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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Gente Remota --- últimos 15 exemplares!

 




Gente Remota é um livro ficcional que nasceu de quatro longas entrevistas com ex-combatentes anónimos das chamadas guerras de África, conversas que tive em 2014. Não há nada inventado, no que corresponde às experiências de Guerra de Alfredo Jacinto, não teria capacidade para tal. Nem o crime da PIDE, nem a acção salvífica e presença de espírito de Alfredo ao salvar um soldado do colapso moral, nada foi inventado. Limitei-me a baralhar os dados.

Esta é uma pequena história de Portugal, esse país sem problemas de consciência, com uma memória selectiva, ao mesmo tempo sincera e senil.

É uma história de cruzamento de ideias, de confrontos de perspectivas. Eu não estou em lado nenhum, neste livro. Ou então estou em todo o lado.

A questão do racismo é sempre um poço sem fundo. Incómoda, urgente, com ramificações que tocam a todos, profundamente. A minha relação com o nosso passado colonial é múltipla. Eu próprio nasci em Moçambique, rodeado de empregados e privilégio colonial.

Depois veio logo o 25 de Abril, essa tábua rasa a um tempo gloriosa, mas que nos oculta a história e nos iliba de qualquer culpa. Depois veio a primária em que aprendemos a hostilidade contra os espanhóis, e depois o liceu em que nos forçaram os Lusíadas pela goela abaixo. Este livro é talvez o paté resultante.  

A esperança é que sofre. 

- Francisco Sousa Lobo 


23º volume da Colecção CCC, 100p a duas cores, 16,5x23cm, edição brochada.

editado por Marcos Farrajota. Design de Joana Pires.


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Historial

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Obra realizada ao abrigo de uma Bolsa de Criação Literária da DGLAB/ Ministério da Cultura 

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Lançamento no dia 19 de Dezembro 2021 no M.A.L. com apresentação de Sara Figueiredo Costa

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artigo no Público



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artigo na Lusa

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entrevista no Pranchas e Balões

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Disponível na nossa loja virtual e na Linha de Sombra, Snob, Tinta nos Nervos, Kingpin, Tigre de Papel, Utopia, Matéria Prima, ZDB, STET, Vida Portuguesa, Socorro, Alquimia, StetSenhora Presidenta.

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Feedback

(...) banda desenhada portuguesa maior, adulta e consequente.

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Partindo de entrevistas feitas a quatro ex-combatentes que passaram pela Guerra Colonial, Francisco Sousa Lobo constrói uma ficção que tira o melhor partido da linguagem da banda desenhada para colocar em confronto memórias, ideias feitas, traumas que persistem em não ser abordados. Não é um livro sobre o passado, antes sobre o modo como vários passados – uns colectivos, outros individuais – continuam a assombrar o nosso presente comum.
Sara Figueiredo Costa in Blimunda

Este é um livro desagradável! E ainda bem, porque de livros agradáveis está o Inferno cheio.



Melhor Obra Nacional nos Prémios Bandas Desenhadas

Sem ceder ao panfleto, Sousa Lobo cria uma história actual sobre Portugal e os seus mitos (...)
Sara Figueiredo Costa in Expresso




sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Nódoa Negra com estudo académico agora que faltam 20 exemplares para esgotar!!


Projecto vencedor da edição de 2018 do concurso interno, Toma lá 500 paus e faz uma BD (2018), a antologia Nódoa Negra reúne as participações de doze autoras: Bárbara Lopes, Cecília Silveira, Dileydi FlorezHetamoé, Inês Caria, Inês Cóias, Marta Monteiro, Mosi, Patrícia Guimarães, Sara Figueiredo Costa, Sílvia Rodrigues e Susa Monteiro.

No nosso imaginário a Dor pertence ao campo físico, neste pensamento associamos sempre o nosso corpo a um estado de dor físico e facilmente nós esquecemos que existem vários níveis de dor, entre eles, a dor emocional/ psicológica, que por sua vez, ocupa o mesmo peso que a dor sentida fisicamente. Assim, partindo da vontade de trabalhar a plasticidade da temática da dor e de querer perceber os vários entendimentos ao seu respeito, foram convidadas onze artistas e uma escritora, que partilham a paixão pelo desenho, a banda desenhada e a ilustração, para que através do seu olhar e desenho/ escrita, reflectissem sobre a dor. Ao longo da antologia, será perceptível que cada artista tento tido como ponto de partida a temática geral da dor, escolheu desenvolver graficamente uma dor específica: do parto, do confronto com o outro, dor menstrual, de amar, da solidão, de esconder a dor, da ausência, do luto, do crescimento, de alma...

