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Ainda sobre a abulia de Simplício Varandas: o carácter fraco e pacífico mal visto no seio de uma vila alentejana, dobrada já a metade do século passado:
«Lembra-se dos conselhos do seu compadre Crispim: "Dá-lhe dois murros bem puxados, bem tesos, Simplício. Há mulheres que só assim é que se vergam à vontade da gente. Casca-lhe uma sova com um pau de marmeleiro, que ela tem bom corpo para aguentar pancada. Fica descansado que o génio há-de arrefecer-lhe."»
Mas Simplício não era homem para bater em mulheres; queria o amor da sua, e escapava-lhe a razão de tanto azedume da parte de Olímpia. Por isso, quando a loba com a carne em desassossego o chama para si, os brios pedem-lhe desforço:
«Nunca mais seriam capazes de contar-lhe histórias de mentiras... Mas amanhã, quando o Crispim viesse com a mesma lamúria: "ouve, Simplício, anda para aí uma corja a rosnar isto e aquilo...", ele lhe diria, muito simplesmente: "Era melhor que te metesses na tua vida, compadre! Não te admito, ouviste?!" E voltava-lhe as costas, ou então, punha-se direito, com o punho cerrado e lá vai obra, batia-lhe, cansava-se a bater-lhe mesmo!»
Isto era uma analepse do narrador, pois nós, leitores, sabemos que Olímpia entretanto saíra de casa.
Antunes da Silva, Suão (1960)