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10 de fevereiro de 2021

Opinião – “Alguns Dias em Setembro” de Santiago Amigorena

Sinopse

1 de Setembro 2001. Elliot, (Nick Nolte) um espião americano desaparece sem deixar rasto, levando consigo uma informação crucial acerca do futuro imediato do mundo. O seu principal objetivo é rever a filha, Orlando, (Sara Forestier) que abandonou dez anos antes. Organiza então um encontro, através de Irene, (Juliette Binoche) uma amiga de longa data, para o qual convida também David, (Tom Riley) o seu filho adotivo. No entanto, serão perseguidos por William Pound, (John Turturro) um assassino a soldo sem escrúpulos, desde Paris até Veneza, onde se encontrarão com Elliot no dia 11 de Setembro.

Opinião por Artur Neves

É mais um filme que utiliza o 11 de Setembro numa mistura algo desconcertante entre thriller, romance e filme de arte, cuja história está descrita na sinopse e que tem como mais valia os desempenhos de Juliette Binoche, a mais internacional das atrizes francesas, como agente secreta que fuma cigarrilha e fala com a sua tartaruga de estimação e é amiga e colega de trabalho de Nick Nolte que só chega à história no ultimo quarto de hora, mas faz-se notar pelo final dramático que conjuga o pai arrependido com o arauto da desgraça que havia de mudar o mundo para sempre, vestindo uma gabardina creme caraterística do arquétipo figurativo associado aos espiões.

Do outro lado temos um John Turturro investido num assassino a soldo, que persegue Elliot, de pendor poético mas com personalidade neurótica que se alivia das suas ações telefonando para o psicanalista sempre que mata alguém. Pelo teor dos telefonemas o seu objetivo não é o arrependimento, que compensa com a citação de um poema ao morto, mas antes a partilha do seu ato como se isso o aliviasse de alguma auto condenação do seu espírito perturbado.

Irene (Binoche) desloca-se pela Europa a pedido do amigo, acompanhada pelos seus dois filhos de diferentes mães, ambas mortas, que ocupam a maior parte do filme no aprofundamento de um conhecimento mútuo que nós percebemos logo que vai dar romance. Eles legalmente são meios irmãos, mas a proximidade crescente entre eles é legitimada por David, quando citando Henry Miller; “Sexo é bom mas incesto é melhor…” faz a música seguir como esperado, apaziguados que estão os espíritos puritanos.

A chegada de Elliot vai sendo protelada por motivos que desconhecemos e o filme referencia os dias que passam para o encontro durante os dez dias que antecedem o ataque às torres gémeas, sugerindo que alguém, com contactos inconfessáveis sabia antecipadamente o que iria acontecer e lucraria com isso, não só individualmente mas toda a rede de banqueiros de ar suspeito interessados nas revelações que Elliot coletava. Com esta premissa pode inferir-se ainda que o governo dos USA não desconhecia totalmente o que se iria passar em 11 de Setembro, favorecendo as teorias da conspiração que ainda hoje subsistem e que mantêm em suspenso as motivações sobre o ataque ao Pentágono.

No seu conjunto o filme até é agradável, só que não convence no capítulo da alta espionagem para a qual aponta e parece-me excessivo usar um evento da dimensão do 11 de Setembro no meio de uma história que reporta um conjunto de três pessoas que desenvolvem uma química considerável entre si, naturalmente aceite por qualquer espectador que se detenha a apreciar uma narrativa lenta, cheia de adiamentos e perseguidos por um assassino neurótico que em modo bilingue (John Turturro está muito bem) os persegue e que deve ter dado muito trabalho a desempenhar. O argumento tem bons diálogos e o crescimento do romance entre Orlando e David, segue a bom ritmo durante o intervalo da espera do encontro com o pai que idolatra.

São espiões europeus, com família e uma tartaruga, lautas refeições, copos de vinho para esquecer e suspense ligeiro por um perseguidor com problemas de afirmação, que compõem 116 minutos de um filme que se vê com agrado.

Classificação: 5 numa escala de 10

 

11 de agosto de 2016

Opinião – “O Demónio de Neon” de Nicolas Winding Refn


Sinopse


Jesse, uma aspirante a modelo, muda-se para Los Angeles, e rapidamente vê a sua juventude e vitalidade sugadas por um grupo de mulheres obcecadas com a beleza, que farão o que for necessário para ter aquilo que ela tem.

