (Espanha) – Juventus (Itália): 4-2

Jogo de atribuição dos 3º e 4º lugares

Juventus (Itália) – Sporting (Portugal): 3-2

Final

Barcelona (Espanha) – Nice (França): 1-0

Data: 29 de junho de 1952
Estádio: Parque dos Princípes, em Paris (França)
Árbitro: Rui dos Santos (Portugal)

Barcelona: Antoni Ramallets, Cheché Martín, Gustavo Biosca, Josep Seguer, Andreu Bosch Pujol, Jaime Escudero, Estanislao Basora, César Rodríguez, Ladislao Kubala, Emilio Aldecoa, e Eduardo Manchón. Treinador: Ferdinand Daucik.

Nice: Marcel Domingo, Mohamed Firoud, Alphonse Martinez, Pancho Gonzales, Guy Poitevin, Jean Belver, Jean Courteaux, Victor Nurenberg, Désiré Carré, Antoine Bonifaci, e Abdelaziz Ben Tifour. Treinador: Numa Andoire.

Golo: 1-0 (César, aos 79m).
Foi de camisola branca (ironia do destino) que o Barcelona somou
o seu segundo triunfo na Taça Latina

1953: Triunfo do futebol champanhe

Albert Batteux assiste do banco à exibição
da sua obra de arte
França, nação aristocrata, repleta de glamour, apaixonada pelas artes, e que olhou - durante várias décadas - com indiferença, e algum desprezo, o futebol, modalidade tão popular noutros pontos do globo mas que em terras gaulesas demorou a criar raízes. Foi preciso esperar até à década de 50 para ver o futebol despertar nos franceses uma ponta de curiosidade e ao mesmo tempo de fascínio! Tudo graças a Albert Batteux, uma ilustre figura considerada como o pai do futebol francês. O homem que lançou as sementes das gerações vencedoras do futebol gaulês, de Platini a Zidane, o criador de um estilo de jogo tecnicamente elegante eternizado como... o futebol champanhe. Foi precisamente este o estilo que imperou na quinta edição da Taça Latina, que pela segunda vez decorreu em solo português, desta feita, e para além de Lisboa, também na cidade do Porto. A capital engalanou-se no dia 4 de junho de 1953 para ver o seu Sporting – campeão nacional em título – iniciar uma campanha que se sonhava ser de glória. Na verdade, toda a nação sportinguista suspirava pelo título que faltava conquistar aos leões, precisamente a prova internacional. No entanto, no Estádio Nacional as coisas não correram de feição aos pupilos de Randolph Galloway na meia-final diante do Milan, equipa que marcou presença no evento em substituição do campeão italiano de então, o Inter. A partida não começou da melhor forma para os portugueses, os quais cedo se viram privados de Joaquim Pacheco que teve de abandonar o campo por lesão. Ora, como na altura não eram permitidas substituições os lisboetas tiveram de jogar o resto do encontro com menos um jogador. Mesmo assim, Vasques, a um minuto do intervalo, inaugurou o marcador, que seria igualado aos 66 minutos por intermédio de um dos três suecos dos milanistas, neste caso Gunnar Nordhal. A jogar com mais um elemento os italianos intensificaram a pressão sobre os rapazes de Galloway e volvidos quatro minutos o mesmo Nordhal colocaria o Milan na liderança do marcador. Oito minutos depois o guardião Carlos Gomes tornou-se herói ao defender uma grande penalidade apontada por Nils Liedholm, mantendo desta forma o Sporting vivo em campo. Este lance galvanizou os portugueses, e eis que a um minuto dos 90 João Martins fez explodir de alegria as bancadas ao restabelecer a igualdade. Perante isto houve então a necessidade de um prolongamento, período este onde os locais começaram melhor, já que o endiabrado Martins voltou a festejar um golo. Porém, a quatro minutos do término do tempo extra, e quando os leões já pensavam na final, eis que Liedholm aparece em off-side para... fazer o empate. De nada valeram os protestos leoninos, que assim eram obrigados a um novo prolongamento, este mais curto, de 10 minutos. E no derradeiro minuto deste segundo tempo extra Frignani despejou um verdadeiro balde de água gelada sobre os lisboetas ao fazer o golo do triunfo milanista, o 4-3 final.

O Napoleão do futebol francês:
Raymond Kopa
Na outra meia-final, disputada no Porto, eis que surgiu o tal futebol champanhe protagonizado pelos campeões de França, o Stade Reims. Idealizado por Albert Batteux este estilo futebolístico encantou a Europa graças à sua beleza técnico-tática. No retângulo de jogo onze monsieurs davam vida ao inovador esquema de Batteux, mas um particular destacava-se dos demais, Raymond Kopa, de seu nome. O Napoleão do futebol gaulês, como ficou eternizado na história, era a grande estrela daquele pequeno clube que conquistou os franceses – e o resto do Velho Continente – na década de 50. Ele foi um dos principais responsáveis pela passagem do Reims à final da Taça Latina de 1953 após bater o Valência – representante espanhol na ausência do campeão Barcelona – por 2-1.
Valência que no jogo de atribuição dos terceiro e quartos lugares não teve garras para travar um aguerrido Sporting, que de orgulho ferido esmagou os espanhóis por 4-1, com golos de Vasques e Martins, cada um deles com dois tentos na conta pessoal.
A final, arbitrada pelo portuense Viera da Costa, foi mais um recital de bem jogar do Stade Reims. Logo aos 31 minutos Kopa abriu o marcador perante um Milan a quem nem o talentoso trio de suecos – Gunnar Gren, Gunnar Nordhal, e Nils Liedholm – valeria para evitar uma concludente derrota por 3-0. Méano, aos 53 minutos, e de novo Raymond Kopa, à passagem do minuto 75, derão expressão ao merecido triunfo do... futebol champanhe do Stade Reims.

Números e nomes:

Meias-finais

Sporting (Portugal) – Milan (Itália): 3-4
Stade Reims (França) – Valência (Espanha): 2-1

Jogo de atribuição dos terceiro e quarto lugares

Sporting (Portugal) – Valência (Espanha): 4-1

Final

Stade Reims (França) – Milan (Itália): 3-0

Data: 7 de junho de 1953
Árbitro: Vieira da Costa (Portugal)
Estádio: Nacional, em Lisboa (Portugal)

Stade Reims: Paul Sinibaldi, Simon Zimny, Roger Marche, Armand Penverne, Robert Jonquet, Raymond Cicci, Abraham Appel, Léon Glovacki, Raymond Kopa, Jean Templin, e Francis Méano: Treinador: Albert Batteux.

Milan: Lorenzo Buffon, Arturo Silvestri, Francesco Zagatti, Carlo Annovazzi, Omero Tognon, Celestino Celio, Renzo Burini, Gunnar Gren, Gunnar Nordahl, Nils Liedholm, e Amleto Frignani. Treinador: Mario Sperone.

Golos: 1-0 (Kopa, aos 31m), 2-0 (Méano, aos 53m), 3-0 (Kopa, aos 75m).
Stade Reims posa com a Taça Latina de 53

DEDICADO À MEMÓRIA DO MEU PAI...