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domingo, 7 de setembro de 2014
À MELANCOLIA
No vinho ou entre amigos, de ti eu fugia,
pois do teu olho escuro eu sentia pavor:
ingrato filho teu, assim eu te esquecia
ao toque do alaúde e nos braços do amor.
Com toda a discrição, no entanto, me seguias:
sempre estavas no vinho que eu tonto bebia
e no mormaço das minhas noites de amor
e no desdém com que eu a ti me referia.
Agora me refrescas os membros cansados
e tens minha cabeça em teu colo macio,
para o regresso das minhas longas viagens
- pois a ti me traziam todos os meus desvios.
Hermann Hesse
In: Andares Antologia Poética
Tradução: Geir Campos
pois do teu olho escuro eu sentia pavor:
ingrato filho teu, assim eu te esquecia
ao toque do alaúde e nos braços do amor.
Com toda a discrição, no entanto, me seguias:
sempre estavas no vinho que eu tonto bebia
e no mormaço das minhas noites de amor
e no desdém com que eu a ti me referia.
Agora me refrescas os membros cansados
e tens minha cabeça em teu colo macio,
para o regresso das minhas longas viagens
- pois a ti me traziam todos os meus desvios.
Hermann Hesse
In: Andares Antologia Poética
Tradução: Geir Campos
domingo, 6 de julho de 2014
'NA HORA DE DORMIR'
Depois que o dia exausto me deixou,
amavelmente a noite constelada
há de acolher meu ardente desejo
como a uma criança fatigada.
Mãos, esquecei todos os afazeres!
Rosto, deixa o pensar ao abandono!
Agora todos os sentidos meus
querem afundar no sono.
A alma, sem ter quem tome conta dela,
em vôos libérrimos quer flutuar
e no circulo mágico da noite
a vida de mil formas esgotar.
Hermann Hesse
In: Andares Antologia Poética
Tradução: Geir Campos
domingo, 18 de setembro de 2011
PRIMAVERA
Em crepusculares criptas
eu longamente sonhei
com teus ares azuis e árvores,
com teus perfumes e cantos de pássaros.
Agora toda te abres
em glorioso resplendor, assim
inundada de luz
como um prodígio diante de mim.
De novo me reconheces e com ternura me tentas:
vibra ao longo de todos os meus membros
tua alegre presença.
Hermann Hesse
in 'Andares'.
Recebido da amiga Dione Eller
sexta-feira, 15 de julho de 2011
'Neblina'
Estranho é caminhar na densa névoa:
Solitária esta cada planta ou pedra,
Nenhum arbusto enxerga o seu vizinho,
Cada um está só.
Cheio de amigos era, para mim, o mundo
Quando luminosa ‘inda era minha vida;
Agora que a névoa caiu,
Ninguém mais é visível.
Não é deveras um sábio
Quem não conhece a escuridão
Que, suavemente, nos separa
De tudo inexorável.
Estranho é caminhar na densa névoa:
Viver é estar solitário
Entre gente que se ignora.
Todos estamos sós!
Hermann Hesse
“Este Lado da Vida”,
sexta-feira, 8 de julho de 2011
EM ALGUM LUGAR
No deserto da vida eu erro e ardo
a gemer sob o peso do meu fardo,
mas em algum lugar quase esquecidos
sei de frescos jardins em sombra e em flor.
Em algum lugar, nos confins do sonho,
sei que um abrigo vela
onde a alma volta a ter pátria
e estão à espera o sono, a noite e as estrelas.
Hermann Hesse
In Andares
Tradução Geir Campos
segunda-feira, 23 de maio de 2011
DE UM ANDAR NOTURNO
Tempestade, chuva oblíqua,
negreja a pradaria,
solenes sombras de nuvens
fazem-nos companhia.
De um vão entre escuras nuvens
súbito a se iluminar
a noite esgueira-se e espia
plena de luar.
Límpidas ilhas do céu,
estrelas sóbrias saúdam;
ao luar, fímbria de nuvens
em rios de prata ondula.
Alma, prepara-te, alma!
Das trevas do tempo,
irmãos de longe te acenam
com pisos de ouro.
Alma, responde ao sinal:
banha-te no espaço!
Deus guiará para a luz
teus obscuros passos.
Hermann Hesse
In Andares
negreja a pradaria,
solenes sombras de nuvens
fazem-nos companhia.
De um vão entre escuras nuvens
súbito a se iluminar
a noite esgueira-se e espia
plena de luar.
Límpidas ilhas do céu,
estrelas sóbrias saúdam;
ao luar, fímbria de nuvens
em rios de prata ondula.
Alma, prepara-te, alma!
Das trevas do tempo,
irmãos de longe te acenam
com pisos de ouro.
Alma, responde ao sinal:
banha-te no espaço!
Deus guiará para a luz
teus obscuros passos.