Opinião por Artur Neves

Esta é uma história de glamour, passerelles e mulheres belas que procuram o seu lugar ao sol seja a que preço for. O problema é que o tempo para o conseguir é escasso e furtuito. Nada nas suas vidas é constante, a natureza muda do dia para a noite e este filme mostra-nos essa vacuidade de uma forma extraordinariamente sugestiva e impressiva. O filme não se detém sobre a moralidade do “mercado da carne” ao serviço da moda, nem tão pouco sobre a perversão da beleza que utiliza, mas antes mostra-nos em takes perfeitamente definidos e cirurgicamente trabalhados em todos os detalhes o limite da perversão humana na obtenção dos seus objectivos quando cegamente vectorizados.
Nicolas Winding Refn, Dinamarquês de origem, realizador e autor do argumento deste filme, já nos tinha surpreendido anteriormente em obras de semelhante profundidade embora sobre outros temas, refiro-me a “Só Deus Perdoa” (2013) sobre a vingança e “Bronson” (2004). Nesta história porém, todos os limites são ultrapassados numa primeira parte aparentemente “normal” mas onde se prepara o ambiente e a motivação para a explosão gore numa segunda parte, corporizando a assombração dos desígnios da condição humana, quando afectada pela raiva e pela inveja inultrapassáveis do fracasso, sem esperança de retorno ou remissão.
Esta história mostra-nos também a simplicidade da verdadeira beleza, de que me recordo de alguém ter dito; “A verdadeira beleza não é a que se vê mas a que se adivinha”, que parecendo igual, possui em si artefactos que a diferenciam, que cativam quem a observa mas também capturam quem a possui, como se a sua permanência devesse ser imune ao contexto que a cerca, para preencher a nossa necessidade de perfeição tangível. O fotógrafo principal das sessões apreendeu isso ao primeiro olhar e isso é-nos mostrado de uma forma inteligente.
Todo o filme é realizado a “régua e esquadro”, procurando uma perfeição geométrica através da sequenciação de cenas completas mas que se complementam entre si na visualização da história que o filme conta. A música faz o resto, o ritmo é House, e a sua aparição está meticulosamente preparada de acordo com a tensão que se constrói no desenvolvimento da acção. Filme bem estruturado, bem descrito e construído, com cenas surpreendentes, que vale a pena ver por constituir também uma denúncia sobre o negócio da moda.
Classificação: 8 numa escala de 10

15 de junho de 2016

Opinião – “O Clube” de Pablo Larraín


Sinopse

Um grupo ecléctico de sacerdotes convive com Mónica, uma freira, numa casa na costa Chilena. Quando não estão orando e expiando seus pecados, eles treinam o seu galgo para a próxima corrida. O que será que os levou até ali, praticamente no meio do nada, onde o vento sopra forte frequentemente? Quando um novo sacerdote chega á casa, um homem começa a fazer-lhe fortes acusações. Sua voz aumenta mais e mais até que se ouve um tiro. O padre evita as acusações dizendo ser suicídio. A igreja envia um investigador, mas será que ele, realmente tem a intenção de descobrir a verdade ou apenas garantir que a aparência de santidade do grupo seja mantida?
Opinião por Artur Neves
Quando começamos a ver esta história, não se vislumbra o assunto que que ela encerra e somos assaltados por uma ignorância inquiridora que rapidamente se transforma em surpresa expectante, tal é o ambiente inicial criado por Pablo Larraín, através da casa que nos é mostrada, e da actividade das pessoas que interagem no seu interior, numa relação que se nos aparenta desconexa embora colaborante.
São quatro homens e uma mulher que vivem em comunhão de mesa e habitação, mas cada um tem a sua agenda individual, enquadrados pela irmã Mónica que lhes serve de governanta, cozinheira, guardiã e representante oficial na comunidade onde vivem, que não os conhece, nem eles procuram o seu convívio. São como um corpo estranho que habita um outro organismo mais complexo mas com o qual não estabeleceram qualquer relação, embora aquele lhes sirva suporte através do elo constituído pela irmã Mónica.
Os problemas começam com a chegada de um quinto homem que vem alterar o equilíbrio instalado, bem como, promover o nosso entendimento da acção que nos é revelada nas palavras de apresentação do padre Matias e nas suas explicações sobre o motivo da sua presença. A irmã Mónica assume mais uma vez o seu papel de anfitriã, solícita, disponível e empenhada em o acolher, embora não sem exibir um constrangimento contido. Em todas as situações a sua expressão exibe um sorriso que soa a falso e que se mantem em todas as suas intervenções.
Paulo Larraín conta-nos uma história negra sobre a Igreja Chilena, nos tempos de Pinochet, mostrando-nos todo o cinzentismo e o absurdo da ditadura, bem como, os ecos que chegam ao presente, desses tempos que a ortodoxia do clero não reconhece que tenham existido e ainda continuem no silêncio da prática da fé, tal como o Papa Francisco reconheceu e pediu desculpa. É o ancestral problema do celibato dos padres e de outros desvios de caris sexual decorrente dessa prática, motivados pela negação da dispersão da riqueza que caberia ao eventual cônjuge não pertencente à congregação, no caso do falecimento em primeiro lugar do padre, e marido.
O filme está soberbo, a imagem embora colorida, sofre de um esbatimento uniformizador nos tons interiores que lhe conferem a densidade já detectada nos personagens. Cada um tem a sua razão individual, mas no conjunto são unidos na extrema vilania com que perpetram o mascaramento dos seus actos contra a única testemunha que lhes aponta o dedo acusatório dos seus crimes. A sua vida não tem qualquer objectivo, vivem para gastar o tempo que lhes resta no espaço que lhes foi destinado e assim querem continuar, sem sentimentos de culpa e em oração. Excelente filme, recomendo vivamente.
Classificação: 8 numa escala de 10