NN

Curiosamente e historicamente esta poderá ser a primeira antologia de autoras coordenado exclusivamente por autoras. Isto é, apesar de alguns números especiais de revistas, fanzines ou livros de "BDs no feminino" que apareceram nos anos 90 (G.A.S.P. ou Azul BD3) e no novo milénio (Quadrado #3 / 3ª série, Allgirl'zine e QCDA #2000) estas publicações não foram organizadas pelas próprias autoras como acontece no presente projecto vencedor.

NN

19º volume da Colecção CCC. 138p. p/b, 16x23cm, capa a cores, edição brochada. Coordenação, design e capa por Dileydi Florez. Contra-capa: Marta Monteiro. Projecto apoiado pelo IPDJ
In Portuguese with English translation. 

NN

Historial: 
lançamento no dia 18 de Outubro 2018 na ZDB com exposição de originais e apresentação por Catarina Cardoso (Portuguese Small Press Yearbook

Apresentação na BD Amadora 2018 dia 10 de Novembro, com presença de algumas das autoras seguido de sessão de autógrafos
 
 
artigo de Pedro Moura na Mundo Crítico com BD sobre o livro por Dileydi Florez 

exposição no Festival de BD de Beja de 29 Maio a 16 Junho 2019 



NN

O livro está disponível na loja em linha da Chili Com Carne e na Tigre de Papel, Linha de Sombra, BdMania, Tasca Mastai, Matéria Prima, Utopia, ZDB, Mundo Fantasma, Kingpin BooksStetSnob, Livraria do Simão (Escadinhas de S. Cristóvão), A Vida Portuguesa, Tinta nos Nervos, InsurgentesTortuga e Fábrica Features.
BUY @ Le Mont-en-L'air (Paris), Neurotitan (Berlin), Quimby's (Chicago), Ugra Press (Brazil) and Libraria Paz (Galiza)

NN

Feedback:

um livro-barómetro no feminino sobre a dor
Amanda Ribeiro in P3 / Público

O título é duro (...)
João Morales in Time Out (Lisboa)

ontem li o Nódoa Negra. é tão bonito que até dói, meu. a história da Patrícia Guimarães é incrível. parabéns! 
Francisco C. (por e-mail)

São testemunhos no feminino, são força, são ruído, são rasgos de agitação num panorama - ainda - pouco dado a movimentos bruscos. A primeira antologia totalmente construída por autoras em Portugal é muito mais do que uma afirmação, é a casa de uma intimidade que fende tabus e nos mostra que a existência inevitavelmente dói.
Tiago Neto in Vogue Portugal

Um livro sobre dores que desenham e escrevem num mais difíceis exercícios...
Inês Fonseca Santos in Todas as Palavras (RTP)

