É grande a soma de factos que me têm levado ao longo destes anos (o fenómeno não é recente e é seguramente bem mais antigo que o KL...) a questionar a minha participação no SCP. Quem segue este blogue pôde ir lendo os sinais e sentindo os motivos do meu crescente descontentamento e com o modo como as coisas se vêm processando no Clube, mas no espaço de cerca de uma semana dois acontecimentos, duas gotas, fizeram transbordar definitivamente a taça.
Em primeiro lugar, a questão do famigerado processo Apito Dourado. Os resultados de toda esta inenarrável saga são os que todos conhecemos. Parece provado agora que não há vontade nenhuma de resolver o problema suscitado por este processo e que, quiçá, o mesmo foi levantado para diluir os detritos acumulados. Está plenamente provado que ninguém quer tomar as medidas verdadeiramente profiláticas imprescindíveis para que os "apitos" não voltem a piar. Ninguém parece querer, de facto, agir no caso da corrupção no futebol português. Buscam-se bodes expiatórios, encontram-se pobres carneiros para o sacrifício, mas está amplamente demonstrado que não há coragem para atacar o problema de frente. Tudo vai ficar pelas meias tintas, pelas meias medidas e pelo compromisso comprometedor. Os tubarões continuam, a voz até se lhes engrossa, e não se pressente uma única medida política ou jurídica que permita concluir que o cancro foi ou vai ser definitivamente extirpado. O bagunça e os seus responsáveis vão continuar. O futebol português vai continuar a ter os mesmos personagens e o mesmo enredo. Não percebo, francamente, como é que os apaixonados do desporto e, em particular, dos amantes do futebol, podem dormir de consciência tranquila, sem reacção perante tudo isto.
Conseguimos ultrapassar as expectativas: atingiu-se hoje o ponto mais baixo da credibilidade do futebol português. É hoje, em 2008, que o futebol português demonstra ser menos credível do que jamais foi. E porquê? Porque hoje toda a gente conhece os factos sobre os quais dantes apenas se davam palpites. Hoje já não há suspeitas, há certezas. Já ninguém pode gritar, como tantas vezes ouvimos de forma cobarde: então provem!! É que hoje está tudo amplamente provado. Só cambalhotas jurídicas, actuações titubeantes e a inimputabilidade crónica de que gozam os protagonistas de toda esta badalhoquice permitem que o barco do futebol vá permanecendo à tona de água.
E há ampla margem de manobra de actuação e plena justificação para o fazer. Mas, pelo que conseguimos perceber, ninguém está de facto disposto a varrer a tal podridão. Até o paladino da vassoura decidiu voltar para ajudar, viabilizando com a sua presença a manobra de esconder o lixo para debaixo do tapete... A estrutura do futebol português é corrupta de alto a baixo. Não é um epifenómeno, nem uma questão marginal ou conjuntural. É um problema estrutural: futebol é corrupção!
O estado calamitoso do futebol português afecta e ajuda TODOS os clubes! O Sporting incluído. Como puderam os sucessivos dirigentes do Sporting viver com a "porcaria" que ia pelo futebol português sem provcar uma fractura total com todas as estruturas e pessoas que têm dominado o futebol português ao longo destes anos? Como pôde o Sporting sentar-se calmamente à mesma mesa com os personagens que hoje se sentam no banco dos réus? Terá sido por acaso que da parte do Clube, com excepção da voz corajosa, mas efémera, de Dias da Cunha, só ouvimos um silêncio oficial?
Por inépcia, certamente, mas também por conivência, por conveniência ou por estarem também, quem sabe, metidos no caldinho, os dirigentes do Sporting mantiveram-se sempre calados, ou, quando muito, fizeram simples declarações de circunstância, sempre inócuas. Na prática, ajudaram a montar, pelo menos por falta de comparência, premeditada ou não, o actual status quo. E beneficiaram dele. Quando se diz que o Sporting não foi afectado pela escandaleira do Apito omite-se este facto... Quando falo em benefícios, refiro-me, claro, aos dirigentes, porque os adeptos e sócios dos clubes são sempre lesados, mas isso é outra conversa.
A suspeição no futebol português não acabou. É hoje aliás maior do que nunca, e é também hoje mais claro que nunca que o mundo do futebol é fabricado pelos controleiros do negócio.
O futebol português vive da mentira, o Sporting está metido, por omissão, por falta de estatuto ou de força, por interesses escondidos, incapacidade ou conivência, nesta mentira. Não se vê, no plano da organização desportiva em Portugal possibilidade de pôr fim a isto, e não se vê nos actuais dirigentes capacidade, interesse ou independência para contrariar toda esta situação.
E, por falar em controleiros do negócio, isso leva-nos à segunda gota que fez transbordar a taça...
Recentemente concretizou-se a tal operação "Sporting SAD 2011". Quanto ao significado e consequências que todo este processo tem e terá para o Clube é matéria que já foi amplamente discutida aqui e noutros blogues. O que me chocou desta feita, profundamente, foram as declações do presidente do SCP, Filipe Soares Franco. Disse ele que esta operação foi "importante na medida é que se renova o empréstimo obrigacionista e é importante o número de subscritores que ultrapassaram a oferta, [porque] demonstra que há muito público dentro e fora da família sportinguista que tem confiança na SAD do Sporting e na performance que ela pode fazer" (meus sublinhados). "A empresa é credível (e) os bancos fizeram um trabalho extraordinário", acrescentou sua excelência.
Nem uma palavra para os Sportinguistas, sem os quais e sem o dinheiro dos quais a SAD não seria nem pó! Sem os quais e sem o dinheiro dos quais esta fantasia "comercial" em que andamos metidos não chegaria sequer à categoria de vaporware, quanto mais de negócio.
Claro que Soares Franco disse que um dos outros motivos pelos quais a operação tinha sido um sucesso seria porque o "produto é bom". Mas não creio que se estivesse a referir aos Sportinguistas... Acredito que para ele (pelo menos, assim, de forma explícita) os Sportinguistas ainda não sejam "produto"! Aliás duvido que os génios da gestão sportinguista saibam o que é o "produto" do Sporting...
Ou seja, estamos perante um sucesso viabilizado exclusivamente pelo facto de haver uma família Sportinguista, que directa ou indirectamente paga tudo isto, inclusivamente as situações de privilégio de que alguns beneficiam amplamente, mas nem por isso o presidente do Sporting teve uma palavra para... a família Sportinguista! Dignos de todo o crédito foram os bancos e a SAD... Caiu definitivamente a máscara.
Que significado terá a expressão "família Sportinguista" para esta criatura? E o que pensa a verdadeira família Sportinguista deste arauto das virtudes da banca e da empresa? Estará o presidente do Sporting a prestar tributo do respeito que deve totalmente à família quando elogia desta forma efusiva os bancos e a SAD? E, a propósito, o que restará para o Sporting Clube de Portugal, a galope do qual tudo isto cavalga, daqueles 19 milhões que vão ser encaixados?