6 de junho de 2016

Opinião – “Ensurdecedor” de Joachim Trier


Sinopse
Três anos após a sua morte inesperada, a preparação de uma exposição em homenagem á famosa fotógrafa de guerra Laura Freed reúne o marido e os filhos, pela primeira vez em anos.
Mas quando um segredo perturbador ressurge, os três homens são forçadas a olhar uns para os outros e para si mesmos sob uma nova luz.

Um retrato de sonhos, decepções e segredos familiares desenvolvido através de fragmentos não-lineares de memórias partilhadas, desafios diários e tentativas forçadas de coexistir.
Opinião por Artur Neves
Ensurdecedor (“Louder then Bombs” no original, ou; “Mais Ruidoso que Explosões de Bombas” em tradução livre) é um filme de silêncios instalados no seio de uma família de quatro pessoas. Silêncio conformado do pai, silêncio angustiado da mãe, silêncio evasivo e indeciso do filho mais velho e silêncio revoltado do filho mais novo.
Este silêncio construído durante os anos de convívio próximo, continuado durante as ausências da mãe em trabalho no exterior, bem como, nos intervalos de presença desta, com as suas dúvidas relativamente à sua justificação naquela casa e à perturbação introduzida nas rotinas diárias, nas quais ela não interfere com a sua presença naqueles períodos. Foi este caldo familiar que os separou, que os acantonou nas suas premissas e que os tornou individualmente frágeis e duvidosos quanto aos seus próprios projectos e sentido de vida.
A solução que surge para tentar amenizar a angústia dos dias, são os silêncios e com eles os segredos das frustrações sufocadas, dos temores reprimidos, da fuga para a frente, da procura obstinada do trabalho, de mais trabalho sempre, para justificar a ausência sentida nos momentos em que ela não deveria existir, até ao fim definitivo que surge no acidente de automóvel da mãe da família.
Acidente ou suicídio?... é a dúvida… ou a confirmação da suspeita intuída pela vida anterior em que todos viveram de costas voltadas para tentar esconder o vazio experienciado por cada um à sua maneira. É neste “pântano” que Joachim Trier mergulha o espectador nesta história de que também é autor, para além de condutor de actores que defendem muito bem os seus personagens.
Este é o 3º filme deste realizador Norueguês que tem subido significativamente de nível desde “Reprise” em 2006 e “Oslo – 31 de Agosto” de 2011, ambos constituídos por histórias intimistas de espíritos perturbados. Na presente história a fasquia está mais alta pois nem os motivos nem os factos estão completamente determinados deixando para o espectador o trabalho de compilar os indícios que nos são apresentados ao longo de uma narrativa feita de sombras, reflexos, meias palavras e revelações que não esperaríamos, criando o ambiente perfeito da família falhada, confrontada de supetão com os motivos da morte inesperada.
“Filho e neto de peixe” (pai sonoplasta e avô realizador de cinema) Joachim Trier é um realizador que merece a nossa atenção em futuros trabalhos considerando que neste consegue uma história plena de surpresa e tensão num ambiente deprimido e desconexo entre os seus intervenientes. Recomendo o seu visionamento, como sendo um tempo de análise de uma situação que embora fictícia, poderá existir,
Classificação: 7 numa escala de 10

14 de abril de 2016

Opinião – “Axilas” de José Fonseca e Costa


Sinopse


Lázaro de Jesus é o filho adoptado de uma senhora rica de Lisboa, a quem chama Avó. É ela que o apresenta ao padrinho, um grande empresário que o toma como seu protegido, e a Angelina, a mulher com quem a Avó pretende que ele se case. Mas Lázaro tem outros interesses ocultos, o mais importante dos quais é uma fixação obsessiva pelas axilas femininas. Quando vê a violinista feminina Maria Pia a tocar, Lázaro apaixona-se de imediato e passa a viver em função dela, o que irá precipitar um final absolutamente imprevisível.

