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quarta-feira, 15 de maio de 2013
''DOR OCULTA''
Quando uma nuvem nômade destila
gotas, roçando a crista azul da serra,
umas brincam na relva; outras, tranqüila,
serenamente entranham-se na terra.
E a gente fala da gotinha que erra
de folha em folha e, tremula cintila,
mas nem se lembra da que o solo encerra,
da que ficou no coração da argila.
Quanta gente, que zomba do desgosto
mudo, da angustia que não molha o rosto
e que não tomba em gotas pelo chão,
havia de chorar se adivinhasse
que há lagrimas que ocorrem pela face
e outras que rolam pelo coração!
Guilherme de Almeida
In: Os Sonetos
sábado, 24 de março de 2012
"DOR OCULTA"
Quando uma nuvem nômade destila gotas,
Roçando a crista azul da serra,
Umas brincam na relva, outras tranquilas
Serenamente entranham-se na terra.
E a gente fala da gotinha que erra
De folha em folha e, trêmula, cintila,
Mas, nem se lembra da que o solo encerra
Da que ficou no coração da argila!
Quanta gente que zomba do desgosto mudo,
Da angústia que não molha o rosto
E que não tomba, em gotas, pelo chão.
Havia de chorar, se adivinhasse,
que há lágrimas que correm pela face
e outras que rolam pelo coração!
Guilherme de Almeida
in Messidor
quarta-feira, 30 de março de 2011
A HORA PROPÍCIA
Hora de se pensar em voz alta
no terraço das trepadeiras.
A claridade quase morta
esmalta
os vidros da janela e borda
de fios de ouro o leque das palmeiras.
Hora em que não há mais distâncias; hora
em que a primeira estrela vem ouvir na sombra
o canto verde da primeira rã;
em que cada palavra tomba
e se desenrola
silenciosa como um novelo de lã.
Guilherme de Almeida
in 'Meu'
no terraço das trepadeiras.
A claridade quase morta
esmalta
os vidros da janela e borda
de fios de ouro o leque das palmeiras.
Hora em que não há mais distâncias; hora
em que a primeira estrela vem ouvir na sombra
o canto verde da primeira rã;
em que cada palavra tomba
e se desenrola
silenciosa como um novelo de lã.
Guilherme de Almeida
in 'Meu'
terça-feira, 18 de setembro de 2007
SIMPLICIDADE,FELICIDADE
Simplicidade... Simplicidade...
Ser como as rosas, o céu sem fim,
a árvore, o rio... Por que não há de
ser toda gente também assim?
Ser como as rosas: bocas vermelhas
que não disseram nunca a ninguém
que têm perfumes... Mas as abelhas
e os homens sabem o que o que elas têm!
Ser como o espaço, que é azul de longe,
de perto é nada... Mas quem o vê
— árvores, aves, olhos de monge... —
busca-o sem mesmo saber porque.
Ser como o rio cheio de graça,
que move o moinho, dá vida ao lar,
fecunda as terras... E, rindo, passa,
despretensioso, sempre a cantar.
Ou ser como a árvore: aos lavradores
dá lenha e fruto, dá sombra e paz;
dá ninho às aves; ao inseto flores...
Mas nada sabe do bem que faz.
Felicidade — sonho sombrio!
Feliz é o simples que sabe ser
como o ar, as rosas, a árvore, o rio:
simples, mas simples sem o saber!
Guilherme de Almeida- Brasil-
sexta-feira, 17 de agosto de 2007
"ÁLIBI"
Não estive presente
quando se perpetrou
o crime de viver:
quando os olhos despiram,
quando as mãos tocaram,
quando a boca mentiu,
quando os corpos tremeram,
quando o sangue correu.
Não estive presente.
Estive fora, longe
do mundo, do meu mundo
pequeno e proibido
que embrulhei e amarei
com cordéis apertados
de meridianos meus
e de meus paralelos.
Os versos que escrevi
provam que estive ausente.
Eu estou inocente.
Guilherme de Almeida
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
"NÓS"
Quando as folhas caírem nos caminhos,
ao sentimentalismo do sol poente,
nós dois iremos vagarosamente,
de braços dados, como dois velhinhos...
E que dirá de nós toda essa gente,
quando passarmos mudos e juntinhos?
- "Como se amaram esses coitadinhos!
Como ela vai, como ele vai contente!"
E por onde eu passar e tu passares,
hão de seguir-nos todos os olhares
e debruçar-se as flores nos barrancos...
E por nós, na tristeza do sol posto,
hão de falar as rugas do meu rosto...
Hão de falar os teus cabelos brancos...
Guilherme de Almeida
"NÓS II"
Mas não passou sem nuvem de tristeza
esse amor que era toda a minha vida,
em que eu tinha a existência resumida
e a viva chama de minha alma, acesa.