Nós aqui bem andamos a avisar os Sportinguistas que insistem em deixar-se tratar como mercadoria que irão sofrer, mais tarde ou mais cedo, e pagar as consequências desta sua leviandade. Mas, a maioria parece querer olhar para o lado, ou manter uma posição profundamente hipócrita relativamente a tudo isto. Alguns até vieram papaguear a conversa da administração, elogiando a "credibilidade" da SAD. Esqueceram-se que a "credibilidade" da SAD somos nós!!
O Sporting é os Sportinguistas e estes andam desnorteados. Uma minoria de sócios aplaude este processo. Uma outra parte, não sabemos quantos, vive bem com tudo isto. Outros, finalmente, estão desgostosos com o caminho que o Sporting tomou. Eu também.
Mas, não posso, em consciência, pactuar com esta mentira. Para mim, o Sporting é um assunto demasiadamente sério para eu poder continuar a colaborar nesta fantochada toda.
Não posso admitir que os lucros deste negócio, que apenas tem viabilidade porque uns quantos trouxas engolem sapos, ou vão hipocritamente assobiando para o lado, vão parar ao bolso dos predadores do meu Clube de sempre.
Não posso ir viabilizando um negócio cujos lucros vão parar a bolsos desconhecidos, de gente de "fora da família Sportinguista" que acha que o meu Sporting e o meu Sportinguismo são uma boa oportunidade de negócio para eles.
Não posso dar o meu aval e deixar-me enredar nesta teia obscura do futebol e dos clubes nacionais que enriquecem à custa da nossa ingenuidade enquanto o futebol anda sem abrigo.
Não!
Por isso, no próprio dia em que se inaugura a época para a equipa do SCP, com a sua participação no primeiro torneio oficial, e para que não digam jamais que ando ao sabor dos resultados, a minha participação nas actividades e na vida do Sporting fica totalmente suspensa. Incluíndo este KL que suspende a sua actividade ao fim de 3 anos.
A decisão de me afastar e de romper com tudo isto é daquelas que até hoje mais me custou. Ninguém rompe com a família de ânimo leve. Mas é absolutamente inevitável. Há "tios" e "primos" que não suporto, nem ao longe. Não me posso continuar a deixar arrastar nesta mentira que eu e todos vocês pagamos, nesta mentira em que se transformou este futebol e este Clube, sem uma reacção sentida, sem demonstrar claramente o meu desagrado. É uma reacção perfeitamente individual, inevitável e na medida das minhas possibilidades. Eu sinto-me e portanto reajo como posso, sempre de acordo com a minha consciência!
Afastar-me-ei até sentir que, de facto, a porcaria foi varrida --da FPF, do futebol português e, sobretudo, do Sporting e até que surjam verdadeiras alternativas a tudo isto. Manter-me-ei afastado até que esteja demonstrada de forma inequívoca a solvibilidade e boa fé de todo este mundo.
Até lá, também eu vou andar por aí...
domingo, 20 de julho de 2008
quarta-feira, 16 de julho de 2008
Artigo de Vasco Lourenço
O blog Última Roulote, confrade do KL, inclui aqui cópia do artigo intitulado "Golpadas" do Coronel Vasco Lourenço, publicado no jornal Record. Embora a publicação tenha ocorrido há já algum tempo, o artigo não perdeu nada da sua actualidade. Será a oportunidade para --se o não conseguiu ler na altura, como eu-- o ler agora. Para quem o já tenha lido é a oportunidade de relê-lo.
Aproveito para manifestar ao Coronel Vasco Lourenço a minha total indentificação com a posição que assumiu na AG de 28 de Maio, claramente explicitada neste artigo.
Aproveito para manifestar ao Coronel Vasco Lourenço a minha total indentificação com a posição que assumiu na AG de 28 de Maio, claramente explicitada neste artigo.
terça-feira, 15 de julho de 2008
O grãozinho de areia na engrenagem
Leiam aqui, no blogue Centúria Leonina, numa posta intitulada "Será justo?" de autoria de João Faria, a situação, de um Sportinguista, sócio desde que nasceu, com lugar de Leão na bancada central, que se vê impossibilitado por dificuldades financeiras, de renovar o seu lugar de época e é impedido de procurar alternativas mais baratas pela cegueira tonta dos actuais responsáveis do Clube. Este caso devia fazer soar os sinos a rebate. Quem acredita que há exagero no panorama que tenho aqui traçado relativamente ao Sporting e quem me considera menos Sportinguista por isso devia meditar seriamente neste episódio.
É que o caso do João Faria não é único.
Não digo que me dê prazer ler este tipo de coisas, mas é por causa de situações como esta que concluo que são justas as minhas observações e que antecipo um futuro sombrio para o Sporting. Pode cada um de nós fazer os raciocínios que quiser, pode expressá-los de modo mais ou menos veemente, pode o modelo do futuro do Sporting ser o que os Sportinguistas (em maior ou menor número, representando a generalidade dos sócios de modo mais ou menos significativo) quiserem, podemos construir os cenários que nos apetecer, mas, no final, o problema que se coloca vai ser este: as "ofertas" do "universo" Sportinguista custam dinheiro, muito dinheiro, e quem o está disposto a desembolsar tem de ter capacidade para o fazer. Quem está disposto a desembolsar a nota preta que tudo isto custa, irá fazê-lo porque a tem de sobra, ou porque, mesmo não a tendo de sobra, o seu amor ao Clube o faz não hesitar perante o sacrifício. Resta saber, no meio de tudo isto, se o Clube vai ser sustentável nestas circunstâncias. E a nós, resta-nos perguntar se o sacrifício compensa, se o sacríficio é possível e quem está disponível para continuar a sustentar o "vício sportinguista".
E resta saber o que pode resultar, em cada um destes cenários, para o futuro da instituição.
E resta saber o que pode resultar, em cada um destes cenários, para o futuro da instituição.
O João Faria tem todos os ingredientes para ser um Sportinguista, "contribuinte-líquido-potencial" modelo. Sócio desde que nasceu, lugar de Leão, certamente mais motivado que ele não será fácil encontrar... Mesmo assim, o Sporting neste caso não vai poder contar com ele. E os outros, os que fogem ao modelo?
Alguns lerão este caso e seguirão em frente, indiferentes, comentando para si, quem sabe, que razão tinha o senhor presidente que dizia ser necessário ter disponiblidade financeira para ser do Sporting. E continuarão a falar das grandes contratações que foram feitas até agora... Outros sentir-se-ão incomodados, mas irão a correr comprar a sua gamebox. E continuarão a falar das grandes contratações que foram feitas até agora, procurando esquecer este caso. Outros ainda, como eu, sentir-se-ão profundamente chocados com tudo isto e aproveitarão para lançar daqui uma palavra de solidariedade para com o João Faria e todos os outros sócios deste Sporting do nosso descontentamento que estão nas mesmas circunstâncias.