Opinião por Artur Neves

José Fonseca e Costa tem boas comédias no seu curriculum, tais como; “Viúva Rica Solteira não Fica”, “A mulher do Próximo” ou ainda; “Kilas o Mau da Fita” de uma época anterior aos primeiros, deixa-nos agora “Axilas” um filme póstumo, incompleto, que foi terminado por Paulo Milhomens.
Trata-se de uma comédia de costumes passada num tempo indistinto, por um lado manifestando princípios conservadores e austeros de uma Lisboa episodicamente existente em círculos muito fechados e por outro, nas tabernas ainda existentes nos bairros mais pobres da capital, em que os seus fregueses exibem o Xico-espertismo nacional, de modo pontual e inconsequente.
É neste ambiente que o nosso “herói” passa a vida, desde que diariamente sai de casa, pois os fartos rendimentos da Avó assim o permitem e ele utiliza a seu belo prazer sem todavia se vislumbrar um objectivo definido naquela vida errante, excepto no dia em que encontra Maria Pia e fica preso pelas suas… axilas, como elemento supremo da sua sexualidade.
A caracterização deste modo de vida e os comportamentos da personagem de Lázaro provocam-nos riso franco e frequente, tal como a figura do padre confessor da Avó, que exibe preceitos e moral, atávicos, próprios de um tempo difícil de encontrar na Lisboa actual, Todavia, a manifestação dos seus interesses mesquinhos e os artifícios utilizados para os conseguir, constituem elementos declarados de crítica para uma certa igreja estática, bafienta e imutável que o Papa Francisco veio agitar.
Neste contexto a nossa história afirma-se como uma comédia singular, cujo desfecho vem conferir uma parcela de dramatismo ao nível da tragicomédia, confirmando o seu o seu contorno circular em que até a morte nos faz rir, conferindo a Lázaro a categoria de um viajante entre mundos desconhecidos, tais como, um copo de tinto, a música erudita, e o conservadorismo religioso de uma certa nobreza quase extinta.
Classificação: 4,5 numa escala de 10

5 de abril de 2016

Opinião – “Cinzento e Negro” de Luís Filipe Rocha


Sinopse


Produzido pela Fado Filmes, este filme conta a história de Maria, traída pelo companheiro. David, quando este lhe rouba um saco de dinheiro e fog, refugiando-se na ilha do Pico. Furiosa e determinada a vingar-se, ela propõe a um inspector da Polícia Judiciária, Lucas, perseguir e encontrar o companheiro. Entretanto David, numa visita à ilha do Faial, apaixona-se por uma faialense, Marina, empregada do mítico bar Peter Café Sport. Maria e Lucas procuram David nos Açores, cruzam-se com Mariana no Faial e os três vão descobrir David na sua casa da montanha, no cimo do Pico. Num confronto final, como numa tragédia grega, Maria e David ajustam as contas que o destino lhes traçou.

Opinião por Artur Neves

Estamos em presença de um drama com todos os condimentos inerentes, que nem o facto de ser uma película colorida, embora com cores carregadas, lhe tira intensidade a esta história que vem a revelar-se trágica, como mais tarde se saberá.
Luís Filipe Rocha que ao longo da sua filmografia nos tem apresentado filmes de uma realidade crua e autêntica, sendo os primeiros mais politizados e actualmente eivados de uma visão mais social dos problemas humanos, oferece-nos desta vez uma história (de que ele é também o autor do argumento) de quatro pessoas muito diferentes que o acaso cruzou, cada uma com os seus objectivos e a sua forma particular de encarar a vida em busca de uma verdade que para cada um tem contextos muito diferentes.
A história começa por nos ser apresentada sem que saibamos o que quer que seja sobre os intervenientes em presença num jogo de palavras e de atitudes para as quais não possuímos qualquer conhecimento dos seus objectivos ou motivações, aprofundando a nossa curiosidade sobre aquelas pessoas que presumimos saberem o que pretendem. Lentamente o filme vai revelando o carácter de cada interveniente até que ficamos com toda a informação necessária para compreender o desfecho daquela reunião, com objectivos dissociados e inconciliáveis cujo resultado nos surpreenderá.
Normalmente associamos o amor à comunhão, à compreensão, ao perdão, incentivados pela possibilidade de redenção dos eventuais erros cometidos por cegueira ou desconhecimento que esse mesmo amor vem iluminar e ajudar a compor um futuro melhor. Nada disso porém acontece aqui, a vingança é determinante e marca o ritmo da caminhada. Só o sangue pode satisfazer a ofensa de um coração apaixonado, dependente, jazente de um amor doentio que sobrevive na escuridão de uma solidão sem fim que nenhuma luz é capaz de mitigar.
O amor generoso também está presente, mas não se consegue afirmar neste ambiente de raiva e ganância com objectivos imutáveis. Participa com um sorriso complacente, para um destino inexorável do qual não sairá porque realmente nunca entrou, mas apenas partilhou na caminhada final.
Para o que é normal dos filmes nacionais, este é um filme longo, mas não sentimos a sua extensão, porque os pormenores vão sendo revelados com a oportunidade que a acção necessita e isso prende-nos ao ecrã, à história, aos silêncios e às palavras, aos pormenores dos movimentos de câmara, aos rostos e aos sentimentos que os animam, nada é deixado no vácuo ou fica sem resposta, constituindo um bom exemplo do cinema Português de qualidade. Recomendo vivamente.
Classificação: 7,5 numa escala de 10