Nem lemos sem vislumbre de incerteza
a página do amor, lida e relida,
mas pouquíssimas vezes entendida,
sempre cheia de engano e de surpresa.
Não. Quantas vezes ocultei minha
dor num sorriso! Quanta vez sentiste
parar, medroso, o coração de gelo!
- É que nossa alma às vezes adivinha
que perder um amor não é tão triste
como pensar que havemos de perdê-lo
Guilherme de Almeida
segunda-feira, 6 de agosto de 2007
"SOBRE A AMBIÇÃO"
Só
de pó
Deus o fez.
Mas ele, em vez
de se conformar,
quis ser sol, e ser mar,
e ser céu... Ser tudo, enfim.
Mas nada pôde! E foi assim
que se pôs a chorar de furor...
Mas ah! foi sobre sua própria dor
que as lágrimas tristes rolaram. E o pó,
molhado, ficou sendo lodo - e lodo só!
Guilherme de Almeida.
In "Meus versos mais queridos"
"SONETO"
Mas não passou sem nuvem de tristeza
esse amor que era toda a tua vida,
em que eu tinha a existência resumida
e a viva chama de minha alma, acesa.
Nem lemos sem vislumbre de incerteza
a página do amor, lida e relida,
mas pouquíssimas vezes entendida,
sempre cheia de engano e de surpresa,
Não. Quantas vezes ocultei a minha
dor num sorriso! Quanta vez sentiste
parar, medroso, o coração de gelo!
- É que nossa alma às vezes adivinha
que perder um amor não é tão triste
como pensar que havemos de perdê-lo.
Guilherme de Almeida
"Arco-Íris
Primavera.
Um pedaço de céu caiu na terra:
em tufos fofos de flocos frouxos frívolas hortênsias
volantes como crinolinas fúteis
desmancham-se em reverências
ou passeiam como sombrinhas lindamente inúteis
ou pousam empoadas de ar como pompons. O céu
é um grande linho muito passado no anil
que o vento enfuna num varal de vidro. Ele é o
toldo azul de um bazar
onde brinca vestido de ar
um clown elástico, ágil e sutil.
Guilherme de Almeida
in "Livro de estampas" (1.925)
"XXXII"
Quando a chuva cessava e um vento fino
franzia a tarde tímida e lavada,
eu saía a brincar, pela calçada,
nos meus tempos felizes de menino.
Fazia, de papel, toda uma armada;
e, estendendo meu braço pequenino,
eu soltava os barquinhos, sem destino,
ao longo das sarjetas, na enxurrada...
Fiquei moço. E hoje sei, pensando neles,
que não são barcos de ouro os meus ideais:
são feitos de papel, são como aqueles,
perfeitamente, exatamente iguais...
- Que os meus barquinhos, lá se foram eles!
Foram-se embora e não voltaram mais!
Guilherme de Almeida
"SPLEEN"
E a vida continua... E continua
o mesmo outono e o mesmo tédio... Os galhos
vão ficando tão nus, a alma tão nua,
e os meus cabelos pretos tão grisalhos!
Vem aí Dom Inverno... Vem com sua
neurastenia... Uns últimos retalhos
de folhas mortas passam pela rua:
e passa o bando dos meus sonhos falhos...
Triste inutilidade desta vida!
Uma árvore ainda espera, aborrecida,
uma impossível primavera... E ao ver
sua silhueta rendilhando o poente,
penso em alguém que espero inutilmente,
numa inútil vontade de viver!
Guilherme de Almeida
"FELICIDADE"
Ela veio bater à minha porta
e falou-me, a sorrir, subindo a escada:
"Bom dia, árvore velha e desfolhada!"
E eu respondi: "Bom dia, folha morta!"
Entrou: e nunca mais me disse nada...
Até que um dia (quando, pouco importa!)
houve canções na ramaria torta
e houve bandos de noivos pela estrada...
Então, chamou-me e disse: "Vou-me embora!
Sou a Felicidade! Vive agora
da lembrança do muito que te fiz!"
E foi assim que, em plena primavera,
só quando ela partiu, contou quem era...
E nunca mais eu me senti feliz!
Guilherme de Almeida
"DOR OCULTA"
Quando uma nuvem nômade destila
gotas, roçando a crista azul da serra,
umas brincam na relva; outras, tranqüila,
serenamente entranham-se na terra.
E a gente fala da gotinha que erra
de folha em folha e, trêmula, cintila,
mas nem se lembra da que o solo encerra,
da que ficou no coração da argila!
Quanta gente, que zomba do desgosto
mudo, da angústia que não molha o rosto
e que não tomba, em gotas, pelo chão,
havia de chorar, se adivinhasse
que há lágrimas que correm pela face
e outras que rolam pelo coração!
