quarta-feira, 31 de janeiro de 2007
O homem do BES
Mas o BES colocou-lhe condições que se verifica agora terem sido verdadeiramente leoninas.
O que interessa ao BES é recuperar o capital que emprestou ao clube. Não tem a suficiente sensibilidade para saber se o que é mais conveniente, em termos da competitividade a curto prazo, e com reflexos óbvios no potencial de receitas na próxima época, é ou não é comprar um jogador. Olha para as contas, sabe que isso vai representar mais uma despesa e, como o seu negócio é dinheiro, está-se a marimbar para a estratégia do Sporting a curto/médio ou longo prazo; e proíbe a operação.
Mas como é que pode proibir?
É que, ainda está em vigor a cláusula, aceite por anteriores direcções, que implica que 5,5 milhões de euros de receitas nos negócios com jogadores vão directamente para o serviço da dívida. E eles não se ensaiam nada em accioná-la. E o Sporting já está em incumprimento quanto aos negócios do início da época.
E o Sporting está teso. E sem dinheiro, não há palhaços; a menos que haja quem dê o aval.
E o BES não avaliza!
Foi por isto que o Sporting não comprou um avançado, de que tanto e tão obviamente necessita para poder competir por um lugar na Liga dos Campeões na próxima época.
Foi assim agora e será assim sempre, com FSF.
terça-feira, 30 de janeiro de 2007
E agora?
É tempo de apostar na formação de uma equipa para lutar por tudo o que ainda está em disputa nesta época, mas sobretudo em consolidar essa equipa e toda a estrutura do futebol do Sporting para o futuro.
Nunca concordei com a ideia de que as dificuldades financeiras fossem obstáculo ao investimento. É assim no país e em qualquer negócio, sob pena de se comprometer o futuro.
Se isto é verdade em termos puramente financeiros, é-o, por maioria de razão, em termos desportivos. De facto não se obtêm títulos sem bons jogadores, e um clube como o Sporting dificilmente sobrevive se não fizer negócios de promoção e venda de futebolistas.
Mas esta promoção não se pode limitar aos jogadores formados no clube, vertente na qual o Sporting se tem vindo a afirmar como a melhor escola do país, de longe. Por exemplo, nas últimas convocatórias das selecções jovens o Sporting dá baile aos seus rivais. Na de sub-17 ainda o Benfica nos iguala em número (7) de convocados (o Porto não tem ninguém); na de sub-16 o Benfica leva 8 a 1 e o Porto 8 a 2.
Há que, pois, complementar a componente formação na Academia, com aquisições de jogadores com potencial de progressão, vindos de mercados de capacidade financeira e visibilidade inferiores às do mercado nacional. De facto, os principais clubes portugueses podem ser (e têm sido, sobretudo o FCP) uma montra e trampolim para campeonatos europeus mais competitivos.
É claro que este é um negócio de risco (são miúdos, o eventual começo de sucesso nos seus campeonatos não implica necessariamente que triunfem na Europa, …). Mas pode proporcionar mais-valias para a equipa e, transferidos os jogadores depois de valorizados, para as finanças do clube. Evidentemente que este processo implica, como aqui referi, a existência de um departamento de prospecção competente.
É preciso, pois, encarar as contratações de jogadores como investimentos proporcionadores de mais-valias. Nesta perspectiva, contratações como a de Paredes e Bueno são incompreensíveis: o primeiro está fora de prazo e o segundo já tinha tido a sua (desperdiçada) oportunidade. Quanto a Alecsandro, Farnerud e Romagnoli, o que falhou (admitindo que não houve interesses privados que se sobrepuseram aos do Sporting) foi a apreciação do seu potencial, o que põe em causa, justamente, a competência do tal departamento de prospecção (admitindo que o mesmo existe).
Chegados a este ponto, estamos necessitados de reforços, se quisermos ainda ter alguma hipótese de disputar as competições em que estamos envolvidos e garantir acesso (já agora directo) à Liga dos Campeões. Na minha modesta opinião, não é o Rochembach que nos faz falta. Motivos? Os que acabo de expor (ele já desperdiçou suficientes oportunidades – Barcelona, Middlesborough – e deixou de ser garantia de mais-valia futura) associados à sua falta de autodisciplina, que o leva a não controlar o peso (lembrem-se do Micoli) e a que não são as posições que ele pode preencher em campo aquelas em que estamos mais necessitados.
Quem nos faz falta, e o prazo acaba amanhã, é um avançado para jogar ao lado de Liedson. Jovem, com margem de progressão, jogador de área e, já agora, com jeito e alegria de jogar.
segunda-feira, 29 de janeiro de 2007
O sistema, outra vez!
Parece que se tornou mais claro para todos o que era e o que é o "sistema". O sistema também tem tentáculos dentro do nosso Clube.
Como sócio do Sporting Clube de Portugal eu vou querer ver este assunto totalmente esclarecido. Vou certamente querer saber --e exorto todos os leitores do KL a manifestarem-se também nesse sentido-- "quem era/é quem" no tal sistema que o ex-Presidente Dias da Cunha denunciou até à exaustão. Se calhar, até terá sido por isso que lhe foi cortada a cabeça.
Quem eram e quem são os representantes do Sporting no "sistema"?
domingo, 28 de janeiro de 2007
Descer para terceiro
E a pergunta a fazer é simples: que capacidade, que argumentos temos nós, de facto, para dar a volta ao texto?
Ninguém põe em causa o esforço que hoje foi feito em campo para que esta situação não viesse a ocorrer. Mas, a verdade é esta: por mais esforço, por mais determinação e capacidade de sacrifício que tenhamos podido observar no jogo com o Boavista, o arsenal que o Sporting detém não dá para mais. Por outro lado, não se vislumbram no horizonte quaisquer alternativas para inverter esta situação. Os problemas que determinaram o empate de hoje são estruturais.
A descida para o terceiro lugar significa a ultrapassagem de uma significativa barreira psicológica. Trata-se, salvo melhor opinião, de uma situação da qual, por todos os motivos, imagino que será complicadíssimo recuperar.
Oxalá me engane, mas o futuro do Sporting afigura-se mais desolador que as bancadas do Bessa hoje.
sexta-feira, 26 de janeiro de 2007
Platini vence
Vamos ver que consequências tudo isto vai ter para Portugal, para a Selecção e para as equipas portuguesas.
quarta-feira, 24 de janeiro de 2007
Ricardo
Segundo o Mais Futebol, "Ricardo foi considerado o sétimo melhor guarda-redes do Mundo em 2006 pela IFFHS, a Federação Internacional de História e Estatística."
Estas estatísticas valem o que valem, e a gente (sobretudo o Ricardo) deve olhar para elas com distância, mas há uma coisa que ninguém poderá contestar: o Ricardo é o guarda-redes titular do Sporting, repito, é o guarda-redes titular do Sporting!, e é o melhor português nesta posição.
terça-feira, 23 de janeiro de 2007
Venenos 13
Aqui no KL o contador, por acaso, foi colocado bastante tempo depois do início da nossa actividade. Isto quer dizer que ao número que podem encontrar no fim da página haveria que acrescentar mais os 352.679 acessos que tivemos durante o tempo em que estivemos sem o dito contador... Ou seja, para que tudo fosse claro e limpinho, aos cerca de 11.500 acessos indicados no contador há que somar estes 352.679 para termos o verdadeiro total de acessos ao KL!
Nós aqui no KL, como somos disciplinados e honestos instalámos o contador bastante tempo depois de termos começado e iniciámo-lo mesmo do zero!
Mas, nestas coisas de contadores, parece que os há por aí desregulados... Se calhar precisam de ir a uma oficina como aquela da CML onde fazem a aferição dos contadores dos táxis para acertar os dígitos! Já vimos blogs a reclamar um tal número de acessos durante o escasso período da sua existência que só pode ter uma explicação: ou têm pais ricos, ou ganharam a lotaria ou, sabendo nós como estas coisas se fazem... foram à opção "start counter" e colocaram o contador a começar logo com mais uns milhares largos de acessos! Dá um ganda sainete, deve ser bom para a auto-estima e permite certamente chorudos contratos de publicidade.
