domingo, 8 de abril de 2007

Os assobios e a equipa de futebol



Como aqui tenho vindo a defender a instabilidade da equipa de futebol do Sporting deve-se principalmente a duas ordens de factores:
- A juventude do conjunto de jogadores, nomeadamente os da zona fulcral do meio-campo;
- A qualidade das contratações que era para acompanharem e darem enquadramento a esse conjunto de jovens, e se verificou serem uns cepos que, em vez de fazerem parte da solução, acrescentam ao problema.
Neste negócio de grande risco (porque se baseia em talentos e humores de miúdos de vinte e poucos anos) os “prognósticos só se devem fazer depois do jogo”. Arrisco, contudo, que nesta fase final da época a equipa parece ter ganho uma capacidade mental que até agora aparecia por vezes, outras vezes não. É um facto que ao longo da época tanto os jogadores como o próprio treinador ganharam uma experiência que talvez se possa agora traduzir em resultados.
Os adeptos que andam constantemente a dizer que o Ricardo é um frangueiro e o Polga um enterra, deviam adoptar uma leitura mais menos estática das coisas, procurando acompanhar o dinamismo próprio da realidade. As equipas evoluem mesmo ao longo da mesma época e o que é facto é que a nossa parece estar agora mais consolidada. Reparem por exemplo que o Sporting já é a defesa menos batida da Liga.
O responsável principal por esta aquisição de mentalidade é o treinador Paulo Bento, de quem vem a afirmação: “Podíamos, porventura, ter matado o jogo mais cedo, mas gosto de ganhar por 1-0. Prefiro ganhar por 1-0 do que por 5-4. Denota maior concentração e maior organização”.
Eu não tenho a suficiente convicção para apostar que vamos ganhar o campeonato; mas será que os sportinguistas detractores das capacidades do treinador apostam que não vamos ganhá-lo?
Os adeptos que, no nosso estádio, se entretêm a assobiar alguns jogadores dificultam essa possibilidade. Não é por acaso que a equipa tem esta época piores resultados em casa do que fora. É porque se é verdade que, como diz Master Lizard “o triste palmarés do Sporting não é resultado dos assobios dos adeptos”, mas sim da “actuação desses agentes que têm canibalizado o Clube ao longo de todos estes anos, que (com bastantes e honrosas excepções é verdade!) têm servido mal e se têm servido (à fartazana!) do Sporting”, não é menos verdade que os assobios, pondo o(s) visado(s) a jogar sobre brasas, não ajudam a ganhar campeonatos.
Talvez seja verdade que, com escreve o Leão da Estrela, “os momentos autofágicos do Sporting têm motivos no próprio interior do clube” e não, como insinuou o Record, nos adeptos que postam nos blogs. Ou, como escreve o Sporting no Coração, “se os assobios continuarem, ficamos a saber que a pandilha do costume, aqueles que usando os mesmos métodos expulsaram Dias da Cunha, estão a preparar-se para embolsar mais uns milhões com a venda do Custódio e do Nani”.
O meu apelo vai para o adepto anónimo, no sentido de não se deixar ir nesta onda; ela só prejudica o Sporting.