Não, isto não é de facto justo. Nós iremos poder continuar a ver jogar as grandes contratações que foram feitas até agora na televisão. Mesmo com Lugares de Leão, que fomos a correr comprar para que a construção do estádio pudesse ser terminada...
Alguns lerão este caso e seguirão em frente, indiferentes, comentando para si, quem sabe, que razão tinha o senhor presidente que dizia ser necessário ter disponiblidade financeira para ser do Sporting. E continuarão a falar das grandes contratações que foram feitas até agora... Outros sentir-se-ão incomodados, mas irão a correr comprar a sua gamebox. E continuarão a falar das grandes contratações que foram feitas até agora, procurando esquecer este caso. Outros ainda, como eu, sentir-se-ão profundamente chocados com tudo isto e aproveitarão para lançar daqui uma palavra de solidariedade para com o João Faria e todos os outros sócios deste Sporting do nosso descontentamento que estão nas mesmas circunstâncias.
Não, isto não é de facto justo. Nós iremos poder continuar a ver jogar as grandes contratações que foram feitas até agora na televisão. Mesmo com Lugares de Leão, que fomos a correr comprar para que a construção do estádio pudesse ser terminada...
Ao João Faria restar-lhe-á uma única consolação: acredite, não está só neste problema...
sexta-feira, 11 de julho de 2008
Venenos 41
Juro que me vai dar um gozo do caraças observar as relações entre o novo seleccionador nacional e o presidente do seu antigo clube... It's show time!!!
Assembleia Geral Extraordinária
Ler aqui a última notícia do Movimento Leão de Verdade sobre a AG Extraordinária.
quarta-feira, 9 de julho de 2008
Venenos 40
Sugiro que as televisões passem, a partir de agora, a usar a bolinha vermelha sempre que falarem de questões do futebol português, FPF, LPFP, etc. E quando passarem uma entrevista com algum dirigente de qualquer destes organismos ou de um qualquer clube português ponham-lhe sempre aquele BIP! por cima.
Detesto ter de ver e ouvir obscenidades.
terça-feira, 8 de julho de 2008
Três perguntas sobre o Sporting: (3) Qual o futuro do Sporting?
Não é possível sabermos com exactidão quantos são os sócios Sportinguistas hoje. Muito menos saberemos quantos são os pagantes, com os seus direitos plenos, ou seja, com capacidade para elegerem e serem eleitos, votarem ou verem as suas propostas votadas. Imaginemos que rondam 40-50.000. As AG do Clube têm uma afluência de pouco mais de um milhar. Deste milhar, uma percentagem significativa está contra as propostas que têm sido sistematicamente apresentadas pelas últimas direcções. Comparando votantes, podemos estimar --embora este cálculo esteja inevitavelmente sujeito a erro-- que nas últimas AGs tivemos, grosso modo, uma percentagem de 50-50% de cabeças que se opõem ou defendem as ideias da direcção. O que desequilibra portanto os resultados das AGs é a célebre regra do número de votos por antiguidade. Esta questão é difícil de debater, mas não é este o assunto para o qual queria chamar a vossa atenção.
O que me interessa aqui sublinhar é que, na prática, uma percentagem mínima de gente, num total já de si mínimo e nada representativo do universo Sportinguista, controla os destinos do Clube. Cerca de 50% dos participantes, nas já de si pouco participadas AGs do Sporting, controlam os acontecimentos. Dir-me-ão que são as regras da democracia. Dir-me-ão que é a democracia que temos no Sporting. Dir-me-ão que serão Sportinguistas, sem dúvida, alguns deles animados mesmo até da melhor das boas vontades. Mas, o que não deixa de ser totalmente verdade é que é esta minoria, é esta escassa percentagem, a quem falta notoriamente representatividade e na qual me não revejo de todo, que controla e dita o futuro do Sporting. Que compromete o Clube e os seus associados e adeptos numa política desastrosa, cujas verdadeiras consequências nunca foram abertamente discutidas e cujos responsáveis nunca foram apontados. São estas 500 ou 600 criaturas que, na prática, continuam a dar o aval ao grupo que esquarteja, da forma mais rápida e eficaz que é capaz, a instituição Leonina. Na prática, é esta minoria de 500 ou 600 pessoas que está a dizer: destruam o que resta do Sporting Clube de Portugal! Estão à vontade…
Bem pode o dr. Rogério Alves vir agora sugerir transformações dos Estatutos para assegurar uma maior participação. Foi numa AG dirigida por ele que se tentou, com sucesso, perante a sua total complacência e mesmo com a sua activa participação, desferir mais um golpe fatal no SCP. Quando e se as tais alterações aos Estatutos forem aprovadas (se alguma vez vierem sequer a ser discutidas...) já o quadro estrutural do Clube estará totalmente alterado e o controlo das coisas nas mãos dos predadores. Assim, também eu sou um grande democrata!
Não há, como nunca houve e como já aqui referi por diversas vezes, margem para meias tintas: hoje ou se está a favor desta destruição do Sporting Clube de Portugal como projecto associativo, ou se está a favor da criação de uma entidade mercantil, mais ou menos escondida e habilmente mascarada de associação desportiva, dirigida por mercenários a contrato e destinada a explorar a boa fé dos Sportinguistas. Destas 500 ou 600 criaturas, uma parte não sabe o que anda a fazer. São uns patetas, uns tontos. Hão-de chorar quando for tarde. Outra parte fá-lo por convicção. Destes, alguns saberão o perigo que o seu Clube corre, mas têm esperança (nunca fundamentada com seriedade!) que as coisas não sejam tão más assim. Outros, finalmente, uma parte ainda mais ínfima, saberão perfeitamente o que anda am fazer. São os controladores das AGs, os autores das moções fantasma, das intervenções que não chegam a ter lugar, são os traficantes de tempos de intervenção. A gente conhece-os. São sujeitos desprezíveis, só enganam os incautos.
Hoje o Sporting é constituído por uma massa de sócios e adeptos que, depois das vicissitudes pelas quais o Clube tem passado nos últimos anos, já não sabe bem o que é ser Sportinguista. São Sporting por inércia. São Sporting ao longe. São Sporting, porque não…? Hoje, no meio de uma crise sem paralelo e perante uma necessidade efectiva de mudança, uma parte significativa dos, mesmo assim, mais activos sócios não sabe ou não pensou ainda bem no que deseja para o seu Clube daqui para o futuro. Tem uma noção vaga do que é o Clube. Empresa? Associação recreativa? Passerele de vaidades? Emanação da Olivedesportos? All of the above? Hoje umas escassíssimas centenas de pessoas, muitas delas em estado adiantado de semi-mumificação, comandam totalmente os destinos do Clube que foi outrora grande e poderoso e que agora definha e negoceia de forma vil a sua sobrevivência.