E vocês sabem de quem eu estou a falar...
Ah! Ah! Ele há com cada kromo!!
segunda-feira, 22 de janeiro de 2007
Venenos 12
sábado, 20 de janeiro de 2007
Os grunhos
A qualidade do atendimento no Sporting é, em geral, e sempre assim foi, muito má.
Mas, nas bilheteiras o fenómeno atinge proporções verdadeiramente patéticas e lamentáveis. Os "episódios" multiplicam-se. A falta de organização, o desprezo inato dos funcionários pelos sócios e adeptos, a falta de educação endémica (substituida vulgarmente pelo servilismo, pela bajulação ou pela subserviência dos portugueses, como queiram) e a óbvia ausência de formação para exercer o seu cargo, levam a que estas pobres criaturas que vivem à custa das pessoas que maltratam se comportem, o mais das vezes, como uns verdadeiros grunhos atrás do vidrinho dos "guichets".
Reproduzo aqui um excerto de um diálogo mantido hoje, por volta das 17h, com o funcionário do primeiro "guichet" a contar da direita que a foto ilustra.
- Boa tarde! digo eu, apresentando os cartões para adquirir os bilhetes para o jogo de amanhã.
- ...
O funcionário pega nos cartões, faz o que tem de fazer com eles e grunhe (literalmente!) para mim, em conclusão, com ar ameaçador:
- 30 euros!
Dou-lhe o cartão multibanco para pagar.
- ...
O funcionário estendem-me os bilhetes, os cartões e o talão do multibanco.
Eu digo:
- Obrigado.
- ...
Olho para ele e repito:
- Obrigado!
- ...
Afasto-me resignado.
Tirem vocelências as conclusões que entenderem deste episódio. Eu sei o que tudo isto quer dizer...
quinta-feira, 18 de janeiro de 2007
Os jogadores pelas suas palavras
“Um dos principais hóbis” de Pereirinha, segundo o Record de 15/01, é a playstation.
Miguel Veloso, jornal "Sporting", 16/01/2007, segundo o “Mãos ao Ar”:
“-Também já tem alcunha no balneário?
- Sim. Chamam-me Floribella, por causa dos cuidados que tenho com o cabelo (…risos)”.
Com interesses individuais destes, bem precisa Paulo Bento de ser "intransigente na defesa dos interesses do grupo de trabalho".
quarta-feira, 17 de janeiro de 2007
Ponto de situação do SCP
Quando li, no Expresso, em Novembro, uma entrevista de Nicolau Santos ao actual presidente do Sporting fiquei convencido de que o “meu Sporting”, o tal “clube de príncipes”, da minha meninice estará em breve morto. Poderá ser comprado por um russo mafioso, ou por um árabe nadando em petro-dolares, mas esse já não será o “meu Sporting”. Só um milagre ou uma revolução o poderá salvar e eu tenho razões para não acreditar nem em milagres nem em revoluções. Mesmo assim, vou dar umas dicas para que alguns “revolucionários” menos pessimistas as possam aproveitar na tentativa de ressuscitar o Clube.
Há, em Portugal, milhares de rapazes com habilidade nata para jogar à bola. Não se justifica pagar ordenados e transferências exorbitantes que estão a levar o Clube à falência. Jogar à bola é tão fácil e natural que qualquer garoto de 3 anos é capaz de o fazer. Além disso, o futebol, por muito falseados que sejam os resultados dos desafios, ainda é um jogo. Gastar fortunas ao jogo é, pelo menos, uma parvoíce.
O empolamento nos ordenados e transferências de jogadores e da importância do futebol foi criado para benefício de políticos, de empreiteiros, de donos de jornais, rádios e televisões, de agentes-comissários, de dirigentes desportivos e, por arrastamento, dos jogadores e treinadores. Estes serão os menos culpados porque se limitam a receber (e alguns a escamotear…) os milhões que lhes oferecem. Milhões que são a fonte da corrupção. Se não se movimentassem fortunas nas transferências e ordenados e nos negócios à margem do futebol, não mereceria a pena ser corrupto… (Estão mesmo a ver que também fiquei contente com a nomeação de Maria José Morgado para o “Apito Dourado”)!
Há, por isso, que estabelecer uma política que restrinja ao máximo a compra de jogadores no exterior.
A Academia, a manter-se, pode fornecer jogadores em quantidade e qualidade suficiente para as necessidades do Sporting. Quanto à qualidade, o melhor testemunho são os “craques” nacionais que saíram do Sporting, quanto à quantidade, 26 jogadores serão mais do que suficientes para formar duas equipas, que alternariam na disputa dos jogos quer nacionais quer internacionais. Acho preferível criar duas equipas alternativas do que não criar equipa nenhuma que é o que está acontecendo. Ao fim das 15 jornadas da primeira volta, ninguém sabe qual é a equipa base do Sporting.
Os contratos de formação obrigariam os alunos da Academia a manterem-se no Sporting até que o Clube precisasse deles e tivessem atingido uma certa idade (por ex. 24 ou 25 anos). Os seus ordenados seriam reduzidos para níveis compatíveis com a situação económico-financeira do Sporting. Uma hipótese de compensação seria a comparticipação nas receitas de bilheteira. (Claro que o período de transição seria muito difícil…). Para uma tal revolução vingar, seria necessário um esforço muito grande de esclarecimento da massa associativa com meios humanos e materiais que será utópico julgar que poderão ser disponibilizados pelos actuais dirigentes do Sporting, ou outros com mentalidade semelhante.
Também teria que haver uma maneira mais credível de auscultar a massa associativa, consultando-a, por exemplo, por votação electrónica, no Estádio em dia de jogo grande…
Agora quanto à actual maneira de jogar da equipa principal do Sporting, (aliás semelhante à de quase todas as equipas que vou vendo pela televisão.)
Fui crescendo para o futebol embalado na convicção de que ganha um jogo de futebol a equipa que marcar mais golos. Culpa certamente dos jogos que vi à equipa dos 5 violinos e mesmo à anterior, menos badalada mas também com uma linha avançada que dava gosto ver jogar, com Mourão, Soeiro, Peyroteu, Pireza e João Cruz.
Hoje dá-se exagerada importância ao posicionamento dos jogadores, “à ocupação dos espaços” …. Li, há dias, que quatro treinadores de clubes da primeira divisão (Paulo Bento, Fernando Santos, Jorge de Jesus e Neca tinham ido ao Casino de Lisboa fazer uma palestra sobre os “sistemas” que utilizam. Lá apareceram o 4x4x2 em losango, o 3x4x3, o 4x3x3…Para mim são fantasias para armar ao “futebol científico”... Dir-me-ão que no meu tempo havia o W M. É certo, mas, como é fácil de ver, jogando todas as equipas no mesmo sistema o M encaixava naturalmente no W. E havia realmente o “quadrado”, que no Sporting era mágico…
Não há senão dois modos de marcação, ou homem a homem ou à zona. Actualmente com a subida dos laterais não se faz nem uma coisa nem outra o que redunda quase sempre no abrir de um buraco na defesa e é causa frequente de esgotamento prematuro dos jogadores que são obrigados a correr 50 ou 60 metros com a bola e voltar a correr outro tanto para tentar impedir um contra-ataque. Dois extremos, à moda antiga, seriam muito mais eficazes…
Há uma explicação para esta moda da subida dos laterais: a incapacidade que hoje a maior parte dos jogadores têm para fintar em corrida. É essa incapacidade de fintar que conduz também ao passinho lateral ou para trás, que só se justificaria se servisse para o atacante ir receber a bola mais à frente, o que raramente acontece.
Outra pecha constantemente cometida são os centros feitos antes de tempo, isto é, da linha lateral, sem os atacantes terem atingido a linha de cabeceira a meio caminho entre a bandeirola de canto e a baliza. Resultado: intercepção fácil dos defesas ou do próprio guarda-redes.
