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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Chatos colados

Da Alemanha já recebi há uns bons meses a K7 (amarela, linda!) Jugend Schorft dos Acid Lindgren - existem mais uns DJs com este nome, de resto esqueçam informação na 'net sobre este grupo que inclui Arvild Baud e o nosso conhecido Dice Industries. Nem bandcamps, nem facebook, nem uma capa em linha (excepto este "post"), meus, this is underground shit!

Música que intercepta colagem sonora, sampling e instrumentos reais, a coisa é tão entranhada que lembra os nossos Stealing Orchestra. Só que no caso de Acid Lindgren existe um total falta de estilo, de algo que se reconheça que são eles que tocam e não outros, tal é a disparidade de estilos que compilam na k7. Há momentos ambientais com sintetizadores como Garcia da Selva como há spoken-word à Ken Nordine constipado, um estranho sapateado cyber-medieval (Sherwood Sisters Clog Ritual), hinos à liberdade (em Pas De palm está samplado o icónico poema Jibaro de Felipe Luciano) e beats "clubbing" que lembram os anos 90 e os seus Fila Brazillia e os "Dorfmeiters". E resulta? Se resulta! Até cola cientistas ao tecto! E é das melhores k7s para se ouvir a conduzir como uma verdadeira rádio que nos vai picando com o inesperado.

Pedidos? Tentem este e-mail: diceindustries(arroba)chezlinda(ponto)de

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Valência / Treviso / Hamburgo

Este ano a Chili Com Carne foi a novas paragens europeias e ainda está abrir as malas... Na realidade não é muita coisa para falar, é mais falta de tempo. Não há muito para escrever porque mais do que nunca, é raro encontrar coisas fora do normal numa Europa (mundo?) uniformizada, estas são realmente as excepções...


É difícil perceber aonde quer ir o Magius! Depois do excelente Black Metal começou a editar uma fornada de zines monográficos (publicações de um número só) que é difícil de acompanhar – e de seguir? Depois deste lote descrito AQUI na última visita ao Tenderete (foi ele que fez o cartaz desta edição) encontrei mais quatro títulos passam pelo sexo na Época Medieval (Clássicos Caninos, vol. I), pela cultura Hipster (El Oráculo del Triángulo Hipster) , Skinhead (Oink! The Comix) e Basca (Todo por la Vasca) feitos entre 2013 e 2014(?). Apesar da diversidade dos temas há duas coisas que as une, a coerência gráfica dos trabalhos em que cada vez mais é fácil reconhecer o estilo deste autor de Múrcia e a sua capacidade incrível de expor os estereótipos de cada (sub)cultura usando teriomorfismo. Eu não sei bem o que é um “hipster” mas os barbudos tatuados e gajas com ar enjoado que deambulam por El Oráculo (…) parecem-me a gente burra que aparecem nas festas da Vice ou nos cafézinhos do Intendente. O homoerotismo dos Skins também tá lá todo em Oink! e embora não conheça nenhum Basco, os cavalos "freaks bestas" relatados nas páginas de Todo por la Vasca parecem-me uma caricatura viva do que se passa por lá. Em formato A5 e a maior parte impressos a cores, estes zines são das BDs mais excitantes para quem gosta de cultura Trash, especialmente porque não se vê aqui uma “série” e não se sabe o que vai continuar ou não. De estar atento, não vá sair um tijolo como foi o do Black Metal e ficarmos a chuchar no dedo!

Durante o Festival de BD de Treviso as únicas aquisições foram dois fanzines. O primeiro foi Femore Meraviglioso (Ernest,; 2014) da activista Sara Pavan, um cuidado "chapbook" com uma BD simples mas bastante interessante porque relata uma simples viagem de comboio a Veneza com um "engate" pelo meio mas sob uma pespectiva erótica feminina que torna esta BD mais próxima da Anaïs Nin que outra referência da BD... Já Particles of Pensé (2014) de Martoz é mais fácil de comparar às distorções corporais de Carlos Nine (e não foi para rimar com a Nin!) embora os seus textos sejam uma verborreia non-stop e non-sense impossível de compreender ou vontade de entender. Fico-me pelos excessos dos desenhos que são um bálsamo à moda No Brow - moda essa que faz pensar que a BD "alternativa" parece viver num gigante concurso de Cosplay. O resto da publicação (a cores, impressa em offset!) é composto por mais uns desenhos pornográficos (os italianos são mesmo uns tarados!) e umas colagens tontas. Não percebi metade das intenções desta autor mas senti que tem "A Energia"!

O melhor da visita a Hamburgo não foi a BD. Não que a cena alemã não seja activa mas creio que nos dias do mercado globalizado, é uma questão de tempo até ter um livro de um autor alemão traduzido numa língua mais acessível (tipo inglês ou francês). O Festival de Hamburgo mostrava essa força das "grandes" editoras de BD de autor (Reprodukt e Avant) com traduções de vários autores internacionais e o lançamento de novos livros de autores alemães ou que residem lá - como o novo impressionante livro de Stefano Ricci. Apesar do jornal finlandês Kuti ter lançado um número em formato "split" com autores alemães a preencher um dos lados, nada encontrei para aqui divulgar, por isso, fico-me pelo terceiro número do Spuren Elemente (2013), projecto de Dice Industries (autor já publicado no Mesinha de Cabeceira e responsável pela nossa exposição na galeria 2025) e da sua companheira, que reúnem fotografias achadas em Feiras da Ladra e afins, para mais tarde sistematizarem em grupos a publicar. Neste número trata-se de fotografias de pessoas abraçadas a animais em que o humor da colectânea passa necessariamente pelo tipo de animal, e acreditem que há surpresas!
Mas a maior surpresa mesmo foi visitar a galeria e o atelier dos Die Schumper, associação de artistas com deficiências mentais que praticam Art Brut e que foi a minha subida ao Paraíso, tal a dignidade que os artistas são tratados e a força dos seus trabalhos... Um deles, o Rohullah Kazimi faz bordados de super-heróis e umas  BDs, algumas dos seus sonhos. Um must! Mas creio que sobre isto terei de falar num blog mais apropriado!

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

fotos da Aktion #40 - levaram mais desenhos do André Ruivo do que outros artistas!










Fotos do Take it or Leave it durante e depois do evento... Mais de 200 imagens para serem arrancadas pelo público - público esse que preferiu as do André Ruivo / Mystery Park!