16 de março de 2016

Opinião – “À Sombra das Mulheres” de Philippe Garrel


Sinopse

Pierre e Manon são um casal que luta para superar os seus escassos recursos financeiros. Fazem documentários sem apoios e sobrevivem de biscates. Um dia, Pierre conhece uma jovem estagiária, Elisabeth, e ela torna-se sua amante. No entanto, Pierre não quer deixar Manon – quer manter as duas.

Opinião por Artur Neves
Philippe Garrel já nos habituou por diversas vezes a mergulhar na alma dos amantes para tentar compreender as suas motivações e os seus objectivos na demanda por novas emoções, ou tão somente para uma descoberta de si próprios. Quantas vezes procuramos nos outros o que só alcançamos em nós próprios se decidirmos e conseguirmos ser honestos. Sobre esta temática destaco; “Closer” (Perto Demais) de 2004, como o mais significativo exemplo da profundidade deste assunto.
Desta vez Philippe Garrel apresenta-nos um tetraedro amoroso em que um casal, Pierre e Manon, (Stanislas Merhar e Clotilde Courau, respectivamente) colaboram profissionalmente desenvolvendo actividades ligadas à realização do documentário histórico e sobrevivem em precárias condições monetárias através de trabalhos sem financiamento externo ou de pouca relevância no mercado da arte. Neste contexto somente o amor entre eles os mantém unidos, até ao dia em que esse sentimento carece de refrescamento, de diferença, para continuar a resistir à monotonia dos dias.
Essa busca corporiza-se em ambos pelo encontro de outro parceiro como veiculo para o reencontro consigo próprios individualmente. Eles não deixaram de se amar, eles não deixaram de estar ligados, não se separaram espiritualmente mas os seus corpos precisam de outras emoções para confirmar que estão vivos. As complicações daqui emergentes são múltiplas e Philippe Garrel sabe enuncia-las, embora a nenhuma dê resposta porque isso depende de cada um.
Apresenta-nos os eternos dilemas humanos do conflito entre os prazeres do corpo e os sentimentos associados à cultura ocidental e aos seus dogmas, o conflito do homem deixado que perde o seu “estatuto” na velha premissa de entrega total do amor feminino, o lugar do outro que quer deixar de o ser, que se sente incapaz de suportar essa condição pautada pelo amor físico e no final, o sentimento de perda mútua que ambos sentem pela experiência falhada que ambos experimentaram sem que isso tivesse qualquer significado na mudança que procuravam.
P. Garrel sabe mostrar-nos tudo isto, numa película a preto e branco que vai acentuar o carácter depressivo da acção e a solidão de todos os intervenientes que apenas procuram esse inefável e transitório objectivo a que chamamos felicidade, quando tudo desaba à sua volta, porque já desabou dentro deles, sem que eles se apercebessem.
Mas Garrel traz-nos também a redenção, quando nos mostra que as coisas nem sempre são o que parecem, tanto na vida como na história, e que mesmo os piores eventos podem trazer-nos os maiores triunfos sempre que decidimos assumir a vida com os seus valores, pelo lado honesto. Um filme interessante que somente peca pela contemplação em vez da acção. Neste sentido “Perto Demais” está melhor.
Classificação: 7 numa escala de 10

19 de fevereiro de 2016

Opinião – “Muito Amadas” de Nabil Ayouch


Sinopse

Marraquexe nos dias de hoje. Noha, Randa, Soukaina e Hima vivem amores que têm um preço. Elas são prostitutas, objectos de desejo. Vivas e cúmplices, dignas e emancipadas, elas resistem ao quotidiano de violência numa sociedade que tanto as utiliza como as condena.