Por último, e mais grave, tem faltado à equipa do Sporting, (e a quase todas as que vejo na televisão…) o que no meu tempo se chamava “fio de jogo”. Os jogadores que recebem a bola ficam quase sempre sem saber que destino lhe hão-de dar. Por vezes saem coisas bonitas, mas é por mero acaso… Aí a culpa só pode ser do treinador. O caminho da bola para a baliza adversária é que deve ser estudado e treinado, automatizado, de molde a cada um saber, antes do adversário, para onde deve deslocar-se para a controlar.
Um dia, já o Zé Travassos tinha deixado de jogar, perguntei-lhe quem é que, para ele, tinha sido o melhor treinador. Esboçou um sorriso, como quem diz que eram eles que jogavam a bola, mas depois disse-me “Cândido de Oliveira”. Ora mestre Cândido tinha uma cantilena que ilustra como, para ele, o importante era a bola:
Tuca, tuca, tuca PUM ! E o PUM, dava muitas vezes golo, e o tuca, tuca, jogadas maravilhosas!
Mas Cândido de Oliveira era uma “besta”, treinou o Sporting de borla…
Desculpem lá o testamento.
terça-feira, 16 de janeiro de 2007
Toca a reunir!
É assim, não há que tornar obscuro o que é claro como a água.
A nossa equipa é a "nossa" equipa e defronta a outra. A "outra" é o adversário. Neste confronto vale tudo desde que esteja dentro das regras estipuladas, que os participantes aceitam tacitamente. Nada mais simples.
Ora, no futebol tudo é cada vez mais complicado. Cada vez mais a nossa equipa se confunde com a equipa adversária. Deixámos há muito de saber quem são verdadeiramente os nossos adversários. Vemos o jogador A num dia a jogar com a camisola do nosso clube, para o vermos tempos depois a jogar com a camisola daquilo que era suposto ser o nosso opositor e o jogador B, que a gente verberou furiosamente quando jogava pelo clube que se nos opunha, a jogar com a camisola do nosso clube. Por sua vez, vemos o clube A a ser dirigido por um cavalheiro que, tempos depois, vai dirigir o clube B. O dirigente do clube B, era, afinal amigo do dirigente do clube C, e ambos partilhavam negócios, que também envolviam o agente X, que tempos depois vai para dirigente do clube D. Vai-se a ver e todos, A, B, C e D ganham milhões e têm contas na Suiça.
Podemos ver também o dirigente do clube A e o do clube B a serem controlados pelo mesmo figurão, amigo dos dirigientes de A, B, C, D, etc que, entretanto, comprou tudo, incluindo os direitos de controlo desses clubes, e trata os clubes como se estivéssemos perante produtos diferentes que se propoem nas prateleiras de um supermercado ao distraido consumidor. Finalmente, vemos a empresa E apoiar a nossa equipa e a equipa do adversário, na frente e nas costas da camisola, enquanto a empresa F apoia o adversário e a nossa equipa nas costas e na frente da camisola deles, para disfarçar. Confrontam-se as equipas no campo, mas o patrocinador está garantido. Ganha sempre.
Todas estas bizarrias provocam nos adeptos --que pensavam e pensam que tudo isto era bastante mais simples-- uma muitas vezes não explícita, mas, seguramente, grande sensação de desconforto. Então isto não era uma coisa simples?! Volta não volta, salta-lhes a tampa e de uma forma mais ou menos civilizada, mais ou menos exuberante, lá explicam a quem torna obscuro o que é claro como a água que o futebol é, afinal, uma coisa extremamente simples.
Como se tudo isto não fosse suficientemente complicado (e há outros factores que eu estou aqui a omitir por uma questão de economia do ciberespaço...), a confusão que grassa no nosso Clube do coração, caríssimo e habitual leitor do KL, já indicia que entrámos em situação de alerta laranja. Nós pensávamos que a coisa era simples. Assistíamos aos desafios, cachecóis em punho, camisolas vestidas, o grito de apoio nas gargantas pronto a saltar. Os jogadores lutavam contra as outras equipas, nós apoiávamos porque o Sporting constitui, para nós, o símbolo do fair play, do ideal desportivo, da luta leal mas empenhada, etc. Se a nossa equipa ganhava, ganhavam os bons, e era o triunfo dos nossos ideais. Se ganhava a equipa adversária, ganhavam os maus e era a derrota desses ideais. Era por isto que apoiávamos a equipa. Particularidade não despicienda: por fazer o favor de apoiar a equipa ainda nos obrigávamos a dispender o valor do bilhete, do bilhete de época, da quota, da quota suplementar, do lugar de leão, da "game box", eu sei lá!
Entretanto, a coisa começou a dar para o torto.
Para além daquelas confusões que referi de início (que fazem com que andemos sempre nas bocas do mundo e irritantemente envolvidos em guerrinhas de alecrim e mangerona), o dinheiro que todos nós dispendemos generosa e abundantemente, deixou de chegar para pagar a jogadores decentes e o dinheiro que os patrocinadores "investem" também desaparece como fumo... Tudo isto é bizarro, muito bizarro.
Entretanto, os dirigentes dizem-nos que não nos podemos dar ao luxo de comprar jogadores que façam aquilo que a gente quer ver: jogar à bola! Isto porque os jogadores que jogam à bola são caros. Resta-nos "criar" jogadores para constituirem a base da equipa. Chamaram a isto "o projecto". O objectivo do projecto seria o de ir tendo os jogadores formados no Clube a desmamarem-se nele, desportivamente falando, para serem depois vendidos, proporcionando bons lucros e permitindo a aquisição de outros jogadores que garantissem o normal curso dos acontecimentos. No entanto, verifica-se que os bons jogadores são raros, os potenciais lucros são limitados vis-a-vis as necessidades de cabedais do Clube e, se são verdadeiramente bons, saem antes de nós podermos obter da sua venda o lucro que ambicionávamos. Isto porque o Sporting não tem margem de manobra suficiente para conduzir as negociações a este nível. Uma equipa sem grande estatuto, eternamente fora dos grandes palcos, ausente das grandes montras, está condenada a um papel de embrulho em todo este processo.
Entretanto, como os jogadores da casa não chegam para formar uma equipa de qualidade há que ir buscar "reforços". Como os jogadores que constituem a base da equipa são novos, falta-lhes experiência e serenidade para lidar com as situações de pressão em que foram, quase maliciosamente, diria, colocados. Os meios são escassos, e assim os "reforços" que nos saem na rifa, ou não correm, ou vêm com defeito. Se têm experiência, não têm ou perderam a qualidade. Não cumprem o papel de agentes de equilíbrio que era suposto terem. Passam a fazer parte do problema em vez de fazerem parte da solução.
Por outro lado, por mais que se poupe, os recursos parecem nunca chegar. Mesmo com o uso de jogadores feitos na casa e compras de jogadores de terceira escolha, o dinheiro parece voar sempre a grande velocidade. A solução é vender tudo o que seja vendável. Vão os anéis, os dedos, irão certamente as mãos e os braços.
Resultado de tudo isto: o Sporting não viu o padeiro durante 18 anos, vislumbrou-o fugazmente, mas voltou a entrar na espiral da derrota. Neste momento prepara-se já para fazer as malas e arrumar a época. Já foram as Europas, o campeonato está na iminência de terminar e iremos certamente acabar a época a lutar por um lugar numa qualquer competição europeia, para dela sermos eliminados, como é costume, sem honra nem glória. E recomeçar o ciclo infernal enquanto tudo isto se não desmorona de vez.
Mais um empate ou uma derrota e o treinador vai ser crucificado. Os jovens que em Setembro eram os novos Figos vão ser queimados na praça pública, assobiados e vilipendiados. E a rapaziada que foi contratada para fortalecer a equipa irá experimentar o inferno de Alvalade.
