A expectativa em relação ao jogo de ontem merece alguma reflexão. Às vezes parece-me que alguns Sportinguistas apenas têm um tipo de memória: a de curta duração.
O campeonato deste ano começou a perder-se no ano passado e levou o golpe fatal com a imperdoável crise directiva e com o modo como foi e continua a ser tratada por todos os seus actores. Não foram, certamente, os resultados destes últimos meses que comprometeram os nossos objectivos. Aliás, aquilo que mais me intriga no Sporting é ter chegado onde chegou. Mas, uma equipa de topo só tem um objectivo: consistência competitiva. E consistência é coisa que não tem faltado a esta equipa de Paulo Bento.
Então onde é que a coisa tem falhado?
É dos livros: o sucesso de uma equipa deve-se a uma sintonia muito grande entre a equipa directiva, equipa desportiva e os adeptos. Essa sintonia consegue-se através do exercício competente, esclarecido e empenhado das funções e papeis exercidas por cada um destes grupos e por uma articulação total entre eles. Não há um único caso de sucesso desportivo, um único!, em que esta premissa não esteja cumprida. Não é condição suficiente, mas é certamente necessária. Quanto mais tempo durar esta sintonia mais êxitos surgirão. Sem esta sintonia podem surgir alguns sucessos desportivos, mas terão sempre um carácter efémero. Há inúmeros exemplos disso.
Ter consistência competitiva, sobretudo num campeonato, significa que apesar de eventuais problemas de bloqueamento mental, de uma conjuntura anormal de lesões e castigos ou outro qualquer factor, a coluna central de toda a estrutura é sólida e as exibições e os resultados são equilibrados.
Consistente, pois, no caso do Sporting tem sido apenas o insucesso.
Deixo então à reflexão dos leitores do KL encontrar as causas para esta consistente falta de sucesso do Sporting.
E para aqueles que, apesar de perceberem perfeitamente que falta consistência à equipa, que essa falta não é um mal conjuntural, mas sim um problema endémico que necessita de um tratamento radical, para aqueles ingénuos mas legitimamente preocupados com tudo isto, que, movidos por essa preocupação, pretendem convercer-se e convencer-nos que são os chacais que esquartejaram o Clube, sob o olhar complacente dos grandes predadores, a solução para o problema que eles próprios criaram, que reflitam sobre a enorme amargura que estarão, como eu, certamente a sentir depois do 1-0 de ontem...
E lembrem-se da Taça, e do campeonato do ano passado, e da Taça UEFA, e da Taça do ano passado, e das competições europeias deste ano, etc, etc, etc...
sábado, 8 de abril de 2006
Ser ou não ser provinciano
Ainda tentando aguentar-me com o "melão" com que saí do estádio, retomo o tema do escrito anterior, mas agora falando do meu querido Sporting, acabado de ser derrotado e tendo praticamente dito adeus ao título.
Como eu dizia no fim do último escrito "se os outros foram melhores, o que temos de fazer é dar-lhes os parabéns e melhorar para ganharmos na vez seguinte". Foi precisamente isto que Paulo Bento fez no fim do jogo, ao dar os parabéns ao nosso adversário, que ganhou bem, pois foi coeso na defesa não nos deixando entrar e, num jogo com muito poucas oportunidades, conseguiu transformar uma e nós nenhuma (também, digo eu, só tivemos uma, na primeira parte), e que o árbitro não teve influência no resultado.
Sobre o campeonato disse o que toda a gente sabe, isto é, que este ano já lá não vamos.
Mas que (e nisto foi bem secundado pelas declarações de Liedson) temos de continuar a querer ganhar os jogos que faltam, sobretudo porque temos de lutar pela qualificação directa para a Liga dos Campeões.
De facto, o nosso hábito nos últimos anos é esmorecer à beira da praia e, perante uma contrariedade de tomo, como esta é, baixar os braços (como aconteceu o ano passado ao perdermos o último jogo, assim deitando fora a participação directa na LdC).
O nosso treinador, Paulo Bento, teve, pois, o discurso acertado. Mas não só o discurso; também a atitude. De facto, as coisas na segunda parte estavam a correr mal e não conseguíamos penetrar na defesa deles. Um treinador mais conservador e menos ousado poderia "cortar-se" pensando "eles estão melhores que nós, deixa mas é conservar o empate que não nos corta em definitivo as hipóteses". Não foi assim que PB pensou: ao substituir um defesa (Abel) por um avançado (Koke) PB indicou o caminho do futuro. Pois o futuro é lutar com quantas forças temos e com ousadia pelos objectivos que existem, e não contentarmo-nos com o mal menor.
Tenho consciência de que a decisão é muito discutível. É até possível que não tivéssemos comido o golo se ele não a tivesse tomado. Por outro lado, não devemos fazer figura de "velhos do Restelo", sempre prontos a descrer das nossas próprias capacidades.