600 criaturas controlam, pois, o devir de uma instituição que conta com milhões de aderentes. Chama-se a isto o quê? O SCP, Sporting Clube de Portugal, foi uma instituição criada para acolher todos os simpatizantes da causa do ideal do associativismo desportivo no quadro de um de “exemplar conduta moral e cívica na vida”. O ideal é de tal maneira forte que esta ideia está plasmada, assim mesmo, nos Estatutos em vários dos seus artigos. O Sporting Clube de Portugal transformou-se num Sporting Clube Privado. O presidente foi claro acerca disto quando afirmou que para se ser Sportinguista é preciso ter "disponiblidade financeira." Faz-se crer que o verdadeiro Sportinguista é aquele que está com aquela minoria de senhoritos que abanam os Rolex de fancaria e conspurcam com a cinza dos seus charutos os corredores de Alvalade.
Fancaria, sim, porque é de fancaria que estamos falar. É desta elite de fancaria, que viu aqui a oportunidade de sair da sua condição, que proclamou pimpona o fim da era do mecenato e que "mete" no Sporting o dinheiro dos bancos, que nós todos temos de andar a pagar. É desta elite de fancaria envolta também em alguns casos de duvidosa legitimidade, que quer ensinar os Sportinguistas a dirigir o Clube e se apresenta como seu salvador! E, mais grave, a quem uma minoria de Sportinguistas, ingénuos ou, quiçá, com vontade de participar também no banquete, dá o seu aval.
Se olharmos para a crise do Sporting, para as fragilidades e debilidades do Clube, se tivermos em atenção que meia dúzia de criaturas validam em AG as decisões que legitimam a destruição da instituição, que outros não sabem bem o que querem, e que outros ainda não conseguem distinguir o fundamental do acessório--, se olharmos para a mentira e para a miragem em que os Sportinguistas andam desde há muito mergulhados; se tivermos em atenção que o futebol se transformou no epicentro de toda a actividade do Clube, se olharmos para o estado de aparente paralisação sem retorno do futebol português (inaudito o que se passa e se deixa que se passe no futebol português!), se olharmos para o modo como as coisas funcionam nos outros países, não podemos deixar de sentir um súbito estremecimento.
E tal como o homem da insónia do poema “Sobre o lado esquerdo” de Carlos de Oliveira, o Sportinguista estremecido pensa. E quando se pensa nestas coisas está o caldo completamente entornado.
O Sporting é uma paixão grande demais para podermos encarar tudo isto com a alma leve. Não se pensa nas paixões. Vivem-se as paixões… com paixão. E não se pode dar expressão a esta paixão num quadro tão sombrio como este que neste momento se nos depara. Milhares e milhares de antigos sócios do Sporting deixaram de há muito o Clube, mais ou menos silenciosamente, por entenderem não poder conciliar a paixão clubística, aquele impulso inabalável, com as incertezas, a voz forçadamente calada, os abusos, o desrespeito, as nuvens negras e os obstáculos a que os Sportinguistas estão sujeitos. O Sporting neste momento não consegue dar dar corpo e acomodar a paixão dos Sportinguistas por ele. A tentação de esmagar o coração é grande, a tensão das cordas cresce.
O mal do Sporting é não ter sabido, ou não ter conseguido, criar os mecanismos para acolher a paixão Sportinguista. Para nos amparar quando nos deixamos ir. O mal do Sporting é ter-nos dado matéria para pensar. Parar para pensar nestes domínios, é mau sinal. Ninguém (ninguém!) no seu perfeito juizo pára para pensar sobre estas coisas. Quando tem de o fazer pode ser tarde...
Nestes tempos de canícula que correm, que convidam à leveza dos corpos e das almas, que suscitam e potenciam o interesse pelo acessório e pelo fútil, mas que não deixam de ser tempos de existência precária e difícil para a maioria, exorto os Sportinguistas a insistirem em continuar a pensar e a não se esquecerem do que é essencial: Franco, a camarilha franquista e os seus apoiantes têm que ser arredados do lugar que ocupam. Não se deixem ficar pelas palavras e pelos actos efémeros. Não deixem morrer os processos encetados. Não percam o rumo. Ajam! Nada mudou no quadro de dificuldades que o Sporting atravessa e o fim ou a transformação do Clube em algo que qualquer verdadeiro Sportinguista consciente e em normal estado de consciência deveria verberar, está iminente. Mas, esta transformação do Sporting Clube de Portugal não é ainda uma inevitabilidade.
“Partem-se ou não se partem as cordas tensas da sua harpa insuportável.” Podia ser a versão Sportinguista do dilema hamletiano. O que é que está a faltar aos Sportinguistas para passarem à acção? Vamos todos assistir ao esmagamento do coração do Leão?
O que me interessa aqui sublinhar é que, na prática, uma percentagem mínima de gente, num total já de si mínimo e nada representativo do universo Sportinguista, controla os destinos do Clube. Cerca de 50% dos participantes, nas já de si pouco participadas AGs do Sporting, controlam os acontecimentos. Dir-me-ão que são as regras da democracia. Dir-me-ão que é a democracia que temos no Sporting. Dir-me-ão que serão Sportinguistas, sem dúvida, alguns deles animados mesmo até da melhor das boas vontades. Mas, o que não deixa de ser totalmente verdade é que é esta minoria, é esta escassa percentagem, a quem falta notoriamente representatividade e na qual me não revejo de todo, que controla e dita o futuro do Sporting. Que compromete o Clube e os seus associados e adeptos numa política desastrosa, cujas verdadeiras consequências nunca foram abertamente discutidas e cujos responsáveis nunca foram apontados. São estas 500 ou 600 criaturas que, na prática, continuam a dar o aval ao grupo que esquarteja, da forma mais rápida e eficaz que é capaz, a instituição Leonina. Na prática, é esta minoria de 500 ou 600 pessoas que está a dizer: destruam o que resta do Sporting Clube de Portugal! Estão à vontade…
Bem pode o dr. Rogério Alves vir agora sugerir transformações dos Estatutos para assegurar uma maior participação. Foi numa AG dirigida por ele que se tentou, com sucesso, perante a sua total complacência e mesmo com a sua activa participação, desferir mais um golpe fatal no SCP. Quando e se as tais alterações aos Estatutos forem aprovadas (se alguma vez vierem sequer a ser discutidas...) já o quadro estrutural do Clube estará totalmente alterado e o controlo das coisas nas mãos dos predadores. Assim, também eu sou um grande democrata!
Não há, como nunca houve e como já aqui referi por diversas vezes, margem para meias tintas: hoje ou se está a favor desta destruição do Sporting Clube de Portugal como projecto associativo, ou se está a favor da criação de uma entidade mercantil, mais ou menos escondida e habilmente mascarada de associação desportiva, dirigida por mercenários a contrato e destinada a explorar a boa fé dos Sportinguistas. Destas 500 ou 600 criaturas, uma parte não sabe o que anda a fazer. São uns patetas, uns tontos. Hão-de chorar quando for tarde. Outra parte fá-lo por convicção. Destes, alguns saberão o perigo que o seu Clube corre, mas têm esperança (nunca fundamentada com seriedade!) que as coisas não sejam tão más assim. Outros, finalmente, uma parte ainda mais ínfima, saberão perfeitamente o que anda am fazer. São os controladores das AGs, os autores das moções fantasma, das intervenções que não chegam a ter lugar, são os traficantes de tempos de intervenção. A gente conhece-os. São sujeitos desprezíveis, só enganam os incautos.
