sábado, 30 de março de 2013

A cara feia da guerra

A guerra rasura todos os sentimentos, a começar pelo da compaixão. Expressão literária de experiência limite nas trincheiras da Flandres, de raiz autobiográfica, não admira o auto-de-fé que o nazismo lhe destinou. Por detrás da cara feia da guerra está o rosto sujo de quem a promove e provoca; no meio deste esgoto, apenas a flor da camaradagem.

Erich Maria Remarque, A Oeste Nada de Novo [1929], trad. Mário C. Pires, Mem Martins, Publicações Europa-América, s.d.

terça-feira, 26 de março de 2013

O CONDE DE RESENDE, O FEITOR E OS POMBOS

O caso passou-se com o conde de Resende, espírito de elevada ilustração, grande amigo e cunhado de Eça de Queirós.
Visitando um dia uma das suas propriedades, foi na visita acompanhado pelo feitor, que tinha presunção de muito bem falante.
A certa altura, levantou-se uma revoada de pombos torcazes.
O conde perguntou, admirado:
Donde vieram para aqui estes pombos torcazes?
E o feitor:
-- Querem dizer alguns autores que estes pombos são oriundos da Ibéria. Erro profundo. Torcazes... a palavra o diz, são da Turquia.

D. Alberto Bramão, Últimas Recordações, Lisboa, edição de Adelaide Bramão, 1945.

segunda-feira, 25 de março de 2013

12x25

pontificem de 21 de Julho de 1554, proibia que de futuro que de futuro fossem pedidos à Santa Sé juízes especiais, em qualquer instância per viam gravamis et appellationis. Ficavam assim inibidos de tal acto os clérigos minoristas, ou de ordens sacras, benefeciados regulares, seculares ou leigos, a não ser que essa prerrogativa excepcional fosse concedida pelo Papa com a cláusula de moto próprio e por ele assinalada.
     Pouco depois criava-se o tribunal da legacia ou da nunciatura que julgava «em segunda instância as causas eclesiásticas das metrópoles e dos isentos, e em terceira e última instância as das outras dioceses.

Eduardo Brazão, Relações Externas de Portugal no Reinado de D. João V, vol. II, Porto, Livraria Civilização, 1938, p. 25, ls. 1-12.

sexta-feira, 22 de março de 2013

O QUE É GRAVE

Quando não se fala inglês
ouvir falar de um bom romance policial inglês
que não foi traduzido para alemão.

Ver, quando faz calor, uma cerveja
que não se pode pagar.

Ter um novo pensamento
que não se pode embrulhar num verso de Hölderlin
como fazem os professores.

Em viagem, à noite, ouvir bater as ondas
e dizer para si que elas sempre o fazem.

Muito grave: ser convidado,
quando lá em casa há mais sossego,
o café é melhor
e não é preciso conversar.

O mais grave de tudo:
não morrer no Verão,
quando tudo é claro
e a terra é leve para a enxada.

50 Poemas de Gottfried Benn, versão de Vasco Graça Moura, Lisboa, Relógio d'Água, 1998.




terça-feira, 19 de março de 2013

Para o fim do Verão daquele ano vivíamos numa aldeia que, para lá do rio e da planície, confrontava as montanhas.

Para o fim do Verão daquele ano vivíamos numa aldeia que, para lá do rio e da planície, confrontava as montanhas. No leito do rio havia seixos e pedregulhos secos e brancos ao sol e a água clara corria suavemente pelos canais. Passavam tropas em frente da casa e desciam a estrada, e a poeirada que levantavam cobria as folhas das árvores. Os troncos das árvores estavam também cobertos de pó e as folhas caíram cedo naquele ano e víamos as tropas marchando pela estrada fora e o pó que se levantava e as folhas levantadas pela brisa caíam sobre os soldados em marcha e depois a estrada deserta e branca sem nada além das folhas.

Início de  O Adeus às Armas  (1929), de Ernest Hemingway, trad. Adolfo casais Monteiro, Lisboa, Editora ulisseia, s.d. 

