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19 de novembro de 2019

LISBON TATTOO ROCK FEST 2019 - Entrevista a Poli Correia

Lisboa, Altice Arena • 29, 30 NOV e 1 DEZ

                                

"Sou um tatuador que gosta de fazer música e não o oposto. A música aliada à tattoo é uma mais valia"


Entrevista a Poli Correia, um dos artistas que irá marcar presença na Convenção Internacional de Tatuagem de Lisboa (tatuador na Iron Skull e músico em Devil In Me / Sam Alone)  
 
  • Como vês esta relação promovida pelo festival entre a tatuagem e o mundo da música? Acreditas que o público sai inteiramente beneficiado?

    Poli: Do meu ponto de vista, e de um modo geral, acredito que sim. A partir de certa era, a cultura da tattoo começou a estar bem presente no meio musical e sim, o rock foi sem dúvida dos pioneiros a abraçar e ter orgulho em carregar pigmento na pele. Acredito que toda a gente ganha no final do dia, música aliada à tattoo é uma mais valia. Toda a gente ouve e mete determinada música nos seus estúdios para tatuar, independentemente do género musical.

     
  • Como consideras o desenvolvimento do universo profissional da tatuagem em Portugal? É importante uma convenção como esta para estabelecer novas relações profissionais e pessoais?

    P: O universo "profissional" da tattoo portuguesa parece estar a caminhar numa boa direção. Eu gosto de convenções, por isso sou suspeito… considero que é bom para estarmos com tatuadores/amigos, partilhar conhecimento e até mesmo para passarmos todos um bom fim de semana rodeados de tattoo e arte relacionada com a mesma.  

     
  • Achas que as pessoas estão mais educadas atualmente para o que é, de facto, adotar a tatuagem como um modo de ser e de estar na vida?

    P: Para começar acho que existe uma contra-informação enorme, mas a verdade é que cada vez existe mais gente tatuada. Não sei se as pessoas têm uma melhor noção da tattoo e da forma como a abordam e a carregam no seu dia-a-dia, mas parece-me que o que surgiu foi uma vertente mais apelativa a nível de grafismos para as massas “pop” que, outrora, pouco ou quase nada consideravam a tatuagem nas suas vidas.

     
  • A tatuagem sempre esteve conectada mais com a cultura musical underground e de géneros mais “pesados” sonoramente. Achas que ainda hoje é assim ou esse estigma tem vindo a desaparecer?

    P: Desaparecer. Não tem só que ver com a questão "pop" que muitas culturas e movimentos artísticos por vezes acabaram por sofrer - se bem que a tattoo não tem um género musical especifico, a meu ver. De qualquer forma, tenho pena de ver a MTV e figuras de reality shows a usufruirem e a deturparem o conceito da tatuagem. Mas na verdade a tattoo está bem… apenas se abriu uma janela para as massas e, talvez, seja isso que nos faça parecer que tal esteja a acontecer.

     
  • Até que ponto ser músico e tatuador ao mesmo tempo potencia ambas as carreiras?

    P: Sou um tatuador que gosta de fazer música e não o oposto. Eu nunca fui muito bom a vender esse "peixe". Tomei a decisão de tentar ao máximo não misturar as duas, ou seja, nunca usei uma para vender a outra, até porque a tattoo para mim está acima de quase tudo na minha vida. A música foi sempre um hobbie que ganhou alguma relevância na minha vida, mas já tive situações em que tatuei devido ao facto de gostarem da banda em que toco… não vou mentir! Pode sim potenciar a carreira, mas eu nunca o fiz dessa forma

     
Com mais de 300 tatuadores de todo o mundo confirmados, o Lisbon Tattoo Rock Fest regressa à Altice Arena nos dias 29 e 30 novembro e 1 dezembro de 2019. Na vertente musical, estão confirmadas as presenças de Madball e Carnivore A.D. no dia 30, sábado, assim como a atuação de Ugly Kid Joe na sala principal no dia 1, domingo. 

16 de maio de 2013

Entrevista a Lissa Price

A convite da Editora Planeta, a D'Magia teve o privilégio de poder entrevistar a escritora Lissa Price, autora do livro "Destinos interrompidos", que escolheu Portugal como um dos seus pontos cruciais na sua tour europeia.

Num ambiente muito familiar, a autora recebeu-nos com todo o seu carinho e simpatia, e ainda com umas pipocas tipicamente americanas, doces e salgadas e com chocolate à mistura, que trouxe especialmente para nós. Digam lá que ela não é uma querida!

Aqui vos deixo, a nossa entrevista. 
Espero que gostem!


Entrevista:
 
1 - Quando é que te apercebeste que querias ser escritora?
Eu acho que foi à cerca de 6 anos, apesar de desde criança ter tido sempre um interesse na escrita. Aliás, com 8 anos escrevi a minha primeira short story. Uma história sobre uma pulseira mexicana. Uma história que também tinha um pouco de fantástico e uma reviravolta no final.
Antes do livro "Starters", escrevi outras duas histórias mas que acabaram por não vender. "Starters" acabou por ser, para mim, como um conta de fadas.

2 - Fala-nos um pouco do teu processo criativo.
O meu processo criativo é um processo orgânico em que eu me concentro em ouvir a história, aquilo a que chamo a verdade da história, ou seja, enquanto escritora eu não imponho à história aquilo a que me propus inicialmente, aquilo que tinha em mente, deixo a história fluir e encontrar-se a si própria. Aliás, para mim é muito aborrecido quando se sabe exactemente o que vai acontecer, eu fico excitada quando as peças se interligam. É um processo de descoberta.

3 - Qual foi o melhor elogio que já recebeste em relação à tua escrita?
Durante toda a minha vida, frequentei muitas aulas e workshops, e numa dessas aulas, um professor escreveu num trabalho meu a seguinte frase: "You could be a superstar", o que significou imenso para mim. E a verdade é que sempre que tenho dúvidas, porque todos nós autores temos dúvidas durante o nosso percurso (ser escritor não é fácil...), agarro-me a esse trabalho e sei que alguém acredita em mim.
Outro elogio que me marcou muito foi um email de uma fã brasileira que me escreveu a contar o quanto gostava do meu livro e a contar que tinha um irmão mais novo, de 12 anos, que nunca lia nada e a quem ela emprestou o livro e o leu em 2 dias, e que gostou tanto do livro que agora quer mais.

4 - Qual foi a parte de Callie que te deu mais prazer escrever?
É mau dizer isto, mas a parte que gostei mais foi quando a surpreendi com a surpresa que não podemos dizer (para não fazer spoilers a quem ainda não leu o livro). Eu adoro abanar os personagens, testá-los.

5 - Normalmente os autores acabam sempre por pôr um pouco de si próprios nas personagens que escrevem. O que tem a Callie de ti?
A força para sobreviver independentemente do resto, aconteça o que acontecer.

6 - O que é que te orgulhas mais neste trabalho?
Eu estou muito contente pelo facto de nunca ninguém me ter dito que adivinhou o final. Isso para mim é uma conquista. E também estou muito contente e orgulhosa com o texto

7 -  O que segue?
O meu 2º livro, o "Enders" já se encontra terminado e em alguns países saí ainda este mês. Infelizmente, para alguns dos meus fãs, especialmente os americanos, o "Enders" só é lançado para o mercado em Julho, o que os está a deixar um pouco chateados.

8 - O que achas da capa portuguesa do "Starters"?
Eu adoro a capa portuguesa, até porque a capa do próximo volume, o "Enders" tem na versão original muito vermelho. O vermelho é uma cor que capta o olhar.

9 - Quais são ou foram as tuas maiores influências em termos de escrita?
As minhas maiores influências foram "Hunger Games", a trilogia de Collins, a série "The Uglies", e "Incarceron" de Fisher. A série "The Uglies" influenciou-me no conceito de beleza especilamente e Collins influenciou-me na forma de escrever.
Enquanto escritores, nós acabamos por escrever o que amamos, o que lemos. E estes livros eram o que eu estava a ler na altura.

10 - Qual foi o último livro que leste que te marcou?
O último livro foi o "The fault in our stars" de John Green
.
11 - Ouvimos por aí uns rumores que os direitos dos teus livros poderão vir a ser comprados para um filme. Por isso, gostaríamos de saber, quem gostarias de ver a interpretar Callie?
Gostaia de ver Hailee Steinfeld. Acho que ela daria uma óptima Callie porque ela consegue ser forte e vulneravel ao mesmo tempo.

12 - E planos para um novo livro?
Neste momento, estou a escrever uma história mas ainda se encontra muito no inicio, que já ando a pensar há cerca de um ano. quero fazer algo de novo, dentro do mesmo estilo mas diferente.
De qualquer forma, o meu editor gostava que eu escrevesse outro livro no mundo do "Starters", o que provavelmente acabará por acontecer, talvez uma espécie de spin-off. Quando se lê o "Enders", o "Starters" ganha todo um novo significado, encerra-se aí um capitulo, mas também se abre aí todo um novo mundo, o que também faz sentido para o desenvolvimento de uma outra história.

13 - Se o "Starters" tivesse uma banda sonora qual seria?
Seria uma música da Adele, a "Set fire to the rain".

14 - Qual é a tua opinião sobre a tradução do título "Starters" para o título português "Destinos Interrompidos"?
Eu adoro a tradução do título para português, faz-me vir tantas partes da história à memória. Acho brilhante.

15 - Foi "Starters" o título originalmente pensado para o livro?
Não, o título original era "Body Bank", mas era um título que dava uma ideia errada e não traduzia bem a história. Entretanto, arranjámos o título provisório de "Starters" que acabou por se manter porque estava completamente ligado à história e fazia sentido, visto que ao longo de toda a história se faz menção aos starters e aos enders. Além disso, eu sempre fui muito fã de basebol e no basebol também existe a expressão starters, que é o que se chama aos jogadores que iniciam o jogo.

8 de julho de 2011

Entrevista a Sónia Louro

Sobre a escritora:
Sónia Louro nasceu em 1976 em França. Desde cedo apaixonada pelas Ciências e pela Literatura, acabou por optar academicamente pela primeira, mas nunca abandonou a sua outra paixão. Licenciou- -se em Biologia Marinha, mas não perdeu de vista a Literatura, à qual veio depois a aliar a um outro interesse: a História.