Hoje o Sporting é constituído por uma massa de sócios e adeptos que, depois das vicissitudes pelas quais o Clube tem passado nos últimos anos, já não sabe bem o que é ser Sportinguista. São Sporting por inércia. São Sporting ao longe. São Sporting, porque não…? Hoje, no meio de uma crise sem paralelo e perante uma necessidade efectiva de mudança, uma parte significativa dos, mesmo assim, mais activos sócios não sabe ou não pensou ainda bem no que deseja para o seu Clube daqui para o futuro. Tem uma noção vaga do que é o Clube. Empresa? Associação recreativa? Passerele de vaidades? Emanação da Olivedesportos? All of the above? Hoje umas escassíssimas centenas de pessoas, muitas delas em estado adiantado de semi-mumificação, comandam totalmente os destinos do Clube que foi outrora grande e poderoso e que agora definha e negoceia de forma vil a sua sobrevivência.
600 criaturas controlam, pois, o devir de uma instituição que conta com milhões de aderentes. Chama-se a isto o quê? O SCP, Sporting Clube de Portugal, foi uma instituição criada para acolher todos os simpatizantes da causa do ideal do associativismo desportivo no quadro de um de “exemplar conduta moral e cívica na vida”. O ideal é de tal maneira forte que esta ideia está plasmada, assim mesmo, nos Estatutos em vários dos seus artigos. O Sporting Clube de Portugal transformou-se num Sporting Clube Privado. O presidente foi claro acerca disto quando afirmou que para se ser Sportinguista é preciso ter "disponiblidade financeira." Faz-se crer que o verdadeiro Sportinguista é aquele que está com aquela minoria de senhoritos que abanam os Rolex de fancaria e conspurcam com a cinza dos seus charutos os corredores de Alvalade.
Fancaria, sim, porque é de fancaria que estamos falar. É desta elite de fancaria, que viu aqui a oportunidade de sair da sua condição, que proclamou pimpona o fim da era do mecenato e que "mete" no Sporting o dinheiro dos bancos, que nós todos temos de andar a pagar. É desta elite de fancaria envolta também em alguns casos de duvidosa legitimidade, que quer ensinar os Sportinguistas a dirigir o Clube e se apresenta como seu salvador! E, mais grave, a quem uma minoria de Sportinguistas, ingénuos ou, quiçá, com vontade de participar também no banquete, dá o seu aval.
Se olharmos para a crise do Sporting, para as fragilidades e debilidades do Clube, se tivermos em atenção que meia dúzia de criaturas validam em AG as decisões que legitimam a destruição da instituição, que outros não sabem bem o que querem, e que outros ainda não conseguem distinguir o fundamental do acessório--, se olharmos para a mentira e para a miragem em que os Sportinguistas andam desde há muito mergulhados; se tivermos em atenção que o futebol se transformou no epicentro de toda a actividade do Clube, se olharmos para o estado de aparente paralisação sem retorno do futebol português (inaudito o que se passa e se deixa que se passe no futebol português!), se olharmos para o modo como as coisas funcionam nos outros países, não podemos deixar de sentir um súbito estremecimento.
De vez em quando a insónia vibra com a nitidez dos sinos, dos cristais. E então, das duas uma: partem-se ou não se partem as cordas tensas da sua harpa insuportável. No segundo caso, o homem que não dorme pensa: o melhor é voltar-me para o lado esquerdo e assim, deslocando todo o peso do sangue sobre a metade mais gasta do meu corpo, esmagar o coração.
E tal como o homem da insónia do poema “Sobre o lado esquerdo” de Carlos de Oliveira, o Sportinguista estremecido pensa. E quando se pensa nestas coisas está o caldo completamente entornado.
O Sporting é uma paixão grande demais para podermos encarar tudo isto com a alma leve. Não se pensa nas paixões. Vivem-se as paixões… com paixão. E não se pode dar expressão a esta paixão num quadro tão sombrio como este que neste momento se nos depara. Milhares e milhares de antigos sócios do Sporting deixaram de há muito o Clube, mais ou menos silenciosamente, por entenderem não poder conciliar a paixão clubística, aquele impulso inabalável, com as incertezas, a voz forçadamente calada, os abusos, o desrespeito, as nuvens negras e os obstáculos a que os Sportinguistas estão sujeitos. O Sporting neste momento não consegue dar dar corpo e acomodar a paixão dos Sportinguistas por ele. A tentação de esmagar o coração é grande, a tensão das cordas cresce.
O mal do Sporting é não ter sabido, ou não ter conseguido, criar os mecanismos para acolher a paixão Sportinguista. Para nos amparar quando nos deixamos ir. O mal do Sporting é ter-nos dado matéria para pensar. Parar para pensar nestes domínios, é mau sinal. Ninguém (ninguém!) no seu perfeito juizo pára para pensar sobre estas coisas. Quando tem de o fazer pode ser tarde...
Nestes tempos de canícula que correm, que convidam à leveza dos corpos e das almas, que suscitam e potenciam o interesse pelo acessório e pelo fútil, mas que não deixam de ser tempos de existência precária e difícil para a maioria, exorto os Sportinguistas a insistirem em continuar a pensar e a não se esquecerem do que é essencial: Franco, a camarilha franquista e os seus apoiantes têm que ser arredados do lugar que ocupam. Não se deixem ficar pelas palavras e pelos actos efémeros. Não deixem morrer os processos encetados. Não percam o rumo. Ajam! Nada mudou no quadro de dificuldades que o Sporting atravessa e o fim ou a transformação do Clube em algo que qualquer verdadeiro Sportinguista consciente e em normal estado de consciência deveria verberar, está iminente. Mas, esta transformação do Sporting Clube de Portugal não é ainda uma inevitabilidade.
“Partem-se ou não se partem as cordas tensas da sua harpa insuportável.” Podia ser a versão Sportinguista do dilema hamletiano. O que é que está a faltar aos Sportinguistas para passarem à acção? Vamos todos assistir ao esmagamento do coração do Leão?
sábado, 5 de julho de 2008
Três perguntas sobre o Sporting. (2) O que querem os Sportinguistas para o Sporting?
O que é o Sporting para os Sportinguistas? Estou certo que se perguntarmos a 1000 Sportinguistas o que é para eles o Sporting, obteremos 1000 respostas diferentes.
Ouvimos e lemos as discussões e intervenções em assembleias, nos jornais, nos blogs, ou em simples conversas de café e ficamos com a sensação de que poucos saberão hoje o que é e o querem para o Sporting. O “dado adquirido” que era o nome mágico Sporting, já lá vai, vítima da incapacidade de manter a união, dos atropelos, dos enganos, das guinadas e alterações de percurso, das ambições, da má fé ou da pura nabice dos dirigentes que têm ocupado os lugares de responsabilidade nos orgãos directivos do Sporting. Foi ficando uma ideia esboroada da antiga e prestigiada instituição, que ninguém sabe muito bem o que é hoje, que lugar ocupa e, muito menos, que lugar vai ocupar no futuro.