Fecharam os telhais.

Fecharam os telhais. Com os prenúncios de Outono, as primeiras chuvas encheram de frémitos o lodaçal negro dos esteiros, e o vento agreste abriu buracos nos trapos dos garotos, num arrepio de águas e de corpos. também sobre os fornos e engenhos perpassou lufada desoladora, que não deixava o fumo erguer-se para o alto. Que indústria como aquela queria vento, é certo; mas sol também. Vento para enxugar e sol para calcinar -- sentenciavam os mestres. Mas os sol andava baixo: não calcinava o tijolo, nem as carnes juvenis da malta.

Início de Esteiros (1941), de Soeiro Pereira Gomes, Mem Martins, Publicações Europa-América, 5.ª ed., 1974.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Conhecer as condições...

Conhecer as condições específicas e próprias da sociedade política e económica brasileira: não é para o público culto português um escusado diletantismo de ociosidade literária; antes, importa interesse decisivo, desde que esteja demonstrado que Portugal não possa, na fas histórica não só ainda não conclusa mas apenas esboçada, prescindir da tradicional correlacionalização com o Brasil.

Início de O Brasil Mental [1898], de Sampaio Bruno, Porto, Lello Editores, 1997.

domingo, 17 de março de 2013

Ei-la, pois, aqui, neste momento --

Ei-la, pois, aqui neste momento -- tudo parece natural ainda; venho olhá-la a cada instante, mas amanhã levá-la-ão, e como hei-de eu ficar sozinho? Neste momento ela está na saleta, em cima da mesa, juntaram-se duas mesas de jogo, mas o seu caixão, amanhã, será todo branco e a sua mortalha de tafetá será pálida; aliás, não é disso que se trata... Não paro, para cá e para lá, a ver se consigo explicar-me a mim mesmo o que se passou: há quase seis horas que procuro essa explicação sem conseguir coordenar as minhas ideias. No fundo, nada mais faço senão ir e vir, ir e vir... Eis como as coisas se passaram. Procederei com método. (Com método!) Deus meu, não tenho nada de um escritor, e isso vê-se bem, mas, que importa?, contarei as coisas tal como as compreendo. Mas, o que é para mim mais espantoso, é que eu compreendo tudo!

Início de Está Morta!, de Fiódor Dostoiévski, trad. João Gaspar Simões,  Lisboa, Editorial Inquérito, 1940.

sábado, 16 de março de 2013

Um livro de despedida.


O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway (1952) Relato pungente da luta do velho pelo último grande peixe. O respeito do homem pelo animal, possivelmente como sucede entre touro e toureiro. Como alguém notou: uma metáfora do próprio acto de escrever. Um livro de despedida.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Para sempre.


Para sempre. Aqui estou. É uma tarde de verão, está quente. Tarde de Agosto. Olho-a em volta, na sufocação do calor, na posse final do meu destino. E uma comoção abrupta -- sê calmo. Na aprendizagem serena do silêncio. Nada mais terás de aprender? Nada mais. Tu, e a vida que em ti foi acontecendo. E a que foi acontecendo aos outros. É a História que se diz? Abro a porta do quintal. É um portão desconjuntado, as dobradiças a despegarem-se. Há muito tempo já que aqui não vinhas. Sandra era da cidade, gostava da capital, detestava a vida da aldeia. Lá ficou.

Início de Para Sempre [1983], de Vergílio Ferreira, 11.ª ed., Venda Nova, Bertrand Editora, 1998.