Esta situação tem repercussões nesta época, mas também já se projecta no futuro. Para o ano, com a prestação indecente do Sporting desta época, com a desencanto que se instalou, as "gameboxes" nem dadas. A desmotivação e o divórcio dos adeptos sentem-se por todo o lado e vão acentuar-se.
Isto porquê?
Porque o futebol é uma coisa simples: há um confronto entre duas equipas (que se defrontam de acordo com um conjunto muito preciso e simples de regras) e cada uma destas equipas constitui, para os respectivos apoiantes e opositores, um símbolo. É assim, não há que tornar obscuro o que é claro como a água.
Qualquer acto de gestão, qualquer tomada de decisão técnica, qualquer "projecto" que não tenha esta verdade singela em conta está condenado a fracassar liminarmente. Não é preciso nenhum curso de gestão para perceber isso. Por muito alto que falem os seus autores, por muitos holofotes que os iluminem, por muita gravata hermès que usem e por muito porsche em que se façam deslocar o "projecto" que nos foi proposto para o Sporting revelou-se um enorme fracasso.
Por muito grosso que falem vão ter de prestar contas. E a voz dos adeptos, apesar do desrespeito de que habitualmente é alvo, vai acabar por se fazer ouvir. Ainda mais grossa do que a deles.
Avizinha-se borrasca e da grossa e por isso vos digo: toca a reunir!
Preparem os vossos argumentos.
segunda-feira, 15 de janeiro de 2007
A arbitragem do jogo contra o Belenenses
Sou daqueles que não gostam de justificar os insucessos com os erros de arbitragem. Por exemplo, dou valor ao Paulo Bento por nunca usar este tipo de desculpas (ao contrário do incensado pela sua correcção Fernando Santos, a quem, já esta época, vimos estalar o verniz).
É um facto, até um pouco reconhecido por alguns dos nossos adversários, que houve um tempo em que ao Sporting era impossível ganhar o campeonato, porque tudo estava controlado pelos poderes das sombras. Não creio que isso aconteça de forma tão sistemática hoje em dia. Mas, circunstancialmente…
Vem isto a propósito da arbitragem do jogo com o Belenenses. Claro que não foi por causa da arbitragem, mas por incapacidade própria, que o Sporting perdeu dois pontos.
Mas a arbitragem teve vários enganos, por azar (?) todos contra o Sporting. E a comunicação social não lhes faz qualquer menção, antes considera boa, de um modo geral, a actuação da equipa de arbitragem.
Vejamos os erros que consegui identificar:
- Aos 12m agarrão e puxão do braço de Alecsandro na meia-lua, mesmo à entrada da grande área, fazendo-o cair. Seria livre perigoso e nada foi assinalado.
- Entrada de pé em riste sobre Moutinho, atingindo-o e magoando-o, perto da área sobre o lado direito do Sporting (em excelente posição para Rony); merecia amarelo, mas nem falta foi marcada.
- Várias faltas marcadas indevidamente aos jogadores do Sporting, na primeira e na segunda partes.
- Falta, amarelo a Polga e livre perigoso contra o Sporting perto do fim do jogo; na repetição da TV vê-se que Polga nem sequer tocou no adversário.
- Os jogadores do Sporting deixaram-se cair muitas vezes no fora-de-jogo, mas alguns deles foram muito duvidosos, e pelo menos um deles mal tirado: o de um passe que dá cabeceamento de Tonel; o único jogador que está fora-de-jogo está deslocado para a direita do ataque e não tem interferência na jogada.
Nani ficou de “castigo” por baixar a aplicação
«Nani ficou de “castigo” por baixar a aplicação
O afastamento de Nani do jogo com o Belenenses não teve relação directa com o incidente por ele protagonizado com Custódio no treino de sexta-feira. O camisola 18 terá tido uma entrada mais dura sobre o capitão, depois de ter sofrido um toque – de Liedson – no joelho, mas em ambas as situações não houve lugar a actos de indisciplina, ou qualquer acção mais veemente por parte da equipa técnica. O facto de o médio criativo ter ficado de fora dos eleitos de Paulo Bento, pela primeira vez desde que o técnico assumiu o comando, está mais relacionado com alguns desvios em relação aquilo que, em Alvalade, se entende como padrão exigível para que quaisquer jogadores possam funcionar como opções para a competição. O trabalho semanal funciona como antecâmara da competição, e, neste sentido, Paulo Bento é "intransigente na defesa dos interesses do grupo de trabalho". »
O meio-campo e a disciplina
É o que parece ter acontecido com Nani: ao que se diz, ter-se-á desentendido com Custódio, sendo este, como se sabe, o capitão de equipa.
Recorde-se aqui o que PB disse sobre Nani na entrevista de fundo de há uns meses a “O Jogo”:
«… é bom que aprenda a saber conviver com situações de sucesso. Mas para este menor rendimento que ele tem demonstrado há alguns culpados: em primeiro lugar eu, porque se calhar coloquei-o a jogar vezes demais; em segundo lugar ele, porque não está a aproveitar todas essas oportunidades da melhor maneira; e depois, se calhar, quem o rodeia, muitas vezes quem lhe possa dar demasiadas coisas para quem alcançou tão pouco. Isso torna-se perigoso para um rapaz de 20 anos. Ver notas 7 e 8 só por fazer um golo torna-se perigoso para um jogador…»
Pois, se calhar PB pôs Nani a jogar vezes de mais. E desta vez resolveu pô-lo na ordem e não o convocou.
Pelo contrário, passado o seu período de quarentena, PB resolveu-se a meter Carlos Martins nas opções iniciais. As consequências foram altamente penalizantes para a equipa: ao mau jogo de CM (como o tem feito ultimamente, a fazer um jogo à parte) somou-se o primeiro dia não de Moutinho ao fim de oitenta e tal jogos seguidos a titular, e o Sporting ficou sem ninguém que pegasse no jogo durante toda a primeira parte. A equipa “sentiu” que não podia contar com a sua linha média e os centrais começaram a despejar bolas por cima dessa linha, directamente para os avançados. Ou melhor, para Liedson, porque Alecsandro não existiu e Djaló entrou mal no jogo e o seu processo de afirmação está a ser lento.
Quem critica estas opções não pensa na composição subjectiva do “balneário”.
O futebol de top é um negócio de alto risco. A sua matéria-prima são jovens (no caso do Sporting, muitos são mesmo muito jovens), a quem, pela sua expertise são pagos salários muito acima do comum, e à volta dos quais se movimentam, por via da fama e do dinheiro que têm, tentações de todas as ordens, muitas incompatíveis com as exigências da profissão.
É bem certo que tem havido alguns progressos no que respeita ao grau de iliteracia dos jogadores de futebol. E também neste, como noutros casos, não se pode generalizar. Mas, falando dos de topo, vejo o futebolista padrão como um tipo cuja meninice se passou em ambientes próximos da pobreza e que, acedendo a uma pipa de massa mensal no fim da adolescência, procura afirmar a sua rebeldia, a sua diferença, através da afirmação do poder de compra adquirido. A coisa traduz-se nos penteados à futebolista, no uso de roupa (no dia a dia, casualwear, tipo esfarrapada, mas com design D&G; em ocasiões especiais a camisa YSL e o fato Armani sem bandas) comprada directamente nas passagens de moda e adereços de marca: o Breitling, ou o Rolex, o discreto brinco de platina com pedra preciosa, os Reyban. Cada vez que sai à rua um futebolista de topo leva no corpo o equivalente a um ano de salário médio e desloca-se numa bomba de valor equivalente a quase toda uma vida de trabalho paga ao salário mínimo. É à volta disto e da playstation que se centram os seus interesses quotidianos.
Um treinador que tem de conviver com estes seus subordinados, a maior parte dos quais com ordenados muito superiores ao seu, tem de impor uma disciplina rígida. E não pode manter uma relação de proximidade afectiva; tem de guardar distância. Assim se justificam as afirmações de Paulo Bento no final da partida com o Belenenses, sobre a ausência de Nani da lista de convocados:
«O que digo é que elogiamos demasiado os jogadores, ou pelo menos alguns jogadores que ainda fizeram pouco. Têm de fazer mais. Jamais vou pôr os interesses individuais de alguém à frente dos interesses da equipa. Os interesses da equipa foram salvaguardados ao não convocar o Nani.»
