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terça-feira, 1 de dezembro de 2015

microleituras

António Botto, mais conhecido como poeta, muitas vezes muito bom, outras poucas nem por isso, também escreveu contos para crianças. Estorinhas edificantes e pueris que resistiram mal à passagem do tempo, quer pelo léxico (é um problema recorrente dos livros para as crianças) quer pelo tom, distante, sério e moralista.
A edição, recente (o depósito legal é de 1996), é muito preguiçosa: não diz de onde foram extraídos os sete textos que compõem o livro, e é omisso quanto à autoria das ilustrações, que pela assinatura, vimos com dificuldade tratar-se de Alfredo Morais, um pintor académico do primeiro quartel do século passado, a condizer com o conjunto que nos é apresentado. A impressão dos desenhos é péssima.

o incipit do primeiro conto, «Os olhos do amor»: «Uma vez, uma cabrinha estava presa num curral, onde estava também um burro.»

ficha:
Autor: António Botto
título: os Olhos do Amor
colecção (dirigida por Salomé Almeida): «Colecção Céu Azul» #9
editora: Editorial Minerva
edição: 3.ª
local: Lisboa
ano: s.d.
págs.: 48
impressão: Editorial Minerva

terça-feira, 11 de junho de 2013

cabaz da Feira, em tempo de crise

Decidi este ano que não compraria livros acima de três euros. Se há crise, então Feira do Livro tem de ser sinónimo de pechinchas. Sem referir os dos crianços:

Anna Seghers, O Passeio das Raparigas Mortas (Vega)
António Botto, Os Olhos do Amor e Outros Contos (Minerva)
Arquimedes da Silva Santos, Cantos Cativos (Livros Horizonte)
Gabrielle Giuca, Barco Negro (Egeac / Museu do Fado)
Joaquim Lagoeiro, Viúvas de Vivos (Minerva)
Joel Serrão, Fernando Pessoa, Cidadão do Imaginário (Livros Horizonte)
Pedro Tamen, Os Quarenta e Dois Sonetos (Livros Horizonte)
Reinaldo Ferreira (Repórter X), Memórias de um Chauffeur de Taxi (Livros do Brasil)
Reinaldo Ferreira (filho), Poemas (Vega)
Sidónio Muralha, 26 Sonetos (Livros Horizonte)

segunda-feira, 11 de março de 2013

REMORSO (António Botto)

O céu de súbito pôs-se negro e o vento à solta, parecia querer derrubar montes, castelos e vidas. -- Eduardo, meu filho! gritou a mãe. E o pequeno que deixara de brincar, cego pela poeira e assustadíssimo pelo brusco desaparecimento da luz do sol, deitou a correr para casa. Batia-lhe de frente a ventania dificultando-lhe a corrida. Um remoinho de folhas secas ergueu-se, descompassado. Eduardo, chegou. -- Mas, vens a tremer, meu filho? -- Sim, minha mãe, tenho frio. E com efeito nessa manhã suavíssima de outono o vento fez-se cortante como nos dias baços, chuvosos, e doentios de Janeiro. Eduardo, a pouco e pouco, ia ficando tranquilo. Entretanto, o vento, numa lamúria desgrenhava as árvores, partindo-as, e a chuva, torrencial, dava-nos a impressão de alagar o Universo. Os relâmpagos iluminavam a terra e o céu. A casa estremecia e algumas telhas abalavam como flechas pelos ares. -- Não tenhas medo, meu filho. Deus protege o nosso ninho. Eduardo, então, desatou a chorar, e por mais que a mãe lhe perguntasse a causa daquele choro, não respondia, e sempre a chorar, lembrava-se, com certeza, do ninho de passarinhos que destruíra nessa manhã.

Os Contos de António Botto, 7.ª ed., Lisboa, Livraria Bertrand, s.d.