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

MESINHA de CABECEIRA POPULAR #200 / ESGOTADO

a continuação do zine CriCa Ilustrada, ou se preferirem do Mesinha de Cabeceira foi lançada na 5ª Feira Laica (Dez'06) / Mesinha de Cabeceira Popular (Popular Bedside Table) comix-zine is out!!!
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formato e número de páginas (lombada de livro) / format and number of pages : 21 x 26 cm, 72p
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o tema é a "cultura pop" / the theme is "pop culture"
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o objectivo é fazer uma reflexão sobre a cultura popular: ícones, mediatização, globalização / we want to do a reflection about the pop culture: icons, mass media, globalization..
línguas oficiais: português e inglês / official languages: Portuguese and English..

colaboradores / contributors: Eric Braün, Claudio Parentela, Jano, Jakob Klemencic, Brian Chippendale, Stijn Gisquiere, Nuno Pereira, Filipe Abranches, Dalibor, Katharina Hausladen & Dice Industries, Tommi Musturi, João Chambel, André Lemos, João Maio Pinto, Pedro Zamith, S.G. & José Feitor, Monia Nilsen, Nuno Duarte & Pepedelrey, Joana Figueiredo e Marte & Jorge Coelho
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apoio / support: Instituto Português de Juventude
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feedback: MdC deu passinhos curtos e devagarinho, mas não deixou de os dar. E como um pesado dinossauro, quando dá uma dentada, ela é valente e deixa marca (...) apresentando um programa “curatorial”, uma vez que o editor convidou os autores a se pronunciarem sobre a noção de “popular”, apresentam-se aqui as mais díspares vozes e perspectivas sobre o que de mais normalizado nos pauta a vida (...) um novo passo para a consolidação deste como um dos melhores zines ou revistas de bd da actualidade em Portugal - Pedro Moura / Ler BD

há a considerar a elevada qualidade gráfica do objecto artístico de recente realização, e do numeroso grupo de prestigiados colaboradores nacionais e alguns estrangeiros - Geraldes Lino / Fanzines de Banda Desenhada

MdC tem-se vindo a afirmar como um espaço privilegiado de divulgação do meio bd underground, de Portugal e não só, e cada novo volume tem elevado bastante a fasquia da qualidade. Este tomo popular, talvez o mais bem conseguido das MdC’s, representa o que de melhor se vai fazendo na bd portuguesa e já vai sendo altura – tanto do projecto como dos seus autores – de terem outro nível de exposição - Ricardo Amorim / Entulho Informativo

Para os amantes da bd a revista Mesinha de Cabeceira representa quase um espécie de "Bíblia" (...) sempre foi uma espécie de revista mutante - Umbigo

Se há algo que consegue transmitir na perfeição o espírito tresloucado que anima as 70 páginas de Mesinha de Cabeceira Popular#200, edição dedicada ao tema “Pop”, são as intrigantes ilustrações nos versos da capa e contracapa, assinadas por Nuno Pereira: estes Monstros Modernos parecem embriões dos Novos Deuses imaginados por Neil Gaiman em American Gods: os deuses do hiper-consumo (na terminologia de Gilles Lipovetsky) e da tecnologia. Na realidade, faz sentido a tecnologia ser endeusada, visto que, ao contrário da ciência, na qual ela se suporta, vive da adulação, da “busca espiritual” de quem compra. Um culto da compra cujo evangelho é a “Popblicidade”. O MdC Popular#200 é um excelente compêndio de bd's e ilustrações esgrouviadíssimas que satirizam excessos e tiques da Pop Art. Os trabalhos de João Maio Pinto, Marte & Jorge Coelho e Monia Nilsen são, na minha opinião, os mais sólidos, mas como ficar indiferente à musicalidade de um título como “Gang-Raped by Dolphins” ou ao sentimento de absurdo montypythoniano que atravessa as pranchas de Nuno Duarte e Pepedelrey? Ah! Já vos disse que Jacob Klemencic desenhou um velhote mal-humorado com um barrete de lã igualzinho ao capacete do Astérix numa galeria de sósias feiosos de personagens famosas? Digam lá se o “Pato Donald” não parece mesmo o Thomas Pynchon…Trata-se de uma edição feita com bom gosto paranóico pela Chili Com Carne, responsável por algumas das mais arrojadas experiências visuais que se podem encontrar neste preciso momento nas livrarias. 4,6 - David Soares


terça-feira, 17 de setembro de 2013

Comix Remix, parte II

Este artigo serve o proposito de divulgar uma perspectiva nova de fazer Banda Desenhada usando o conceito de “remix” banalizado na música Pop. Na primeira parte do artigo centrei-me sobretudo na manipulação de imagens – “cadáveres-esquisitos”, colagens e “detournement” – que possibilitam usar “matéria-prima visual” pré-existente para obter novas narrativas mas, esqueci-me de outro grupo de experiências – o Drone Comix!


WTF!? Drone comix!

Tira sacada à revista brasileira Animal

O realizador David Lynch chegou a fazer uma série de BD, a tira humorística (!?) The Angriest Dog in the World (1983-1992) que era constituída por uma tira de quatro vinhetas sempre com as mesmas imagens mudando apenas o texto nas vinhetas. Em Salut, Deleuze! (Fréon, 1998) de Martin tom Dieck com ajuda de Jens Balzer (texto), os autores repetem as mesmas nove páginas de uma BD cinco vezes no álbum. Cada repetição apresenta um texto diferente de forma a apresentar as teorias de “repetição e diferença” do filósofo Gilles Deleuze (1925-1995).

Para além destas repetições da mesma imagem (vinhetas ou páginas) também é de se referir casos em que o mesmo texto pode ser reinterpretado como é o de Tatanka (1) dos espanhóis Felipe H. Cava e Raúl, que usam o mesmo texto (de Cava) para ser ilustrada três vezes (por Raúl) de formas totalmente diferentes – a primeira de forma figurativa, a segunda iconográfica e a terceira abstracta. A reinterpretação teve o seu momento de glória recentemente, quando em 2010 o centro cultural “Cidade da BD” de Angoulême produziu a exposição, e respectivo catálogo, Cent pour cent, em que autores contemporâneos criavam uma versão de uma prancha “clássica” que lhes fosse querida.


Agora sim, é a segunda parte deste artigo!


Nesta tentarei mostrar uma segunda tipologia de “comix remix”, desta vez focada nas potencialidades de “misturar” unidades exclusivamente narrativas, como vinhetas, tiras ou BD’s inteiras. Se no primeiro grupo de “comix remix” apresentado, o cerne era a “criação” dirigida pelo artista sem quase intervenção de terceiros, o próximo grupo de exemplos, a BD é oferecida para o usufruto dos leitores ou dos editores, como se fosse um “open-source” em que os autores perdem o controlo (parcial ou total) sobre a sua criação, embora sem o extremismo como acontece na música porque na BD não há ferramentas electrónicas tão simples de manejar como há na música - basta pegar em dois CDs como Project Bicycle (Ache Records; 2006) ou o EP Bipolar (Raging Planet; 2006) dos [f.e.v.e.r], ambos têm uma faixa áudio com os sons separados (samples) da música original para poderem ser misturados por outra pessoa que saiba mexer num “software” como o Fruityloops.

Daí que a forma mais normal de “perder controlo” seja posto sob a forma da leitura da obra, oferecendo ”jogos narrativos” sob a forma de livro (ou objecto ou livro-objecto) ou de instalações em exposições de BD.


Construindo histórias


Em 2008, Jucifer participou num projecto de BD em que se usava “Post-It’s” (2) para fazer BDs originais, posteriormente coladas à parede numa exposição de uma galeria. Enquanto a maioria dos outros participantes fizeram histórias lineares nestes quadradinhos colantes (cada quadrado representava a maior parte das vezes uma vinheta), Jucifer além de ter intitulado o seu trabalho de Post shit (um feito em si, já que a distinguia dos autores betinhos) aproveitou o facto dos quadrados dos “post-it” permitirem ser vinhetas autónomas que podem ser soltas, colocadas em qualquer parte e como tal alinhadas de forma aleatória, como a autora ou os visitantes desejassem! Embora essa oportunidade dos visitantes de poderem mudar a ordem não foi dada durante a exposição, tal como infelizmente, a exposição não foi mais repetida para podermos ter um novo “remix” / nova leitura da história. Mais tarde foi feita uma edição de autor deste trabalho, novamente sem a hipótese de se poder misturar as imagens porque apareceu na forma de um zine agrafado que prendia as “vinhetas livres” à estrutura do códex.


