A alma é um cenário.
Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca,
inundada de alegria.
Por vezes ela é como um pôr do sol...
triste e nostálgico.

-Rubem Alves-

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terça-feira, 4 de maio de 2010

" Aeroporto"


Tempo gigantesco é um dia,
para quem perdeu a viagem,
o endereço para onde iria,
seu bilhete, sua bagagem,

para sua alma não vadia,
tempo gigantesco é um dia,

para quem sonhava distância
da própria história e não consegue,
sem asco, lembrar-se da infância,

mesmo com Deus por companhia,
tempo gigantesco é um dia.


Alberto da Cunha Melo
do livro 'Meditação Sob os Lajedos'

sábado, 21 de fevereiro de 2009

CASA VAZIA



Poema nenhum, nunca mais,
será um acontecimento:
escrevemos cada vez mais
para um mundo cada vez menos,

para esse público dos ermos
composto apenas de nós mesmos,

uns joões batistas a pregar
para as dobras de suas túnicas
seu deserto particular,

ou cães latindo, noite e dia,
dentro de uma casa vazia.

Alberto da Cunha Melo

sábado, 23 de junho de 2007

"Schopenhauer"




Para cada sonho uma lápide
sóbria como o próprio cortejo,
depois disso, treinar seu cão
para morder qualquer desejo;
rasgada a farda da alegria
que, na batalha, o distraía,
agora a dor, em tempo célere,
pode estender, com dignidade,
sua cólera à flor da pele,
para sarjar com sua lança
tantos tumores da esperança.


Alberto da Cunha Melo
in "Meditação sob os Lajedos."

"Relógio de ponto"



Tudo que levamos a sério
torna-se amargo. Assim os jogos,
a poesia, todos os pássaros,
mais do que tudo: todo o amor.

De quando em quando faltaremos
a algum compromisso na Terra,
e atravessaremos os córregos
cheios de areia, após as chuvas.

Se alguma súbita alegria
retardar o nosso regresso,
um inesperado companheiro
marcará o nosso cartão.

Tudo que levamos a sério
torna-se amargo. Assim as faixas
da vitória, a própria vitória,
mais do que tudo: o próprio Céu.

De quando em quando faltaremos
a algum compromisso na Terra,
e lavaremos as pupilas
cegas com o verniz das estrelas.


Alberto da Cunha Melo
in Publicação do Corpo