Entrevista:

Começaste a escrever com que idade?
Lembro-me de escrever desde que aprendi a fazê-lo, portanto comecei com seis anos.

Como surgiu este sonho de escrever um livro?
O sonho de escrever um livro penso que apareceu um pouco antes dos seis anos, quando eu andava com livros infantis de um lado para o outro e sentia uma certa frustração por não conseguir lê-los. Quando aprendi a ler, li todos esses livros que me tinham desafiado durante tanto tempo e gostei da ideia de escrever aquelas histórias e pensei que gostaria de fazer livros como aqueles sem saber muito bem o que estava de facto a desejar.

Foi fácil lançares-te no mundo literário?
Foi difícil. As portas das editoras, se não estão fechadas, estão pelo menos encostadas. É necessário muita perseverança e alguns ombros amigos em quem nos apoiar e que não nos deixam desistir.

Onde vais buscar a tua inspiração?
Não sei. Acho que não há um local exacto para ninguém.

Como é o teu processo criativo? Tens algum ritual?
Não sei se é um ritual, ou um processo criativo, mas sei que quando não consigo avançar numa cena que estou a escrever vou fazer jogging e normalmente a ideia vem.

Quais são as tuas referências literárias?
As minhas referências literárias são Gabriel Garcia Marquez, José Saramago e Eça de Queiroz.

Qual o teu livro preferido?
Não dá para escolher só um. Seria uma grande injustiça para vários livros e para os autores também.
Do Amor e Outros Demónios, de Gabriel García Márquez.
Intermitências da Morte e Memorial do Convento, de José Saramago.
A Capital, de Eça de Queiroz.

Qual a tua citação preferida?
Vita contingit. Vive cum eo. É uma citação em latim que significa: A vida acontece. Vive com ela.

Qual foi o último livro que leste?
A Ilustre Casa de Ramires.

Se tivesses de escolher uma banda sonora para acompanhar a leitura deste livro, qual seria?
Não consigo fazer essa escolha, pois não sou capaz de ler ou escrever e ouvir música ao mesmo tempo.

Queres desvendar-nos um pouco da história?
Este livro baseia-se na premissa que Fernão Mendes Pinto, ao escrever Peregrinação, não terá escrito tudo o que queria por causa da censura da época. Baseada nisso, e munida de documentos e vários livros, escrevi uma obra com aquilo que ele eventualmente poderia ter querido escrever e não escreveu. Em paralelo, decorre uma outra história de suspense, na qual um jovem, por ter na sua posse um manuscrito muito antigo, se vê envolvido em vários problemas.

Com qual das personagens te identificas mais?
Acho que não me identifico com nenhuma.

Ainda te lembras como foi o primeiro autografo que deste? A quem? Onde? O que significou para ti dar esse autografo?
Julgava que não, mas por acaso até me lembro. O primeiro autógrafo que dei foi quando fui buscar à editora alguns exemplares do meu primeiro livro. Fui para casa da minha melhor amiga, que até hoje é a primeira pessoa a ler os manuscritos que escrevo, e dei-lhe uma cópia autografada. Foi sobretudo para lhe retribuir por tudo o que ela já tinha lido meu antes e que o esforço dela também tinha compensado. E a sensação nesse momento foi a de ter chegado finalmente ao fim de um caminho. Um caminho apenas. Havia e há outros, mas naquele momento aquele estava feito.

Quais são os teus planos e objectivos para o futuro?
Continuar a escrever mais e melhor.

17 de março de 2011

Entrevista a Sérgio Brota


Sobre o escritor:
Sérgio Brota, nasceu em 1977 passando toda a sua infância em Setúbal.
Começou a sua vida profissional pelas telecomunicações, na qual se formou em engenharia em 1998, que, numa tentativa de fuga ao quotidiano, intervala com a sua formação em fotografia e, mais tarde, na escrita.
Marcado particularmente pelo tema das viagens, autor de vários projectos associados a mais de trinta países em quatro continentes e com várias publicações e exposições fotográficas, sempre como freelancer, Solitude - Pequenas Histórias de Grandes Viagens é a sua primeira aventura no mundo literário com os textos que ganharam vida vagueando pela estepe Patagónica ou pelos vulcões da Islândia, cruzando os maiores lagos da Europa ou nas conversas de jantar com tribos nómadas do Médio Oriente ou na Mongólia. As fotografias, tal como as viagens, converteram-se em suas companheiras que, no fundo, misturam uma vontade profunda de correr para lugares improváveis, conhecer novas culturas e experiências de vida com o desejo de trazer momentos irrepetíveis.
Tem uma obra diversificada, essencialmente composta por crónicas de viagens e reportagens, palestras de escrita e exposições fotográficas.

Entrevista:

Começaste a escrever com que idade?
A minha escrita, mais a sério, começou com as viagens há cerca de seis anos. No inicio eram apenas notas soltas, não tinham continuidade. Decidi fazer algumas formações nas àreas em que sentia fazerem-me falta e que muito me ajudaram, nomeadamente a escrita creativa, a compilar todo o trabalho.

Como surgiu este sonho de escrever um livro?
De facto não era um sonho no inicio. Aconteceu muito naturalmente à medida que algumas das crónicas publicadas on-line libertavam a curiosade de quem lia e me foram incentivando a completar, publicando.

Foi fácil te lançares no mundo literário?
Não senti isso como uma facilidade ou dificuldade, tal como disse antes, foi natural. O trabalho quando foi apresentado à editora estava praticamente pronto e o resultado final era muito palpável. Acreditaram no projecto.

Onde vais buscar a tua inspiração?
Nas viagens, claro, nas vivências, nas pessoas, nos locais... no mundo.
Como é o teu processo criativo? Tens algum ritual?
Não, nenhum. Simplesmente preciso de estar concentrado, sentar-me e começar a escrever. Dias mais tarde revejo o que fiz.

Quais são as tuas referências literárias?
Depende dos estados de espírito, mas gosto muito de ler alguns dos clássicos russos, Dostoyevsky, Tolstoi e especialmente Gogol. Saramago pela sua extrema criatividade, Dickens pela grandiosidade, Theroux pela escrita de viagens e sou especial admirador da escrita do Miguel Sousa Tavares.

Qual o teu livro preferido?
Por me ter feito acreditar que a escrita de viagens podia ser uma coisa interessante, refiro sempre o SUL do Miguel Sousa Tavares. Mas há dois livros que são referências para mim, As intermitências da morte, de Saramago e o Almas Mortas, de Gogol.

Qual a tua citação preferida?
Há muita coisa escrita pelo mundo, identificar uma em especial é quase impossivel para mim...
Qual foi o último livro que leste?
As regras de moscovo, de Gabriel Silva

Se estivesses de escolher uma banda sonora para acompanhar a leitura deste livro, qual seria?
Já existe. Quando fiz a apresentação do livro na FNAC pedi a um grande amigo meu, compositor, que fizesse a banda sonora do mundo da Solitude. Completou todo o projecto.

Já alguma vez tiveste alguma peripécia, episódio engraçado ou até algo estranho relacionado com o facto de estares a escrever ou teres escrito um livro?
As histórias engraçadas têm a ver com as viagens, não me recordo de nenhum episódio que tenha a ver com a escrita em si...

Ainda te lembras como foi o primeiro autografo que deste? A quem? Onde? O que significou para ti dar esse autografo?
Foi no lançamento, em Setembro do ano passado, na FNAC. confesso que não me lembro a quem foi primeiro, mas isso não é o mais importante. Todos eles foram especiais, pois foram dedicados a alguém que o desejava, que o sentia importante.

Quais são os teus planos e objectivos para o futuro?
Para já, e porque o livro ainda é recente, continuar a disfrutar desse trabalho e tentar divulga-lo o mais possivel.

3 de março de 2011

Entrevista a Hugo Girão


Biografia:
Filho de Fernando Girão (músico, compositor, produtor), nasce em Lisboa no dia 10 de Novembro de 1975.
Desde cedo evidencia interesse pela arte, principalmente a música, devido à profissão de seu pai, de seu avô, Fernando Freitas, já falecido, guitarrista de Amália Rodrigues, e de sua avó, Maria Girão, brasileira de Salvador da Baia, filha de portugueses e grande intérprete de Fado, também ela já falecida.
Com onze anos vai viver para Madrid, junto de seu pai e é nesta altura que começa a escrever os seus primeiros textos. Desde então nunca mais parou de escrever.
Sonha em ser cantor e compositor como seu pai. Participa junto deste em vários espectáculos ao vivo, o que o leva a pensar sériamente numa carreira. Aos vinte anos e vivendo em Lisboa desde os quinze, compõe musica para o seu primeiro álbum, com produção do seu progenitor, visto sentir-se plenamente identificado com o trabalho SÉRIO desenvolvido por este, apesar de nunca sair para o mercado. A insegurança da profissão de seu pai fazem com que dê um passo atrás nas suas aspirações.
Casa-se aos vinte anos e decide ir viver para Algarve, em Loulé, onde conhece a associação cultural Casa da Cultura de Loulé ( CCL, http://ccloule.com/web), onde conhece a sua paixão pelo teatro amador. ” Suquetes de Karl Valentin e outros”, O meu Pequeno Principe”, adaptação de “O Principezinho” de Exuperry, onde interpreta o papel de aviador, “As minhas asas”, escrita em colaboração com Ana Paula Sousa, adaptando algumas crónicas de António Lobo Antunes, são alguns dos trabalhos nos quais participa como actor, encenador e autor de algumas das composições.
Com esta associação não perde o contacto com a boa música, devido ao facto de esta organizar um dos festivais de Jazz mais importantes do país, o Festival Internacional de Jazz de Loulé, onde conhece grandes músicos tais como Gilad Atzmon, Joel Trolonge, Birelli Lagrene, Franco Ambrosetti, Florin Nicolescu, Johnny Griffin, Ahmad Jammal, entre outros.
No ano 2000, a convite de seu pai, participa no projecto Pirilampo Mágico, onde participou com dois dos temas que iriam ser incluidos no seu primeiro álbum., “As palavras que eu te digo” e “Tão longe mas tão próximo” .
Abandona Portugal partindo para o norte de Espanha, onde reside na cidade de Zamora. É aqui que descobre, através da Internet, a sua amiga Anna Muller, que o anima a escrever para alguns grupos de todo o mundo. É assim que conhece o projecto Poemar.com e posteriormente o projecto Abrali.com onde edita alguns de seus textos e onde participa em duas antologias literárias, “Terra Lusiada” e “Cantos do Mundo”.
Entretanto conhece uma professora de teatro argentina, Valia Percik, que o anima a escrever em narrativa, visto identificar-se com alguns dos seus trabalhos. Isto, conjuntamente com a leitura de vários livros, em particular ” O Cavaleiro da Armadura Enferrujada “, de Robert Fischer, entre muitos outros, levam-no a escrever o seu primeiro livro chamado “O Rei e o Homem Que Já Tinha Sido”, através da Papiro Editora, comentado por Helena Torrado ( escritora), Ricardo Carriço (actor, encenador de teatro) e Cláudia Cadima (actriz), lançado no El Corte Ingles de Lisboa, no dia 29 de Novembro do ano 2006 apresentado pelos mesmos.
Em finais de 2007 edita com a Fronteira do Caos o livro “O Silêncio das Almas”, em co-autoria com Isabel Fontes e em Janiero de 2009, com a mesma editora, mas em solitário, o romance O SiLêncio dos Teus Olhos”, livro que tem dado que falar nos mais diversos recantos da Internet.