O "Fim do Mundo" de Pedro Franz pronto a ser misturado! 

Já o segundo volume de Promessas de Amor a Desconhecidos Enquanto Espero o Fim do Mundo (edição de autor; 2011) de Pedro Franz é um pacote com vários papéis laminados que permite misturar tudo ao acaso e ser lido como o leitor quiser. O mesmo acontece com a caixa Building Stories (Pantheon; 2012) do “bébé chorão” do Chris Ware, que é constituída por 14 publicações de formatos bastante diferentes e que permitem ler uma história como se fosse um puzzle (3). As várias fases da vida das personagens são esquartejadas nessas tais 14 publicações, ou seja, nenhum desses livros / jornais / panfletos / brochuras tem uma “história completa”, tudo é feito de vários episódios aleatórios, com o típico existencialismo deprimente de Ware. Esse vazio existencial e a legendagem em letrinhas minúsculas que não me cativaram para ler aquilo tudo até ao “fim”, perdi alguma coisa?



Bio 421 aberto à toa...
Há também livros encadernados por argolas com as páginas do miolo cortadas em duas ou três partes, sobretudo no campo da ilustração para a infância como o fabuloso Animalário Universal do Professor Revilod (2003) dos mexicanos Javier Sáez Castán e Miguel Murugarren. Na BD não é assim tão normal mas vão-se fazendo este tipo de experiências aqui e acolá, como um zine italiano que descobri no Festival Crack, intitulado Bio edifício 421 (Lök; 2012) que reúne vários autores de um colectivo em que se pode misturar as suas tiras – três por página – para criar várias histórias diferentes. Para haver um nó narrativo, foi estabelecido a existência de duas personagens e uma estante Ikea para montar, e para “punchline”, uma frase final: Quem mais se ama menos pode amar.

o livro de instruções e algumas bases de copos da Strippble

Literalmente “jogos”, encontramos vários objectos lançados pelo movimento OuBaPo, como por exemplo, o Coquetèle (L’Association, 2002) de Anne Baraou e Sardon, uma «banda desenhada de três dados não ordenados». Já antes, Baraou tinha feito outra BD idêntica, Après tous tans pis (Hors Gambit; 1991) com desenhos de Corinne Chalmeau. Ambas são caixas com três dados, cada face do dado tem uma vinheta. O “leitor-jogador” tem de deitar os dados aleatoriamente, para depois juntá-los resultando numa sequência para ler. Emula portanto uma tira de BD sendo possível obter 216 (6 ao cubo) hipóteses de leitura. Também há o tabuleiro ScrOUBAbles (2005) que ao invés das normais letras do jogo Scramble temos vinhetas para criar pequenas histórias; e ainda DoMiPo (2009) que é dominó, só que invés dos números nas peças temos vinhetas. Na Eslovénia, a equipa da revista Stripburger com as mesmas premissas fizeram o Stripple (2008) mas desta vez com bases de copos! A ideia é colocar as bases de copos numa mesa e procurar combinações narrativas interessantes com as BDs de Matej de Cecco, Sasa Kerkos, Matej Lavrencic, Marko Kociper, Jakob Klemencic e Andrej Stular. Cada autor fez uma BD de seis vinhetas; cada vinheta equivale a uma base de copo, o que permite colocá-las numa mesa e misturá-las entre elas. Nas indicações deste objecto, a organização oferecia um prémio à melhor combinação e indicavam também que os “masters” deste jogo, a dada altura, podem usar as bases para aquilo que realmente servem: para colocar copos e garrafas em cima, de preferência de bebidas espirituosas! Se fores um “bar fly” e “comix nerd”, este é o teu jogo!


ignorem o cemitério escandinavo, topem a estrutura de madeira com a BD de Roope!
Síntese destas experiências todas é Ghost Story, do finlandês Roope Eronen, uma BD publicada na antologia Glömp X (Huuda Huuda; 2009) e ao mesmo tempo uma instalação da exposição homónima. Trata-se de uma estrutura de madeira constituída por quatro paralelepípedos, cada paralelepípedo tem quatro tiras de BD pintadas sobre as faces mais compridas e ao serem rodadas com um manípulo (colocado de lado em cada paralelepípedo) mudam o sentido da “página” – ou seja, com a ajuda do objecto obtemos uma “página” de BD de quatro tiras que giram. Na exposição era portanto uma peça interactiva que o público podia ler as várias possibilidades de ler histórias diferentes. No livro é oferecida a hipótese de recriar estes paralelepípedos recortando as páginas do livro – cada página tem as quatro tiras de cada paralelepípedo. Se for o leitor ainda estiver sobre efeitos do Stripple poderá recortar directamente no livro, danificando um belo livro de BD experimental!


Descubra as 7 diferenças

Em Setembro de 2003 tive a oportunidade de ver os dois suecos residentes em Berlim Max Andersson e Lars Sjunnesson a trabalharem no último capítulo do Cão Capacho Bósnio (4) e foi curioso reparar o tempo que eles discutiam entre eles – ou então o tempo pareceu-me enorme porque não percebo patavina de sueco – por causa de um detalhe de uma vinheta. Depois de um consenso sobre a história e a sua paginação, os autores desenhavam por cima de desenhos de um e do outro. Uma imagem esboçada leva tinta de um ou de outro, mesmo depois disso um dos autores não sabe se o outro irá respeitar o desenho proposto ou se irá colocar ainda mais tinta em cima para fazer mais contraste, alterar a forma, detalhes, texturas, etc… O objectivo de ambos é apresentar uma “BD coerente”, ou seja, que não se consegue descobrir quem desenhou o quê nem mesmo os próprios, que a dada altura acham que quem fez a BD foi um “terceiro autor”. Este é um exemplo da história recente da BD onde apareceu o impensável, duplas de autores que escrevem e desenham juntos, sem haver uma separação de tarefas tão típica da BD ligada à produção industrial em que se criaram cargos especialistas para despachar prazos de publicação: argumentistas, desenhadores, legendadores, coloristas, etc... No Cão Capacho Bósnio, tal como nas “comix-jams”, o trabalho foge ao controlo absoluto dos criadores, embora o processo seja feito pelos próprios artistas. A diferença das “jams” é que aqui vamos encontrar uma “fusão” de entidades enquanto que nas “jams”, vinheta a vinheta, os estilos individuais de cada participante são evidentes.

