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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

4 ou 5 págs.: O PASSEIO DA SOMBRA

O narrador depara-se com uma sombra azulácea deambulando pelas ruas da cidade, sem o corpo correspondente. Segue-a, e testemunha a abordagem daquela a uma jovem com quem se cruza. Percebendo a perturbação da rapariga, seguindo a sombra o seu caminho, estabelece diálogo com ela, e confirma: não apenas viram ambos a sombra, como esta pertence(u) a uma pessoa querida da transeunte, o seu noivo, morto na guerra por uma carga de obus. O narrador esforça-se por continuar no encalço daquele espectro singular; quando este pára sobre um canteiro de flores, como que aspirando o perfume que exalavam, repara no seu perseguidor, estabelecendo com ele uma muda comunicação, que acabará no cemitério, à beira do túmulo do corpo que lhe pertencera. O remate final do conto faz uma optimista profissão de fé: a morte não mata a memória de nós nos outros...
O que sucede quando estes outros, por sua vez, deixam o mundo dos vivos, isso já não coube nessas linhas.

o incipit: «Era um pouco antes do meio-dia.»
um parágrafo: «Recuei de imediato com medo de pisá-la. Receava fazer-lhe mal. Sentia uma piedade imensa pelo abandono. Mas, de repente, num acto de correspondência inexplicável, pareceu-me que ela me dava a entender que era feliz, e que os seus soluços outra coisa não eram que soluços de ventura, que havia nela uma vida imortal que lhe permitia sobreviver ao corpo desaparecido e enlear-se em tudo o que este havia acarinhado. A felicidade dessa sombra era feita da sua presença nesses locais que havia frequentado.»

Guillaume Apollinaire, «O passeio da sombra», O Rei Lua [1916], tradução de Luís Alves da Costa, Lisboa, Vega, s.d., pp. 67-71.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

como uma pastilha

«Estava igualmente nua e, como estava inclinada, a sua posição fazia sobressair um belo cu muito redondo, moreno e aveludado, cuja pele fina estava tão esticada que parecia prestes a estalar. Entre as duas nádegas alongava-se o sulco bem fendido e peludo de morena, onde se distinguia o buraco proibido redondo como uma pastilha.»

Guillaume Apollinaire, As Onze Mil Virgens (1907)
tradução: Maria Manuel Moura

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

na periferia

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«Com efeito, o príncipe Vibescu caminhava como se pensa em Bucareste que caminham os Parisienses, isto é em passinhos apressados e rebolando as nádegas. É encantador! e quando um homem caminha assim em Bucareste, nenhuma mulher lhe resiste, mesmo a esposa do Primeiro Ministro.»

Guillaume Apollinaire, As Onze Mil Virgens (1907)
tradução: Maria Manuela Moura