Por outro lado, sobre Carlos Martins, afirma: «As conversas que devo ter, tenho-as no lugar certo e no momento adequado, sobre coisas que logicamente não podem acontecer».
Em resumo, quanto à questão da gestão disciplinar estou com Paulo Bento.
P.S.: quanto à má prestação da equipa contra o Belenenses, ela não encontra justificação apenas na arriscada dependência dos jovens; há também a considerar a mediocridade dos “reforços” deste ano (também Farnerud e Alecsandro nada contribuíram para o bom jogo da equipa). Sobre isto tenho eu suficientemente escrito, verberando a qualidade das contratações feitas e pugnando por soluções. Que parece não estarem a ser tratadas durante esta reabertura do mercado…
sábado, 13 de janeiro de 2007
Outra vez Carlos Martins
«Carlos Martins voltou a portar-se mal
Paulo Bento deu-lhe mais uma oportunidade, mas o médio voltou a desperdiçá-la com uma infantilidade. Ao minuto 66 viu um cartão amarelo. Paulo Bento, como que a adivinhar, chamou de imediato Pereirinha, mas já foi tarde. Martins envolveu-se numa confusão com Mancuso e viu o segundo cartão amarelo e consequente expulsão. A exibição até já estava a ser fraca, mas nem uma noite de glória desculpava a atitude».
Para aqueles que acham que ele não afirma as suas inegáveis qualidades porque o treinador não o põe a jogar mais vezes, relembro o que escrevi aqui sobre Carlos Martins, fazendo uns sublinhados:
«… acho que CM não se pode queixar de falta de oportunidades, apesar de toda a sua indisciplina. Não é o treinador que lhe está a dar cabo da carreira; é a cabeça dele. Já não é o treinador que lhe pode conferir auto-estima ou confiança nas suas capacidades físicas (convencido de que é bom a jogar à bola está ele, de certeza). Do que ele precisa é de acompanhamento psiquiátrico. Digo isto muito a sério. Espero que o consigam convencer disto, porque, como se sabe, é uma prática a que ninguém pode ser obrigado. E quando digo que espero que isto aconteça é porque estou convencido de que Carlos Martins possui um enorme talento».
Torci desde o início do jogo para que o novo visual de CM se traduzisse em termos de estado de espírito e, em consequência de exibição. É, pois, com mágoa, e chateado por isso ter sido um dos factores da perda de 2 pontos, que vi os factos darem razão à minha análise.
quinta-feira, 11 de janeiro de 2007
Estado de graça
A escolha de Hermínio Loureiro para ocupar o cargo de presidente da LPFP não foi inocente. Ele ocupa um cargo político. O desporto só de forma tangencial se cruza com a função que efectivamente desempenha. A sua missão parece ser dupla. Por um lado, trata-se de criar um colchão que suavize a aterragem das vítimas do "Apito Dourado", agora que tudo aponta para a mais que eminente queda de algumas vacas sagradas do futebol protuguês. Por outro lado, ele tem de arrumar os esqueletos que existem espalhados por aí, pelos armários de muitas associações, partidos, organismos vários e outras instituições que participaram alegremente no regabofe do futebol destas últimas décadas. Porque estes esqueletos ameaçam sair do armário se o "Apito Dourado" apitar até ao fim, há que arrumá-los bem arrumadinhos.
A missão é executada de várias formas, com vários utensílios e de forma articulada com a FPF.
Em primeiro lugar, algumas dessas figuras em evidente e inevitável queda encontraram em Loureiro o braço amigo que as ampara para que o embate não deixe tantas nódoas negras.
Em segundo lugar, há uma estratégia de alimentação da opinião pública que visa dar a ideia de que a LPFP está a revolucionar o futebol português, desviando a atenção da sua verdadeira missão e fazendo esquecer os pecados originais. As comissões e os seminários sucedem-se, chovem palavras fortes como "ética" e "código de conduta" e não falta, para que o quadro da "revolução" fique completo, o argumento sempre convincente da aplicação das "novas tecnologias" ao futebol. Enquanto pensamos que a tal "verdade desportiva" vai agora finalmente ser reposta, poucos pararão para pensar quando é que ela esteve em causa... E, mutatis mutandis, enquanto aguardamos a ambicionada revolução e vamos descobrindo todos, maravilhados, "um novo ciclo no futebol português," deixamos de nos preocupar com as causas que conduziram ao velho ciclo, não paramos para pensar se estão efectivamente resolvidas todas as suas sequelas e, sobretudo, esquecemos quem são os seus arquitectos.
Em terceiro lugar, temos a sempre prestimosa e oportuna ajuda do Estado. Como já tive ocasião de sublinhar num outro post, Loureiro é um deputado da República em funções. Deve ser por isto que ouvimos tantas vezes a expressão que ele está em "estado de graça". É que afinal é precisamente graças ao Estado que Loureiro exerce esta função... De outra forma os clubes profissionais de futebol teriam de pagar ao seu representante máximo um ordenado condigno do cargo que exerce. Mas, quem serão as forças e as vozes capazes de denunciar este escândalo que é um deputado da Nação virar presidente de Liga Profissional de Futebol Profissional e ir exercer a sua missão pública para uma instituição privada à conta do ordenado que todos lhe pagamos? Seria necessário que houvesse forças e vozes que não tivesssem agarrados a si quaisquer vestígios dos tais esqueletos. Isso explicará porventura este silêncio generalizado e prender-se-á, justamente, com a função de arrumador de esqueletos que terá cabido, por consenso, a Loureiro neste seu mandato.
Não faltam apelos do presidente da LPFP aos amantes do futebol. "Acreditem e continuem a ir aos estádios" escreve o DN de hoje citando-o. Se não forem, arrisco eu, mais cedo ou mais tarde não faltará quem diga que a culpa afinal é vossa. Mal agradecidos!
Ricardo, o “especialista em frangos”
Ricardo entrou no Sporting sob o estigma do seu afirmado benfiquismo. Daí que, embora tudo tenha evoluído muito desde então (hoje ele afirma em palavras e gestos a sua “conversão” ao Sporting), sempre tenha sido um mal amado.
Ricardo não é um guarda-redes excepcional, da igualha de um Damas, nem sequer de um Carvalho (aquele que defendia a baliza do Sporting quando ganhámos a Taça dos Vencedores das Taças). Mas tem a sua competência. Passo a analisar.
Dividamos as competências que definem um guarda-redes em:
Entre os postes;
Saída da baliza;
Jogo de pés;
Saída a cruzamentos.
Ricardo é bom ou muito bom em 3 delas e medíocre na outra. Entre os postes ele responde com reflexos rápidos e elasticidade e faz boas e muito boas defesas (daquelas que poupam golos sofridos). Mas nisto há também outros bons guarda-redes, um deles o “nosso” Nelson. É claro que também já o vi dar enormes frangos (lembro-me de 2 em jogos sucessivos, um deles contra o Belenenses, num período de baixa de forma que implicou a perda da titularidade). Mas até Schmeichel, nos seus melhores tempos, dava grandes frangos. A sair da baliza quando lhe surgem adversários isolados, também Ricardo nos tem poupado alguns golos, porque está sempre atento ao jogo e é veloz a reagir; claro que também já o vi falhar (podia fazer melhor no golo de Simão, no último jogo contra o Benfica, por exemplo), mas o normal é ser seguro. Quanto ao jogo de pés ele é do melhor que há no futebol mundial. Neste particular, com a visão de jogo, atenção e rapidez de execução que tem, ele já deu a marcar (sobretudo a Liedson) alguns golos (lembrem-se do jogo contra o Benfica na época passada).
Chegamos assim ao aspecto em que ele é pior: a saída aos cruzamentos. O problema é que ele, neste aspecto fundamental, não cumpre os mínimos. No entanto tem melhorado alguma coisa e pode vir a fazer melhor – com 30 anos um guarda-redes está longe de ser velho.