Apesar de misturar dois médiuns bastantes diferentes, a fotografia e o desenho, é curioso referir outra “fusão” que é Le Photographe (3 volumes, Dupuis; 2003-06) cujas provas de contacto do fotógrafo Didier Lefèvre (1957-2007) são usadas por Emamnuel Guibert para contar as aventuras de Lefèvre na sua primeira missão com os Médicos Sem Fronteiras no Afeganistão em 1986. Aquilo que identificamos como BD (sequências de desenho e texto) é usada nestes álbuns como “cola” entre as várias elipses temporais das fotografias ou grupos de fotografias – a BD conta o que não se “lê” entre as fotografias. Injustamente esquecido é o trabalho do “terceiro autor” - que ao contrário do Cão Capacho Bósnio aqui é realmente uma pessoa! - Frédéric Lemercier, que fez o desenho da composição das páginas do livro, um trabalho de Designer que deu uma forma funcional ao trabalho. Sabendo-se muito pouco o que foi concretamente o seu trabalho no arranjo das imagens, vinhetas, cor, etc… mas isto lembra como muitos produtores de música parecem “designers” de música, manipulando sons e colando-os para criar uma forma.


exemplo de páginas do "Boring Europa", nesta BD de Marcos Farrajota é usado desenhos de outros autores: Ana Ribeiro, Aleksandar Zograf e Joana Pires

Estas duas características, a “fusão” do Cão Capacho e o “design” do Fotógrafo, são pontos importantes na “BD de viagem” do Boring Europa (Chili Com Carne; 2011). Originalmente a ideia deste livro era juntar os diários de viagem dos seis elementos da Chili Com Carne que entre 1 e 15 de Setembro de 2010 viajaram pela Europa numa turné, como se fossem uma banda de Rock mas ao invés de dar concertos suados andaram a vender livros e a montar exposições. O cansaço da condução de cidade em cidade anulou o desejo de desenhar em quase todos os seus elementos, fazendo a posteriori uma BD colectiva e não apenas um livro de esboços de viagem. Como um dos autores do livro, acumulei também o papel de editor, e a Joana Pires o de Designer, juntos fomos ordenando uma multiplicidade de materiais soltos que fomos acumulando durante a viagem: rabiscos, desenhos da viagem, material gráfico variado, moedas, multas de trânsito, “comix jams”, bilhetes, ilustrações, e-mails,… Gerou-se uma BD “freak”, que fundiu tudo isto numa obra para se ler una. São várias as situações em que usei o desenho de alguém para incluir nas minhas vinhetas. Também tiras de uma BD eram deslocadas da prancha original para outra parte do livro. A preocupação principal era manter uma cronologia de acontecimentos e não se repetir os mesmos relatos de cada uma das seis pessoas envolvidas. Um dos momentos de inspiração para a forma como este livro da turné se organizou foi o encontro com o colectivo austríaco Tonto, de Graz. Na entrevista que realizamos aos seus mentores Helmut Kaplan e Edda Strobl, estes admitem que «temos muitas pessoas no grupo que (…) fazem muitos desenhos mas não BD!». O que Kaplan faz com estes desenhos soltos é justamente misturá-los «dando um sentido a eles…» e criando assim BD’s onde não havia!


Hang the DJ!
Creio que um dos primeiros casos de “DJ narrativo” é Ed, The Happy Clown de Chester Brown, um dos livros de BD mais incríveis alguma vez feito e que tem uma estrutura acidentada e casual, para a qual parece que ainda não há uma edição definitiva. Pego na minha, da Vortex (1992), sub-intitulada The Definitive Ed book, embora a Drawn & Quarterly tenha anunciado a definitiva recentemente. A questão das diferentes edições deve-se ao facto de Ed the Happy Clown ter sido pré-publicada em episódios no “comic book” Yummy Fur e mais tarde compilada em livro. A história que Brown conta foi construída sem querer e talvez por isso não haja um consenso sobre a edição final. Nela vamos encontrar elementos surrealistas como mãos que se soltam por pecados católicos (assunto tão norte-americano), vampiros, pigmeus, defecações ad infinitum, buracos interdimensionais, a cabeça do Ronald Reagan no pénis do palhaço Ed, etc... Estes elementos da história foram aparecendo originalmente em várias BDs separadas e sem relação entre elas, de 1981 a 1985. Algumas delas eram bastantes parvas e juvenis como The man who couldn’t stop, que mostra um individuo numa sanita que não consegue parar de defecar. Até que em 1987, Brown começa a unir personagens, situações e ambientes de várias destas BDs para criar uma história coerente, por mais fantasista que seja.

A história editorial de Ed, the happy clown lembra-nos o que acontece com o Cinema em que muitas vezes há “director’s cut” ou versões cortadas pelo produtor ou distribuidor, ou pior ainda, pela censura! Aliás, algumas edições de Ed, como a inglesa, não incluem algumas das BDs “parvas e juvenis” com medo da censura – materializada em confisco e destruição de exemplares sob acusação de obscenidade como tantas vezes aconteceu naquela ilha de puritanos.

A partir daqui podemos chegar ao relato de três projectos contemporâneos em que o editor é o autor principal (o “terceiro autor”) e em que os trabalhos dos colaboradores são manipulados de forma artística – e não meramente “tecno-económica” como acontece com os editores tradicionais. Estes exemplos têm em comum, o facto de serem publicados por colectivos de autores de BD independentes que editam antologias de BD e decidiram expandir a forma de “editar” para além da simples acção de juntar trabalhos de vários autores para paginar por uma ordem ao longo de um livro. A dada altura acharam que deveriam intervir directamente sobre o material a publicar segundo um instinto, uma história a contar ou uma visão.

Uma página da GIUDA #4 com desenhos de Armin Barducci (1ª e 4ª vinheta), Gianluca Costantini, Darkam e Liliana Salone.
Em Itália, surgiu a revista GIUDA (4 números, Nov’09/Out’12), da mesma equipa que publicava a Inguine mah!gazine, da qual faz parte a curadora e escritora Elettra Stamboulis e que nos explica em que consiste este novo projecto: We wanted to work as an avant-garde of the beginning of the last century: the graphic design remind this, in particular Vienna's Secessionist. Using automatism, aesthetism, casualty, (…) we were coming from [the Komikaze Festival] year of mapping alternative forms of drawing from all over the world (…) and we wanted to produce something completely different. Also, themes are always connected to a geographical representation: a place is always the center of the story, drawn in a different way that traditional Geography, but it's always Geography. From this idea came also the name Geographical Institute of Unconventional Drawing Art.

Contudo, o que difere o projecto de outras publicações de BD é que em cada número da revista existe sempre uma BD com um texto escrito por uma pessoa (as primeiras três foram por Stamboulis, a quarta por Marco Lobietti) e ilustrado por vários artistas – a lembrar as experiências da BD do Joe Meek no Twilight Jamming. Stamboulis explica: There is a huge work of research behind the texts and the images, but there always an idea of fate and strategies that are coming from OULIPO experiences in literature. It's a script with very few indication divided already in squares. Every artist has his/her text to do, and can read the all story, but cannot see what the others are drawing. The artists are always the same, with some new entries, but it's a close collective. O processo complica-se algumas vezes porque there are also some complete pages that are connected to the general story, but they are written and drawn by the artists. Those pages are a kind of subtitle of elements of the main story and they become short stories itself. In the end Gianluca Costantini collects all the drawing and he puts them in the page. With a sort of magic powder of fortune, every time it works as if everything had been perfectly arranged.

Uma página do Futuro Primitivo com André Lemos, Sílvia Rodrigues e Ricardo Martins

Admito que a razão deste artigo foi o facto de ter produzido o Futuro Primitivo (Chili Com Carne; 2011) e ter ficado desiludido pela ausência de reflexão sobre o projecto, mesmo que tenha publicitado que ele tinha falhado. Ninguém me perguntou porque falhou nem sugeriram situações idênticas para analisar. Pois é! Tive de ser eu a investigar e promover estas ideias que estão a ler agora!

O objectivo do projecto era juntar todos os artistas da Chili Com Carne numa antologia em que iria misturar as suas várias BDs para criar uma nova BD – uma “meta-BD”. Para conseguir alguma unidade no livro, foi sugerido um tema comum (o pós-apocalipse) de forma a manter uma unidade estética apesar dos 40 diferentes grafismos que se podiam encontrar; foi pedido uma estrutura de BD de duas tiras por página para se poder deslocá-las mais facilmente do contexto original para qualquer outra parte do livro; e para manter um fio condutor da “meta-BD”, foi ainda pedido aos autores para escolherem um subtema, ou seja, uma lista de avanços tecnológicos na história da Humanidade - da descoberta do fogo à ovelha Dolly. Também se pedia aos autores para não fecharem demasiado as suas histórias de forma que não houvesse finais demasiado auto-conclusivos.