Entrevista:

Começaste a escrever com que idade?
Desde cedo, devido à profissão do meu pai, queria ser artista. Quando este se mudou para Madrid, à procura de outras oportunidades (finais dos oitenta, princípios dos noventa), quando tinha onze anos, criou o “Trabalho Intelectual”, que consistia em apresentar todas as quintas-feiras da semana um poema, uma musica, um guião, o que quer que fosse. O único limite era a imaginação. Ainda me lembro que o meu primeiro texto falava sobre o Rambo na selva à procura de uma cabana, apesar de que na escola primária, a Escola 29(e lembrei-me deste texto hoje, Domingo 28-11-2010), escrevi uma peça de teatro de fim de ano sobre o agente secreto 007, que acabou por não ser escolhida.

Como surgiu o sonho de escrever um livro?
Devido às dificuldades da vida do meu progenitor (Fernando Girão), decidi afastar-me de tudo o que tivesse que ver com a arte, mas nunca parei de escrever. Com vinte anos compus oito temas para o que seria o meu primeiro disco mas o medo, a incerteza, a falta de maturidade e outros tantos factores de carácter pessoal fizeram-me abandonar essa ideia. Mesmo assim, nunca abandonei a vontade de escrever, quer fosse em prosa ou em verso. Devido à crise que se instalou no país, abandonei Portugal em 2004 e fugi para Espanha onde conheci a Internet, grupos de poesia(Poemar.com e Abrali.com) e gente que me animou a escrever como forma de vida( Anna Muller, Celso Brasil), apesar dessa vontade ter explodido somente depois de conhecer Valia Percik, uma professora de teatro argentina que me deu um conselho de ouro que tento seguir à letra: escrever “sem me atar às formas”(citação textual).

Foi fácil te lançares no mundo literário?
Na vida não existem facilidades sem trabalho. Estive muito tempo à procura, muitas portas se fecharam, mas isso faz parte do processo. Procurar e encontrar alguém que acredite e aposte em ti, na condição de desconhecido, é sempre um risco para qualquer editora. Com a qualidade e quantidade de títulos existentes no mercado é preciso ter sorte, uma grande dose de paciência e muito trabalho para que um ano depois de ter iniciado a procura estivesse no mercado. Apesar de ter encontrado muitos obstáculos no caminho(ninguém disse que seria fácil), valeu a pena ultrapassá-los.

O que te levou a escrever “O Rei e o Homem que já tinha sido ”?
“O Rei e o Homem que Já Tinha Sido ” nasce da leitura de um livro lindíssimo do autor americano Robert Fischer intitulado “O Cavaleiro da Armadura Enferrujada”. Os conselhos da minha professora de teatro, a leitura deste livro e a vontade de homenagear a doutrina espiritual que professo(a doutrina espiritista ou kardecista, devido ao facto de ter sido codificada por Allan Kardec) e que tanta luz trouxe à minha vida, originaram a história da viagem de um rei que parte em busca de algo valioso que julga perdido, recordando ensinamentos adormecidos de valores nobres enquanto rei e homem.

Onde vais buscar a tua inspiração?
Vivo a vida de forma intensa e isso nota-se no meu carácter. Um sorriso, uma palavra, um gesto, um sonho, uma pedra, uma criança, um ensinamento, um livro, um beijo, uma musica, uma frase, o vento, o sol, a lua, a vida, a morte, a doença, a cura, uma discussão, amar, a tristeza, o mar, o céu em todas as suas tonalidades, a neve, a chuva, o calor; tudo o que me rodeia, o mau e o menos bom, é motivo de inspiração porque acredito que de tudo se aprende.

Como é o teu processo criativo? Tens algum ritual?
Tudo tem relação com a questão anterior. O meu processo criativo tem a sua génese na vida em si, ou seja, as histórias que quero contar podem estar no outro lado do mundo ou mesmo ao virar da esquina, daí levar sempre comigo um caderno e uma caneta. O meu único ritual resume-se a duas simples necessidades: uma banda sonora de acordo com o que quero escrever(sou filho e neto de músicos, ou seja, não sei viver sem música) e grandes doses de silêncio e sossego(quer seja de dia ou de noite).

Quais são as tuas referências literárias?
Todas as que me façam crescer como ser humano.O meu pai, Fernando Girão, responsável pela minha vontade e forma de escrever, António Aleixo, Florbela Espanca, Pramoedya Anantha Toer, Haruki Murakami, Robert Fischer, o meu querido amigo Luis Filipe Sarmento, Antoine de Saint Éxuperry, Mathias Malzieu, Carlos J. Barros, João Pedro Martins, Paulo Coelho, Deepak Chopra, entre tantos outros.

Qual o teu livro preferido?
Espero que Deus me dê saúde e tempo para ler muitos livros. Escolher é uma árdua e injusta tarefa porque todos e cada um deles deixam uma marca única e diferente. No entanto, e de momento, fico com “O Principezinho”. A magia das suas palavras consegue enfeitiçar-me cada vez que o releio. Devo dizer que tenho um “fraquinho” por este livro visto ter interpretado o papel de Aviador numa adaptação que eu e os meus grandes amigos Mário Soares e Ana Paula Sousa fizemos para a Casa da Cultura de Loulé.

Qual a tua citação preferida?
Entre outras muitas- “Não faças aos outros o que não gostas que te façam a ti” e mais recentemente- “Escrevo porque sonho que um dia as minhas palavras tornar-se-ão realidade”., da qual desconheço o autor.

Qual foi o último livro que leste?
“O Ladrão de Livros” de Carlos J. Barros, da editora Fronteira do Caos.

Fala-nos um pouco de “O Silêncio dos teus olhos”.
Este livro é uma homenagem sincera às mulheres que fizeram de mim o homem que escreve estas palavras. A minha mulher, as minhas avós e todas as que, de alguma maneira, passaram pela minha vida e deixaram uma marca, por pequena que fosse. Sou dos que pensa que por trás de um grande homem existe uma grande mulher (outra citação que se identifica muito comigo). As mulheres são a personificação da força anímica aliada á força do amor sem limites...

Se tivesses de escolher uma banda sonora para acompanhar a leitura de “O Silêncio dos teus olhos” qual seria?
“Shine” e “Both Sides Now” de Johnny Mitchell, “Angel” de Sarah McLaughlin, “Mulher” de Fernando Girão, “Caracoles” e “Mare Mia” de Diana Navarro, Lara Fabian, “Against All Ods” de Phil Collins, “Lost” e “Dark Road” de Annie Lennox, entre tantas outras. Todas elas me fizeram companhia enquanto escrevia “O Silêncio dos Teus Olhos”.

Qual foi o livro que mais gostaste de escrever e porquê?
Os meus livros são como os meus filhos, cada um prima pela sua individualidade e personalidade. Cada livro revela preocupações e maneiras de sentir, algumas momentâneas e outras que perduram para o resto da vida. Cada um dos meus títulos visa transmitir um estado de espírito que creio importante partilhar. Cada frase de cada um deles é parte integrante de mim e por mais que a vida e o tempo me transmutem, serão como uma fotografia que, minuciosamente, capta um momento concreto no tempo para se tornar infinito.

Com qual das personagens te identificas mais?
Com todas, visto que em todas elas existe sangue do meu sangue.

O que podemos esperar de diferente do teu último livro em relação aos anteriores?
Tudo e nada. Todas as pessoas com quem falo(as que leram O Silêncio dos Teus Olhos e que, paulatinamente, vão tomando contacto com os outros títulos que tenho editados através dessa fantástica rede social chamada Facebook), dizem a mesma coisa: escrevo com alma. Isso é algo que eu não quero que seja diferente nunca. Apesar de seguir o conselho de Valia Percik, ou seja, não atar-me às formas, o meu último trabalho, ainda em fase de construção, é um romance. A diferença em relação aos meus romances anteriores é que, desta vez, fala sobre o amor sob a perspectiva de dois adolescentes que se apaixonam.

Quais são os teus planos e objectivos para o futuro?
Continuar a escrever “sem atar-me às formas”, ter saúde para o fazer, que “Os Meninos do Vento”(livro infantil com cariz solidário) veja a luz em breve, recuperar-me rapidamente da cirurgia ao pâncreas a que vou ser submetido antes do Natal, ter saúde para ver os meus filhos crescerem e desfrutar da companhia dos meus, poder continuar a partilhar o carinho com todos os que estão do outro lado do monitor, e que os meus Guias não me abandonem e me permitam continuar a dispor da inspiração suficiente para fazer aquilo que mais gosto: ter a capacidade de criar histórias e transformá-las em livros que vos toquem a alma e vos ajudem a sonhar com um mundo melhor...