Agora o argumento fundamental para eu o defender: se não ele, quem? Quer dizer, quem é que há por aí, ao alcance da bolsa do Sporting para o substituir fazendo melhor que ele?
Cruzemos os dedos para que Rui Patrício venha a dar certo, porque entretanto temos de ter – com as suas qualidades e limitações, ele é o melhor guarda-redes português da actualidade – Ricardo na baliza do Sporting.
quarta-feira, 10 de janeiro de 2007
A solução "à espanhola"
Pelo que se sabe, o presidente do clube acha bem porque o futebol português está mal e isto é uma solução "estrutural" para aguentar a agremiação aveirense. O clube está salvaguardado. É estranho que o clube esteja salvaguardado através de uma decisão estrutural que ignora os sócios. Caetano Alves terá de explicar, antes de ir para a guilhotina, como é que o Beira Mar fica defendido quando tripudia sobre os sócios que constituem o clube!
Os espanhóis, pasme-se!, estão dispostos a abrir os cordões à bolsa e investir num clube português, mesmo que o nosso futebol esteja mal, como diz o presidente do Beira Mar. Fazem-no, claro, na defesa dos seus interesses e ignorando totalmente o clube e a sua gente.
Os sócios do Beira Mar são apanhados nesta teia sem capacidade de reacção. As debilidades do Beira Mar (esta solução "à espanhola" não é novidade e já foi usada de forma desastrada por outros clubes com debilidades idênticas) tornam-no presa de soluções milagrosas com esta.
Nenhum clube está livre de uma solução deste tipo. Nem o Sporting! A diferença num caso desses estaria sempre na escala e na maior ou menor elegância da solução.
Mesmo em países mais ricos, em campeonatos mais importantes, onde os clubes têm um poder muito maior, se verifica que, volta não volta, lá vem uma solução do tipo "à espanhola" (ou "à americana" ou "à russa"!) para sanear financeiramente este ou aquele clube em crise. A "crise" e as "crises", por outro lado, nunca parecem deter os investidores e o futebol parece sempre dar para investir mais uns milhões...
E, face a este tipo de "soluções" também assistimos, felizmente, às reacções saudáveis dos adeptos, como foi o caso que aqui referimos há tempo do F. C. United of Manchester.
O que verificamos, nestes casos como o do Beira Mar, é um total desprezo pela voz dos adeptos. São completamente ignorados nas decisões "estruturais" que as direcções tomam para sanear os clubes caídos no fosso. Mas, é a sua presença, o seu clubismo e as receitas directas e indirectas que geram que os novos senhores tentam captar e que se revelarão cruciais para o sucesso destas "soluções". A situação destes dirigentes dos clubes, parece a de certos governantes perante o fenómeno da globalização. São simples paus mandados, mascarados de dirigentes legitimamente eleitos... A guilhotina, neste caso, seria um verdadeiro perdão!
Mas, há que falar também dos adeptos. Quanto a estes, é tempo de começarem a tomar consciência de alguns factos que lhes deveriam merecer séria reflexão.
O futebol implica dos adeptos o envolvimento numa engrenagem que os transcende, claramente. As exigências, por vezes manifestamente exageradas, que estes fazem dos seus clubes estão em flagrante contraste com o tipo de benefícios que colhem desta sua "paixão". É, em parte, isto que leva à espiral da crise e da "solução à espanhola", que acaba por não ser solução para nada, a não ser para os cofres dos investidores e restantes intermediários que gravitam, oportunisticamente, à volta deste universo. Que já viram há muito que por ali podem entrar à vontade porque a "malta", pelo clube, lá vai fazendo o sacrifício que fôr necessário.
Mas, qual é no final a contrapartida?
O futebol é sustentado pelos adeptos, e unicamente pelos adeptos, de forma directa ou indirecta. Não são os jogadores, nem os dirigentes, nem os patrocinadores, nem as televisões que pagam os milhões de milhões que circulam na economia do futebol!!
Os "agentes" do futebol não podem ignorar isto, é verdade. Mas, os adeptos também têm de questionar a vulnerabilidade da situação em que os seus clubes se metem, por vezes, por causa da sua pressão. E têm de se perguntar se a "clubite", de que frequentemente, pelas mais variadas razões, se deixam facilmente possuir é sustentada, se a bota jogará com a perdigota e se estarão a pagar um preço justo pela sua "doença"...
segunda-feira, 8 de janeiro de 2007
O médio defensivo
Custódio é um médio do tipo limpa pára-brisas, de raio de acção limitado (zona curta, frente aos defesas, a toda a largura do campo), mas muito efectivo nessa área. Não sendo veloz, compensa isso com um excelente posicionamento, capacidade de luta e entrega ao jogo. É um jogador muito disciplinado tacticamente. No entanto falta-lhe propensão atacante e rapidez de pensamento e execução. Daí que a sua tendência, por autodefesa, seja passar a bola para os lados ou para trás. Esta tendência é directamente proporcional ao seu estado de autoconfiança; dependendo este, por sua vez, do seu estado físico ou de cansaço e da forma ou do momento da equipa. Já o vimos, em períodos de grande autoconfiança integrar-se em acções ofensivas e mesmo rematar à baliza. O normal nele, contudo, é não ser jogador de fazer a transição entre linhas. Quanto a mim é um bom trinco, mas não é um bom médio defensivo (embora, recicladas as suas capacidades, possa vir a dar um bom médio lateral). Quanto a Paredes, há que analisar as suas capacidades não pelo que ele já demonstrou ser capaz de fazer, mas pelo que ele mostra agora. De facto desconfio muito da capacidade de entrega ao jogo e alegria de jogar em atletas que, depois de se lançarem em equipas de campeonatos mais modestos (como o nosso) transitam para outros mais exigentes onde estão por uns anos, para finalmente regressarem em fim de carreira. Estão aí múltiplos casos a comprová-lo: Zahovic, Drulovic, Edmilson, Valdo, Robert, para não falar de Skuravy, etc. (as excepções, que as há, só servem para confirmar a regra). (Entre parêntesis, direi que, por esta razão, mas não só, vejo com muita desconfiança o regresso de Rochembach). E Paredes, que era um excelente trinco (ou melhor, médio defensivo) no FCP ainda não demonstrou essa valia no Sporting.
É por estas razões que eu apostaria, actualmente, sabendo que a opção comporta riscos, em Miguel Veloso. Não sendo um jogador rápido e faltando-lhe experiência para uma função de tão grande responsabilidade, apresenta uma grande irreverência, vontade e alegria de jogar. O seu futebol é ofensivo: quando ganha a bola tem logo a tendência a conduzi-la para a frente, sem medo de errar. Tendência que, sem ser desencorajada, tem de ser contida nos devidos limites, não vá o rapaz pôr-se a driblar por ali adiante em vez de fazer o jogo da equipa; isto é, tem de se lhe ensinar (e isso é missão da equipa técnica) o momento próprio para progredir, para fazer o passe ou arriscar o remate (e ele dá indicações de o fazer bem com o pé esquerdo), para fintar. Bem sei que Paulo Bento o vê mais como defesa central que como médio defensivo, mas eu gostaria que ele arriscasse em Miguel Veloso nesta posição.
sábado, 6 de janeiro de 2007
Figo
Talvez seja o jogador português que atingiu a maior notoriedade de sempre. Quando digo isto tenho plena consciência do peso destas palavras. Falar nestes termos de um personagem do mundo do futebol, em 2007, numa perspectiva histórica e numa perspectiva internacional, tem uma carga muito óbvia. A notoriedade de que Figo goza hoje resulta de uma carreira sem paralelo e de um prestígio e de uma aura que nenhum outro jogador português jamais foi capaz de alcançar. Figo é um símbolo sólido do desporto português.