Tal como quando se compra uma nova aparelhagem, ninguém lê o livro de instruções – já Laurie Anderson dizia isso numa música: "o relógio do vídeo fica para sempre a marcar 00:00" – e foram poucos os autores a respeitar as regras do “jogo”. Apareceu toda a espécie de situações, e juntamente com alguns “cadáveres-esquisitos” pedidos a autores cujas cidades iriam receber a exposição (Beja, Roma, Helsínquia, Malmö), estava instalado o caos. O funcionamento do livro falhou segundo as minhas espectativas de “DJ narrativo” (5) que tentou controlar matérias insubmissas... mas para “fora”, a sensação foi outra como prova a declaração desta leitora sueca: I thought one great thing about Futuro Primitivo was that I couldn't understanding all of it. It felt like that was the point, like a global, multidimensional dystopia and you only understand the bit you can see with your own eyes. On the other hand, I think that was my very own subjective reading experience (I understand a little Portuguese but not enough to be sure what the comics were about, a bit like dreaming and half-understanding). A exposição também falhou devido à falta de tempo para uniformizar formatos porque a ideia era poder misturar as tiras de BD no espaço das exposições tal como o Post Shit. Com o cumprimento dos prazos para ter a exposição pronta em festivais de BD pela Europa e América, não houve “remixes” para ninguém… Fica para a próxima!


Por fim, Tonto Comics é o exemplo que fecha tudo o que se falou aqui, porque o último número (#13, Noise) publicado pela Avant Verlag (2012) fez a ponte entre a BD e a música e os conceitos da “remix”. Este projecto editorial começou como plataforma musical em 1994, daí que tenha sido natural que as antologias Tonto tivessem ligações com a música, sobretudo quando Kaplan assume que usa processos idênticos quer na música quer nas suas BD’s: cut, montage, speed, running direction, superimposition. Kaplan organiza as antologias “com conceitos engraçadinhos” (segundo algumas críticas), numa lógica qualquer que nós não percebermos lá muito bem. É normal encontrar nas páginas da publicação BDs há muito vistas (noutras publicações pelo mundo fora) de autores como Igor Hofbauer ou Marko Turunen, BD’s repetidas não porque haja uma vontade de divulgar estes autores na Áustria (ou Alemanha) mas sim porque estas BD’s têm um valor especial para Kaplan, que segue um programa como se fosse um curador de arte contemporânea. No caso de Noise, ele diz: The material is quite heterogeneous. It has accumulated at my place in the last years (…) Quotes and remixes from the existing material plus additions (…) my own and from others. Partindo das questões da apropriação que a Pop Art levantou em relação ao uso da BD (essa arte anónima e comercial) para se fazer Arte a serio, Kaplan consegue traçar um caminho ou fazer uma pesquisa que coincide com este artigo, interceptando-o com alguns nomes (Max Ernst, Henry Darger e Dice Industries) e com duas novas situações inesperadas que merecem ter aqui um destaque maior.

O motor de partida para o Noise, é que Kaplan fez uma versão de uma página do Jess Collins (1923-2004) que por sua vez misturou nos anos 50 uma BD do Dick Tracy, de Chester Gould. É assim feita uma (nova) referência de artistas que fizeram as primeiras experiências de “mistura de BD”, centrando-se entre o Max Ernst e o Chumy Chumez. Consultem o recente O! Tricky Cad & Other Jessoterica (Siglio; 2012) que inclui o trabalho de colagem de Jess e as BDs “Tricky Cad” e “Nance”, esta última consegue transformar o clássico para toda a família de durões do western “Lance” (de Warren Tuft) numa brilhante orgia homossexual de fazer corar o Tom of Finland.

BD colagem de Jess

Levantei, no início desta segunda parte do artigo, o “problema” (não é um problema, será antes uma dificuldade?) de não haver “software” para misturar BD como há na música, muito ironicamente Kaplan com Edda e Dice Industries inventam e desenharam um esquema de estúdio musical (loops, sinais, volumes, MIDI, LFO, canais mono) para criar no final da “mistura” um grafismo!!! Programadores do mundo uni-vos!

Kaplan, Edda e Dice a gravarem um estilo gráfico!

Dote de poto a tres de Martin Lam


Extra Extra

Talvez não só vivemos um mundo de “copy/ paste” mas também num mundo demasiado rápido. Não só houve a coincidência de eu e o Kaplan estarmos a abordar situações parecidas nos nossos projectos, como outros pelo mundo também andam a explorar estas questões do “remix”. Recentemente tropecei no brasileiro Sama, residente em Portugal, que tem feito algumas BDs usando desenhos soltos que já tinha feito anteriormente, para um texto novo. Experiências destas já todos que fazem BD devem ter feito, claro está. O engraçado é que de repente não é só uma pessoa a exibir este tipo de situações... Outro caso, o Martin López Lam, peruano residente em Espanha, com o zine Dote de poto a tres (Ediciones Valientes; 2013) usa as imagens do seu colossal livro de BD Parte de Todo Esto (De Ponent; 2013) para colocá-las ao serviço de um texto completamente diferente - o que os junta é também que o título de um é anagrama do outro. O resultado é que ficamos na presença de obras gémeas mas separadas à nascença.

Esta é a razão da “remix”, não é fazer tributos ou homenagens ou poupar tempo numa BD nova, aliás, perde-se muito mais tempo a usar trabalho de outros para ficar coerente e autoral. O que interessa é acrescentar algo de novo sobre uma propriedade intelectual que já deu o que tinha a dar assim que foi lançada para o mundo. Quem proibiu o Katz não quer saber disso mas há milhares de pessoas com ferramentas neste exacto momento que podem pegar num dos 14 livrinhos do Chris Ware e melhorá-lo com uma tesoura…


Agradecimentos a Elettra Stamboulis, Sami Aho e Benjamin Bergman. Este artigo foi publicado em Setembro no jornal finlandês Kuti, em inglês com tradução de Ondina Pires.


(1)   Edição em português na revista Quadrado #1, 3ª série (Bedeteca de Lisboa; Jan’00)
(2)   Quadradinhos. Histórias Postadas (Galeria Yron, 2008)
(3)   Já agora, este trabalho de Ware lembra a mesma estratégia fragmentada do romance Vida – Modo de Usar de Georges Perec (1936-1982), um “oulipista” que neste livro conta as histórias de cada apartamento de um prédio mas o livro enquanto objecto é um único volume de 500 páginas
(4) Há várias edições de Bosnian Flat Dog (título original), em monografias ou em antologias, é só procurá-la na sua língua favorita! Em Portugal, foi publicado o primeiro capítulo na Quadrado (3ª série; Bedeteca de Lisboa).
(5) Disfarçado como unDJ MMMNNNRRRG

sábado, 9 de março de 2013

Comix Remix, parte I

Lembras-te quando eras puto com um gravador de k7s e com a pretensão de querer fazer música usando pedaços daqui e dali? Querias misturar aquele “beat” de uma música com um berro histérico do apresentador do programa de rádio. Ou prolongar para sempre aquele riff que tanto gostavas – e nesse tempo nem conhecias o termo "Drone"?