Gostaria, se me permitisses, de mostrar o meu mais profundo agradecimento à minha actual editora, a Fronteira do Caos, representada por Carla Cardoso e Victor Raquel. Pelo esforço com que têm trabalhado no sentido de dar oportunidade aos novos autores que, como eu, procuramos um lugar nas estantes das livrarias. É, neste momento, em Portugal, a editora que mais arrisca na promoção de novos projectos e talentos. Por isso, e pelo respeito com que sempre fui tratado(os livros da chancela Fronteira do Caos são também distribuídos em Moçambique, Angola e Brasil), mostrar-lhes o meu mais profundo agradecimento por apostarem em mim, esperando estar sempre à altura dos acontecimentos.

28 de fevereiro de 2011

Entrevista a Daniela Pereira


Entrevista:

Começaste a escrever com que idade?
Comecei a escrever muito cedo. Sempre tive um gosto enorme pelas palavras e desde de miúda que adorava inventar pequenas histórias.No entanto se a tua pergunta se refere a uma escrita mais séria,foi só por volta de 2004 que comecei a escrever num blog o Devaneios Azuis e a participar em alguns fóruns literários. Foi através do blog que comecei a partilhar os meus pensamentos, geralmente escrevia essas ideias e sentimentos em poesia.Em 2005 surgiu a oportunidade de editar alguns desses poemas no livro Cortar as palavras num só golpe. E a partir daí nunca mais parei.

Como surgiu este sonho de escrever um livro?
É uma boa pergunta...acho que só me senti capaz de mostrar os meus textos a partir do momento em que senti que as pessoas se identificavam com as palavras que escrevia. Aí senti que seria bom conseguir fazer com que essas palavras...com que esses pedaços de mim chegassem a mais pessoas.Principalmente às pessoas que tanto carinho e apoio me davam ao mostrarem-me que elas mesmo já tinham sentido os mesmos medos,as mesmas desilusões,as mesmas dúvidas que eu ali exibia para o resto do mundo.Quando escrevemos um livro acho que o maior sonho para um escritor é sentir que as suas palavras têm um sentido para o leitor,que o leitor as consegue entender e acima de tudo que as consegue sentir também um pouco suas.

Foi fácil te lançares no mundo literário?
Bem... ainda não me considero lançada no mundo literário. Preciso crescer muito ainda... como autora mas sobretudo como pessoa.
Iniciei a aventura da escrita pela poesia, tenho dois livros editados com a poesia de fundo..o livro “Cortar as palavras num só golpe” da Corpos Editora de 2005, em 2007 editei o livro Afectos Obsessivos pelas Edições Ecopy e pouco tempo depois fiz a participação numa colectânea poética. Este ano com o livro “Já não se fazem Homens como antigamente”, tive a oportunidade de explorar um género de escrita bem diferente...com um fundo humorístico e de sátira social,uma escrita mais leve e de fácil leitura.

Fala-nos um pouco deste teu livro “Já não se fazem homens como antigamente”.
A minha partipação neste projecto, surgiu por um convite que o escritor João Pedro Duarte me fez. O João estava à procura de escritores que colaborassem com histórias relacionadas com as mudanças comportamentais dos homens e das mulheres nos seus relacionamentos. Para falar um pouco da evolução da mentalidade humana...de relacionamentos rápidos...da forma como as relações se tornaram menos estáveis. Eu então juntei algumas ideias que tinha na cabeça e estruturei uma história que se enquadrou muito bem com a ideia do João e assim nasceu a “Clara ou a Cinderela dos tempos modernos”. Esta história relata as várias fases de um relacionamento que Clara e o Tozé ( o outro protagonista desta história) iniciam neste livro.É um casal muito peculiar e engraçado..sobretudo porque têm uma forma de mostrar o que sentem muito transparente e o leitor pode “espiar” todos os momentos desta relação sem que nada seja ocultado.

Como é a experiência de escrever um livro “a meias”?
Estranha... mas sobretudo muito interessante. Esta escrita partilhada acontece com cada um dos autores a mostrar a sua visão dos relacionamentos... com um olhar diferente... Cada um de nós criou uma história distinta, mas todas elas unem-se em torno da mesma mensagem. Por exemplo a minha história foca a ideia de que já não existem homens perfeitos,nem relações de contos de fadas...que nada é eterno. Já a história do Pedro Miguel Rocha, fala na interferência do mundo virtual num relacionamento ...a história do João Pedro Duarte fala em relações abertas,onde dois apaixonados vivem relações paralelas fugindo do amor que sentem um pelo o outro.Finalmente a história do Miguel Almeida atira-nos para a rejeição da velhice...do medo de perder a capacidade de amar e de dar prazer ao outro. No entanto todas as histórias falam de casais.. de pessoas relacionadas umas com as outras em relações estranhas,dificeis mas apesar de tudo muito divertidas e até profundas.

Onde vais buscar a tua inspiração?
Aos sentimentos.... é dentro de mim e de tudo o que eu sinto que encontro a minha inspiração para criar.

Como é o teu processo criativo? Tens algum ritual?
O meu processo criativo é caótico... não existe uma organização das ideias que passo para o papel. Geralmente sou impulsionada para o papel quando algo mais forte é sentido dentro de mim. Tenho alguma dificuldade em criar algo pré-concebido ou rotulado. Gosto mais de criar gritos... palavras que sinto que preciso de soltar. Claro que isto acontece muito devido ao facto de ser uma apaixonada pela poesia. Porque a poesia nasce muito em mim como um prolongamento das minhas vivências...das minhas próprias experiências.

Quais são as tuas referências literárias?
Não posso dizer que tenha referências literárias muito rígidas …. os meus gostos literários variam muito consoante a fase sentimental que atravesso. Mas posso citar alguns escritores que leio com prazer e admiro, por exemplo aprecio imenso Haruki Murakami por todo o universo criado nos seus contos, leio bastante Luís Sepúlveda e Isabel Allende.Já na vertente da poesia sou desde sempre uma apaixonada por Florbela Espanca,Pablo Neruda e Herberto Hélder. No entanto também gosto de ler um pouco dos novos talentos na escrita que vão surgindo e marcando o seu próprio estilo.

Qual o teu livro preferido?
Neste momento Kafta à beira mar do Haruki Murakami... apaixonei-me por completo por este livro assim que o comecei a ler.Foi amor à primeira página...e depois deste amor nunca mais larguei este autor.

Qual a tua citação preferida?
Não sou muito de ter citações preferidas.. Acho que o pensamento de uma pessoa deixa de ter a mesma força quando é conjugado por outra pessoa que não seja aquela que o criou. Mas existe um provérbio popular que me tem acompanhado em vários momentos da minha vida: “Quem semeia ventos,colhe tempestades”. Talvez pela riqueza desta expressão que engloba tantas verdades com que nos debatemos nas nossas relações, na nossa forma de ver o mundo como um universo que nos devolve de alguma forma todos os nossos gestos..os gestos bons que nos influenciam positivamente e os maus que nos acabam sempre por prejudicar.

Qual foi o último livro que leste?
Ainda estou a ler, tenho na minha mesinha de cabeceira por acabar o Elefante Evapora-se de Haruki Murakami. E tenho em lista de espera o livro “O último voo do flamingo” do Mia Couto.

Se tivesses de escolher uma banda sonora para acompanhar a leitura de “Já não se fazem homens como antigamente” qual seria?
Uma banda sonora...deixa ver. Eu raramente ouço música quando leio e quando ouço coloco a minha playlist de músicas preferidas a tocar de forma aleatória...deve andar por lá músicas dos Interpol, PJ Harvey,Noah and the Wales e muitas outras.

Quais são os teus planos e objectivos para o futuro?
Ter saúde e continuar cercada pelas pessoas que mais amo.Acima de tudo desejo nunca perder a capacidade de dar forças aos amigos quando precisam de mim...desejo nunca perder a capacidade de sonhar e de me exprimir através das palavras.Podia dizer que faço muitos planos para o futuro ou que traço muitos objectivos pela vida fora, mas a vida tem-me mostrado que é mutável a uma velocidade super-sónica.Não há nada que seja eterno ou dure para sempre..por isso vou-me adaptando aos momentos que encontro na minha vida. Aqueles momentos que são importantes para mim,que me apaixonam eu agarro com força e luto por eles Na escrita, guardo um projecto de um livro infantil que ainda preciso amadurecer , mas que espero num futuro próximo conseguir partilhar.

21 de fevereiro de 2011

Entrevista a Frederico Duarte


Esta semana, o autor que vos trago é Frederico Duarte, escritor português de fantasia, que publicou o seu primeiro livro "Avatar" em 2007. E que, desde então, já escreveu "Necromancia", o segundo volume da Saga Destino do Universo, e que se encontra presentemente a escrever o terceiro volume “O Guerreiro Elementar”.
Podem ainda acompanhar todas as novidades desta saga no fórum oficial - www.destinodouniverso.pt.vu - e no blog do autor – http://destinodouniverso.blog.com/.


Entrevista:

Começaste a escrever com que idade?
R: Sempre gostei de escrever e tinha como sonho lançar-me nesta área, mas sempre achei que era algo inalcançável. Um dia, e para responder à pergunta tinha eu 19 anos, decidi por no papel as aventuras que tinha vindo a criar na minha mente.

Se a matemática é uma dor de cabeça para muitas pessoas, acho que podemos dizer que para ti acabou por significar o Destino do Universo, pelo menos do teu. Explica-nos, porque estamos todos curiosos, como é que um livro nasce da Álgebra Linear?
R: Essa é uma pergunta a que ninguém resiste. Pois, a decisão que mencionei foi tomada durante um estudo da dita disciplina. Estava verdadeiramente aborrecido e farto de a estudar e resolvi distrair-me. Nesse dia escrevi o prólogo do Avatar e fiz nascer o Destino do Universo. Mas nota que gosto bastante de matemática, para que não haja qualquer mal-entendido.

Foi fácil lançares-te no mundo literário?
R: É uma boa pergunta. Por um lado até obtive respostas positivas logo de início, embora devido ao tamanho da saga, que deverá contar com 6 ou 7 volumes, tenha acabado por ser recusada. Depois disso estive um ano a tentar encontrar editora e a ser constantemente recusado ou ignorado por diversas razões, nenhuma delas a qualidade da história. Na verdade, julgo que a maioria nem a leu, tendo em conta as respostas. No fim foi a Nova Gaia, um dos meus primeiros contactos, a dizer o tão esperado sim. Fazendo o balanço, não foi fácil, mas também acabou por não ser verdadeiramente difícil.