Os negócios do Sporting 1

Não foi o facto de ter passado a existir uma SAD do Sporting que conduziu à impune trafulhice e falta de transparência actualmente em vigor no Sporting; esta já existia antes e as fraudes eram muito mais difíceis de controlar e os vigaristas mais difíceis de escrutinar e punir. Saíam ilesos com muito mais facilidade. Foi num desses processos que quase estivemos a abrir falência.
Encaro a nossa fase Jorge Gonçalves como equivalente à fase Vale e Azevedo no Benfica; a fase Sousa Cintra equivale (em pior) à actual fase LFV deles.
Talvez a contracorrente aqui, no KL, acho que o Projecto Roquette (PR) teve muito mais aspectos positivos do que negativos.
O primeiro aspecto positivo foi desde logo safar o Sporting do pântano directivo em que tinha caído. Os mais evidentes dos outros: temos um estádio moderno e uma Academia internacionalmente reconhecida como modelar.
Evidentemente que isto teve enormes custos, que agora estamos a pagar. Mas, quanto a mim, a maioria destes custos deve-se não tanto ao próprio projecto, mas aos seus gestores.
Em posts anteriores tenho vindo a analisar alguns aspectos da nociva acção destes e procurarei continuar a fazê-lo em próximos, porque, como digo, é nessa acção, mais que no PrR, que tem estado a desgraça do nosso clube.
Neste post procurarei analisar um dos aspectos do PrR que mais gritantemente falhou: o de conter em si a perspectiva de desenvolver negócios não desportivos lucrativos para, dizia Roquette, com os lucros gerados nesses negócios, o Sporting manter uma autonomia financeira que o tornasse independente da bola na trave.
Ora esta perspectiva era defensável e há exemplos concretos de sucesso dessa estratégia. É o caso do F. C. Copenhaga (FCK), campeão da Dinamarca, (que defrontou e perdeu a pré-eliminatória com o Benfica). Em 1997 este clube estava à beira da falência. Oito meses após a entrada de um grupo de investidores (em que se incluía o actual presidente, Fleming Ostergaard) o clube era admitido na bolsa de Copenhaga e em 1998 comprou o estádio nacional Parken. “A partir do ano seguinte, o FCK passou a apostar na diversificação de actividades, englobado numa empresa que se chama Parken Sport & Entertainment A/S. Além de deter e explorar o estádio – que em 2001 passou a ter uma cobertura amovível, possibilitando todo o tipo de eventos e até espectáculos como o Festival Eurovisão da Canção – a Parken também detém uma aldeia de férias, um clube de futebol (FCK), um clube de andebol, um centro de conferências, três torres de escritórios e participações em grandes empresas de televisão e de venda de bilhetes”. Presentemente é um dos poucos clubes que, estando cotado em bolsa, apresenta resultados positivos consistentes, mais devidos às outras actividades da Parken que ao futebol. (Informação sobre o FCK colhida num artigo de Paulo Anunciação em “O Jogo” de 10/09/06).
É claro que nem a Dinamarca é Portugal nem os dinamarqueses são comparáveis aos portugueses. Começa logo pelas motivações de quem é encarregado da gestão. Se se privilegiam os próprios interesses em detrimento da entrega a um projecto em prol da instituição que era suposto servir-se, o projecto não pode ter sucesso.
Ora a gestão dos interesses do Sporting, tanto quanto é publicamente conhecido, foi feita com os pés. Tomemos como exemplo o Alvaláxia. Este foi um projecto que já nasceu torto (e quem torto nasce tarde ou nunca se endireita). Para se aumentar a quantidade de lugares do estádio, já que a comparticipação pública era feita em função do número de lugares, abdicou-se da construção do pavilhão desportivo previsto no projecto inicial, porque o espaço passou a ser insuficiente. O que é que fazemos, o que é que não fazemos, ocupou-se o espaço com um fun center. Não teve piada nenhuma pois foi o flop que conhecemos. As pessoas que tinham a coragem de atravessar, à noite, o ermo do espaço do antigo estádio para ir ao cinema sabem bem que era impossível aqui ter público. É claro que houve a incompetência do costume por parte dos poderes públicos (a Câmara, o Metro) para se avançar com as licenças de construção, segundo veio a público vários anos depois. Tudo em prejuízo do Sporting. Mas ninguém se lembrou de pressionar e meter a boca no trombone se não todos estes anos depois? Como é possível isto acontecer se, confessa agora FSF, andamos a perder dez mil euros de juros por dia!
O Alvaláxia é só uma das inúmeras gotas de água que constituem o oceano de incompetências das sucessivas direcções cooptadas.
À pala dos negócios extra-desportivos foram-se constituindo e desfazendo sociedades, pagando ordenados a administradores, gastando à tripa-forra o património do nosso clube.
Aqui chegados, é óbvio que o melhor era vender o património não desportivo.
(continua)

Rescaldo do jogo do Braga

Perante o resultado de ontem e os comentários que fomos ouvindo aos diversos intervenientes, fica a sensação que afinal o assobio há-de ter-se tornado matéria de reflexão no balneário. O debate sobre o futebol moderno assume no Sporting contornos bizarros...