quinta-feira, 14 de março de 2013

N

NARIZ, n. O derradeiro posto avançado da cara. Baseando-se no facto de os grandes conquistadores terem grandes narizes, Getius, cujos escritos são anteriores à idade do humor, chama ao nariz o órgão da opressão. Tem sido observado que os momentos de maior felicidade do nariz ocorrem quando este está metido nos assuntos de outras pessoas, o que leva alguns fisiologistas a inferir que o nariz é desprovido de olfacto. 
NASCIMENTO, n. O primeiro e o mais terrível de todos os desastres.
NATAL, n. Um dia assinalado e dedicado à gula, à embriaguez, ao sentimentalismo, à troca de presentes, ao aborrecimento público e ao mau comportamento privado.
NEPOTISMO, n. Nomear a própria avó para um cargo público, pelo bem do partido.
NEWTONIANO, n. Relativo a uma filosofia do universo inventada por Newton, que descobriu que uma maçã cai ao chão, embora não tenha sabido explicar porquê. Os seus sucessores e discípulos avançaram até ao ponto de nos conseguirem dizer quando é que ela cai.
NIRVANA, n. Na religião Budista, um estado de beatitude concedido aos sábios, sobretudo àqueles que são suficientemente sábios para o compreenderem.
NOIVA, n. Uma mulher com excelentes perspectivas de felicidade atrás de si.
NOVEMBRO, n. O décimo primeiro duodécimo de uma fadiga.

Ambrose Bierce, Dicionário do Diabo, selecção e tradução de Rui Lopes, Lisboa, Tinta da China, 2006.

quarta-feira, 13 de março de 2013

O Granico, Isso, Arbelos...

O Granico, Isso, Arbelos... três pancadas retumbantes percutidas no palco do mundo, -- e o pano sobre para a representação de um dos episódios mais prodigiosos da História Universal.

Benoist-Méchin, Alexandre Magno, trad. A. Guimarães, Porto, Lello & Irmão, 1980. 

segunda-feira, 11 de março de 2013

REMORSO (António Botto)

O céu de súbito pôs-se negro e o vento à solta, parecia querer derrubar montes, castelos e vidas. -- Eduardo, meu filho! gritou a mãe. E o pequeno que deixara de brincar, cego pela poeira e assustadíssimo pelo brusco desaparecimento da luz do sol, deitou a correr para casa. Batia-lhe de frente a ventania dificultando-lhe a corrida. Um remoinho de folhas secas ergueu-se, descompassado. Eduardo, chegou. -- Mas, vens a tremer, meu filho? -- Sim, minha mãe, tenho frio. E com efeito nessa manhã suavíssima de outono o vento fez-se cortante como nos dias baços, chuvosos, e doentios de Janeiro. Eduardo, a pouco e pouco, ia ficando tranquilo. Entretanto, o vento, numa lamúria desgrenhava as árvores, partindo-as, e a chuva, torrencial, dava-nos a impressão de alagar o Universo. Os relâmpagos iluminavam a terra e o céu. A casa estremecia e algumas telhas abalavam como flechas pelos ares. -- Não tenhas medo, meu filho. Deus protege o nosso ninho. Eduardo, então, desatou a chorar, e por mais que a mãe lhe perguntasse a causa daquele choro, não respondia, e sempre a chorar, lembrava-se, com certeza, do ninho de passarinhos que destruíra nessa manhã.

Os Contos de António Botto, 7.ª ed., Lisboa, Livraria Bertrand, s.d.

domingo, 10 de março de 2013

12x25

     Em Berchtesgaden, certo dia, Hitler virou-se para mim e disse: «Como é que fico de suíças?» Speer riu-se e Hitler sentiu-se insultado. «Estou a falar muito a sério, Herr Speer», disse. «Julgo que devo ficar bem de suíças.» Goering, esse palhaço servil, concordou imediatamente, dizendo: «O Führer de suíças -- que excelente ideia!» Speer discordou de novo. Ele era, de facto, o único com integridade suficiente para dizer ao Führer quando precisava de cortar o cabelo. «Dá demasiado nas vistas», continuou Speer. «Suíças é o tipo de coisas que eu associo a Churchill.» Hitler ficou exasperado. Queria saber se Churchill estava a pensar deixar crescer suíças e, se assim fosse, quantas e quando. Himmler, a quem estavam suposta-[mente]

Woody Allen, Para Acabar de Vez com a Cultura  (1966), trad. Jorge Leitão Ramos, 4.ª ed., Amadora, Livraria Bertrand, 1981, p. 25, ls. 1-12.