Tive conhecimento desta edição enquanto folheava um dos últimos números da Vogue. Como a recepção do livro na imprensa também passava pelo P3, Time Out e por um programa de TV apresentado por uma das tipas do Câmara Clara, tudo indicava que se tratava de mais um livro do ano. São só autoras a fazer este livro e ao que parece esta ideia surgiu da Dileydi Florez, que há uns anos tinha desenhado o Askar, o General, em tempos em que a associação Chili Com Carne estava imbuída por um espírito de masculinidade militar. Mas isso foi lá atrás, agora a associação pugna diariamente pelos direitos dos mais fragilizados pela ideologia dominante no tardo-capitalismo: entre essas figuras encontra-se a mulher. A premissa para o livro é interessante e tem um importante significado político: não há espaço na edição de banda desenhada para mulheres, por isso é preciso arregaçar as mangas e pôr mãos à obra. Quando estamos à espera que a bd da organizadora deste volume seja, então, um grande manifesto feminista, eis que termina com dois enormes paradoxos: primeiro, ao escrever que se alguém tiver uma vida mais consciente está a dar um passo para sofrer menos, Florez parece estar a preparar uma sólida carreira como autora de manuais de auto-ajuda; segundo, a bd termina com o salvamento da mulher frágil pelo seu príncipe encantado, desvirtuando a ideia da autonomia feminina. No entanto levanta um problema importante que será transversal a todo o livro: o corpo e a sua vulnerabilidade. (...) Mas o sofrimento também se revela de outras formas e é aqui que o livro se transcende (...) é também o sufoco provocado pelo assédio doméstico que acompanha o crescimento da futura «dona-de-casa» - eufemismo para «escrava da família patriarcal», se puxar do meu jargão a transbordar de ideologia. É este o tema dos «Bons costumes», de Sílvia Rodrigues. A Nódoa negra beneficia ainda de uma multiplicidade de linguagens gráficas, destacando-se a manga da Hetamoé e a arte bruta da Inez Caria (...) há ainda a contribuição da Susa Monteiro, que me parece estar cheia de referências eruditas à arte contemporânea, ou então mostra apenas a tristeza profunda de um tenista que não consegue jogar ténis contra um cavalo. A fechar o livro, a Patrícia Guimarães colabora com a melhor bd do volume, não só porque ataca o importantíssimo tema da apatia provocada pela rotina quotidiana, como estiliza a narrativa num daqueles puzzles de deslizar peças, como que a dizer que a efemeridade da arrumação é mera ilusão e que o próprio caos é só mais um episódio da organização da vidinha. Mas a vida é só pathos? Não: a Cecília Silveira diz que também há espaço para minetes e para fisting com luvas de boxe, como que a lembrar que o sexo falocêntrico é também uma forma de violência e de exercício de poder sobre o corpo feminino.
Russo in A Batalha

(...) o muito interessante Nódoa Negra.
Jornal de Letras

NN




Bibliografia das autoras na Chili Com Carne: 
MASSIVE (2009) c/ Marta Monteiro
Destruição ou BDs sobre como foi horrível viver entre 2001 e 2010 (2010) c/ Sílvia Rodrigues
Boring Europa (2011) c/ Sílvia Rodrigues
Futuro Primitivo (2011) c/ Inês Cóias, Sílvia Rodrigues e Susa Monteiro
Mesinha de Cabeceira #23 : Inverno (2012) c/ Sílvia Rodrigues
QCDA #2000 (2014) c/ Hetamoé e Sílvia Rodrigues
- Askar, o General (2015) de Dileydi Florez
Malmö Kebab Party (2015) c/ Hetamoé
QCDI #3000 (2015) c/ Hetamoé
Maga : Colecção de ensaios sobre Banda Desenhada e afins (2015) c/ Hetamoé
Lisboa é very very Typical (2015) c/ Dileydi Florez
- Anarco-Queer? Queercore! (2016) de Rui Eduardo Paes, c/ Hetamoé
- Pentângulo #1 (2018) c/ Cecília Silveira e Dileydi Florez

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Em banda desenhada?


136 páginas de BDs curtas de Francisco Sousa Lobo, criadas desde 2004 até este ano.
Algumas são inéditas outras já publicadas, muitas em publicações estrangeiras, que assim são publicadas em português pela primeira vez. Algumas BDs são a preto e branco, outras tem mais uma cor e algumas são a cores. O formato é aquele típico do nosso catálogo: 16,5x23cm

Disponível na nossa loja em linha, BdMania, Tigre de Papel, Linha de Sombra, Mundo Fantasma, Nouvelle Librarie Française, Tasca Mastai, Snob, Matéria PrimaKingpin BooksUtopiaSTET, A Vida Portuguesa e Fábrica Features. E na Libraria Paz (Pontevedra)



A Sara Figueiredo Costa assina um prefácio que aqui transcrevemos parte:

Diz-nos a física quântica que o tempo não existe, pelo menos do modo cronológico, arrumado e em sucessão, o modo como o conseguimos ver e sentir. E diz-nos que tempo e espaço se relacionam de tal modo que serão, juntos, uma categoria única de descrição do que nos rodeia, uma ferramenta funcional para obtermos respostas tão precisas quanto o universo permite sobre si próprio. A física quântica não é fácil de perceber para a maioria da humanidade e é frequente que outras linguagens nos deixem intuir respostas que, não sendo mais claras, são mais facilmente apreendidas pela intuição. As histórias curtas de Francisco Sousa Lobo não falam de física quântica, cultivando as perguntas com muito mais dedicação do que qualquer resposta, mas talvez por isso mesmo sejam uma espécie de mapa possível para certas declinações do mundo, não as que descrevem o cosmos, mas as que envolvem o indivíduo, esse lugar estranho e inóspito onde o espaço-tempo tantas vezes ameaça desintegrar-se. 