Hermann Hesse
In Andares
LAMENTO
Não nos é dado Ser. Águas de rio,
a toda forma dóceis nos prestamos:
dia ou noite, caverna ou catedral,
a tudo nos impele a ânsia de Ser.
Forma após forma enchemos sem descanso:
nenhuma nos faz falta nem é pátria
ou sorte.Hóspedes sempre, sempre em trânsito,
terra e arado e pão nunca nossos.
Um dia endurecer em pedra! Um dia
durar! - É disso que temos vontade,
mas o que fica sempre é um arrepio
de medo, sem pausa na caminhada.
Hermann Hesse
In Andares
Tradução de Geir Campos
a toda forma dóceis nos prestamos:
dia ou noite, caverna ou catedral,
a tudo nos impele a ânsia de Ser.
Forma após forma enchemos sem descanso:
nenhuma nos faz falta nem é pátria
ou sorte.Hóspedes sempre, sempre em trânsito,
terra e arado e pão nunca nossos.
Um dia endurecer em pedra! Um dia
durar! - É disso que temos vontade,
mas o que fica sempre é um arrepio
de medo, sem pausa na caminhada.
Hermann Hesse
In Andares
Tradução de Geir Campos
EM ALGUM LUGAR
No deserto da vida eu erro e ardo
a gemer sob o peso do meu fardo,
mas em algum lugar quase esquecidos
sei de frescos jardins em sombra e em flor.
Em algum lugar, nos confins do sonho,
sei que um abrigo vela
onde a alma volta a ter pátria
e estão à espera o sono, a noite e as estrelas.
Hermann Hesse
In Andares
Tradução Geir Campos
a gemer sob o peso do meu fardo,
mas em algum lugar quase esquecidos
sei de frescos jardins em sombra e em flor.
Em algum lugar, nos confins do sonho,
sei que um abrigo vela
onde a alma volta a ter pátria
e estão à espera o sono, a noite e as estrelas.
Hermann Hesse
In Andares
Tradução Geir Campos
quarta-feira, 30 de março de 2011
SOLENE MÚSICA DO ENTARDECER
ALLEGRO
Nuvens esgarçam-se; do céu em brasa
errante luz bruxuleia sobre vales ofuscados.
Pando com o vento quente procela
fujo a passo incansável
Atravessando uma vida nublada.
Ah, se por um instante
ao menos, entre mim e a luz eterna
uma propícia borrasca soprasse o cinzento nevoeiro!
Estrangeira é a terra que me cerca:
leva-me longe, arrancado da pátria,
de um lado para outro o poderoso vagalhão do destino.
Vamos, vento: corre com essas nuvens,
rasga esses véus
para que a luz me possa cair sobre os incertos atalhos!
Hermann Hesse
in Andares
Nuvens esgarçam-se; do céu em brasa
errante luz bruxuleia sobre vales ofuscados.
Pando com o vento quente procela
fujo a passo incansável
Atravessando uma vida nublada.
Ah, se por um instante
ao menos, entre mim e a luz eterna
uma propícia borrasca soprasse o cinzento nevoeiro!
Estrangeira é a terra que me cerca:
leva-me longe, arrancado da pátria,
de um lado para outro o poderoso vagalhão do destino.
Vamos, vento: corre com essas nuvens,
rasga esses véus
para que a luz me possa cair sobre os incertos atalhos!
Hermann Hesse
in Andares
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
OUTONO PRECOCE
Odor picante já de folhas murchas,
trigais a abrir-se vagos e sem vista:
sabe-se que das tempestades próximas
uma desnucará nosso exausto verão.
As vagens da giesta rangem. De repente
avultam ante nós o distante e o lendário:
o que hoje imaginamos ter na mão
perde-se, e cada flor, misteriosamente.
Na alma assustada cresce um tímido desejo:
de não prender-se à vida em demasia,
de aceitar como as árvores o emurchecer,
de não deixar que o seu outono faltem cores e alegria.
Hermann Hesse
trigais a abrir-se vagos e sem vista:
sabe-se que das tempestades próximas
uma desnucará nosso exausto verão.
As vagens da giesta rangem. De repente
avultam ante nós o distante e o lendário:
o que hoje imaginamos ter na mão
perde-se, e cada flor, misteriosamente.
Na alma assustada cresce um tímido desejo:
de não prender-se à vida em demasia,
de aceitar como as árvores o emurchecer,
de não deixar que o seu outono faltem cores e alegria.
Hermann Hesse
sexta-feira, 12 de março de 2010
CANTO MÍNIMO
Poesia de arco-íris,
magia de luz morrendo,
felicidade em musica diluída,
paixão no rosto da Virgem,
êxtase amargo da vida...
Flores batidas pela tempestade,
grinaldas postas sobre sepulturas,
alegria que não dura,
estrela que cai no escuro:
véu de beleza e de luto
sobre a voragem do mundo.