É por isso que a atitude do nosso treinador contém uma carga simbólica positiva, pois significa que não tememos os adversários e estamos dispostos a atacá-los, assim tentando atingir os nossos objectivos. Se não tentarmos é que não conseguimos de certeza.
Embora, no caso vertente, a coisa não tenha corrido bem, esta não é, certamente, uma atitude provinciana.
Ao contrário da decisão de pôr nos altifalantes do estádio, quando as equipas entraram em campo, a música "Cheira bem, cheira a Lisboa". Dir-me-ão: "é que os portistas têm o complexo de segunda cidade e assim ficam furiosos, logo, diminuídos". Ora eu acho que nem mesmo isto é necessariamente verdade, isto é, não é certo que a coisa seja eficaz quanto aos resultados (e viu-se).
Chateia-me a prosápia da afirmação de superioridade relacionada com um facto arbitrário: o ter-se nascido na Capital (estou à vontade para dizer isto, porque nasci em Lisboa). Mas o que mais me chateia é que se está a combater o pretenso (é certo que por vezes existente) provincianismo do adversário com uma resposta do mesmo teor. Bem sei que quem encetou, há muitos anos, a guerra contra a Capital no meio desportivo, foram os dirigentes do FCP. Mas nunca devemos rebaixar-nos a aceitar como boa essa "guerra", ainda por cima batendo-nos com as armas escolhidas pelo adversário. É que desse modo é-se tão pacóvio como aqueles que se pretende combater.
Como eu dizia no fim do último escrito "se os outros foram melhores, o que temos de fazer é dar-lhes os parabéns e melhorar para ganharmos na vez seguinte". Foi precisamente isto que Paulo Bento fez no fim do jogo, ao dar os parabéns ao nosso adversário, que ganhou bem, pois foi coeso na defesa não nos deixando entrar e, num jogo com muito poucas oportunidades, conseguiu transformar uma e nós nenhuma (também, digo eu, só tivemos uma, na primeira parte), e que o árbitro não teve influência no resultado.
Sobre o campeonato disse o que toda a gente sabe, isto é, que este ano já lá não vamos.
Mas que (e nisto foi bem secundado pelas declarações de Liedson) temos de continuar a querer ganhar os jogos que faltam, sobretudo porque temos de lutar pela qualificação directa para a Liga dos Campeões.
De facto, o nosso hábito nos últimos anos é esmorecer à beira da praia e, perante uma contrariedade de tomo, como esta é, baixar os braços (como aconteceu o ano passado ao perdermos o último jogo, assim deitando fora a participação directa na LdC).
O nosso treinador, Paulo Bento, teve, pois, o discurso acertado. Mas não só o discurso; também a atitude. De facto, as coisas na segunda parte estavam a correr mal e não conseguíamos penetrar na defesa deles. Um treinador mais conservador e menos ousado poderia "cortar-se" pensando "eles estão melhores que nós, deixa mas é conservar o empate que não nos corta em definitivo as hipóteses". Não foi assim que PB pensou: ao substituir um defesa (Abel) por um avançado (Koke) PB indicou o caminho do futuro. Pois o futuro é lutar com quantas forças temos e com ousadia pelos objectivos que existem, e não contentarmo-nos com o mal menor.
Tenho consciência de que a decisão é muito discutível. É até possível que não tivéssemos comido o golo se ele não a tivesse tomado. Por outro lado, não devemos fazer figura de "velhos do Restelo", sempre prontos a descrer das nossas próprias capacidades.
É por isso que a atitude do nosso treinador contém uma carga simbólica positiva, pois significa que não tememos os adversários e estamos dispostos a atacá-los, assim tentando atingir os nossos objectivos. Se não tentarmos é que não conseguimos de certeza.
Embora, no caso vertente, a coisa não tenha corrido bem, esta não é, certamente, uma atitude provinciana.
Ao contrário da decisão de pôr nos altifalantes do estádio, quando as equipas entraram em campo, a música "Cheira bem, cheira a Lisboa". Dir-me-ão: "é que os portistas têm o complexo de segunda cidade e assim ficam furiosos, logo, diminuídos". Ora eu acho que nem mesmo isto é necessariamente verdade, isto é, não é certo que a coisa seja eficaz quanto aos resultados (e viu-se).
Chateia-me a prosápia da afirmação de superioridade relacionada com um facto arbitrário: o ter-se nascido na Capital (estou à vontade para dizer isto, porque nasci em Lisboa). Mas o que mais me chateia é que se está a combater o pretenso (é certo que por vezes existente) provincianismo do adversário com uma resposta do mesmo teor. Bem sei que quem encetou, há muitos anos, a guerra contra a Capital no meio desportivo, foram os dirigentes do FCP. Mas nunca devemos rebaixar-nos a aceitar como boa essa "guerra", ainda por cima batendo-nos com as armas escolhidas pelo adversário. É que desse modo é-se tão pacóvio como aqueles que se pretende combater.
Subscrever:
Mensagens (Atom)