Opinião por Artur Neves
Esta história reporta-nos o sofrimento e também o estoicismo de mulheres profissionais do sexo que usam o seu corpo na obtenção do sustento vital da sua existência e dos que lhe estão próximos, tais como, pais, filhos e irmãos e dos que estão noutra esfera e também as exploram, tais como, chulos, “protectores” e polícias corruptos, todos envolvidos na mesma amálgama desta vida que nos foi concedida, mas que tem de ser ganha e paga todos os dias com maior ou menor esforço, por meios mais ou menos difíceis (neste âmbito ditos; “fáceis”) de legalidade determinada por leis com pouco a ver com a realidade que os envolve.
São todas jovens, razoavelmente belas, têm sonhos, formam uma comunidade de iguais, comungando uma entreajuda pouco comum noutras esferas, entre mulheres. O argumento gira em torno de Noha que tem a seu cargo; a mãe que a repudia mas recebe o seu dinheiro, uma filha adolescente mal encaminhada que a custo lhe fala, um filho de tenra idade que mal a conhece, decorrente das prolongadas ausências por motivos de “trabalho”… e que trabalho nos bares selectos de Marraquexe visitado por homens árabes para quem a mulher vale quase tanto como lixo.
O realizador, Nabil Ayouch que também assina o argumento, consegue dar-nos um retrato muito verosímil deste ambiente, deste submundo social, dos proxenetas, drogados, homossexuais travestidos que invejam as mulheres que eles não são e ainda, dos homossexuais latentes que sem coragem para assumir a sua condição tornam-se violentos com as mulheres que não conseguem possuir. A linguagem durante todo o filme é crua mas realista e autêntica, o ambiente social é do mais duro que o cinema nos pode oferecer e chamar prostitutas a estas mulheres constitui um eufemismo, pois elas são dignas putas assumidas e é essa a sua bandeira, o seu emblema, o seu escudo para a vida que as destrata sem lhes conceder uma janela de esperança para que possam pelo menos, sonhar.
Todo o ambiente nocturno da cidade está bem tecido, a história tem espessura e nada fica por dizer, guiado pelo comportamento de Noha, mãe e protectora das suas colegas e únicas amigas que sabem poder contar com ela e com o motorista que as transporta ao longo deste extraordinário documento. Os últimos segundos do filme são cruciais para resumir o seu estado de alma sobre a sua condição…
Aviso; caro leitor se você tem convicções bem determinadas, crê que a vida se rege por leis fora deste mundo e acredita num bem maior para além deste, não veja este filme porque ficará chocado desde a primeira imagem. Se por outro lado, possui mente aberta, acredita no livre arbítrio que a todos nos é concedido e procura elementos de reflexão sobre modos de vida e filosofias que não conhece, então este filme é para si, é para nós e como tal recomendo-o vivamente.
Classificação: 8 numa escala de 10

Opinião – Posto Avançado do Progresso de Hugo Vieira da Silva


Sinopse

No final do século XIX, dois colonizadores Portugueses, imbuídos de uma vaga intenção civilizadora desembarcam numa parte remota do rio Congo para coordenar um posto comercial. À medida que o tempo passa, começam a desmoralizar pela sua incapacidade de enriquecer à custa do comércio de marfim. Sentimentos de desconfiança mútua e mal entendidos com a população local isolam-nos no coração da floresta tropical. Confrontados um com o outro iniciam uma caminhada em direcção ao abismo.

Opinião por Artur Neves
O esforço colonizador Português em África, durante os séculos XIX e XX teve como principal intenção o desenvolvimento comercial com a metrópole e com isso o lucro mais ou menos fácil, obtido à custa do trabalho quase gratuito dos povos colonizados, sobre a capa diáfana da evangelização e da alfabetização como promoção da espécie humana que habitava essas remotas regiões.
Como nós, muitos outros povos Europeus se dedicaram à mesma prática com semelhante sucesso ao nosso, e para o bem e para o mal, com as consequências finais conhecidas de todos. O que este filme nos quer mostrar é a história de dois empreendedores da época dedicados à captura de marfim para o transaccionar noutras paragens dele carenciada.
O argumento foi baseado numa novela de Joseph Conrad e foi adaptado ao cinema com fracos recursos financeiros e técnicos que fazem dela, uma pálida imagem do que foram aqueles tempos de ambição e desumanidade, na pele de dois colonizadores que estabelecem em nenhures (pelo menos o filme não nos dá qualquer enquadramento social ou de localização) um “Posto Avançado (dito) do Progresso” e por lá se mantêm todo o tempo entre frivolidades e bebedeiras, primeiro a sós e depois em amena comunhão com os autóctones mostrando-lhes as virtudes da ociosidade e do vício, produzido por uma bebida com alto teor alcoólico, totalmente estranha para eles até àquela altura.
Claro que a euforia inicial da bebida, conduz posteriormente à reflexão e finalmente à depressão, quando se constata que nada funciona, o trabalho não desenvolve e os objectivos não se atingem sem o trabalho árduo que nunca passou por ali, nem poderia passar com a organização mostrada no filme, contrariamente ao que foi a colonização em África em que gente “boa” e “má” deixou lá a pele para fazer fortuna, ou simplesmente morrer.
Porque é que o cinema Português é sempre assim?... ou pateta, com a reedição de filmes como; “Canção de Lisboa” e o “Pai Tirano”, ou tímido, limitado e pobrezinho como neste filme que poderia constituir o princípio da redenção da burguesia Portuguesa quanto ao colonialismo nacional. Felizmente nem todo o cinema actual é assim e ressalvo a excepção que constitui o filme; “Jogo de Damas”, mas neste, pese embora o desempenho dos actores que se apresenta escorreito e linear, tudo o mais é pobrezinho e frugal, fixado naquele rincão de mato onde tudo se passa, vive e morre sem qualquer rasgo de ambição, sem qualquer extrapolação para o mundo real que justifica aquela aventura falhada.
Este ano a Berlinale está a nosso favor e para lá de “Cartas da Guerra” de Ivo Ferreira em competição pelo Urso de Ouro, também este filme será apresentado na secção Forum e só lhe desejo as maiores venturas, muito embora tenha algumas dúvidas.
Classificação: 4 numa escala de 10