Ao cair de uma tarde de Dezembro, chuvoso, frio...


Ao cair de uma tarde de Dezembro, chuvoso, frio, açoutado do sul e sem contrafeitos sorrisos de primavera, subiam dois viandantes a costa de um monte por a estreita e sinuosa vereda, que pretensiosamente gozava das honras de estrada, à falta de competidora, em que melhor coubessem.

Início de a Morgadinha dos Canaviais, (1868) de Júlio Dinis, Porto, Livraria Civilização, 1987.

sexta-feira, 8 de março de 2013

NA SOMBRA

Este Jean Jacques Brousson, o provinciano astuto e erudito, «negro como um cacho de moscatel seco», que se deixou assimilar por Anatole France, durante seis anos de colaboração e de intimidade, vingou-se dos maus tratos que o mestre deu à sua paciência de investigador, publicando o livro Anatole en pantoufles.
Nesses seis anos, pode dizer-se que Brousson não viveu da sua própria vida, porque via pelos olhos de Anatole e falava pela sua boca.
Foi o caso mais flagrante de absorção que registam os anais literários.
Napoleão dizia que não havia grandes homens para os seus criados de quarto.
Creio bem que o doméstico de Napoleão, ao vê-lo em ceroulas, lhe custasse a acreditar que aquele homenzinho ridículo pudesse governar o mundo.
No livro de Brousson vemos o divino Anatole reduzido a um pândego sensualão, facilmente gabarola das suas boas fortunas com mulheres, vaidoso e forreta.
Liberto pela morte do seu senhor, o escravo acentua a sua nova personalidade, despojando o ídolo das suas roupagens sumptuosas e apresentando-o, para gáudio dos amadores de escândalo, em trajes de andar por casa.
Mas o espírito de Anatole France tem uma luz tão intensa, que o sr. Brousson, deslumbrado, só pôde despi-lo na sombra... à traição.

Mercedes Blasco, Querem Saber?, Lisboa, J. Rodrigues & C.ª, 1928.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Antes de ir buscar o automóvel, Pierre Dupont quis levantar dinheiro na caixa automática.

Antes de ir buscar o automóvel, Pierre Dupont quis levantar dinheiro na caixa automática. O aparelho aceitou o seu cartão e autorizou-o a levantar mil e oitocentos francos. Pierre Dupont carregou na tecla 1800. O aparelho pediu-lhe que esperasse um instante, depois entregou-lhe a soma estabelecida, lembrando-lhe que retirasse o cartão. "Obrigado pela sua visita", concluiu, enquanto Pierre Dupont guardava as notas na carteira.

Início de Não-Lugares -- Introdução a uma Antropolia da Sobremodernidade (1992), de Marc Augé, trad. miguel serras Pereira, s.l., 90º, 2006.

quarta-feira, 6 de março de 2013

ORLANDO - dois ou três tweets


* Com livros assim, com tanta ponta por onde se pegar, e sem tempo nem engenho para o fazer, cinjo-me a dois ou trêstweets a propósito de Orlando -- Uma Biografia, de Virginia Woolf, que debatemos na última sessão do Clube de Leitura do Museu Ferreira de Castro.
* O modernismo da obra, rejeitando as evidências realistas (o romance vitoriano é ironicamente caracterizado);
* Um humor refinadamente impiedoso, um wit muito Grupo de Bloomsbury (ou do imaginário que dele persiste);
* As implicações psicanalíticas do dualismo sexual da personagem central, o Orlando / a Orlando -- cuja dualidade, aliás, parece cingir-se apenas aos órgãos reprodutores;
* A rarefacção do tempo da narrativa, um longo período que vai da época isabelina ao próprio dia em que o livro saiu do prelo, 11 de Outubro de 1928.
* O génio literário de Virginia Woolf, em que a vida ("o que é a Vida?", pergunta-se em várias ocasiões) é literatura; a escrita como apaziguamento de pulsões interiores e conhecimento de si; o estilo precioso, filigranado, rigorosamente medido: «Devemos moldar as nossas palavras até que sejam o mais fino invólucro dos nossos pensamentos.» (p. 123).
* Génio literário que a tradução de Ana Luísa Faria me parece servir exemplarmente, a ponto de ficarmos com a vontade de ir a correr buscar o texto original.