(...) O desconforto que muitas das histórias reunidas neste volume criam no leitor não nasce tanto do desamparo encenado em cada prancha, ou da possibilidade de alguns ou muitos reconhecimentos emocionais, mas talvez do contraste provocado pela procura de uma racionalidade, um gesto narrativo e visual que transforme a matéria das histórias nas histórias em si. É esse o esforço que se descobre em cada história, e é esse o percurso que estrutura esta primeira narrativa do livro, de certo modo, uma antecipação certeira das que se lhe seguem. (...) Não é preciso mergulhar na física quântica quando temos à mão a nossa própria cabeça, o nosso próprio corpo e o lastro imenso de memórias e vivências que confirmam, a cada momento, que estamos sempre em presença efectiva de muitos momentos e que aquilo a que chamamos passado talvez seja, por inconveniente que soe, o nosso presente constante.

 E como bem descreve o Bandas Desenhadas: Pequenos Problemas é o livro mais recente de Francisco Sousa Lobo. Editado na série Mercantologia da Chili Com Carne, dedicada à reedição de “material perdido”, compila 15 bandas desenhadas curtas do autor, produzidas entre 2005 e 2018. Existindo algumas BD inéditas, as restantes foram editadas em publicações portuguesas ou estrangeiras, nomeadamente a Nyx, a Nocturnal, š! #20: Desassossego, Art Review, Mesinha de Cabeceira, Crumbs, Quadradinhos: Sguardi sul Fumetto Portoghese, Performance Research, Zona de Desconforto, Preto no Branco #4, Próximo Futuro e Jornal Universitário. As BD estrangeiras apresentam-se pela primeira vez em língua portuguesa.


FEEDBACK: 

Muito bom, o pequenos problemas do FSL. Parabéns ao autor e à Chili Com Carne. 
E.O.M. (por e-mail)

(...) «O problema Francisco era um problema de culpa.» Ora, a culpa inventa retroactivamente o pecado. Por isso, o retorno continuado para esse «país chamado infância» que surge em tantas destas bandas desenhadas, em que se busca aquietação, se procura respostas ou se tenta compreender o que se passou de errado. Voltar ao sítio do crime original para encontrar provas. «Voltei à infância e descobri falsos traumas». Que até poderiam ser tranquilizadores, se os conseguíssemos contrabandear como causas, explicações, desculpas. Nunca saramos da infância, temos aqui a prova nesta «intacta ferida» latejante. Só que as dores que permanecem não são produto de um acidente, um azar ou um desvio; são apenas a própria vida que acontece e a infância que passa, o desapontamento, a desilusão e o desespero que equivalem a crescermos em anos. Tantas destas bandas desenhadas remetem para esse passado, unicamente para atestarem que este exercício da autobiografia, mais do que um ato masoquista, toma os contornos de uma aldrabice, um fingimento. «A banda desenhada era uma doença». Por um «interesse doentio pelo desenho», se revela então uma inclinação para o «lado do mal» ou, por extenso, para «a literatura, a arte, e tudo o que há de mais nocivo e infértil nesta terra de deus desconhecido». Valha-nos, porém, que a banda desenhada pode ser paradoxalmente a terapia com que se recupera o poiso para a razão, ou que se usa para (auto-)representa rum «eu» liquefeito pela psicose ou que soçobra diante da enormidade da tarefa de viver.
é que é um verdadeiro livro de auto-ajuda, no sentido em que me poupa andar é procura de todas. As histórias foram produzidas entre 2004 e 2018, reunindo mais de 10 anos de trabalho. É muito interessante encontrar aqui muitas reflexões que surgiriam mais tarde no futuro e em obras mais longas de Sousa Lobo, onde ele continuou a explorar os temas de família, religião e importância da arte, além da descrição de certos episódios relacionados o colapso psicótico do autor, que desencadeou o famoso Desenhador Defunto. É realmente um privilégio a maneira como Sousa Lobo é tão aberto e honesto sobre esse momento difícil, tendo sempre algo novo a acrescentar, uma camada extra para compartilhar connosco.