Pois é, já vivias numa “era de edição” em que os Dadaístas, William S. Burroughs, os Situacionistas, o Hip Hop e o Techno deram as bases teóricas, artísticas e técnicas, e por fim, o mundo digital deu as ferramentas para a concretizar ubiquamente. Todos nós seja quando preparamos um e-mail apaixonado ou um relatório cinzento habituamo-nos a escrever, corrigir, reescrever, cortar um excerto e colocar noutro parágrafo, reutilizar um texto para outro propósito nem que seja mudando o nome a quem nos vamos endereçar! Vivemos uma cultura de “copy / paste” – consequentemente as formas de arte arranjaram mais outras terminologias como “remix” ou “mash up”.

Enquanto isso as leis de direito de autor agonizam, sem saber onde irão chular a seguir, e até parece impossível que se venha a cometer outra vez crimes oficiais como aconteceu ao John Oswald ou aos Negativland (1) há umas décadas atrás – o que não verdade como irão ver mais à frente. Apesar da fama de batalhas legais ir quase sempre para a indústria fonográfica, na verdade os maiores casos legais de direitos acontecerem (e continuam) no seio da indústria BD norte-americana e na Europa, com a intratável Fundação Moulinsart a perseguir tudo e todos que usem o velho Tintin e a sua cadela idiota. A defesa extrema do “copyright” na BD é mais um pecadilho a juntar à história negra da BD. Mas não é sobre isto que vos quero falar mas sim sobre as possibilidades da cultura “remix” no médium do “comix”. E temos de falar disto rápido! Não há tempo a perder!

A BD demorou 40 anos a chegar ao automatismo (obrigado Robert Crumb e Moebius por terem tomado drogas!), ”andou às aranhas” com a autobiografia ou à auto-representação do autor, jornalismo, ensaio e crónica e uma eternidade no que diz ao respeito institucional. Não podemos ficar de fora, não podemos deixar que os DJs roubem todo o bolo! Preparem lá essa tesoura e cola! Melhor ainda… saquem lá o Photoshop!



Socialistische Patienten Kollektiv

Talvez as formas mais vulgares de “comix remix” serão os “cadáveres-esquisitos”, ou Comix jams como são conhecidos, em que vários indivíduos encontram-se num evento e fazem uma BD improvisada. Cada autor escreve e desenha uma vinheta, passa a outro autor para que seja continuada sem poder exercer nenhum controlo sobre o que irá acontecer à sua história original. Geralmente funciona bem quando o teu grupo de amigos junta-se no mesmo bar há anos e já não têm nada para discutir…

Os “cadáveres-esquisitos” são um catalisador colectivo de subconsciente onde reina algum caos narrativo (para não falar gráfico) no entanto este processo também pode ser direccionado com um propósito como um argumento prévio. É o caso de The Worm : The Longest Comic Strip in the World (Slab-O-Concrete + The Cartoon Ar Trust; 1999) escrito por Alan Moore e desenhado por “a galaxy of greats” (2). Com um propósito de criar fundos para o Cartoon Art Trust em 1991 através de um evento espectacular e mediático, participaram 125 desenhadores para realizar 250 vinhetas expostas em 75 metros lineares de cumprimento ganhando o estatuto da maior tira de BD do mundo pelo Guiness. A narrativa passa por um sonho utópico de um autor de BD que revê todo o processo da progressão da Humanidade e da sua relação com a BD: das pinturas rupestres aos hieróglifos, das tapeçarias de Bayeaux à BD moderna. O esquema de trabalho parece explicado no livro que publica o resultado final e percebe-se que houve um cuidado minucioso de Moore para cada vinheta fazendo com que esta BD seja diferente pela performance ao vivo e pela caldeirada de estilos gráficos de vinheta para vinheta.

o trabalho em linha de montagem de The Worm

os resultados gráficos  caóticos de The Worm

Mais interessante é a compilação Twilight Jamming : comic jams by Serbian underground family and their further relatives (Silent Wall Army; 2008) que é um “best of” das melhores experiências do género realizadas na Sérvia – onde existe uma tradição em “jams”. A mais radical enquanto manifesto artístico é do autor Wostok que declara que Year after year it was getting harder and harder for me to force myself to read some of those “profesionall” and “hight quality” comics. And when I had almost lost all hope that it is possible to find something really new, fresh and Creative in comics, it happened that I came across the stories and drawings of na absolute amateur. That peson was my four year old daughter Lola.[sic] Talvez esta descoberta tenha ajudado Wostok a tornar-se um incansável instigador de workshops de BD que realiza com grupos em aldeias, vilas e cidades, fora ou não da Sérvia, e ao publicar os seus resultados já merecia também um registo no Guiness por ter editado mais números de um fanzine – não me recordo mas creio que já ultrapassa os 600 números do seu zine Krpelj. Uma das BDs apresentada no Twilight Jamming usa um texto de Kate Hodges que biografa o mítico e alucinado produtor musical inglês Joe Meek (1929-1967). Ou seja, Wostok andou pela Sérvia e Alemanha obrigando as pessoas que se metessem no seu caminho a desenharem uma vinheta a partir do dito texto. A vantagem sobre o The Worm é que realmente o amadorismo chega ao ponto de haver participantes que nem desenham mas recortam imagens. Há uma vinheta que tem uma fotografia do Kurt Cobain, outras usam vinhetas de outras BDs populares (italianas?) sem relação com o texto criando todo um novo discurso entre imagem e texto – que não é assim tão novo, já lá iremos! Esta BD sobre Meek é de uma puerilidade cómica alinhada a um surrealismo sujo porque as imagens desenhadas (ou coladas) são feitas pelos participantes sem que estes tenham qualquer documentação real. Esta biografia de Meek acaba por ser tão negra e mistificada em imagens tal como foi realmente a sua vida.


o rapaz dos Nirvana a servir aos interesses britânicos e sérvios



Impelida pela força do silêncio abre-se para trás uma porta


Mas como dizia, não há um novo discurso na relação disparatada entre texto e imagem “roubada” porque Max Ernst (1891-1976) fez dois maravilhosos livros de BD: La femme 100 têtes (Éditions du Carrefour; 1929) e Semaine de Bonté (Jeanne Bucher; 1934) (3). Ambos são “graphic novels” como muitas outras que se editaram nos anos 30 do século passado pelo mundo fora, geralmente identificáveis por usarem uma imagem por página (ou até uma por folha) ultrapassando as narrativas em mais de 200 páginas e com temas que não eram para entretenimento infantil e juvenil, como He Done Her Wrong (Doubleday, Doran & Co.; 1930) de Milton Gross (4) ou Destiny : a story pictures (Delphin; 1930) de Otto Nückel. De facto a existência destes livros revela outro pecado da BD enquanto arte, que não deixou este formato vingar até o aparecimento de Maus de Art Spiegelman em 1986. Ainda assim a diferença destas “graphic novels” com as de Ersnt é que este usa colagens para ilustrar os seus textos usando reproduções de gravuras da época Vitoriana cheias de tragédias épicas (acidentes) ou quotidianas (ambientes sórdidos), animais e engenhos tecnológicos, figuras etnográficas e mitológicas. As colagens naturalmente reúnem objectos e figuras humanas em desproporções físicas talvez porque não havia as fotocopiadoras (ou Photoshop!) para reduzir ou ampliar imagens o que no caso de Ersnt até reforça o cariz surrealista das obras. Semana de Bondade é impressionante como Ernst conta vários crimes passionais com imagens tão “desconexas”. É impossível, por exemplo, a mesma personagem ter a mesma cabeça ou corpo de imagem para imagem (vinheta para vinheta ou página para página) uma vez que cada colagem usa fontes diferentes não podendo. Talvez dada à tecnologia da altura, reproduzir a mesma “figura” implicasse ter vários exemplares da mesma revista de onde Ersnt recortava para ter uma continuidade figurativa, ou então, ele simplesmente não o quis... Para os fatalistas do “tudo já foi inventado”, é verdade, o Max Ernst foi o primeiro “comix remixer” do mundo!

