segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Sem palhaços

O modelo das SADs trouxe uma alteração profunda ao panorama da organização do futebol. Já muitos se terão porventura esquecido do clima de intensa rebaldaria em que vivia este universo, frequentemente, perverso antes da introdução deste modelo organizativo. No entanto, o estado em que vivia o futebol em Portugal era tão grave que a introdução de medidas elementares de disciplinação fiscal, organizativa, etc, nem sequer mereceu grande contestação por parte daqueles a quem a rebaldaria mais aproveitava. Foi uma espécie de Apito Dourado I.
De repente, todos os clubes enchiam a boca com o a sua preocupação em cumprir os seus deveres fiscais, a palavra mais ouvida era transparência (na gestão, no confronto desportivo) e o futebol parecia querer entrar num ciclo virtuoso do qual há muito andava arredado.
Muita gente (eu incluído) embarcou na ideia que a nova era iria colocar finalmente o desporto de que todos gostamos nos carris.
Cedo se começou a perceber que tudo isto não passava de mais um tapume de fantasia para cobrir a crueldade da realidade.
Os velhos métodos foram disfarçados com nova maquilhagem e sobre as velhas megalomanias e os velhos e inconfessáveis desígnios tombaram, graciosas, as vestes da moda. Entrámos na era do "mercado".
Ora, ao transformar-nos a todos em mercadores os aprendizes de feiticeiro esqueceram-se que o mercado é uma via com dois sentidos.
Já aqui há tempo escrevi (e volto a repetir porque a memória bloguística é de fusível rápido...) que apenas um dos componentes da triologia da bola (adeptos, jogadores e direcções) sustenta o futebol. Os jogadores e técnicos variados não pagam os seus chorudos ordenados, os administradores não assinam os seus cheques. E, desiludam-se, as televisões, os patrocínios, etc, etc, etc, não metem um tostão neste "mercado".
Quem mete dinheiro nisto tudo somos nós, os adeptos.
Ora, na lógica do direito do consumidor pretender que na loja se passem todos os desmandos, que o gerente e os empregados façam tudo o que lhes vier à mona sem que o consumidor se manifeste é uma perfeita falta de senso, para não dizer mesmo, uma enorme maldade. Eu vou à padaria, compro um pão miserável, sou mal tratado pelo padeiro e pelo empregado que me vende o pão e tenho de dizer "Viva a padaria! Estou contigo até morrer!!" ?
Não creio.
Fazer-nos pagar e não fornecer o produto pelo qual se pagou é fazer de nós palhaços. E, com palhaços não há dinheiro.
O Rui Santos sugere uma greve de adeptos ao futebol. Eu sugiro, para começar, uma greve de adeptos do Sporting para começar a colocar cada macaco no seu galho.

It’s only Sporting, but I like it!

Pelo que eu estou a ver na bloguítica e nos média em geral presentemente os adeptos do Sporting adoptam dois tipos de atitudes. Uns perfilham a opinião de que todo o edifício do Sporting, equipa incluída, está podre e que mais vale deitar abaixo; outros acham que é de distinguir entre a equipa e o resto e tentar preservar a equipa, na esperança de que, uma vez que ela é jovem, se venha a valorizar e a solidificar, dando-nos vitórias no futuro.
Os primeiros são os que ou já desistiram de ir ao estádio ou vão e assobiam a partir dos 10m de jogo. Os segundos, nos quais me incluo, dão o benefício da dúvida ao treinador, considerando, com Pedro Castaño, que está «em consonância com as condições políticas e gestionárias» do clube na actualidade. De facto, «de que serve querer mudar o único que tem cumprido o que lhe pedem? Ou não é verdade que lhe pediram para levar este grupo de miúdos o mais longe possível?».
Volto, pois, a afirmar que considero que esta equipa do Sporting se deve tomar como equipa em construção. Pois, poderá dizer-se, mas no fim da época a direcção venderá os jovens ao desbarato, como é costume, e lá teremos nós de, também como é costume, recomeçar tudo de novo. Aqui é que está o busílis da questão. É que se adoptarmos a atitude do tipo “terra queimada”, taxando o treinador de incompetente e assobiando a equipa assim tratando de a destruir, como se isto contribuísse para minar a presente gestão do clube, estamos a dar argumentos ao falhanço dos dirigentes: “nós tentámos, e só não conseguimos porque tivemos de combater os próprios sócios…”. Se, pelo contrário, confrontarmos os dirigentes com as suas promessas de que a venda do património não desportivo servirá para não vender os jovens talentos ao desbarato (como tem acontecido até agora) estamos em excelentes condições para desmascarar quem agora dirige o clube caso a equipa seja desbaratada no final da época.
Não há, de facto, volta a dar-lhe; «ou muda a política ou de nada serve mudar o resto. E este é o ponto que eu gostaria de saber a opinião de todos, antes que a Academia se transforme na antecâmara do maior crematório de talentos do mundo – a equipa principal da “nossa equipa do Sporting”». É este realmente o grande risco em que alguns estão, por vezes na melhor das intenções, a incorrer.