quarta-feira, 12 de junho de 2024

Mundos em Segunda Mão - Volume 2 / HOJE é LIVRO do DIA na Feira do Livro de LISBOA (stand Chili com Carne - H14)


Mundos em Segunda Mão, volume 2
por
Aleksandar Zograf

Mais um volume cheio de crónicas em BDs publicadas originalmente na revista Vreme, na Sérvia, e depois um pouco por todo o lado. Com prefácio e "CineKomix" de Edgar Pêra

recomenda-se (...) vale a pena conhecer o universo único deste autor, da arqueologia da cultura popular a entrevistas com artistas contemporâneos, passando pela análise de estranhos (mas reveladores) objetos encontrados em feiras da ladra e alfarrabistas por toda a Europa. Jornal de Letras

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Em português, traduções por Sara Figueiredo Costa, Marcos Farrajota e Manuel João Neto. Legendagem DTP e design por Joana Pires.
68p. 16,5x22,5cm a cores.
500 exemplares.

Historial: lançamento na SNOB (Guimarães), 19 de Dezembro 2015, com uma conversa entre Manuel João Neto (tradutor, co-autor de Terminal Tower) e Marcos Farrajota (editor) e projecção de "cinekomixes" de Edgar Pêra ... lançamento lisboeta no dia 22 de Março 2016na sala Luís de Pina da Cinemateca com as presenças de Marcos Farrajota (editor) e Edgar Pêra (que assinou o prefácio e os "cinekómix" do livro) e a exibição do filme On the quest for… Beograd Underground (Espanha / Sérvia; 2012) de Muriel Buzarra. ...

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à venda na loja em linha da CCC e ainda na Mundo FantasmaMatéria Prima, ZDB, Linha de Sombra, Tasca MastaiTigre de PapelUtopiaRastilho e Palavra de Viajante.

Atenção: as BDs de Zograf não tem continuação, o que significa que ler este volume implique ler o anterior - que ainda está disponível aqui.


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Excerto do prefácio de Edgar Pêra: 

Conheci o Aleksandar Zograf há 10 anos. Soube que vinha a Portugal e, como forma de o conhecer, fiz–lhe uma entrevista em formato BD para o jornal Público. Falámos sobre a importância do universo onírico e do estado hipnagógico na sua obra e também da sua vida enquanto Saša Rakezić, vivendo sob os bombardeamentos da NATO. 

(...)

Tal como as antigas colunas gráficas de “Ripley’s Believe it or not”/“Sabia que?”, estes Mundos em Segunda Mão compõem um mosaico de curiosidades interessantíssimas, que tem tanto de geral como de particular. É um universo de conhecimento partilhado. Este segundo volume prossegue a caminhada do pioneiro, com algumas diferenças e excepções. Todas as sequências – quer sejam sobre o Cinema 3D de província ou sobre os campos de concentração – merecem sempre as mesmas duas páginas. Mas, perto do fim do livro, Zograf dedica cinco capítulos a um caderno diário perdido num alfarrabista de rua: com A História de Radoslav coloca-se ao serviço de um desconhecido e homenageia-o narrando excertos da sua vida. São estórias recheadíssimas de peripécias, que por si só dariam um grande romance. Por se tratar de uma adaptação é aparentemente a sequência que mais se aproxima da banda desenhada dita convencional. Mas o seu final abrupto obriga o leitor a regressar ao ambiente de descoberta meteórica do resto do livro. 

(...) 

Estes Mundos em Segunda Mão são afinal mundos em primeiríssima mão, passam sempre pela subjectividade do autor, pelo seu olhar e pelo critério de selecção das narrativas a ilustrar, resultado de uma compulsão para transformar as suas observações e experiências em sequências ilustradas. A vida é revelada sob o prisma da sua arte: pormenores excêntricos merecem atenção triplicada, memórias secundárias são reactivadas. Olhamos para o real sob um ângulo singular. Sem olhar para o umbigo, sem proselitismos, sem querer dar lições de vida, Zograf ensina-nos a olhar para ela de outra forma.