Onde vais buscar a tua inspiração?
R: A tudo. Pode-se dizer que à vida, visto que são todas as minhas experiências que estimulam a minha criatividade. Desde as pessoas com quem convivo, situações que vivencio ou que me contam, filmes, livros, música… tudo, mesmo. A partir daí é dar liberdade à imaginação e ver a onde ela me leva.

Como é o teu processo criativo? Tens algum ritual?
R: Infelizmente, a falta de tempo devido à rotina diária deixa-me pouco espaço para rituais. Mas tento escrever quando posso e me apetece. Por vezes tento dar um empurrão, quando vejo que estou muito tempo sem escrever (um dia ou dois), mas tento não forçar demasiado. Há dias em que escrevo mais, outro em que escrevo menos. Mas quando entro naquilo a que chamo “frenesim de escrita” sou capaz de ficar dias seguidos sem dormir mais que alguns minutos.
Quanto ao meu método de escrita, opto por não planear e escrever de improviso. Desta forma, a própria história consegue surpreender-me. É claro que tenho vários pontos planeados, mas não passam disso mesmo, marcas a que tenho de chegar. Tento não planear demasiado.

Quais são as tuas referências literárias?
R: J. R. R. Tolkien, pelo seu brilhantismo a criar um mundo de raiz com um detalhe incrível, quando pouco ou nada havia na altura. Juliet Marillier, pela sua capacidade de transmitir emoções através dos seus textos. Robin Cook, pois consegue misturar o ambiente de um policial com a medicina de forma única. Christian Jacq, pela maneira como nos transporta através do tempo e nos mostra e ensina História de uma perspectiva totalmente nova. Há mais, mas estas são daquelas de que me lembro logo.

Tens algum livro que te tenha marcado? Se sim, qual e porquê?
R: Ai… essa é uma pergunta verdadeiramente tramada. Leio tanto que houve vários de que gostei muito e simplesmente não consigo distinguir um acima dos outros. Mas posso adiantar que houve alguns que realmente que me direccionaram, como os da colecção Aventuras Fantásticas da Verbo, onde jogamos um RPG ao mesmo tempo que lemos, e que sem dúvida me puxou o gosto para a literatura fantástica ao introduzir-me de um modo mais literal, visto que o leitor é a personagem principal, em mundos repletos de criaturas mitológicas.

Qual a tua citação preferida?
R: “O que não nos mata, torna-nos mais fortes”, de Friedrich Nietzsche. Temos de ser capazes de nos mantermos firmes face às dificuldades e, superando-as, ficarmos mais fortes do que éramos antes, mais completos e sábios.

Qual foi o último livro que leste?
R: “Terras de Corza: Os Doze Reinos” da Madalena Santos. De momento estou a ler “Orbias: O Demónio Branco” do Fábio Ventura.

Qual das personagens da tua Saga é mais parecida contigo? E porquê?
R: Esta é de caras, o Fredisson Vindal. Primeiramente porque me baseei em mim próprio para o criar, daí o nome, tal como usei pessoas que conheço para criar grande parte das personagens da história. É claro que, no meu caso em concreto, lhe adicionei uma boa dose de coragem e uns poderes extra. Acho que nas situações em que ele se vê envolvido fugia ao invés de atirar piadas ou fazer pouco do meu adversário. Mas, como diz a minha esposa, também não tenho o treino que ele teve. Nunca se sabe…

Se estivesses de escolher uma banda sonora para acompanhar a leitura desta Saga qual seria?
R: Metal, sem dúvida, mais acelerado para as cenas de luta e com um toque celta/folk em determinadas situações. É geralmente o que eu próprio ouço quando escrevo, com preferências para bandas como Metallica, Iron Maiden ou os nacionais Hyubris.

Sabemos que a Saga “Destino do Universo” vai contar com um terceiro volume “O Guerreiro Elementar”. O que podemos esperar de diferente deste terceiro capítulo em relação aos outros?
R: No primeiro a história centrou-se na Alexis, que era super-protegida por razões óbvias. O segundo já nos deu uma visão mais crua de uma guerra. Neste voltei a concentrar-me numa personagem, o Larn, que irá mostrar-nos mais sobre Nova, mas sem a protecção que Alexis teve. Como tal, vai estar posto a diversos horrores que ela não presenciou, tornando a história mais obscura. Também abordei temas mais adultos, com todos os dilemas morais de Larn e explorei a construção de cenas íntimas mais a fundo do que nos livros anteriores. Este último ponto foi algo que temi, visto que sempre me disseram que a língua portuguesa era péssima para cenas de sexo. Agora que as escrevi, tenho de discordar, modéstia à parte.

Sabemos que te encontras a desenvolver um projecto paralelo ao “Destino do Universo”. Queres nos desvendar um pouco da história?
R: É um projecto conjunto com outra pessoa, o Sérgio Alxeredo, e devo dizer que estou a ficar bastante satisfeito com o resultado. Sem querer adiantar muito, devo dizer que gira em torno de uma personagem que decide ser diferente e explorar o desconhecido, acabando por se ver envolvido em algo muito maior do que esperava.

Quais são os teus planos e objectivos para o futuro?
R: De momento, quero acabar estes dois projectos e publicá-los. Ter várias pessoas ansiosas por ler os meus livros é entusiasmante e, acima de tudo, não os quero desiludir. Depois, logo se vê. Vou continuar a escrever, sem dúvida, e tenho várias ideias a flutuar na minha mente, mas não quero decidir nada para já e concentrar-me no que tenho em mãos.

16 de dezembro de 2010

Entrevista a João Tordo

É com muito prazer que esta semana vos trago uma entrevista ao escritor João Tordo.


Sobre o Autor:
Nasceu em Lisboa a 28 de Agosto de 1975, filho do cantor Fernando Tordo e de Isabel Branco, ligada ao cinema e mais tarde à moda. Formou-se em Filosofia e estudou Jornalismo e Escrita Criativa em Londres e Nova Iorque. Trabalha como guionista, depois de ter passado pelo jornalismo, tendo publicado, entre outros, n' O Independente, Sábado, Jornal de Letras, ELLE e a revista Egoísta. Escreveu, em parceria, o guião para a longa-metragem Amália, a Voz do Povo (2008). Foi vencedor do prémio Jovens Criadores em 2001. Publicou quatro romances, "O Livro dos Homens Sem Luz" (2004), "Hotel Memória" (2007), "As Três Vidas" (2009) e "O Bom Inverno" (2010). Venceu o Prémio José Saramago 2009 com o romance "As Três Vidas".
João Tordo é influenciado pela escrita de autores como Edgar Allan Poe, Herman Melville ou Dostoievski, e pela literatura policial e de mistério, construindo narrativas dentro de narrativas e absorvendo o leitor através da imersão emocional nas suas histórias.


Entrevista:

Começaste a escrever com que idade?
Relativamente cedo, com oito ou nove anos já escrevia as primeiras histórias, bandas desenhadas, jornais. Só comecei a escrever mais a sério muito mais tarde, por volta dos vinte e cinco anos, quando me pareceu que tinha suficiente experiência de vida – isto é, que tinha vivido algumas coisas – para poder escrever os livros que queria e contar as histórias que me apetecia contar.

Foi fácil te lançares no mundo literário?
Relativamente. Quando terminei o meu primeiro romance enviei-o para uma série de editoras. Na altura eu estava a viver nos Estados Unidos e não fazia ideia nenhuma de como funcionava o mercado editorial em Portugal. Recebi algumas respostas negativas, algumas dúvidas, outras que nem sequer deram resposta; depois, a Temas e Debates, por mão da Rosário Pedreira, interessou-se pelo livro e acabei por encontrar a editora com quem ainda hoje trabalho. Entre o envio dos manuscritos e a resposta devem ter passado seis meses, mais ou menos. É preciso paciência para uma pessoa se aventurar no meio literário.

Onde vais buscar a tua inspiração?
Não faço ideia nenhuma. Por vezes é uma imagem que me surge, espontaneamente; mas também pode ser uma ideia, ou algo que vi num jornal ou num filme, ou uma história que se vai construindo na minha cabeça sem que eu possa fazer grande coisa para a deter. Também faço alguma investigação e vou trabalhando muito as personagens e os cenários antes de chegar à fase da escrita, por isso a inspiração conta num primeiro momento, mas cedo se remete ao seu papel secundário; o que importa é o trabalho e a persistência.

Como é o teu processo criativo? Tens algum ritual?
Escrevo três a quatro meses por ano, todos os dias, sem interrupções, até conseguir uma primeira versão da obra que me proponho a escrever. Depois passo os tempos seguintes a editar e a afinar o manuscrito, já com as sugestões da minha editora e de alguns amigos.

Fala-nos um pouco do teu percurso. Estiveste em Londres, depois em Nova Iorque. O que é que isso contribuiu para a tua faceta enquanto escritor?
O que é que toda a experiência de vida contribui para a nossa escrita? Evidentemente que, se passarmos o resto da vida fechados num quarto, dificilmente teremos muitas coisas para contar (talvez retrospectivamente); no meu caso, preciso muito de conhecer pessoas e lugares e determinadas situações que depois uso nos meus romances. Sendo Londres e Nova Iorque duas cidades enormes, repletas de personagens, enredos e surpresas, contribuíram não apenas como registos geográficos mas também como registos visuais e de interacção.

Como surgiu o teu primeiro romance “Os Homens sem Luz”?
Escrevi-o em Nova Iorque, já depois de ter deixado Inglaterra para trás, embora o romance se passe todo em Inglaterra. É um livro que tem uma narrativa quebrada em quatro novelas, que surgiu de uma série de histórias e personagens que eu tinha na cabeça há uns tempos mas que não sabia como unir. No final, a geografia e o tempo acabam por as ligar; um homem fechado num apartamento, um casal soterrado nos escombros de uma casa, um estudante insone, um médico louco: eram tudo vozes que foram crescendo dentro de mim e eu precisava de fazer alguma coisa com elas, assim surgiu o livro.