Contudo, muitos Sportinguistas têm ideias aparentemente arrumadas sobre o que querem para o seu Clube. Falam com segurança de modelos, de objectivos, de estatísticas, de orçamentos e de ferramentas de gestão e demonstram grande à vontade quando se trata de impressionar os ouvintes com a sua destreza tecnocrática. A terminologia é utilizada com aparente à vontade e a segurança com que falam faz supor que dominam a matéria e que têm a noção do que querem.
Mas, a verdade é que não percebem nada do que estão a falar, nem sabem o que querem para o Clube que dizem amar. Estão simplesmente a armar aos cucos. E são muitos!
O Sporting Clube de Portugal não é uma loja de retrós!! Antes das VMOC e da Bolsa o Sporting era uma instituição respeitada e prestigiada, com um rumo e com princípios orientadores. Lemos os Estatutos, consultamos os documentos históricos da sua constituição e vemos sempre uma superior ideia condutora que uniu aqueles que quiseram aderir ao novo ideal e que por ele se decidiram associar. Os princípios estão nos Estatutos, não é preciso ir muito longe para os conhecer. ESTE é o Sporting! O Sporting são os princípios que regeram a sua constituição. Tudo o resto é 1) deriva criminosa, ou 2) ignorância, mais ou menos atrevida, mascarada de Sportinguismo.
O Sporting não foi constituído para vender camisolas, refrigerantes ou carne humana. Como se viu e foi dito por novos e antigos dirigentes (aí estamos de acordo…) o Sporting não é gestor nem imobilário… O Sporting não é sequer uma agência promotora de espetáculos desportivos ou outros. Estas actividades podem existir, com toda a certeza, o Clube pode organizar-se nos moldes julgados mais convenientes para melhor as gerir, claro, mas as actividades do SCP (incluindo as desportivas) existem como meio de dar expressão e sustentar o ideal Sportinguista, São e serão sempre legítimas desde que contribuam para a sustentação da associação e não lhe firam os princípios. Não são, nem nunca poderão ser, um fim em si.
Não sendo pois uma loja de retrós, não podemos ter como ambição máxima transformar o Sporting numa loja de retrós de bairro e falar do Sporting em função das necessidade da retrosaria! Mesmo que o bairro seja grande e que se criem lojas Sporting, elas deverão ser sempre meros acessórios que levam a ideia do Clube por diante e lhe dão sustentabilidade. A retrosaria é que depende do Sporting, não o contrário.
Parecerá lógico, parecerá mesmo verdade de Lapalice, mas há aqui uma pequena nuance que uma grande parte dos Sportinguistas não consegue, pelo que me é dado perceber, nem entrever. Alguns Sportinguistas discutem com paixão e grande fervor, mesmo que sazonais (o fervor tem picos e então agora de férias parece que morreram todos…) pequenos faits divers e acessórios. Disfarçando com argumentação “tecnocrática” o facto de não saberem no fundo o que querem para o Clube, as conversas sobre o Sporting não levam a lado nenhum. Aliás eu creio que a o grande mal é mesmo esse: não se discute o que se quer, discute-se muito, mas sem critério, muita coisa, mas sem saber onde se quer chegar.
Primeiro está o Sporting, e só depois vêm os meios para o viabilizar. Desbobinar toda terminologia mercantil, por si só é escasso e ridículo. Porém, enquanto uns se entretêm nestas discussões abstractas, duas coisas acontecem. Por um lado, o Clube, o do ideal remoto que alguns terão ainda na cabeça, desaparece lentamente. Por outro lado, outros que sabem bem o que querem, que estão organizados, preparados, que não desmobilizam no verão e que fizeram o trabalhinho de casa, espreitam a oportunidade de aproveitar as distracções dos Sportinguistas desatentos e ensaiam organizadamente o desenlace final. Há quem tenha ideais (não são ideiais Sportinguistas, mas são ideais) e os tente neste momento pôr em prática a todo o custo.
Disse atrás que primeiro vem o Sporting, depois vêm os meios para o viabilizar. Isto quer dizer que o Sporting pode não ser viável. Mas, se não for viável, qualquer coisa que o venha substituir NÃO É O SPORTING CLUBE DE PORTUGAL! Se não for viável o Clube deve acabar. O Sporting tem personalidade jurídica, orgãos dirigentes, Estatutos oficialmente aprovados e símbolos que são o seu património. Qualquer utilização disto, qualquer desvio do que está regulamentado em favor de uma qualquer deriva mercantilista é um crime! Não podemos tolerar, quer no palno dos princípios, quer no plano legal, que alguém se encavalite no Sporting para criar as suas negociatas privadas. E não podemos tolerar tão pouco que por ignorância, má fé ou desleixo dos seus sócios o SCP se transforme naquilo que não é.
Se aparecesse alguém que conseguisse conciliar, com rigor, saber e honestidade o ideal Sportinguista com os meios necessários para o viabilizar, dando-lhe tranquilidade e sustentabilidade para prosseguir o seu caminho, tudo estaria bem. Como a ideia me parece pouco plausível, vejo com grande apreensão os cenários que se desenham no horizonte, a apatia, a falta de organização e a tolerância dos Sportinguistas para com os perigos que o seu e nosso Clube corre. Por isso, o exercício do Sportinguismo me parece cada vez mais penoso e frustrante.
(continua)
Ouvimos e lemos as discussões e intervenções em assembleias, nos jornais, nos blogs, ou em simples conversas de café e ficamos com a sensação de que poucos saberão hoje o que é e o querem para o Sporting. O “dado adquirido” que era o nome mágico Sporting, já lá vai, vítima da incapacidade de manter a união, dos atropelos, dos enganos, das guinadas e alterações de percurso, das ambições, da má fé ou da pura nabice dos dirigentes que têm ocupado os lugares de responsabilidade nos orgãos directivos do Sporting. Foi ficando uma ideia esboroada da antiga e prestigiada instituição, que ninguém sabe muito bem o que é hoje, que lugar ocupa e, muito menos, que lugar vai ocupar no futuro.
Contudo, muitos Sportinguistas têm ideias aparentemente arrumadas sobre o que querem para o seu Clube. Falam com segurança de modelos, de objectivos, de estatísticas, de orçamentos e de ferramentas de gestão e demonstram grande à vontade quando se trata de impressionar os ouvintes com a sua destreza tecnocrática. A terminologia é utilizada com aparente à vontade e a segurança com que falam faz supor que dominam a matéria e que têm a noção do que querem.
Mas, a verdade é que não percebem nada do que estão a falar, nem sabem o que querem para o Clube que dizem amar. Estão simplesmente a armar aos cucos. E são muitos!