Guilherme de Almeida
"SILÊNCIO"
Silêncio — voz do amor, voz da alma, voz das cousas,
suave senhor dos céus, dos claustros e das grutas;
quebra-te o encanto o vôo, em trêmulas volutas,
do bando singular das lentas mariposas!
Silêncio — alma da dor de pálpebras enxutas;
reino branco da paz, dos círios e das lousas;
quando me calo, és tu, só tu, Silêncio, que ousas
falar-me, e quando falo, és só tu que me escutas!
Irmão gêmeo da morte, ó mística linguagem
com que se fala a Deus! Meu coração selvagem
segreda-te a impressão que à flor da alma resvala:
e tu lhe fazes, mudo, a confidência triste
que te faz a mudez de tudo quanto existe,
porque és, Silêncio, a voz de tudo o que não fala!
Guilherme de Almeida
"LONGEVIDADE"
Claros fios de prata em minha fronte,
Que tanto me abreviais a vida breve,
E os dias, que me leva o tempo leve
E que eu não quis contar, mandais que conte:
Se até mesmo do pranto a pura fonte,
Por que verter não possa quanto deve,
Vosso frio rigor converte em neve,
Quem há aí que vos fuja, ou vos afronte?
Esquecestes, entanto, brancos fios,
Que, quanto mais sois brancos, e mais frios,
Mais própria em vós se espelha a maravilha
De um sonho meu de luz, dourado e eterno:
Pois o sol é mais sol quando é inverno,
E a neve é menos neve quando brilha.
Guilherme de Almeida
segunda-feira, 30 de julho de 2007
'A SERENATA'
É a noite lenta,
sonolenta
a grande noite tropical...
O amor põe brotos,
como o lotus,
à flor do lago espiritual.
É a noite clara
feita para
O Bem-Amado e para mim:
A noite é um leito
todo feito
de linhos alvos e marfim...
Branco e tristonho,
no meu sonho,
ó Todo-Amado, és meu luar:
o luar de neve,
suave e leve,
da lua que há no meu olhar...
Entre os teus dedos
há segredos...
E as minhas mãos fanadas são
aves noturnas,
taciturnas,
fazendo ninho em tua mão
Os meus sentidos,
distendidos
ao teu contacto encantador,
são cinco cordas
com que acordas
no bojo da alma a voz do amor...
É a noite lenta,
sonolenta
a grande noite tropical...
O amor põe brotos,
como o lotus,
à flor do lago espiritual.
Guilherme de Almeida
'SAUDADE'
Só.
Para além da janela,
nem uma nuvem, nem uma folha amarela
manchando o dia de ouro em pó...
Mas, aqui dentro, quanta bruma,
quanta folha caindo, uma por uma,
dentro da vida de quem vive só!
Só - palavra fingida,
palavra inútil, pois quem sente
saudade, nunca está sozinho: e a gente tem saudade de tudo nesta vida...
De tudo! De uma espera
por uma tarde azul de primavera;
de um silêncio; da música de um pé
cantando pela escada;
de um véu erguido; de uma boca abandonada;
de um divã; de um adeus; de uma lágrima até!
No entamto, no momento,
tudo isso passa
na asa do vento,
como um simples novelo de fumaça...
E é só depois de velho, uma tarde esquecida,
que a gente se surpreende a resmungar:
"Foi tudo o que vivi de toda a minha vida!"
E começa a chorar...
Guilherme de Almeida
terça-feira, 17 de julho de 2007
ESPERANÇA
-Esperança
Eu dizia, a seguir devagarinho
pela estrada da vida: " Quem me dera
ter, como os outros, um olhar que espera
e um coração que não está sozinho!"
Em cada galho despertava um ninho
ao som da minha voz...E, aos poucos, era
como se uma encantada primavera
espiritualizasse o meu caminho...
Calei-me, então, maravilhado...E tudo
foi-se fazendo cada vez mais triste,
e eu fui ficando cada vez mais mudo...
Então senti que era infeliz, porque eu
apenas soube que a Esperança existe,
quando a Esperança desapareceu!
Guilherme de Almeida
domingo, 15 de julho de 2007
'DOR OCULTA'
Quando uma nuvem nômade destila
gotas, roçando a crista azul da serra,
umas brincam na relva; outras, tranqüilas,
serenamente entranham-se na terra.
E a gente fala da gotinha que erra
de folha em folha e, trêmula, cintila,
mas nem se lembra da que o solo encerra,
da que ficou no coração da argila!
Quanta gente, que zomba do desgosto
mudo, da angústia que não molha o rosto
e que não tomba, em gotas, pelo chão,
havia de chorar, se adivinhasse,
que há lágrimas que correm pela face
e outras que rolam pelo coração!
Guilherme de Almeida
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