Quais são as tuas referências literárias?

Tantas e tão variáveis ao longo do tempo. Na adolescência, Conan Doyle, Kafka, Poe, Daniel DeFoe, Melville, Auster, Dostoievski; na idade adulta, Saramago, Roth, Ian McEwan, Javier Cercas, Bolano....são muitos nomes.

Qual o teu livro preferido?

Difícil dizer, muda com o tempo. Quando tinha 17 anos era “O Processo” de Kafka, aos 21, “Trilogia de Nova Iorque”, de Auster, aos 25, “Goodbye Columbus”, de Philip Roth, aos 28, “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, de Saramago, aos 30, “Detectives Selvagens”, de Bolaño....vai mudando.

Qual a tua citação preferida?

Não tenho.

Qual foi o último livro que leste?

Estou a ler “Pastoral Americana”, de Philip Roth. Antes desse li “Milagrário Pessoal”, do José Eduardo Agualusa, de que gostei muito.

Se estivesses de escolher uma banda sonora para acompanhar a leitura de “O Bom Inverno” qual seria?

Seria um disco de Bon Iver (vês as semelhanças?) chamado “For Emma, Forever Ago”

O que podemos esperar de diferente neste novo livro “O Bom Inverno” em relação aos anteriores?

Já falei muito do livro, mas é um romance que tem uma trama muito parecida com um policial noir, embora não seja de todo um policial; é um romance que testa o limite de várias personagens enclausuradas num cerco, e que transporta o protagonista, um escritor frustrado, de uma vida de desistência e enfado para um lugar estranho e fantasmagórico onde irá ser posto à prova, descobrindo quais são as verdadeiras forças que nos mantêm presos a este mundo e qual é o real poder da palavra.

Qual foi o livro que mais gostaste de escrever e porquê?

Sempre o último. O Bom Inverno foi uma experiência muito divertida, porque deixei que a narrativa se soltasse de mim, fosse carregada por outras personagens em diante. A construção foi natural e não mecânica, o destino de cada personagem foi decidido por ela mesma.
De todas as personagens que criaste, com qual te identificas mais?
Com os meus narradores, que são os meus alter-egos. Nunca têm nomes e são as vozes que narram os meus romances. Evidentemente, sou eu sem nunca ser eu.

O que significou para ti ganhar o prémio Saramago?

Significou que o meu trabalho até então foi reconhecido e é um orgulho ganhar um prémio com o nome do escritor português mais importante de sempre. Para além disso, trouxe-me novos leitores.

O que achas que significa ser um escritor nos dias de hoje?

Não faço ideia. Depende do género de escritor que és, ou se és escritor ou alguém que, por acaso, escreveu um livro. Ser escritor, na minha perspectiva, é uma carreira e não um capricho, é um desenvolver gradual de um talento, da capacidade de mudança, um entendimento da nossa própria vida a partir dos livros que escrevemos. O resto não faço ideia o que seja; só consigo pensar naquilo que faço como uma carreira, com um caminho e uma direcção. O resto são histórias da carochinha.

Quais são os teus planos e objectivos para o futuro?
Continuar a escrever romances, e que cada um faça diferença na minha vida e na vida dos meus leitores.

4 de dezembro de 2010

Entrevista a Bruno Esteves

Esta semana trago-vos uma entrevista deveres interessante e um pouco diferente do habitual, num tom mais intimo e poético. Deixo-vos com o escritor Bruno Esteves.


Sobre o autor:

Nasci a 20 de Julho de 1977 em Lagos (Algarve), cidade soalheira e ventosa onde vivi até aos 18 anos de idade. Em 1995, rumei a Lisboa para prosseguir os estudos nos antípodas das letras e literaturas (sou licenciado em Gestão e Mestre em Sociologia das Organizações). O ano de 2002 marca a minha entrada no mercado de trabalho, sempre ligado à gestão de projectos financiados por fundos comunitários.


Entrevista:

Começaste a escrever com que idade?
Lembro-me que tinha cerca de 16 anos quando comecei o meu primeiro caderno com textos, embora bastante incipientes. Aliás, apesar de ter sido um médio/bom aluno no Secundário, as disciplinas de Português e Educação física foram sempre o meu ponto fraco.

A poesia sempre foi uma paixão?
Como disse anteriormente, não era bom aluno a Português e tinha grande dificuldade em fazer coincidir as minhas conclusões sobre os poemas com as interpretações poéticas que os professores me asseguravam ser as mais correctas. Por isto, na altura, a Poesia não era uma paixão, mas uma dor de cabeça nos testes. Apesar disso, comecei a escrever alguns textos para uma banda duns amigos, embora sem grande seguimento ou aceitação. Os poemas apenas surgem com maior frequência com o primeiro amor. Eram dirigidos à pessoa amada, nomeadamente como forma de suprir a distância entre Lisboa e Lagos. Curiosamente, foi o fim dessa relação que tornou a poesia uma verdadeira paixão. Passo a citar o poema “Obrigado”:

Obrigado pela dor, é mais amiga do que tu foste
É o que se lê no epitáfio...

Este poema deve ser lido sem rancor, pois foi a dor que senti na altura que me levou a escrever sem parar e a tornar a poesia parte integrante da minha vida.

Onde vais buscar a tua inspiração?
A inspiração surge sempre na intensidade dos momentos, das emoções, das relações, dos sons, das imagens, de tudo em geral. O marasmo, o meio-termo, por norma não me provocam qualquer vontade de escrever.

Podemos pegar no exemplo seguinte:
“Numa festa de arlequins dançantes e aprendizes de amores, quitavam-se desejos a pedido... Ela, fada maior leve e de sorriso, pede-me que o diga... “Que desejas tu, rapaz azul, além dos passos que danças?”... “Uma musa, a”, escrevendo-a na parede de giz...”

Esta história é verídica, passou-se numa festa de ano novo 2009, no Chapitô, sob o tema “everything you wish for”. Numa das paredes do Bartô, havia um quadro onde se escreviam desejos. Pediram-me para inaugurar o quadro com um desejo. Escrevi “MUSA” em letras enormes. Não sei se por sorte, se por destino…, mas passado menos dum mês, conheci a mulher que mais me inspirou até hoje. A vida é estranha, mas foram sempre as mulheres que mais me inspiraram na escrita, quer pela paixão que despertaram em mim, quer pela perda ou pelo desencontro. Deixo outro texto que espelha esta ideia…

Mulheres
Adoro despir mulheres nuas e pintá-las de verdade
Vagas suspensas num belo escrito
Alumiando o chão onde olhos essência vogam
Frases lidas entre almas
Incógnitas e vontades ditas na curva de um ambos
Passos dados e confidências
Brilhos recantos, chuva e um encontro nas letras de um traço
Esse nosso infinito espaço
Universo, lua enlace
Um planeta, um sofá e um enunciado de nós
A melodia de poeta entoada
Gesto descalço de intervalos
Eco que nos faz fome teia e desejo
Vestimo-nos destes trópicos corpos desnudos
Coração empresta-te arrítmico
Fronteira e letra gravada a quatro mãos
Um piano que nos toca
Na cauda duma estrela de timbre singular
A pele é músico de amor
Trânsito desta galáxia que nos cede o céu
Por uma noite ou por um sempre

Como é o teu processo criativo? Tens algum ritual?
O processo criativo passa sempre pelo surgimento de uma frase base do poema, que eu tenho por hábito de apontar, sob pena de me esquecer dela. Posteriormente, desenvolvo a ideia e caminho em direcção ao fim do poema, apesar de ter a tentação de alterar os textos sempre que os leio.

Quais são as tuas referências literárias?
Fernando Pessoa, Mário Cesariny, Vinicius de Moraes, Herberto Helder, José Carlos Ary dos Santos, Al Berto, Mário de Sá-Carneiro, Alberto Pimenta, Adília Lopes, entre outros… Mas em particular poetas e poetisas nacionais.

Qual o teu livro preferido?
“O Retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde (Estrangeiro)
“Livro do Desassossego” de Bernardo Soares (Nacional)

Qual a tua citação preferida?
"Antes teor que teorema vê lá se além de poeta és tu poema." de Agostinho da Silva

E por falar em citações, no teu blogue tens uma citação de Bernardo Soares: “E eu, cujo espírito de crítica própria me não permite senão que veja os defeitos, as falhas, eu, que não ouso escrever mais que trechos, bocados, excertos do inexistente, eu mesmo, no pouco que escrevo, sou imperfeito também.”. Quais são os teus maiores defeitos?
Sou:
- Preguiçoso;
- Inseguro;
- Tímido;
- Pessimista;
- E tenho alguma dificuldade em lidar com a exposição pública.

Se tivesses de escolher um poema de outro escritor que te definisse, qual seria?
Common nighthawk

Não és da terra dos muitos
que acordam de manhã cedo
para apanhar os transportes
e quando descem a rua

já têm, aos vinte e picos,
toda a vida pelas costas –
és de uma noite de Julho
que começa sem lembrança

e termina ao outro dia
com um sorriso moído
e um número de telefone
condenado a extraviar-se

Quanto ao mais, posso dizer
que o pouco que sei de ti
não abona em meu favor
nem aproveita ao poema.

Autor – Rui Pires Cabral
in “A Pocket Guide to Birds”

Qual foi o último livro que leste?
Foi a colectânea “A Perspectiva da Morte: 20 (-2) Poetas Portugueses do Século XX”, publicada pela Assírio e Alvim.

Fala-nos um pouco sobre o projecto “A palavra Longe de Aberta”.
Este projecto nasce entre mim e o meu grande amigo e grande músico Iládio Amado, como expressão da nossa amizade e da paixão partilhada, quer pela poesia, quer pela música de origem lusófona. As palavras nasceram dos meus textos e foram musicadas por Iládio, percorrendo amigos e vozes, por vezes no timbre dum instrumento familiar, por vezes sozinhas. Chegamos a apresentar um vídeo sobre a música/poema “Condenado” da autoria da Marta Pedroso, estando previstos outros mais. No final do mês de Setembro, foi disponibilizado um free e-book com um conjunto de textos que servem de universo poético a este projecto com várias dimensões artísticas. Acompanhem-nos no blogue http://apalavralongedeaberta.blogspot.com/ que brevemente surgirão novidades.