16 de janeiro de 2016

Opinião – “Jogo de Damas” de Patrícia Sequeira


Sinopse

Depois do velório de Marta, as suas cinco melhores amigas vão passar a noite no turismo rural que ela não chegou a inaugurar. Essa longa noite é uma viagem labiríntica pelos caminhos da amizade, na qual cada um se revela como se fosse o ultimo dia. Na véspera do enterro, fala-se da vida e de uma amizade que sobreviveu a tudo. Mas será esta amizade capaz de sobreviver à morte?

Opinião por Artur Neves
Cinco mulheres, relacionadas entre si por laços de amizade antiga e duradoura, vão aguardar o funeral da sexta amiga que partiu, numa casa situada no distrito de Alcácer do Sal que tinha sido o seu último projecto antes de falecer. O ambiente entre elas é de pesar e de consternação e a pernoita naquela casa significa também uma homenagem póstuma à amiga falecida que as gostava de juntar tornando aquele convívio a oportunidade de fruir da amizade que as unia desde os bancos de escola.
Durante essa noite as conversas tornam-se mais intimistas, reflexivas, confessionais até e o ambiente criado, ajudado pelo vinho do jantar e pelos charros fumados assumidamente por umas e compelidamente por outras, adensa a relação entre elas descobrindo-se segredos impensáveis, e revelações conhecidas mas não confirmadas até então, estabelecendo uma diferenciação entre elementos aparentemente ligados por semelhanças de género e de amor sadio.
É no fundo a vida que explode em todo o seu esplendor naquele microcosmos de contradições, convenções, filosofias que nos suportam os comportamentos e as atitudes e constituem os alicerces de qualquer vida estruturada. Não interessa se o alicerce está bem montado, se é verdadeiro ou até real, o fundamental é que exista e que nos sirva e baste em cada momento para justificar uma existência equilibrada, coerente e parcialmente sã no ambiente em que aquele grupo de longa data está envolvido.
A realizadora; Patrícia Sequeira e a autora do argumento; Filipa Leal, têm aqui uma boa obra, embora para a primeira seja a sua estreia em realização para cinema, considerando que já tem experiência em novelas de sucesso para a televisão e para a segunda, assumidamente poeta, em vésperas de publicação do seu novo livro; “Pelos Leitores de Poesia”, conseguiram criar com recursos limitados um filme sóbrio, interessante, moderno nas suas abordagens aos problemas da nossa época, capaz de nos fazer sorrir como de reprimir um soluço atrevido e sobretudo fazer reflectir sobre as convenções da nossa sociedade e na consistência do nosso conhecimento sobre a realidade e a verdade das pessoas que nos são próximas. Um filme diferente da tradição popular do cinema Português, capaz de se confrontar com obras semelhantes em qualquer parte do planeta e que para mim significa uma experiência de género a repetir.
Classificação: 6,5 numa escala de 10

22 de outubro de 2014

O Quarto Azul - Crítica



Ficha Técnica:
Título Original: La Chambre Bleue
Título Nacional: O Quarto Azul
Argumento: Mathieu Almaric e Stéphanie Cléau
Realização: Mathieu Almaric
Fotografia: Christophe Beaucarne
Montagem: François Gédigier
Música: Grégoire Hetzel 
Produção: Paulo Branco

            Opinião por João Salvador Fernandes:
Para quem aguardava, avidamente, pela segunda longa-metragem de Mathieu Almaric  não como actor, mas sim enquanto realizador  O Quarto Azul estará longe de ser um desapontamento, porém, comporta-se demasiado como um quadro azul: belo; mas estagnado, frio, sem o carácter sanguíneo que – surpreendentemente, para um thriller com homicídios e sangue de mordidas nos lábios – o poderia fazer uma obra superior ao que é.

Baseado no livro homónimo de Georges Simenon, um dos mestres do policial, esta narrativa fílmica relata-nos, num misto de analepses e prolepses, avanços e recuos na linha temporal da trama, as atribulantes aventuras e desventuras, carnais e judiciais, de dois adúlteros: Julien Gahyde (o próprio Mathieu Almaric) e Esther Despierre (Stéphanie Cléau).