O Sporting Clube de Portugal não é uma loja de retrós!! Antes das VMOC e da Bolsa o Sporting era uma instituição respeitada e prestigiada, com um rumo e com princípios orientadores. Lemos os Estatutos, consultamos os documentos históricos da sua constituição e vemos sempre uma superior ideia condutora que uniu aqueles que quiseram aderir ao novo ideal e que por ele se decidiram associar. Os princípios estão nos Estatutos, não é preciso ir muito longe para os conhecer. ESTE é o Sporting! O Sporting são os princípios que regeram a sua constituição. Tudo o resto é 1) deriva criminosa, ou 2) ignorância, mais ou menos atrevida, mascarada de Sportinguismo.
O Sporting não foi constituído para vender camisolas, refrigerantes ou carne humana. Como se viu e foi dito por novos e antigos dirigentes (aí estamos de acordo…) o Sporting não é gestor nem imobilário… O Sporting não é sequer uma agência promotora de espetáculos desportivos ou outros. Estas actividades podem existir, com toda a certeza, o Clube pode organizar-se nos moldes julgados mais convenientes para melhor as gerir, claro, mas as actividades do SCP (incluindo as desportivas) existem como meio de dar expressão e sustentar o ideal Sportinguista, São e serão sempre legítimas desde que contribuam para a sustentação da associação e não lhe firam os princípios. Não são, nem nunca poderão ser, um fim em si.
Não sendo pois uma loja de retrós, não podemos ter como ambição máxima transformar o Sporting numa loja de retrós de bairro e falar do Sporting em função das necessidade da retrosaria! Mesmo que o bairro seja grande e que se criem lojas Sporting, elas deverão ser sempre meros acessórios que levam a ideia do Clube por diante e lhe dão sustentabilidade. A retrosaria é que depende do Sporting, não o contrário.
Parecerá lógico, parecerá mesmo verdade de Lapalice, mas há aqui uma pequena nuance que uma grande parte dos Sportinguistas não consegue, pelo que me é dado perceber, nem entrever. Alguns Sportinguistas discutem com paixão e grande fervor, mesmo que sazonais (o fervor tem picos e então agora de férias parece que morreram todos…) pequenos faits divers e acessórios. Disfarçando com argumentação “tecnocrática” o facto de não saberem no fundo o que querem para o Clube, as conversas sobre o Sporting não levam a lado nenhum. Aliás eu creio que a o grande mal é mesmo esse: não se discute o que se quer, discute-se muito, mas sem critério, muita coisa, mas sem saber onde se quer chegar.
Primeiro está o Sporting, e só depois vêm os meios para o viabilizar. Desbobinar toda terminologia mercantil, por si só é escasso e ridículo. Porém, enquanto uns se entretêm nestas discussões abstractas, duas coisas acontecem. Por um lado, o Clube, o do ideal remoto que alguns terão ainda na cabeça, desaparece lentamente. Por outro lado, outros que sabem bem o que querem, que estão organizados, preparados, que não desmobilizam no verão e que fizeram o trabalhinho de casa, espreitam a oportunidade de aproveitar as distracções dos Sportinguistas desatentos e ensaiam organizadamente o desenlace final. Há quem tenha ideais (não são ideiais Sportinguistas, mas são ideais) e os tente neste momento pôr em prática a todo o custo.
Disse atrás que primeiro vem o Sporting, depois vêm os meios para o viabilizar. Isto quer dizer que o Sporting pode não ser viável. Mas, se não for viável, qualquer coisa que o venha substituir NÃO É O SPORTING CLUBE DE PORTUGAL! Se não for viável o Clube deve acabar. O Sporting tem personalidade jurídica, orgãos dirigentes, Estatutos oficialmente aprovados e símbolos que são o seu património. Qualquer utilização disto, qualquer desvio do que está regulamentado em favor de uma qualquer deriva mercantilista é um crime! Não podemos tolerar, quer no palno dos princípios, quer no plano legal, que alguém se encavalite no Sporting para criar as suas negociatas privadas. E não podemos tolerar tão pouco que por ignorância, má fé ou desleixo dos seus sócios o SCP se transforme naquilo que não é.
Se aparecesse alguém que conseguisse conciliar, com rigor, saber e honestidade o ideal Sportinguista com os meios necessários para o viabilizar, dando-lhe tranquilidade e sustentabilidade para prosseguir o seu caminho, tudo estaria bem. Como a ideia me parece pouco plausível, vejo com grande apreensão os cenários que se desenham no horizonte, a apatia, a falta de organização e a tolerância dos Sportinguistas para com os perigos que o seu e nosso Clube corre. Por isso, o exercício do Sportinguismo me parece cada vez mais penoso e frustrante.
(continua)
quarta-feira, 2 de julho de 2008
Três perguntas sobre o Sporting. (1) O que é ser Sportinguista hoje?
Ser Sportinguista é pagar as quotas. Talvez seja a regra mais básica de definição do que é ser Sportinguista. Talvez pagar as quotas seja a prova de vida do Sportinguista, o acto supremo do Sportinguismo. Se o pagamento não for perdoado entretanto… Ser Sportinguista é ser sócio depois de ter sido proposto e depois de terem sido considerados satisfeitos “os condicionalismos prescritos” nos Estatutos para o efeito. Ser Sportinguista é participar nas Assembleias Gerais, intervir, votar e propor a admissão de outros Sportinguistas. Ser Sportinguista é honrar o Clube e defender o seu nome e prestígio. Ser Sportinguista é cumprir e observar as disposições dos Estatutos e regulamentos do Clube, é poder eleger, ser eleito ou nomeado para o exercício de cargos no Clube e exercê-los com “exemplar conduta moral e cívica”. Ser Sportinguista é também manter uma exemplar conduta moral e cívica na vida, no interesse do Clube.
Estatutariamente, ser Sportinguista é isto tudo.
Ser Sportinguista hoje é ainda cumprir a tradição do pai ou do avô. E se sobrar algum dinheiro no meio da crise que por aí vai…, ser Sportinguista é também comprar a Gamebox, mesmo sem ser sócio, e assistir ao vivo, em Alvalade, aos jogos, tornando-se assim uma espécie de sócio de imitação. Ser Sportinguista é assistir aos jogos em que as equipas do Sporting estejam envolvidas também noutros campos , ou num qualquer café ou bar, através da televisão. Ser Sportinguista é ouvir o relato da bola na rádio, quando não podemos estar presentes, ou quando não podemos pagar o canal que transmite o jogo. Ser Sportinguista é ter o privilégio de ser bombardeado pela propaganda dos “parceiros” do Sporting que transmitem a ilusão que estão a “ajudar” o Clube. Ser Sportinguista é também gastar o último dinheiro da conta bancária para ir a um qualquer estádio por essa Europa fora acompanhar o Sporting. É vibrar com as últimas aquisições da pré-temporada. É lembrar os 102 anos de existência do Clube e comover-se. É coleccionar objectos, dados e estatísticas sobre o Sporting e ser feliz por fazê-lo.