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Em Er-leben [viver ou assistir a] existe um sentido primitivo de carácter activo, tal como em Er-reichen [atingir], Er-eilen [alcançar]; mas já ninguém o ouve e fizemos daí uma mera forma passiva.

Transfere-se facilmente (diz algures Hebbel) o respeito pelo elemento que é do domínio de uma pessoa para essa mesma pessoa. Ele di-lo com referência especial a Adam Müller e Gentz, mas acerta aqui em algo que constitui uma verdade geral.

Argos, com os seus cem olhos, era um ser sem ocupações, como o seu nome indica [a palavra grega argos significa «inactivo»]. Não é, por isso, motivo de glória que um espectador possa ajuizar melhor de certas coisas que aqueles que as têm entre mãos; e para estes não é nenhuma vergonha se melhorarem a sua forma de manipular as coi-[sas]

Hugo von Hofmannsthal, Livro dos Amigos, trad. José A. Palma Caetano, Lisboa, Assírio & Alvim, 2002, p. 25, ls. 1-12.

terça-feira, 5 de março de 2013

E a bagagem, trazida por três carroças atulhadas, foi dispersa pelos aposentos de ambos os pisos...

E a bagagem, trazida por três carroças atulhadas, foi dispersa pelos aposentos de ambos os pisos, obedecendo à numeração que neles se fixara, baseada num código que me pareceu insolitamente arbitrário. Eram grandes caixotes de pinho, arvorando o nome e o endereço do destinatário, desenhados a zarcão, além de malões e de malas e de maletas e de caixas de chapéu, a ostentar numa placazinha de metal as simples iniciais EQ, gravadas em caracteres de esmero particular. Andaram por aí seis ou sete almocreves, largando bastante lama pelos soalhos, manobrando as cordas e retesando os músculos dos braços, exasperadamente sardentos ou desmaiadamente pálidos, e ficou possuída a casa do sangue e da alma do seu novo ocupante.

Início de as Batalhas do Caia, de Mário Cláudio, Lisboa, Publicações dom Quixote, 1995.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Difícil não será visionar Cascais na época gloriosa da sua História...

Difícil não será visionar Cascais na época gloriosa da sua História, quando D. Pedro I, satisfazendo o pedido dos seus homens bons, lhe outorga, a 7 de Junho de 1364, a solicitada autonomia administrativa. Na enseada que se estendia ao longo das suas penedias, defendida por forte baluarte, baloiçavam, agitadas pela nortada ou na quietude das suas águas calmas, caravelas pescarescas ou de pescar, tão usadas já, então, no Algarve (caíques); frágeis embarcações e pequenos barcos de velame latino e triangular, que, com o rodar dos tempos, vieram a tomar o feitio das actuais canoas, lanchas e traineiras. De tempos a tempos, o pavor lançava a tristeza àquele povo bom e ordeiro. A pirataria surgia e tudo devastava. Não raro se verificaram surtidas dos Mouros e dos Normandos... e, mais tarde, das próprias galés de Veneza, quando estas não vinham comerciar devidamente autorizadas.

Ferreira de Andrade, Cascais -- Vila da Corte -- Oito Séculos de História [1964], ed. fac-similada, Cascais, Câmara Municipal, 1990.

sábado, 2 de março de 2013

Les colines, sous l'avion, creusaient déjà leur sillage d'ombre dans l'or du soir.

Les colines, sous l'avion, creusaient déjà leur sillage d'ombre dans l'or du soir. Les plaines devenaient lumineuses mais d'une inusable lumière: dans ce pays elles n'en finissent pas de rendre leur or de même qu'après l'hiver, elles n'en finissent pas de rendre leur neige.

Início de Vol de Nuit (1931), de Antoine de Saint-Exupéry, Paris, Gallimard, 1981.