terça-feira, 13 de março de 2007

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Vi as promoções da SIC N, martelando-nos desde há dias com a entrevista exclusiva do presidente do Sporting, vejo a entrevista, ouço cuidadosamente o que FSF disse e pergunto-me: para que raio terá servido tudo isto?
Estranhos meandros estes os da comunicação social...

Vender a alma ao diabo

Um artigo publicado hoje no Público, de autoria de Manuel Mendes, descreve com doloroso detalhe o que aconteceu aos clubes que optaram pela venda da sua alma ao diabo, que é como quem diz, pelo recurso a grupos estrangeiros para resolução dos seus desmandos de gestão. Acabaram todos sendo despromovidos ao escalão inferior de competição (e aí se afundaram ainda mais) e não resolveram nenhum dos seus momentosos problemas.
O Beira Mar teve até este curioso gesto: aparentando não ter aprendido a lição, volta a insistir. Em 2004 foi a Stellar, agora é a Inverfutbol.
A fórmula é conhecida. A empresa passa, de uma forma ou de outra, a controlar o departamento de futebol, designa um treinador e traz os célebres reforços a "custo zero" que cedo se revelam completamente coxos (no KL começa a designar-se este tipo de jogadores por "cepos", expressão introduzida num comentário do Lionheart) e não valem a água do duche que tomam.
Todos os dirigentes que deram o aval a estas operações asseguraram que os respectivos clubes não perdiam autonomia. Pois, pois... Deve ser por isso que hoje todos lamentam ter tomado essa decisão.
Perguntarão os meus caros leitores: mas o que é que isso tem a ver connosco? O Sporting vai vender a alma ao diabo?
Bom, claro que não acontecerá ao Sporting o que aconteceu ao Freamunde ou ao Farense... Será pior!
Já em ocasiões anteriores tive a oportunidade de exprimir uma ideia sobre a qual os Sportinguistas deviam refletir seriamente e com muita serenidade. O Sporting é normalmente referido como um dos "três grandes". À força de ser repetida a ideia institucionalizou-se. Mas, a verdade é esta por muito que nos custe ouvi-la esta "mania da grandeza" não tem qualquer sustentabilidade. De grande o Sporting tem apenas o passivo.
Temos pergaminhos, temos um historial longo, temos os melhores princípios, que nos unem e nos elevam, somos de facto potencialmente apetitosos. Mas, desde a gestão de João Rocha que o Sporting se afundou e desta situação nunca mais se conseguiu recompor. O grande, o nosso Sporting perdeu-se e nunca mais se encontrou.
Quero com isto dizer que não temos, ao contrário dos outros clubes designados "grandes", o potencial de adeptos ou de feitos desportivos que permitam vencer a dificuldade transitória ou o insucesso conjuntural. Podem dizer, como é infelizmente bastante vulgar, que os outros também não estão melhor e que enfrentam igualmente dificuldades. Será verdade. Mas, a questão central aqui não é essa. A questão central que todos nos devemos perguntar é de que maneira pode o Sporting superar as suas (não as dos outros!) dificuldades e de que armas dispõe para o fazer.
Sem ganhar nada, com um universo de apoiantes pequeno e em perda, com os seus princípios já há muito metidos na gaveta, com o peso da SAD a desequilibrar, em vez de compor, a balança, que argumentos nos restam?
Pelo que se percebe das intenções destes corpos gerentes, resta mesmo vender a alma ao diabo e cavalgar o mito da grandeza. Não será a Stellar ou a Inverfutbol (isso é para os "pequenos""...), mas os efeitos serão igualmente desastrosos. Vamos perder o Sporting!
A todos os que possam pensar que se trata de uma visão catastrofista e de alarmismo não justificado peço apenas que respondam a duas perguntas simples.
Em primeiro lugar, o que faz hoje do Sporting um "grande"? Em segundo, se uma tomada de capital da SAD por uma empresa qualquer, estrangeira ou não, falhar e os resultados forem um desastre acham os meus estimados consócios, tendo em conta aquilo a que assistimos em tempos recentes, que algum dos actuais dirigentes teria coragem para vir assumir o erro da sua decisão? Que mecanismos temos nós aliás para responsabilizar os dirigentes por eventuais erros cometidos? Será mais uma operação financeira e após a sua conclusão os seus mentores partirão para outra, sejam quais forem os resuldos para nós, com o seu bolso cheio.
A menos que... A menos que se perfile no horizonte um outro tipo de operação, ainda mais sinistro e tortuoso que aquilo que poderíamos antecipar.
Talvez o presidente do Sporting venha dizer hoje alguma coisa sobre isto...

Quem é que paga as favas?



«Soares Franco alertara no início de Fevereiro: o Sporting pagava dez mil euros de juros diários. O incumprimento do acordo – assinado em 2003 – entre a Câmara Municipal de Lisboa e o Metro retardava o licenciamento de construção da MDC e o respectivo encaixe de 35 milhões de euros pelos leões. O impasse, porém, está prestes a ser ultrapassado, e a empresa holandesa será autorizada a iniciar a construção do empreendimento no antigo estádio de Alvalade a partir de Abril.»

Esta notícia, retirada de O Jogo, toca as raias do inacreditável e suscita a dúvida de saber de quem é a responsabilidade por o património do Sporting ter sido aliviado, feitas as contas, de 400 e 510 mil euros (consoante o mês de 2003 em que o acordo foi feito), fora os juros! E fora os lucros cessantes dos empreendimentos do Estádio, nomeadamente o Alvaláxia, que foi vendido a preço de saldo dado o estado a que chegou por causa do perigoso ermo criado ali ao lado.
A responsabilidade foi da Câmara? Do Metro? Do Sporting? Se não foi do Sporting, este tem de ser indemnizado! Mas mesmo tendo sido a Câmara ou o Metro os responsáveis, como é que os nossos dirigentes se deixaram comer por parvos este tempo todo?
O que revolta é que quem vai pagar por isto somos nós, “contribuintes” do Sporting!