A alma é um cenário.
Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca,
inundada de alegria.
Por vezes ela é como um pôr do sol...
triste e nostálgico.

-Rubem Alves-

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segunda-feira, 22 de setembro de 2008

'DESEJO ESTÉTICO'



A noite vem descendo ...
É a sombra de um mistério
que estende as asas no infinito do ar.
Na fímbria do horizonte,
qual branco lírio do jardim sidéreo
aparece o Luar.

Silêncio. A voz do sino
perdeu-se na amplidão. A sensitiva
reza, reza baixinho
para não despertar a patativa
que, entre as folhas do arbusto pequenino,
em doce embriaguez
dorme e sonha, talvez,
na volúpia do ninho.

O luar solitário
segue, tranqüilo, o curvo itinerário,
nas célicas regiões.
E eu sinto uma tristeza lancinante
ouvindo, a cada instante,
o adeus de nunca mais, das ilusões.

Passam auras em lânguidos queixumes,
doidejam pelo campo – os vaga-lumes,
o bosque emudeceu.
Só o rumor longínquo da cascata
repercute na mata
e a lua brilha no cetíneo céu.

Noite! Poema de estrelas! quem me dera
pelo azulado espaço,
entre as visões radiosas adejar
e, volvendo à remota primavera,
cingi-la, num supremo e longo abraço,
ao clarão do luar!


Emiliana Delminda
in 'Folhas Caídas'

'NA PRAIA'



Hora crepuscular. Soluça a voz dolente
das ondas, no sereno e doce marulhar:
Um fluído de tristeza infiltra-se no ambiente,
sombrio véu confunde a transparência do ar.

Longe do mundo vão e ao mundo, indiferente,
fito os olhos no abismo insondável do mar
e, enquanto o vento agita a espuma alvinitente,
minh’alma ascende à esfera estranha e singular ...

Desce a noite. Através das sombras, surge a lua.
Lá longe, no alto mar, um barquinho flutua
e o barqueiro, saudoso, entoa uma canção.


Emiliana Delminda
in 'Folhas Caídas'

terça-feira, 16 de setembro de 2008

'LUAR DE ABRIL’



Branco luar de Abril, falena aurifulgente
que espalmas no infinito as asas ideais,
teu lívido fulgor revive-me na mente,
o tempo que passou e que não volta mais ...

Cismando à tua luz, calma e serenamente,
um dia longe ouvi sonoros madrigais ...
Então, eram minh’alma um lago transparente
refletindo o esplendor das plagas siderais.

Crisântemo do azul, inspiração do poeta,
contemplando-te assim, dentro da noite quieta,
o mago rouxinol do Sonho ouvi cantar:

De um momento feliz a gente não se esquece,
branco luar de Abril, a alma não envelhece
e dentro de minh’alma esplende outro luar.


Emiliana Delminda
in ‘Folhas Caídas’
(1865-1963)

domingo, 31 de agosto de 2008

‘DEUS!’



Ouço a voz do Senhor na voz dos passarinhos,
nos gemidos da fonte e no rugir do mar:
Vejo-o na flor que nasce em meio dos espinhos,
no doirado clarão das noites de luar.


Sinto-o na tepidez benéfica dos ninhos,
no pálido fulgor da aurora no despontar:
Na relva que viceja na beira dos caminhos,
na hera, que se abraça no tronco secular.


Deus, na esmola que espalha a mão da caridade,
na esperança, na fé, no amor e na verdade,
no conjunto estelar iluminando os céus.


Deus! no celeste azul de esplêndida beleza,
nas folhas de oiro e luz da bíblia-Natureza,
porque tudo revela um Ser supremo – Deus!


Emiliana Delminda
in ‘Folhas Caídas’
(1865-1963)