Capa de Una Biografia
Em 1973 é dado mais um passo em frente neste tipo invulgar de BD, com o espanhol Chumy Chumez (1927-2003) e o seu álbum Una Biografia – um livro de 104 páginas em grande formato (27x35cm). Diz na introdução da edição da Grupo Libros (1994) que o autor demorou 5 anos a fazer este álbum, três dos quais a juntar imagens para recortar e montar. As imagens são também retiradas de revistas ilustradas do século XIX, por isso, elas são também na essência gravuras, dando, tal como os livros de Ernst, alguma coerência formal e estética. Chumez admite também que não queria que as suas colagens ganhassem uma dimensão surrealista, o que se concluí que deveria conhecer os livros de Ernst e não queria ser facilmente comparado, embora isso seja quase inevitável por não haver muitas obras assim. Onde claramente se distingue é na composição de página, sempre composta por três tiras por página, e texto em baixo de cada tira/ vinheta, um formato rígido, tradicional e facilmente reconhecível da BD. A sensação que as imagens nos transmitem é de planos cinematográficos, o que não será de estranhar, uma vez que o autor além de cartoonista também era realizador de filmes (5), havendo sequências sem texto perfeitamente assombrosas – a do sonho, da fecundação (microscópica), dos pássaros (da morte) ou a do leão.

a fecundação em Una Biografia


Muito provavelmente haverá mais deste “tipo” de trabalho - BDs feitas exclusivamente de colagens - espalhados pelo mundo, e correndo o risco de passar por ignorante nacionalista não deixaria de comentar uma modesta intervenção de 5 páginas da BD Avés Marias Rap de Diniz Conefrey na revista Lx Comics #2 (MFCR; Outono 1990) que desbunda um “rap” sobre Lisboa usando imagens desenhadas de panfletos turísticos e fotografias de Lisboa. Mais curioso ainda é que o próprio texto é também um “mash-up” de textos do escritor Cesário Verde e uma reportagem sobre Portugal da National Geographic dos anos 50. Com duas vinhetas / tiras por página é um retracto melancólico de um país pobre que só pode viver do turismo mas sobretudo é uma pequena pepita de ouro produzida mais sobre a influência da música de David Byrne e Brian Eno do que outra obra visual.

o Rap de Conefrey


A propriedade é um roubo

Os franceses adoram o termo “detournement” para quando se pega numa imagem e muda-se o texto dando à imagem um significado completamente diferente. Os Situacionistas na sua acção fartaram-se de fazer isso nos anos 60, mais tarde os Punks mantiveram esta ideia viva até que nos dias de hoje quase toda a gente pratica esta arte iconoclasta – quantos “forwards” com um gif animado e manhoso a gozar com alguém famoso recebes por dia?

Em Itália também se mastigou bem o Situacionismo especialmente o autor Stefano Tamburini (1955-1986) que entre várias sacanices elaboradas, é de se referir o divertido Snake Agent (1984) em que fotocopiava as tiras “clássicas” (como o Secret Agent X-9), remontando para histórias de espiões obcecados em prazos e timings minuciosos. Para gozar com a questão da precisão e cronometragem, as imagens eram arrastadas na fotocopiadora dando um efeito de “desfoque” – da mesma forma quando um objecto é “fotografado” a uma grande velocidade. Já antes, Tamburini, diz-se, que chegou a fazer BDs de “westerns” para a enorme indústria italiana de “Fumettis” decalcando os desenhos de outras BDs similares (5). Nunca vi o resultado disto nem consegui confirmar através dos meus contactos italianos mas só por si é um belo mito urbano!

Snake Agent por Tamburini publicada na revista brasileira Animal (ou julgavam que isto tinha sido traduzido em Portugal? Ah!)

Com o advento da fotocopiadora e mais tarde dos PCs, o uso de fotografia ou de outras imagens, colagens e inserção de objectos ou texturas nos trabalhos tornou-se mais ou menos vulgar para desenhar ou acrescentar algo ao desenho embora o objectivo de usar excertos (samples) de imagens reais (geralmente fotografias) sirva apenas como decoração sem que isso traga elementos subversivos à narração. A lista será interminável, podemos encontrar nos “comics” de super-heróis (John Byrne), nas BDs francesas (Piotr), espanholas (Josep M. Béa), belgas (La Vache de Johann de Moor) e no influente britânico Dave McKean. A sua influência foi tal que durante uma década, os ilustradores quase perderam os seus empregos porque qualquer Designer achava que poderia fazer ilustrações à McKean com o Mackintosh “scanando” umas texturas e despejando na “ilustração”! Antes deles todos ainda podemos encontrar um importante trabalho de colagem fundido com texto e imagem pelo artista de Art Brut, Henry Darger (1892-1973) que fez o maior livro da história (15 145 páginas!) e claro é obrigatório referir o grande mestre uruguaio/ argentino Alberto Breccia (1919-1993) que conseguia desenhar tão bem com os habituais riscadores como com papel colado. Entre 1973 e 1979 publicou várias BDs que adaptavam contos de H.P. Lovecraft (7), onde ironicamente usou a colagem (fotografias) para poder representar o irrepresentável - que é o fulcro da obra Lovecraftiana - sendo estas BDs talvez o pico virtuoso do uso de colagem em BD.

Nos anos 90 surge o movimento OuBaPo (8), apoiado pelos membros da editora francesa L’Association, que teorizou uma série de ideias para BDs diferentes dos cânones habituais aplicando-se na criação restrições matemáticas ou semânticas. Irmanada do movimento OuLiPo que afirmaram que os seus escritores eram ratos que construíam um labirinto que dele se proponham sair, entre as várias propostas de exercícios na sua revista oficial, OuPus I (L’Association; Janeiro 1997), vamos encontrar desde o clássico “detournement” (um texto de Freud numa prancha de Little Nemo in Slumberland) à diminuição do número de vinhetas de uma BD já publicada - imaginem uma aventura num álbum de Tintin de 60 e tal páginas em que se colocam 10 vinhetas numa só página. Mas também colagens de elementos de uma BD noutra, reenquadramento de imagens e até substituição de elementos gráficos por outros novos. Foi uma caixa de Pandora teorizada e modelada que poderá ter levado criadores de todo do mundo a fazerem experiências novas com a BD, embora duvido que o norte-americano Hank Retchum tenha lido estas teorias redigidas em francês quando fez a simples página Menaced Dennis no primeiro volume de Legal Action Comics (Dirty Danny Legal Defense Fund; 2001). Nesta BD usa close-ups da tipificada série “Dennis The Menace” – aquele género de BD sobre putos de classe média norte-americana que estão sempre a fazer traquinices - e que lhe tira justamente esse ar inocente e divertido para transmitir uma cena de violência sobre crianças – nunca é demais relembrar que os EUA é o país com maior estatística de pobreza infantil, trabalho de menores, abusos sexuais... Definitivamente algo que é originalmente inocente pode ser “remisturado” para algo sinistro.