Historial: Lançado no dia 21 de Novembro 2015 na Feira Morta com apresentação por Marcos Farrajota (editor) e projecções de "cinekomixes" de Edgar Pêra... Apresentação na livraria Snob (Guimarães) a 19 de Dezembro por Manuel João Neto e Marcos Farrajota e projecção de "cinekomixes" de Edgar Pêra ...

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Feedback: 
  Zograf ilustra um passado histórico e pictórico que me interessa muitíssimo, seja a recordar episódios de guerra, os bombardeamentos na sua cidade natal, a apresentar os "tesouros" que invariavelmente descobre em feiras de rua ou a contar episódios de infância, passados no seu país, que me parece tão parecido e tão diferente do meu. 
... 
Este volume dá continuidade ao peculiar método de escrita de Zograf, que o aliará a autores como Bill Griffith, David Greenberg ou David Collier: autores que, em vez de criarem imensos blocos de reportagens ou explorações monumentais de um tema (o que podem igualmente fazer), concentram a maior parte do seu trabalho em curtos ensaios ou “artigos” em torno de notícias, eventos, personagens ou aspectos da realidade humana que não parecem possuir qualquer importância para a transformação das sociedades. (...) Como explica de modo perfeito o prólogo de Edgar Pêra, estas “notículas” fazem-nos lembrar as rubricas Ripley’s believe or not. Breves mas intensas, o modo como Zograf as parece “cortar” sem qualquer tipo de crescendo ou resolução emocional apenas as torna ainda mais inquietantes, promissoras e fantasmáticas. 
Pedro Moura

Garantidamente que o Sérvio entra directo na tertúlia, visão livre e sem rodeios, autêntico um elixir cerebral. Não conhecia, obrigado pela partilha de outros mundos, o de todos. (...) Tripante!
Era Uma Vez Um Tímpano (via email)

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

sábado, 26 de novembro de 2022

Desta vez o MAL não rima com Natal!


 Volta o MAL mas desta vez menos conotado ao Natalixo! Bem bem!

Vamos estar lá e até devemos entrar numa conversa com o Massacre e o Quarto de Jade, no Sábado às 17h30.

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Fotos da Laís Pereira da edição natalixa do ano passado:

banca da Chili Com Carne sem máscaras

Massacre, Opuntia Books e Quarto de Jade com máscaras

Sara Figueiredo Costa e Francisco Sousa Lobo em conversa e com máscaras

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

a CCC está com o MAL


+info sobre o MAL

Nos baldios deixados ao abandono pelos grupos editoriais hegemónicos nasceram algumas editoras que aí instalam os seus enxovais e produzem livros com propostas diferentes — no conteúdo, no grafismo, nos meios de produção, na distribuição, no discurso e nas práticas. 

O MAL pretende tão só cultivar um espaço de respiração para o que ainda sobrevive no terreno devastado pela monocultura intensiva do livro. 

Em contramão à uniformização operada pelos cartéis editoriais, que produzem objectos-livro cada vez mais indistintos entre si, estas editoras que se apresentam no MAL ocuparam o espaço destinado à invenção e ao risco, revelando que é possível editar livros que ainda se esquivam a partilhar prateleiras com blocos de notas, porta-chaves de cortiça, sardinhas de faiança e peluches do Camões. 

Da poesia à prosa, da banda desenhada ao ensaio, da fotografia à ilustração, com hibridismos pelo meio, tudo isto mal cabe no MAL.

Da nossa parte teremos o novo livro de Francisco Sousa Lobo!!!

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Querosene @ Expresso


Os pézinhos sexy ao lado são da Alexandra Lucas Coelho
 

sábado, 23 de janeiro de 2021

sábado, 18 de abril de 2020

sábado, 11 de janeiro de 2020

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

E3 - convite



Depois de um ano cheio de actividades relacionadas com o eclipse de 1919, eis mais uma iniciativa desta vez com uma edição da Chili Com Carne.