Hermann Hesse
In: Andares Antologia Poética
Tradução: Geir Campos
FOLHA MURCHA
Para o fruto tende a flor,
para a tarde o amanhecer:
nada é eterno na terra
- salvo o mudar e o des-ser.
Mesmo o mais belo verão
há de em outono murchar:
tem paciência, folha, espera
vir o vento te buscar!
Faz teu papel sem teimar:
suceda o que suceder,
deixa o vento te arrancar
e em tua casa te deixar.
Hermann Hesse
In: Andares Antologia Poética
Tradução: Geir Campos
sábado, 27 de fevereiro de 2010
EM ALGUM LUGAR
No deserto da vida eu erro e ardo
a gemer sob o peso do meu fardo,
mas em algum lugar quase esquecidos
sei de frescos jardins em sombra e em flor.
Em algum lugar, nos confins do sonho,
sei que um abrigo vela
onde a alma volta a ter pátria
e estão a espera o sono, a noite e as estrelas.
Hermann Hesse
In Andares
ALLEGRO
Nuvens esgarçam-se; do céu em brasa
errante luz bruxuleia sobre vales ofuscados.
Pando com o vento quente procela
fujo a passo incansável
Atravessando uma vida nublada.
Ah, se por um instante
ao menos, entre mim e a luz eterna
uma propícia borrasca soprasse o cinzento nevoeiro!
Estrangeira é a terra que me cerca:
leva-me longe, arrancado da pátria,
de um lado para outro o poderoso vagalhão do destino.
Vamos, vento: corre com essas nuvens,
rasga esses véus
para que a luz me possa cair sobre os incertos atalhos!
Hermann Hesse
in Andares
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
En la niebla
¡Qué extraño es vagar en la niebla!
En soledad piedras y sotos.
No ve el árbol los otros árboles.
Cada uno está solo.
Lleno estaba el mundo de amigos
cuando aún mi cielo era hermoso.
Al caer ahora la niebla
los ha borrado a todos.
¡Qué extraño es vagar en la niebla!
Ningún hombre conoce al otro.
Vida y soledad se confunden.
Cada uno está solo.
Hermann Hesse
Versión de Andrés Holguín
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
SOFRIMENTO
O sofrimento é um mestre que nos vem
apequenar, fogo que nos abrasa
miudamente: isola-nos da vida,
empareda-nos e nos deixa só.
Amesquinham-se amor e sapiência,
confiança e esperança se adelgaçam
e fogem; com paixão ciumenta e rude,
o sofrimento nos faz e desfaz.
O eu - forma terrena - se contorce
e se bate e resiste em meio às chamas,
depois todo se afunda e silencia;
e eis que também o mestre renuncia.
Hermann Hesse
In Andares
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Magia das cores
De quando em quando um sopro divino,
Céu em cima, céu no fundo,
Mil canções canta a luz,
No multicolor Deus se fez mundo.
Branco para o preto, quente para o frio
Sentem-se sempre atraídos.
Do eterno turbilhar desse caótico rio
Filtra-se novo o arco-íris.
Pela nossa alma assim se transforma mil vezes em
tortura e encontro
A luz de Deus criada, forma
E como sol a enaltecemos.
Hermann Hesse
In: Caminhada
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
DE UM ANDAR NOTURNO
Tempestade, chuva oblíqua,
negreja a pradaria,
solenes sombras de nuvens
fazem-nos companhia.
De um vão entre escuras nuvens
súbito a se iluminar
a noite esgueira-se e espia
plena de luar.
Límpidas ilhas do céu,
estrelas sóbrias saúdam;
ao luar, fímbria de nuvens
em rios de prata ondula.
Alma, prepara-te, alma!
Das trevas do tempo,
irmãos de longe te acenam
com pisos de ouro.
Alma, responde ao sinal:
banha-te no espaço!
Deus guiará para a luz
teus obscuros passos.
Hermann Hesse
In: Andares
MONTANHAS DENTRO DA NOITE
O lago está apagado,
escuro dorme o canavial
a resmungar em sonho.
Espalham-se terríveis sobre a terra
as longas ameaças das montanhas:
elas não tem descanso,
respiram fundo e ficam
umas de encontro às outras apertadas,
num surdo respirar,
carregadas de forças abafadas
sem remissão numa paixão insaciada.
Hermann Hesse
In: Andares
Tradução; Geir Campos
sábado, 10 de outubro de 2009
GÔNDOLA
No alto, o azul e o fogacho do sol;
em baixo, o rio eternamente calmo;
sobre a quilha ligeira e graciosa,
coisas de amor e instrumentos de cordas.
Recatados e escuros são teus bordos,
mas com doçura o momento se curte;
estranho e doce é o sonho da morte,
do fim do amor e da juventude.
Rumo a desconhecidos objetivos
meus jovens anos deslizando vão
-como tu, leve e graciosa gôndola,
por luminosa e amável amplidão.
Hermann Hesse
In: Andares
Tradução: Geir Campos
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