O irritante Denis leva porrada!


Entre várias iniciativas produzidas pela OuBaPo a mais próxima do “remix” musical é sem dúvida a Series OuMuPo (2004-06), em parceria com a editora fonográfica Ici, d’ailleurs. Foram produzidos seis CDs acompanhados pelos respectivos “booklets” com BDs. Cada “rato”, músico ou autor de BD, inventou os seus “labirintos para saírem deles” embora houvesse uma regra geral que todos deveriam usar os materiais sonoros e gráficos dos catálogos das editoras envolvidas no projecto. Assim, The Third Eye Foundation, DJ Hide, Rob Swift, DJ Krush, Rubin Steiner e Kid Loco misturaram faixas de discos das bandas como Micro:Mega, Matt Elliot, Yann Tiersen, Bästard entre outros projectos, não fugindo muito a uma lógica de “mix-tape” de música electrónica que esteve na moda nos anos 90 – batidas Hip Hop sobre um ambiente de Clubling burguês – e apesar de muitos escolherem os mesmos temas para misturar, ainda assim conseguiram transmitir a personalidade do misturador – ex.: Steiner é mais kitsch / Disco, Swift mais Rap, etc… Da mesma forma os autores de BD Jochen Gerner, Luz, JC Menu, Dupuy-Berberian, Killoffer e Étienne Lécroart usando imagens de vários autores editados pela L’Association (José Parrondo, Matti Hagelberg, David B, Sfar, etc…) conseguem mostrar versatilidade de propostas de “mixagem” e de identidade artística sendo o trabalho mais conseguido será o de Killoffer que reproduz as 64 jogadas de uma partida de xadrez entre Marcel Duchamp e Edouard Verschueren em 1923.


OuMuPo, vol.6 reúne DJ Krush no CD e Killoffer no livrinho / BD
nunca o xadrez foi tão divertido de se assistir!

Há no entanto uma nova geração de autores que estão a fazer uma síntese do que tenho estado aqui a escrever, são os nossos contemporâneos Dice Industries (Alemanha), Fredox (França) e Dunja Jancovic (Croácia), que mantêm a chama acesa do corte e costura e preparam-se para esticar para um novo nível, embora para já os seus trabalhos sejam mais gráficos do que narrativos. Fredox usa colagens para mostrar um mundo “porno-gore” cheio de feridas psico-sexuais e desordem social – como poderão tomar conhecimento no assustador Les Dossiers Noirs de L’Histoire (Le Dernier Cri; 2001) que compila esse trabalho gráfico. Recentemente na antologia Hopital Brut (Le Dernier Cri) têm-se assistido à publicação de trabalhos com sequências que se inscrevem no âmbito da BD. Dice Industries fez um caminho oposto, começou por fazer BD depois achou que já estava tudo desenhado e que ele não conseguiria acrescentar mais nada nesta forma (9), e passou a usar a colagem para potencializar novas visões. Usa elementos das BDs populares da Disney (e quejandos) e Manga comercial para criar paisagens e abstracções. A maior parte destes trabalhos tem sido mostrados em galerias ou pequenos catálogos auto-editados – no seu “zine de vida” QWERT  com 15 números lançados, os últimos quatro dedicados ao trabalho de colagem. Recentemente para o meu “zine de vida”, o Mesinha de Cabeceira (#23 : Inverno, Associação Chili com Carne; 2012) Dice pegou numa série de colagens e acrescentou um texto para podermos inserir esta série na categoria de BD, será este o regresso de Dice à BD? Espero que sim! Dunja no seu recente livro Circle Cycles Circuits (Firma; 2012) coloca colagens ao serviço da narrativa e funde-as com desenhos seus – as imagens são sobrepostas, montadas, desenhadas por cima. As imagens tanto são fotografias figurativas como são apenas formas geométricas ou abstractas. Serão desenhadas à parte e coladas posteriormente? São pinturas falhadas que são recuperadas para “texturar” as páginas? Não sabemos…

Dice Industries no Mesinha #23


Em 2011 apareceu um livro intitulado Katz que teve o triste final de ter sido destruído sob a acusação de infringir “copyright”. Katz substituía as cabeças de todos os animais de Maus por cabeças de gatos – relembro que em Maus, ao retratar a perseguição dos judeus no regime Nazi, Spiegelman retrata os judeus como ratos, os alemães como gatos, os polacos como porcos... Quando os autores anónimos de Katz fazem a substituição das cabeças, uma das várias perguntas que se levantava é o maniqueísmo antropomorfo realizado por Spiegelman na construção da sua obra. O livro foi recolhido em 2012 do mercado e os exemplares foram destruídos num revivalismo histórico digno dos tempos em que os The JAMMs (mais tarde The KLF) tiveram de retirar o seu disco com samples dos ABBA. No entanto a barbárie de 2012 chega a ser pior a de 1987, pois se os JAMMs foram prá Suécia destruir os discos como mais uma provocação no caso de Katz os exemplares tiveram de ser destruídos, incluindo o ficheiro digital, na presença de representantes oficiais! (10)


A conclusão violenta deste livro mostra que afinal a BD ainda contém elementos perigosos por explorar. Apesar de ter vivido tempos “zombies” actualmente não é uma arte morta!



Marcos Farrajota
Lisboa, 26/02/13

Agradecimentos Tommi Musturi, Bedeteca de Lisboa, Diniz Conefrey, Vitor Petel, Ilan Manouach, Thanassis Rentzis, Valerio Bindi e Alberto Corradi. Ondina Pires traduziu para inglês este artigo que será publicado brevemente no jornal finlandês Kuti, e Joana Baguenier traduziu para francês para ser publicado no livro MetaKatz. Uma segunda parte deste levantamento de “comix-remix” está a ser redigido mas desta vez focado nas questões narrativas.


Notas

(1)  é curioso que o processo levantado contra os Negativland tenha sido os “defensores dos pobrezinhos” dos U2, que nada fizeram para aliviar os sacríficos que os Negativland sofreram.
(2)  Onde vamos encontrar desde o desconhecido Christopher Webster ao famoso Kevin O’Neil
(3)  O primeiro é a Mulher 100 cabeças (que quer em francês e português pode-se ser como a “mulher sem cabeças”) e o segundo é Semana de Bondade. Procurem edições modernas destes livros, em Portugal estão publicados pela &etc
(4)  Ver edição portuguesa da Libri Impressi, Ele foi mau para ela (2011)
(5)  Outra curiosidade, quer a Mulher 100 cabeças de Ernst quer Una Biografia de Chumez, foram adaptadas para cinema. A mulher foi realizado pelo francês Eric Duvivier em 1968 e Una Biografia pelo grego Rentzis Thanassis em 1975- que é capaz de ser a única adaptação realmente fiel para cinema de uma BD, embora o realizador tenha acrescentado um capítulo extra no final do filme.
(6)  É de assumir que seja um tipo de BD popular dos anos 70, feita por autores anónimos, mal remunerada e de conteúdo estereotipada, do tipo “Tex” da Bonelli ou algo assim...
(7)  Estas BDs estão exemplarmente reunidas em Les Mythes de Cthulu (Rackham; 2008)
(8)  Ouvroir de Bande Dessinée Potentielle / Oficina de Banda Desenhada Potencial
(10)  Podem ver o vídeo em vimeo.com/38618657