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sábado, 13 de junho de 2015

o princípio em 1930: «-- Tem que esperar um bocadinho, 'mademoiselle' Odette -- disse Clara, a gentil empregada do "Cabeleireiro da Moda", muito elegante na sua bata e sorridente na face agarotada, a que un cabelos curtos, impossivelmente louros, oxigenados, davam um vago aspecto de costureira parisiense.»

Sobre O Preto do «Charleston» e Mário Domingues há muitos motivos de interesse. Foi um autor prolífico, com o seu próprio nome e sob uma panóplia de pseudónimos, alguns em língua inglesa, com que assinava os policiais, respondendo ao preconceito anglo-americano que o público impunha; foi jornalista freelancer, sendo um dos nomes importantes do anarco-sindicalista A Batalha; obteve enorme audiência com os seus trabalhos de divulgação histórica, editados na década de 1960 pela Romano Torres (e agora relançados pela Principia). 
Mário Domingues era negro, de São Tomé, desde criança a viver em Lisboa, onde estudou, sendo colega de escola do futuro célebre Repórter X (Reinaldo Ferreira). Imagina-se o que não seria os constantes desafios de inventiva entre estas duas mentes ágeis e inquietas...
O Preto do Charleston, pois: escrito por um negro, e publicado em 1930 (quantos homens de letras negros -- não me refiro a mulatos ou mestiços -- haveria então na ronceira Lisboa?); o charleston, assimilado ao jazz (música de pretos, pois então...); e as mulheres que durante essa década se emancipavam, com maior ou menor sucesso: lembro-me de Florbela Espanca, Diana de Liz, Maria Lamas, Judith Teixeira...
Quando o li pela primeira vez, fiquei decepcionado. Pareceu-me que ele se deixara inebriar pelos pelos vapores etíílicos e pelo fumo de Abdulas no ambiente concorrido e deletério dos clubes e cabarés com que Lisboa procurava disfarçava a tal ronceirice . Mas talvez mereça outra oportunidade.