Quais são os teus planos e objectivos para o futuro?
Não espero fazer carreira como poeta ou escritor, mas enquanto escrever fizer de mim uma pessoa mais feliz, mais completa… que haja inspiração e continuarei com a minha escrita, sem prazos ou obrigações editoriais.

28 de novembro de 2010

Entrevista a Jorge Tinoco

Esta semana, trago-vos mais uma entrevista a um autor português, que simpaticamente se disponibilizou para nos dar esta entrevista. É ele, Jorge Tinoco.

Sobre o autor:
Jorge Tinoco nasceu a 12 de Janeiro de 1964, em Proselo, Amares. Frequentou os Seminários Maior e Menor de Braga. Ingressou, mais tarde, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Concluída a licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses), fez alguns cursos técnicos nas áreas sociais. É sobretudo neste domínio que tem exercido a sua vida profissional, sendo actualmente Presidente da Comissão para a Dissuasão do Toxicodependência do Distrito de Braga. Tem colaborado com diferentes rádios e jornais. Quanto a livros de sua autoria, viu publicado pela “Editorial Escritor” o volume de contos “Tudo menos Serafins”, actualmente esgotado. Publicou também, desta feita em edição de autor, um selecção de “Alguns Escritos” de sua autoria, incidindo sobre temas de cariz mais filosófico e espiritualista ou intimista. Baseado em relatos de idosos internados no Lar da Santa Casa da Misericórdia de Amares, escreveu ainda “Histórias de Vida”, um livro ilustrado com fotografias de Miguel Louro e editado pela Misericórdia amarense. A convite, integrou, juntamente com outros escritores minhotos, a colectânea “Contos do Minho”, sob a chancela da “Editorial Ave Rara”. Por opção, tem mantido alguns textos inéditos na gaveta, designadamente um romance. “O Mar de Paula”, lançado em ebook e em papel, pelas “Edições Vercial” é, por isso, o seu primeiro romance a vir a lume.


Entrevista:

Começaste a escrever com que idade?
Lembro-me de que, já na então chamada escola primária, a professora elogiava o modo como eu escrevia. Mais tarde, entrei para o Seminário Menor de Braga e fui granjeando igualmente o estímulo de quem aí me veio ministrando a disciplina de Português. Recordo sobretudo o grande carinho com que o Prof. António José Barreiros me apelidava exageradamente de “poeta”. Eu não era poeta nenhum nem sequer grande escrevinhador com rimas ou sem rimas – de maneira que tratarem-me assim constituía não mais que um acto gentil de considerável generosidade. O que é certo é que este apreço se veio consolidando no Seminário Maior, que depois frequentei durante um ano. Aí, tive como Professor de Jornalismo o Dr. Silva Araújo, então director do “Diário do Minho”. Como já na altura publicava alguns textos no “jornal de parede” do Seminário, acabei por ver dois ou três vindos a lume também naquele Diário. Acho que foi o momento em que saíram publicados, num sentido mais abrangente, os primeiros textos de minha autoria, talvez pelos meus 15 ou 16 anos, não posso agora precisar muito bem…

Foi fácil te lançares no mundo literário?
Acho que nunca é fácil (e nem sei se estou ou alguma vez estarei lançado no mundo literário). Sobretudo quando se tem a perspectiva de que a produção literária não pode deixar-se seduzir pelos apelativos critérios do mercado, sob pena de em grande parte perverter-se ou até prostituir-se. Mas houve circunstâncias que me vieram ajudando a caminhar sem abdicar destes princípios. No Porto, por exemplo, já na Universidade, senti um grande apoio por parte do Prof. Arnaldo Saraiva, que lia com imensa receptividade, paciência e prestabilidade os meus textos e me incentivava a continuar, afirmando que, ao nível da prosa, eu possuía as características necessárias para um dia “dar o salto” e sair do anonimato. Por sua sugestão, cheguei a publicar alguns artigos num jornal portuense e na revista da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras. A seguir à Faculdade, colaborei de perto com a Associação Cultural e Literária “Autores de Braga”, onde conheci um excelente amigo que veio a olhar para os meus trabalhos quase como se fossem seus. Refiro-me a Cláudio Lima, que, sabendo de um volume de contos que eu pretendia publicar, remeteu o inédito para a “Editorial Escritor”, tendo vindo a ser aceite, publicado e depressa esgotado. Foi o primeiro livro que publiquei, de seu nome “Tudo menos Serafins”, com prefácio do próprio Cláudio Lima. Esse livro recebeu, de resto, várias referências laudatórias, quer em jornais da especialidade, quer por parte de outros autores, de que lembro com especial saudade as palavras amigas e cheias de entusiasmo de Maria Ondina Braga. Depois, surgiram convites para colaborar em rádios e jornais, bem como para um livro muito denso e volumoso sobre “Histórias de Vida”, baseado em relatos e memórias de idosos internados no Lar da Santa Casa da Misericórdia de Amares e publicado por esta Instituição. Entretanto, já me haviam incluído também, entre outros escritores minhotos, numa “Colectânea de Contos do Minho”, sob a chancela da “Editorial Ave Rara”... Aos poucos veio surgindo a incursão pelo romance, com a escrita de uma obra que tenho optado por manter inédita, na gaveta. De seguida, voltei-me para “O Mar de Paula”, que sai agora pelas “Edições Vercial”, quer como ebook, quer em edição impressa. É um romance em relação ao qual, mesmo nesta fase incipiente, vem aparecendo já a amabilidade de honrosos elogios, designadamente por parte de José Leon Machado, Cláudio Lima e Agostinho Domingues, entre outras personalidades. De maneira que é assim: talvez ainda não muito lançado, mas vai-se fazendo caminho, “dando os passos em liberdade… sem angústia e sem pressa”, como diria o Torga. Sempre sem viver para a fama e sempre sem fugir a ela se o tempo a trouxer, desde que não ofusque a lucidez e a humildade. O essencial, no fundo, é escrever: e, citando um outro autor, Mário de Andrade, “para mim basta o essencial”…

Onde vais buscar a tua inspiração?
Inspiro-me essencialmente nos olhares sobre a vida, com todos os seus contrastes e policromias. Muitas vezes em experiências da minha vida, que depois são ficcionadas, ao ponto de resultar algo que pode parecer nada ter a ver comigo. Mas, na génese, no primeiro impulso, esteve algo de vivido ou de alguma maneira experienciado. Creio que preciso desse lado: de me sentir implicado, para que o texto ganhe intensidade e sentimento. Só escrevo com emoção: seja ela um acto de amor, um sorriso de ternura, uma comunhão com a natureza, um momento de raiva ou um grito de revolta. Do centro deste vulcão, tantas vezes de extremos e contraditórios, é que vai surgindo a obra: algo que de início é um ponto concreto mas que depois se vai expandindo, até acabar amiúde com diferenças substâncias e até impensáveis ou indecifráveis no inicialmente pensado. E a inspiração, em larga medida, também nasce do gozo ou do desafio deste arrostamento constante com a surpresa, de que se faz e refaz a fermentação das personagens, dos enredos e dos livros...

Como é o teu processo criativo? Tens algum ritual?
É muito irregular o meu processo criativo. Até tendo em conta esse lado de assentar em muito nas emoções. Normalmente há alguma coisa que despoleta esse processo. Sem essa qualquer coisa, muitas vezes acontece-me estar parado longo tempo, ainda que no subconsciente já algo possa estar a ser construído. O grande ritual não é sentar-me e dizer todos os dias “hoje tenho de escrever”: é sobretudo estar receptivo e sensível à hora certa, ao ponto de sentir que, depois de talvez semanas sem escrever, “hoje não posso perder esta oportunidade em que a palavra me quer conduzir ao grande Monte da Transfiguração”. Daí que passe por períodos de semanas sem qualquer página e depois surjam ocasiões em que escrevo páginas e páginas seguidas, que posteriormente edito e revejo, aproveitando umas e desaproveitando outras tantas. Há um texto em que digo que a escrita é uma gravidez de risco: nasce de um momento de emoção, depois é preciso cuidá-la até que se forme um corpo no seu todo – mas o certo é que nunca sabemos previamente como será em rigor a criança nem sequer se chegará a vingar ou a ter grande carreira pela frente…

Quais são as tuas referências literárias?
Cada um com seu estilo e dentro de cada género, há tantos autores maravilhosos. Uns de expressão lusófona, outros das mais diferentes Línguas. Uns da poesia, outros da prosa. Em todo o lado, em todos os géneros e em todas as épocas há excelentes referências. E nem precisam de ter escrito muito num determinado género para se constituírem como uma referência nesse domínio. Sendo referência noutros géneros, a David Mourão-Ferreira, por exemplo, bastou-lhe escrever “Um Amor Feliz” para também no romance se tornar incontornável. De maneira que isto de referências é sempre muito amplo e poderia levar-me a cometer injustiças. Até porque as referências de alguém podem assentar mais numa questão de gosto estético, o que é subjectivo, do que propriamente em valor estético, esse sim objectivo. Ou seja, eu poderia referir um autor porque gosto e depreciar outro porque não gosto tanto, mas que até poderá ter literariamente bem mais valor. Mesmo assim, embora não querendo dizer que me fez apreciar menos outros, confesso que há um autor que me marcou muito, que é o Gabriel Garcia Marquez.

Fala-nos um pouco desta tua última obra. O que podem os teus leitores esperar de diferente em relação aos outros livros?
“O Mar de Paula” é um romance de desconstrução da própria história que veio sendo construída ao longo das páginas. Julgo que será por isso que Cláudio Lima se interroga se não será antes “um anti-romance, uma denúncia dos conteúdos e processos diegéticos de que a ficção, apesar das tentativas de ruptura e inovação, ainda não veio conseguindo até hoje libertar-se”. Para além desse mérito que lhe reconhecem, julgo que é essencialmente um livro de trama familiar e psicossocial bastante densa, retratando a várias vozes e sob vários ângulos, quer circunstâncias e sonhos da Humanidade de sempre, quer realidades intrínsecas e peculiares da sociedade actual. Daí que possa tornar-se num livro apreciável tanto sob o ponto de vista sociológico, como no plano de romance psicológico, escrito numa linguagem bastante fluida e poética, com momentos de grande carga erótica e emocional. Além disso, tem sido relevado também o facto de ser uma obra inédita no que toca ao ponto de ser escrita com capítulos intermitentes de narração, ora pela personagem masculina, ora pela feminina. As críticas e opiniões têm sido muito boas: mas cada um verá por si, porque cada leitor é um reconstrutor - e as páginas estão ávidas de quem as interpele, interprete e reconstrua…

De todas as tuas obras com qual é que te identificas mais? E porquê?
Não sendo muitas as obras, são já suficientes para terem todas pedaços de mim e ser difícil a resposta. Mas diria que “Tudo menos Serafins” reflecte bem uma fase da minha vida, sobretudo por ter passagens ficcionadas de vivência do Seminário.

