segunda-feira, 29 de julho de 2013

"Sofri demais para poder mentir."

As Memórias da Grande Guerra (1919), de Jaime Cortesão -- obra-prima absoluta pela densidade poética que empresta ao testemunho vivido e sofrido, e pelo altíssimo valor literário. Oficial-médico voluntário na Flandres, tomou parte na sangrenta Batalha do Lys (na qual viria, aliás, a perder os apontamentos para estas memórias, reconstituídas com recurso a cartas e às reminiscência desta experiência-limite). Relato impressionante e inesquecível, apesar de alegremente desconhecido da maior parte dos leitores portugueses, o centenário que se avizinha é um bom pretexto para a reedição; embora não devêssemos necessitar de efemérides para ler, fruir e cultivar o que de melhor a nossa literatura tem.
«Direi apenas o que vi e ouvi. Sofri demais para poder mentir.»

quinta-feira, 25 de julho de 2013

ficheiro: ANTOLOGIA PORTUGUESA E BRASILEIRA

título: Antologia Portuguesa e Brasileira
antologiador: Evaristo Pontes dos Santos
autores: Gonçalves Dias, Tomás Ribeiro; Afonso Celso, Alberto de Oliveira, Antônio Carlos, Artur Azevedo, Augusto de Lima, Bernardino Lopes, Carmen Cinira, Castro Alves, Catulo da Paixão Cearense, Cruz e Sousa, Da Costa e Silva, Gonçalves Crespo, Gregório de Matos, Hermes Fontes, Iracema Nunes de Andrade, Jorge de Lima, Laurindo Rabelo, Lisette Villar de Lucena Tacla, Machado de Assis, Manuel Bandeira, Manuel Botelho de Oliveira, Olavo Bilac, Olegário Mariano, D. Pedro II, Raimundo Corrêa, Raul de Leoni, Rita de Lara, Rui Barbosa; Afonso Lopes Vieira, Alexandre Herculano, Almeida Garrett, Antero de Quental, António Correia de Oliveira, António Nobre, António Sardinha, Padre António Vieira, Augusto Gil, Manuel Maria Barbosa du Bocage, Luís de Camões, Cândido Guerreiro, Fernanda de Castro, Fernando Pessoa, Florbela Espanca, D. Francisco Manuel de Melo, Guerra Junqueiro, João de Deus, José da Silva Dinis, José Duro, Júlio Dantas, Ramiro Guedes de Campos, Anónimo.   
género: Poesia
categorias: Literatura brasileira; Literatura portuguesa
local: Porto
edição: do antologiador
ano: 1974
impressão: Escola Tipográfica da Oficina de S. José, Porto
pags.: 236
capa: autor não identificado

domingo, 21 de julho de 2013

do sentimento trágico da vida

Manuel da Fonseca é, sempre foi, o meu escritor de eleição da geração neo-realista de 40. Os romances, os contos, os poemas surgiram como se não fossem trabalho literário de um iniciante (como, ao tempo, notou João Pedro de Andrade). As suas personagens, os seus ambientes têm os contornos épicos e trágicos que lhes dá não apenas a desgraça da extrema pobreza alentejana, mas também um porte digno de muitos desses desvalidos, que lhes alimenta a propensão para a revolta. Revolta contra o que é mais forte do que eles, revolta, por vezes, nem sabem bem contra quê:
«Seca e breve como uma chicotada, a praga rompe dos lábios azedos da velha: /-- Raios partam este vento!/ Por instantes, as duas mulheres entreolham-se. A velha de punho no ar, a boca ainda aberta pelo grito. [...]» Seara de Vento (1958).

quinta-feira, 11 de julho de 2013

12x25

capa: Roberto Nobre
um automóvel em que o ferido foi transportado, com o máximo cuidado, para o hospital.
     Chegou ali ainda com vida. Verificou-se então que era o Luís de Campos, muito conhecido em tôda a cidade, o qual recebera uma punhalada ou facada, vibrada pelas costas, um pouco abaixo da omoplata do lado direito.
     As autoridades da investigação policial acudiram ràpidamente e puderam ainda ouvir da sua bôca, em palavras já entrecortadas pelos soluços da morte, que, ao passar naquela rua, por onde às vezes seguia em direção a sua casa, na rua de S. Caetano, se sentira

Lourenço Cayolla, Esfinge, Porto, brinde de Civilização #12, s.d., p. 25, ls. 1-12.