Esta polémica que agora anda por aí sobre o mais que certo malogro de um possível fim de carreira de Figo no Sporting só pode dar vontade de rir. Ela revela, por um lado, aquele sentimento de dor de cotovelo que muitos portugueses continuam a cultivar com enlevo. Mas, vem provar, por outro lado, que alguns Sportinguistas têm do Clube uma visão, no mínimo, peculiar e memória curta. Ninguém parece lembrar-se dos insultos, daquela conferência de imprensa...
E já ninguém se lembra da forma como Figo foi, institucionalmente, tratado pelo Sporting. O senhor Cintra merecia um prémio Stromp só por isso...
O que poderá significar hoje, de facto, o Sporting para Figo?
Ao nível a que Figo está, o seu "sportinguismo" só se poderia evidenciar de uma forma: envolvendo-se ao mais alto nível na gestão do Clube e dando-lhe o élan que de todo lhe falta hoje. Para isso bastaria usar todo o enorme património (desportivo, institucional e, se calhar, até mesmo financeiro) que o seu valor gerou. Um património que nenhum outro jogador português conseguiu jamais juntar.
Fazer este alarido todo porque o Figo não vem acabar a sua carreira desportiva no Sporting, dando uns pontapés na bola para passar o tempo, é ridículo e injusto. Esquece o passado sombrio e os ressaltos que a sua passagem pelo Sporting teve, não faz jus ao significado que Figo tem para o Clube, ignora o potencial enorme que para este representa o seu nome, a sua presença e o seu enorme prestígio e, finalmente, apequena um seu possível contributo para ajudar a resolver os seus problemas, as suas enormes carências e deficiências.
O caso Carlos Martins
Carlos Martins (CM) é um futebolista que não consegue jogar um jogo inteiro com o mesmo ritmo. Está provado estatisticamente que, se ele entrou de início, a sua participação no jogo (medida em número de passes, de remates, de centros) se reduz a olhos vistos na segunda parte. É por isso que não joga nunca um jogo inteiro.
Será que isto acontece por incapacidade física estrutural? Não me parece. Antes o atribuiria a um processo mental, que o indisponibiliza para dar esforço a partir de determinado limiar. É conhecido o seu historial de lesões, muitas delas que dá para desconfiar se são reais ou psicossomáticas.
Incapaz, pois, de jogar um jogo inteiro, é natural que os treinadores o pretendam utilizar nas segundas partes, em que, entrando mais fresco, poderá fazer a diferença. Ora ultimamente o que tem acontecido é que CM entra a jogar o seu jogo pessoal e não o da equipa. Tal foi bem patente no jogo contra o Spartak. Quando entrou armou-se em salvador da pátria, tentando fazer tudo sozinho: recebia a bola, rodava e tinha 2 ou 3 adversários sobre ele; logo a perdia e se atirava para o chão reclamando falta de forma veemente, enquanto a jogada prosseguia e ele não estava lá para ajudar a defender. Ele é useiro e vezeiro neste tipo de atitude; às vezes falha um remate ou um passe e fica a dar murros na relva ou a olhar para o céu como quem diz ‘como é que eu falhei isto’ (o que o autojustifica de vir atrás a disputar a bola). Que contraste com por exemplo Liedson (já para não falar em Moutinho) que, quando perde a bola, logo luta na tentativa de a recuperar, perseguindo o adversário até à nossa área se for preciso! Aliás a participação defensiva de CM deixa muito a desejar, em todas as circunstâncias. O golo de Sweisensteiger em Alvalade ficou-se a dever a uma indecisa oposição ao remate por parte de… CM. Se quem estivesse naquela tarefa de cobertura fosse Moutinho não tinha sido golo.
CM não gosta de fazer trabalho defensivo. Naquela cabecinha deve estar implantada a convicção de que, se o fizer, isso lhe retira forças para distribuir jogo, atacar, rematar (aspectos em que ele, de facto, é bom… se jogar em equipa e não a seu bel-prazer). Em resumo: CM é bom se joga para o colectivo, mas, de um modo geral, é muito indisciplinado. Não só tacticamente; também pelos constantes protestos e fitas em que é pródigo e no que até arrasta um pouco a equipa.
Um treinador a sério não pode admitir que na sua equipa haja atitudes deste teor. Porque isso lhe vai tirar capacidade de ralhar com os outros, quando não são disciplinados tacticamente. Os jogadores de futebol só percebem a lógica dos castigos. Não obedeceste, ficas sem jogar, ou pelo menos não entras de início na próxima.
Há quem diga que se jogasse mais vezes podia solidificar as suas inegáveis qualidades? Talvez. Mas acho que CM não se pode queixar de falta de oportunidades, apesar de toda a sua indisciplina. Não é o treinador que lhe está a dar cabo da carreira; é a cabeça dele. Já não é o treinador que lhe pode conferir auto-estima ou confiança nas suas capacidades físicas (convencido de que é bom a jogar à bola está ele, de certeza). Do que ele precisa é de acompanhamento psiquiátrico. Digo isto muito a sério. Espero que o consigam convencer disto, porque, como se sabe, é uma prática a que ninguém pode ser obrigado. E quando digo que espero que isto aconteça é porque estou convencido de que Carlos Martins possui um enorme talento.
quinta-feira, 4 de janeiro de 2007
Árbitros para o seminário
O exercício do mandato tem vindo a tornar mais nítidas as razões da suspeita. Ora vejam...
O problema da arbitragem em Portugal é real. Toda a gente o reconhece e os processos que correm na justiça, só por si, dão ideia de que, mesmo à superfície, a situação é grave e requer medidas urgentes e excepcionais. Deveríamos, nestas circunstâncias, esperar que das instâncias desportivas competentes surgissem iniciativas concretas para produzir uma alteração radical no modo de funcionamento deste sector.
Pelas palavras de Hermínio Loureiro logo que tomou posse e nos tempos que imediatamente se seguiram, esperar-se-ia neste domínio uma acção decidida e um olhar frontal sobre os problemas. Ora, quando tem oportunidade de exercer a pregação, Loureiro... empata.
Vem isto a propósito de um seminário sobre arbitragem que hoje decorre no Porto organizado pela Liga.
Os gestores distinguem-se por tomar decisões e implementar medidas. Neste caso a medida tomada foi a de organizar uma "seminário". Para quê?
Apontada como uma das "bandeiras do mandato" por Loureiro a questão da arbitragem mereceu afinal dele uma medida meramente dilatória, um "seminário", onde certamente aqueles que andam já suficientemente debaixo dos holofotes vão ter a oportunidade de aumentar o número pessoal de "horas de vôo", embora fiquem todos muito mais sensibilizados para esta matéria... Decisões, concretas, só quando forem vencidas as "resistências", ou seja, só para as calendas. Fica tudo, em suma, na mesma.
É a técnica que já a série "Yes Minister", a brincar, denunciava: se tens um problema e não o queres resolver, cria uma comissão... ou organiza um seminário.
Da forma como as coisas estão, a realidade sobre a arbitragem é esta: são todos culpados até prova em contrário!!!!!
PS- Já agora, uma pergunta muito singela (pode ser que dê jeito para debater no seminário...): no desporto, o princípio da separação de poderes não se aplica porquê?
quarta-feira, 3 de janeiro de 2007
Moutinho: o que joga sempre bem
Começo a análise que me proponho fazer aos nossos jogadores por aquele que presentemente mais admiro: João Moutinho.
Ele possui a versatilidade de poder jogar em qualquer das quatro posições do meio-campo. Já o provou, até no decorrer do mesmo jogo! Esta versatilidade cria um problema ao treinador: é que Moutinho não só tem aquela capacidade, como é o melhor do plantel em todas essas posições. Mas, na minha opinião, a posição em que mais rende é a médio-centro, ali no vértice do losango. Quem viu com atenção os jogos pela selecção de sub-23 contra a Rússia dificilmente terá dúvidas sobre isto. Também a recuperação de forma de Liedson e o seu regresso aos golos, se deve muito ao facto de ele ter ocupado essa posição ultimamente.