Assim, saltando entre os seus momentos de intimidade, num quarto azul, e os desenvolvimentos de um processo criminal que termina num quarto azul – cor da sala do tribunal em que ambos são julgados – deparamos com um filme que começa e se mantém numa toada lenta, propícia à contemplação das imagens e das suas cores.

É logo no início, durante as cenas em que Julien e Esther se descobrem sexualmente, emolduradas pelo anil de quatro paredes, que nos apercebemos de que Mathieu Almaric está preocupado, acima de tudo, com o enquadramento.

Tamanha é a inquietação com o espaço de representação que, nesse erotismo exordial, nos vamos relembrando de telas emblemáticas e famosas, como se estas fossem as suas versões em movimento. É difícil não recordar A Origem do Mundo, de Courbet, ainda que com a pequena adição de uma mosca.

Aliás, as moscas estão presentes em vários planos de pormenor, o que origina um mistério dentro do mistério: o que será que Almaric pretende com o recurso a um bicho associado ao sujo e à morte? Será isso? A sujidade da traição? As mortes que se avizinham? O certo é que, não criando grande imersão emocional, esta película leva-nos a desejar ser uma pequena mosca, capaz de se infiltrar em todos os lugares, para saber o que realmente se passou.

E é isso que verdadeiramente se pode apontar a O Quarto Azul: a falta de vibração nos momentos de maior tensão; a carência de algo que nos puxe para dentro do enredo e nos faça sentir, em plena arritmia, o desespero e as comoções de Julien, ao enfrentar a perda, a manipulação feminina e a injustiça.

Um bom filme, que deve ser visto e que me fez sair com um sorriso nos lábios, pois permite, facilmente, associá-lo a outras obras de arte pictórica.

15 de outubro de 2014

Charulata - Crítica


Ficha Técnica:
Título Original: Charulata
Título Nacional: Charulata
Argumento: Satyajit Ray
Realização: Satyajit Ray
Fotografia: Subrata Mitra
Montagem: Dulal Dutta
Música: Satyajit Ray
Produção: R.D. Bansal

              Opinião por João Salvador Fernandes:
         Maurice Zolotow dizia-nos que “num filme os actores e a planificação fundem-se numa entidade para sempre.” E poucas produções cinematográficas conseguem tal imorredoura simbiose, digna de admiração e elogios eternos, como Charulata.

             Nesta longa-metragem de 1964, realizada por Satyajit Ray e recentemente restaurada, conta-se a história de uma solitária dona de casa, Charulata (interpretada por Madhabi Mukherjee), mulher de um editor de um jornal em Bengala, Índia, na década de 70 do século XIX. O marido, Bhupati (Sailen Mukherjee), consciente da falta de atenção a que sujeita a sua esposa – e de que o amor que por ela nutre partilha lugar com o periódico que chefia –, resolve convidar Umapada (Shyamal Ghoshal) e Mandakini (Gitali Roy), os seus cunhados, para morarem com o casal. No mesmo período de tempo, enquanto Umapada fica responsável pela tesouraria e pelos contratos de publicidade da gazeta, chega Amal (Soumitra Chatterjee), primo de Bhupati, um aspirante a escritor com medo do compromisso. Fruto da proximidade quotidiana, Charu – como é carinhosamente conhecida – e Amal deixam-se enlear numa relação de paixão e rivalidade que emerge do gosto comum pela escrita, literatura e poesia.

 Baseada em Nastaneer – conto de Rabindranath Tagore  e vencedora do Urso de Prata e do Prémio OCIC no Festival de Berlim de 1965, esta fita é mais do que uma obra-prima do cinema indiano; é, sim, uma criação sublime que merece o grandioso epíteto de obra-mestra mundial. Excepcionando duas cenas, duas curtas cenas em que considerei a interpretação de Madhabi Mukherjee demasiado tétrica e teatral para o tom até ali seguido, não lhe consigo apontar defeitos.

O manejo da luz, da penumbra e da escuridão é majestoso, simbólico e potenciador da mensagem em face do contexto; a fotografia é primorosa e impressiva; os planos e a banda sonora, ou a sua escassez, são os ideais para intensificar as emoções (que silêncio cativante!); os diálogos, em muitos casos, são autêntica poesia; e o desempenho dos actores, com a minuta ressalva que fiz, é brilhante. Indubitavelmente, um deleite visual a preto e branco que provoca uma fascinante sintonia psicológica com os acontecimentos.

Quanto ao enredo, previsível nesta narrativa de traição, vale pela forma como é relatado e pela exploração que faz da oposição entre dever e amor; entre ideologia e realidade prática; e entre política de classes e de géneros.

As relações humanas estão pejadas de eventos e contradições entalados entre sentimento e vontade; situações, essas, tendentes à quebra de ilusões e de modos de estar na vida. Pois bem, aqui são pintadas com a mestria de quem sabe fazer filmes; filmes em que cada gesto, cada acção das personagens, é um hino à semiose.