Qual o teu livro preferido?
“Cem Anos de Solidão”, de Gabriel Garcia Marquez

Qual a tua citação preferida?
“Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive!”, de Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa.

Qual foi o último livro que leste?
Um que já deveria ter lido há muito, sendo que apenas perdi por ter estado tanto tempo sem o ler, pois é muito bom: “Levantado do Chão”, de José Saramago.

Quais são os teus planos e objectivos para o futuro?
Viver e escrever quando tiver vontade. Sem me preocupar se é para vir a lume ou meter na gaveta. Alguém dizia: “não faças demasiados planos para a vida porque podes estragar os planos que a vida tem para te dar”. Vamos vendo, sem deixar de ser proactivo e estar atento ao que possa ser útil. Só sendo útil vale a pena fazer alguma coisa, sonhando e contribuindo um pouco para um mundo melhor…

21 de novembro de 2010

Entrevista a Carla Ribeiro

É com muito prazer que esta semana vos trago uma entrevista no feminino. Desta vez, a senhora da noite é Carla Ribeiro. Esta jovem autora portuguesa conta já com nove obras publicadas nas áreas da poesia e do fantástico, além da colaboração em diversas antologias e na revista Dagon, uma das duas revistas portuguesas dedicadas ao género fantástico. Entre as suas obras podemos encontrar “Senhores da Noite” e “Pela sombra morrerão”.
Esta autora é ainda um ávida leitora que mantêm um blogue denominado “As Leituras do Corvo”, onde se podem encontrar todas as suas opiniões sobre os livros que lê.
Para quem a quiser seguir mais de perto e ir lendo algumas coisas da sua autoria pode ainda passar pelo seu blog http://valedassombras.blogspot.com/ .


Sobre a autora:
Carla Sofia Lopes Ribeiro, nasceu a 20 de Julho de 1986 e é natural de S. Martinho de Mouros. Estudou Medicina Veterinária na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, e é escritora.
Começou a escrever com aproximadamente catorze anos, por simples vontade de transmitir para o exterior os meus pensamentos e sentimentos. Começou por escrever poesia e alguma prosa poética, passando aos contos e, só mais tarde, à narrativa longa. Presentemente, escreve um pouco de tudo, apesar de, na poesia, ter uma predilecção especial pela estrutura de soneto.
Até à data em alguns concursos literários, onde obtive alguns resultados positivos, entre os quais os que se seguem.

- 3º lugar no concurso “Douro Leituras” 2003
- menção honrosa no Prémio Padre Moreira das Neves – Paredes 2004
- 1º lugar na modalidade Poesia do concurso “Uma Aventura... Literária 2002”
- menção honrosa no concurso "Uma Aventura... Literária 2001"
- 2º lugar no concurso "Segredos da Minha Terra - Biblioteca Municipal de Vouzela" - 2004
- 2º lugar no concurso “Descobrir Vizela” 2003
- 1º lugar nas modalidades de poesia e conto do concurso "Março Mulher 2004", prefeitura de Guaratinguetá, Brasil
- ... entre outros

Em termos de publicações, estreou-se com um conto de título “Asas Abertas” na antologia “Idiossincrasias”, editada pela AG edições, no Brasil. Em finais de 2005, publicou “Estrela sem Norte”, um livro de poesia, pela Corpos Editora, e, em finais de 2006, pela mesma editora, publicou “Alma de Fogo”, narrativa da área da fantasia e primeiro volume de uma trilogia. Além disso, tem actualmente vários projectos em progresso, tanto individuais como conjuntos, nas áreas da prosa e da poesia.
Os seus principais interesses são história, literatura, poesia, música e mitologia. Em termos de escrita, a sua poesia tende para temas e/ou estados de espírito mais soturnos, melancólicos e, eventualmente, negros. Em termos de prosa, tem uma preferência especial pelos mundos fictícios, fantásticos, mas também pela abordagem a algumas épocas históricas. Os seus grandes ídolos literários são, na área da poesia, Florbela Espanca, Bocage e Fernando Pessoa, e, na área da literatura fantástica, David Gemmel, Jonathan Stroud e Marion Zimmer Bradley.


Entrevista:

Sabemos que começaste a escrever com 14 anos, mas quando é que decidiste que querias ser escritora?
Bem, quando digo que comecei a escrever com 14 anos, estou a referir-me a uma ideia já mais séria, no sentido de construir uma história completa. Desde pequena que escrevia pequenas coisas, mas foi por volta dos 14 anos que comecei a descobrir que talvez pudesse levar essas ideias um pouco mais a sério. E foi por volta dessa altura que decidi que gostava e que queria mesmo continuar a escrever e, talvez, publicar.

Onde vais buscar a tua inspiração?

Um pouco a toda a parte, desde imagens que vi a situações que me aconteceram, passando pelas pessoas com quem me cruzo e até mesmo pelos pesadelos mais… peculiares. No fundo, qualquer altura e qualquer cenário pode estar na base para uma ideia. Basta que cause a impressão certa.

Como é o teu processo criativo? Tens algum ritual?
Não é um método linear, acho que a forma e a altura em que escrevo variam bastante consoante o estado de espírito. Mas as minhas manias particulares são basicamente que escrevo quase sempre à mão e a caneta preta. Quanto ao desenvolvimento da história, gosto de ter as regras do mundo em que estou a escrever mais ou menos definidas, por isso tenho sempre umas boas páginas de notas por perto, mas a história propriamente dita vai ganhando vida à medida que a escrevo, nunca sei muito do que vai acontecer no futuro das personagens.

Sabemos que lês imenso e gostavámos de saber qual foi o livro que mais te marcou e porquê.
Essa é uma pergunta difícil… Sou bastante compulsiva no que à leitura diz respeito e já li muitos livros fascinantes. Mas a ter de escolher, diria que a trilogia A Árvore do Céu, da Edith Pargeter, e a Trilogia das Jóias Negras, da Anne Bishop. E ambas pelos mesmos motivos: personagens que respondem a tudo aquilo que eu procuro num protagonista, uma história muito bem contada e momentos profundamente comoventes.

Qual a tua citação preferida?
É mais uma das coisas em que é difícil escolher. Mas uma das que vai continuar sempre comigo, é da J.K. Rowling, no livro Harry Potter e a Ordem da Fénix. "You don't understand - there are things worth dying for!"

Qual foi o último livro que leste?
Terminei ontem a leitura do Orbias – O Demónio Branco, do Fábio Ventura. É sempre um prazer voltar àquele mundo e foi um livro que achei muito marcante, quer pela história principal, quer pela mensagem que se pode tirar de vários dos momentos.

Em que mudou a tua vida deste a publicação do teu primeiro livro?
Essencialmente, fez-me acreditar que era possível. O sonho esteve sempre lá, mas as coisas nem sempre são fáceis, e às vezes acabamos por duvidar. Ver o primeiro livro, completo e palpável, para quem o quisesse ler, deu outra alma à vontade de continuar.

De todas as tuas obras, qual a que mais se identifica contigo?

Pessoalmente? Bem, o protagonista dos livros Arasen (Alma de Fogo, Herdeiros de Arasen, O Deus Maldito) tem muito da minha personalidade, por isso, e ainda que em todas as minhas histórias haja alguém, por mais secundário que seja, que tem parte de mim, provavelmente – de entre os publicados até agora! – é nos livros Arasen que me identifico mais com uma personagem.

De todos os prémios que já recebeste, qual foi o que mais significou para ti? E porquê?
Também não foram assim tantos… Mas foi especial o Douro Leituras, não só porque foi um dos primeiros, mas também porque foi um daqueles em que me pude envolver. A entrega de prémios foi feita em Resende, o meu conselho de origem, então fui muito satisfatório para a miúda de dezasseis anos que eu era então, poder estar numa cerimónia que, na altura, me pareceu imensa.

Sabemos que terminaste de escrever um novo romance em Janeiro. Queres nos adiantar um pouco sobre a história desse novo romance?

Claro, porque não? O meu novo romance chama-se O Sangue dos Exilados. Continuo no género fantástico, mas optei por seguir um rumo um pouco diferente e, por isso, decidi deixar a magia para segundo plano e centrar-me mais nas intrigas e relações entre diferentes personagens. O protagonista é August Caventread, príncipe e herdeiro imperial, que, depois de acusado da morte do Imperador, se vê exilado para um lugar onde (supostamente) não será possível sobreviver durante muito tempo. A história é a do príncipe, no passado, nas relações e no (possível) futuro, e a do império que acabou por ficar em mãos bastante piores que as suas.

Quais são os teus planos e objectivos para o futuro?

Literariamente falando, o meu objectivo essencial é continuar a escrever e a publicar. Tenho alguns projectos em curso, tanto no romance, como em pequenos contos, e provavelmente será aí que me vou centrar nos próximos tempos. Fora do mundo literário, gostava de começar a trabalhar, ainda que, nas circunstâncias actuais, pareça bastante difícil.

O que dirias a alguém que sonha em estrear-se neste mundo da literatura?
Força, persistência, paciência e humildade. Acho que são esses os elementos necessários para continuar a lutar pelo sonho. O caminho não é fácil, tanto antes como depois da publicação, mas há sempre coisas boas para superar as más. E leiam. Leiam muito, escrevam muito, percorram a história que criaram e tentem encontrar a vossa própria voz. E, acima de tudo, sejam genuínos. Escrevam do que vos fala ao coração.