É um jogador que, apesar da sua juventude, apresenta uma invulgar maturidade, não só a nível técnico como de estrutura mental. Vi-o, no jogo contra a Académica, passar a bola e, de imediato, procurar o espaço vazio (nas alas ou na área), para aí se desmarcando para, sendo opção de passe, continuar em jogo. Também o vi recuar no terreno ocupando espaços, para ajudar a equipa no processo defensivo, com uma entrega total ao conjunto; e chamar a atenção de Nani, apontando-lhe o lugar que devia ocupar, em situações de perda da posse de bola.
Jogando, pois, no vértice atacante do losango, ele nunca perde a noção do colectivo, luta, corre, ocupa espaços, faz trocas posicionais com os companheiros, recua para defender, conduz a bola, cruza, faz o passe de ruptura quando é preciso, sofre faltas, leva porrada, levanta-se, e aí está de novo a cumprir as suas funções até à exaustão. E já vão uma data de dezenas de jogos seguidos naquele corpo franzino, mas resistente. Não terá a capacidade de recreação com a bola de um Cristiano Ronaldo, nem sequer de um Nani, mas tem uma capacidade técnica e uma disciplina táctica muito acima da média. É um jogador que gosta da bola, mas estou certo de que a bola também gosta dele.
Se se tratasse do Nani ou doutro jovem qualquer, eu não estaria a elogiá-lo desta maneira, sabido como, nos jovens, o excesso de elogios pode subir à cabeça e deitar tudo a perder. No caso dele, no entanto, dada a maturidade que demonstra, estou convencido de que não se corre o risco de ele borrar a pintura.
Moutinho é o nosso Scholes; não tem ainda a experiência nem a capacidade de remate do médio do Manchester, mas tem, como este, uma compreensão global do jogo, sabendo, a cada momento o que tem a fazer em prol da equipa.
Para mim ele é o MVP do futebol português do ano que agora acabou.
segunda-feira, 1 de janeiro de 2007
O modelo e o sistema de jogo
Quando, na sequência da situação de descalabro (muito mais disciplinar do que técnico) a que a tinha conduzido Peseiro, a direcção do Sporting resolveu entregar a liderança técnica da equipa a Paulo Bento (PB), estava a tomar uma atitude arriscada (dada a juventude e falta de prática a alto nível do técnico) mas, podemos agora afirmar, sagaz.
De facto o modelo de eleição de PB é o mesmo que Peseiro utilizava: posse de bola e sua circulação de pé para pé, com uma transição defesa-ataque de forma apoiada e grande entreajuda dos elementos que preenchem as diversas posições. Assim, sem grandes abalos para a equipa, o modelo de jogo foi mantido na segunda metade da época anterior, transitando para esta época.
Também o sistema que serve este modelo de jogo foi mantido: o 4x4x2 com losango. É por isto que PB pode justificar os bons resultados de início de época dizendo que “já tínhamos sistema e modelo de jogo definidos, com os quais os jogadores estavam identificados”.
É também por esta razão que pode haver rotação de elementos, do modo como PB a tem vindo a fazer: todos sabem o que devem fazer quando vão ocupar determinada posição no campo. No entanto, com a eliminação das provas europeias, deixou de ter haver recurso a esta estratégia, e os procedimentos já começaram a ser alterados, havendo a curiosidade de saber como irão agora as coisas continuar a processar-se. É que a rotatividade era também utilizada como meio de trazer os jogadores motivados, pois sabiam poder ser chamados à equipa a todo o momento (coisa que seria impossível fazer, por exemplo, no plantel, de 29 elementos, do Benfica). Agora terão de ser usados outros métodos.
A rotatividade, no entanto, e adequadamente, foi sempre relativa, já que há uma espinha dorsal da equipa que (salvo lesões ou castigos) é sempre mantida: Ricardo, Polga, Moutinho e Liedson.
Mas PB também refere (na entrevista de fundo que deu, aqui há uns meses, a seguir ao jogo com o Porto), na sequência da afirmação de continuidade de modelo e sistema entre a época passada e esta: “E depois tivemos o cuidado de procurar outros elementos que não tivessem dificuldades de adaptação a essa realidade”. Ora uma das coisas que falhou foi precisamente isto. Ou melhor, até talvez os elementos se adaptem ao modelo de jogo; o problema é que não têm demonstrado qualidade que justifique as contratações.
Daqui a necessidade reiteradamente afirmada, mas que é necessário repetir até ficarmos cansados, para ver se alguém nos ouve, de contratação de um ponta-de-lança de categoria para jogar ao lado de Liedson.
Tentarei, em escritos futuros, analisar a equipa, a partir dos elementos da sua “espinha dorsal”.
Treinador do ano: Santos? Jesualdo? Não, Paulo Bento!
Regressado ao futebol português depois do desaire que foi a sua presença em Alvalade e dum “estágio” na Grécia, Fernando Santos tentou montar uma equipa à volta de Rui Costa, como “pensador” e distribuidor de jogo. Como aqui previ, a coisa não podia dar certo. Até agora não deu. Santos desmultiplica-se entre o sistema de que gosta e aquele de que a equipa precisa; às vezes dá certo, mas ainda agora com o Belenenses se viu que foi esta a única verdadeira equipa (conjunto) em campo, embora tenham ganho de goleada, com recurso à tradicional vaca (e uma ajudazita dos árbitros) que os socorre nos momentos de aflição.
Jesualdo, é certo que está a ter um sucesso bem acima do que eu contava. Mas, com aquele orçamento e aquela equipa, também eu.
O meu voto vai para o nosso treinador, Paulo Bento (PB).
Tentarei explicar porquê.
PB pegou numa equipa destroçada, sem capacidade anímica, em processo de afundamento na classificação. Deu-se o caso de eu estar em casa de amigos a ver o jogo com o Braga em Janeiro; aquele em que, castigados pelo treinador recém-empossado por se atrasarem nos voos do Brasil para Lisboa, Polga e Deivid ficaram na bancada e PB convocou e pôs a jogar 2 juniores. Um amigo lampião alegrou-se com a nossa derrota, ao que eu lhe respondi dizendo que eles tinham era de se preocupar com o Porto, que nós apenas competíamos pelo terceiro lugar. A, nessa altura, impensável recuperação, disciplinar, anímica e técnica, da equipa, que nos deu entrada directa na Liga dos Campeões, foi obra de PB.
Desde então a disciplina no seio da equipa é um facto, e os casos (que sempre os há) resolvem-se internamente.
O grupo apresenta coesão, muito devido ao facto de o plantel ter apenas 23 jogadores (é também curto, mas isso é outra análise) e à maneira como tem sido feita a rotatividade: no Sporting todos são titulares, ou melhor, sentem que têm a possibilidade de o ser.
Tecnicamente (e tentarei desenvolver este tema em próximo escrito) também há a referir que ele conduziu as coisas com inteligência, mantendo o modelo de jogo anterior (também deste ponto de vista a aposta da direcção foi acertada, visto que o modelo de PB é o mesmo que o do treinador que ele veio substituir) e organizando-o de molde a que cada jogador sabe sempre o que tem a fazer quando entra na equipa.
É certo que nem tudo são rosas, que tem havido alguns erros na “escalação” da equipa, na rotação dos elementos e nas substituições. É certo que temos apenas obtido resultados assim-assim e, esta época já fomos eliminados das competições europeias, o que não esperava, confesso. No entanto, como tenho vindo a escrever, tal deve-se mais à fraca qualidade das contratações para esta época do que a erros do técnico.
Temos de dar tempo a PB, acreditando que a sua juventude enquanto técnico, bem como a força de vontade e capacidade de liderança demonstradas podem fazer dele o nosso futuro “Ferguson”.
Sim, é tempo de acabarmos com a constante mudança de técnicos, assentando num modelo de jogo, integrando todos os anos elementos vindos da formação, fazendo contratações inteligentes (mas sem loucuras financeiras), dando estabilidade à estrutura do futebol e da equipa, para, finalmente, encetarmos um sedimentado período de vitórias.