Mas, ser Sportinguista é também ser accionista da SAD. Na prática, ser accionista constitui, aliás, o modo mais inequívoco de ser Sportinguista hoje, a maneira de intervir mais directamente no futuro do Clube, mormente se o peso das acções detidas tiver significado, já que isso dita um exercício real de controlo da sua vida prática de todos os dias, um controlo de que o comum dos Sportinguistas, sócios ou adeptos, está totalmente arredado.
Ser Sportinguista é ser tudo isto e certamente muito mais.
Ser Sportinguista hoje é dizer-se Sportinguista, parecer Sportinguista, ou simplesmente ser efectivamente Sportinguista, na forma ou no conteúdo.
Uma enorme manta de retalhos isto de ser Sportinguista hoje. Uma realidade complexa feita de pequenos e grandes gestos e comportamentos, mais ou menos consequentes, mais ou menos significativos, mais ou menos determinantes para o futuro do Clube. Mas, o Sporting Clube SAD, sobrevive, na sua essência, dos pequenos gestos, das atitudes mais inconsequentes e de pouco significado e dos comportamentos mais anódinos. O Sporting são os pequenos Sportinguistas. Os grandes Sportinguistas estão a recato...
Ser Sportinguista hoje é uma fonte de um cada vez mais insustentável empenhamento e despesa, mas é também uma fonte de apetitosas receitas. Ser Sportinguista é uma fonte de conflito de princípios e é uma fonte de intricados e mais ou menos obscuros jogos de interesses.
Em nome do Sporting, por nos dizermos Sportinguistas, por “sermos” Sportinguistas hoje, torna-se, por exemplo, legítimo e possível acabar com o Sporting. Em nome do Sporting e do Sportinguismo é hoje legítimo e possível mandar os Estatutos e o espírito inequivocamente neles expresso às malvas, usar essa prerrogativa para esmagar, justamente, todos os princípios pelos quais se rege o Sportinguismo. Por sermos Sportinguistas é hoje legítimo e possível afrontar com impunidade os outros Sportinguistas e destruirmos o Sportinguismo deles!
Ser Sportinguista hoje é calar, ou, no mínimo, ter de baixar a voz para que a voz dos Sportinguistas se levante. Ser Sportinguista é poder usar os Sportinguistas. Ser Sportinguista é ter a liberdade de dar contornos ao Sportinguismo que de Sportinguismo já nem o nome retêm.
Se aparecesse alguém que conseguisse conciliar todos estes “sabores” de Sportinguismo ainda se poderia dizer que haveria alguma esperança de que todas estas aparentemente insanáveis e até por vezes risíveis contradições se resolveriam e tudo isto não nos deixaria o travo amargo do sacrifício feito em vão. Como, porém, isso não parece coisa plausível, ser Sportinguista hoje (pelo menos na minha perspectiva) transformou-se num exercício penoso que me deixa muitas dúvidas.
(continua)
Estatutariamente, ser Sportinguista é isto tudo.
Ser Sportinguista hoje é ainda cumprir a tradição do pai ou do avô. E se sobrar algum dinheiro no meio da crise que por aí vai…, ser Sportinguista é também comprar a Gamebox, mesmo sem ser sócio, e assistir ao vivo, em Alvalade, aos jogos, tornando-se assim uma espécie de sócio de imitação. Ser Sportinguista é assistir aos jogos em que as equipas do Sporting estejam envolvidas também noutros campos , ou num qualquer café ou bar, através da televisão. Ser Sportinguista é ouvir o relato da bola na rádio, quando não podemos estar presentes, ou quando não podemos pagar o canal que transmite o jogo. Ser Sportinguista é ter o privilégio de ser bombardeado pela propaganda dos “parceiros” do Sporting que transmitem a ilusão que estão a “ajudar” o Clube. Ser Sportinguista é também gastar o último dinheiro da conta bancária para ir a um qualquer estádio por essa Europa fora acompanhar o Sporting. É vibrar com as últimas aquisições da pré-temporada. É lembrar os 102 anos de existência do Clube e comover-se. É coleccionar objectos, dados e estatísticas sobre o Sporting e ser feliz por fazê-lo.
Mas, ser Sportinguista é também ser accionista da SAD. Na prática, ser accionista constitui, aliás, o modo mais inequívoco de ser Sportinguista hoje, a maneira de intervir mais directamente no futuro do Clube, mormente se o peso das acções detidas tiver significado, já que isso dita um exercício real de controlo da sua vida prática de todos os dias, um controlo de que o comum dos Sportinguistas, sócios ou adeptos, está totalmente arredado.
Ser Sportinguista é ser tudo isto e certamente muito mais.
Ser Sportinguista hoje é dizer-se Sportinguista, parecer Sportinguista, ou simplesmente ser efectivamente Sportinguista, na forma ou no conteúdo.
Uma enorme manta de retalhos isto de ser Sportinguista hoje. Uma realidade complexa feita de pequenos e grandes gestos e comportamentos, mais ou menos consequentes, mais ou menos significativos, mais ou menos determinantes para o futuro do Clube. Mas, o Sporting Clube SAD, sobrevive, na sua essência, dos pequenos gestos, das atitudes mais inconsequentes e de pouco significado e dos comportamentos mais anódinos. O Sporting são os pequenos Sportinguistas. Os grandes Sportinguistas estão a recato...
Ser Sportinguista hoje é uma fonte de um cada vez mais insustentável empenhamento e despesa, mas é também uma fonte de apetitosas receitas. Ser Sportinguista é uma fonte de conflito de princípios e é uma fonte de intricados e mais ou menos obscuros jogos de interesses.
Em nome do Sporting, por nos dizermos Sportinguistas, por “sermos” Sportinguistas hoje, torna-se, por exemplo, legítimo e possível acabar com o Sporting. Em nome do Sporting e do Sportinguismo é hoje legítimo e possível mandar os Estatutos e o espírito inequivocamente neles expresso às malvas, usar essa prerrogativa para esmagar, justamente, todos os princípios pelos quais se rege o Sportinguismo. Por sermos Sportinguistas é hoje legítimo e possível afrontar com impunidade os outros Sportinguistas e destruirmos o Sportinguismo deles!
Ser Sportinguista hoje é calar, ou, no mínimo, ter de baixar a voz para que a voz dos Sportinguistas se levante. Ser Sportinguista é poder usar os Sportinguistas. Ser Sportinguista é ter a liberdade de dar contornos ao Sportinguismo que de Sportinguismo já nem o nome retêm.
Se aparecesse alguém que conseguisse conciliar todos estes “sabores” de Sportinguismo ainda se poderia dizer que haveria alguma esperança de que todas estas aparentemente insanáveis e até por vezes risíveis contradições se resolveriam e tudo isto não nos deixaria o travo amargo do sacrifício feito em vão. Como, porém, isso não parece coisa plausível, ser Sportinguista hoje (pelo menos na minha perspectiva) transformou-se num exercício penoso que me deixa muitas dúvidas.
(continua)
Subscrever:
Mensagens (Atom)