Para já, é um convite triplo, para dia 19 de Dezembro, as 17h, no Atrio do C6, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Será lançado um livro com um ensaio de Ana Simões e uma Banda Desenhada de Ana Matilde Sousa (mais conhecida pela Hetamoé) e serão inauguradas as exposições "E3" e "The Eagle has Landed. Viagens a Lua" (comissariada por Maria Paula Diogo).

O livro será apresentado por Sara Figueiredo Costa!

quinta-feira, 9 de maio de 2019

TRIP #10 portugal spleen special


Sai este fim-de-semana no TCAF o número 10 da revista TRIP, do Canadá, que inclui um dossier especial "Portugal" com BDs inéditas de vários artistas, a saber: Gonçalo Duarte, Francisco Sousa Lobo, Cátia Serrão, Mariana Pita, Tiago Baptista, Hétamoé, Daniel Lima, Bruno Borges e Xavier Almeida

A capa é de José Feitor e a coordenação do dossier ficou a cargo de Marcos FarrajotaSara Figueiredo Costa, esta última escreveu também este texto introdutório: 


            
A ideia de uma unidade nacional continua a alimentar ilusões. Em Portugal, quando queremos falar de nós a quem não nasceu ou não vive cá, temos os oceanos, a expansão marítima, o fado, o futebol... os mesmos temas de sempre, pisados e repisados para melhor se adaptarem a uma narrativa onde somos sempre heróis, mesmo que em pequena escala, sonhadores, melancólicos e aventureiros. Falamos da expansão marítima, mas esquecemos a colonização e os escravizados que daí resultaram – às vezes falamos disso, mas sempre afirmando que “a nossa colonização foi mais benévola do que outras”, como se medir a crueldade e a opressão fosse um bom modo de olhar para o passado. Falamos do fado como se não houvesse outras expressões musicais, artísticas, a marcarem o nosso percurso comum. Falamos, sobretudo, de uma história cristalizada numa certa ideia de grandeza cruzada com falsa modéstia e andamos a falar nisso há demasiado tempo.
            
Quando começámos a pensar numa antologia de autores de banda desenhada portugueses, preferimos alterar o ângulo do olhar. Ver outras coisas, pensar de outra forma, questionar mais do que enaltecer. E procurar gente que quisesse assumir essa liberdade de olhar. Esta não é, por isso, uma antologia institucional, preocupada com a suposta representatividade dos autores incluídos ao nível do estilo, do reconhecimento ou da frequência com que publicam relativamente à produção portuguesa de banda desenhada. Ainda que aqui se incluam autores e autoras que seguramente integrariam uma antologia como essa, o que pretendemos, acima de tudo, foi reunir um conjunto de autores contemporâneos de banda desenhada que respondessem a esta ideia de um certo ar do tempo. Essa era a contemporaneidade que almejávamos alcançar, um olhar para aquilo a que Charles Baudelaire, na Paris do século XIX, definiu como spleen, a mistura indefinível de temas, emoções, dúvidas e pesadelos capaz de capturar o espírito de um tempo. E também de um lugar.

Curiosamente, spleen, em inglês, significa “baço”, um órgão que não será o primeiro a vir-nos à ideia quando pensamos no corpo humano mas que, ainda assim, é fundamental para a produção de novas células e para a eliminação das velhas. Foi também isso que quisemos fazer. Baudelaire está morto há muito mais de um século, os cafés sombrios onde se traficavam livros, drogas ou ilusões foram substituídos por estabelecimentos gourmet e Lisboa nunca foi Paris... Ainda assim, o spleen permanece como um bom conceito para lermos as cidades e a sua respiração, uma espécie de microscópio por onde observar o tempo e o lugar.
            
O tempo é agora e o lugar é Portugal. Temos uma meteorologia invejada, muitos turistas, companhias low-cost, morangos no Inverno e toda a espécie de melhorias tecnológicas inimagináveis há uma ou duas décadas. Depois da Revolução dos Cravos, a 25 Abril de 1974, passámos a ter democracia, coisa que por vezes parecemos esquecer. Com a democracia vieram as condições sanitárias que faltavam em muitos lugares, a literacia, o acesso à saúde e à educação, os direitos que a ditadura negou durante décadas. Ainda assim, não estamos livres de problemas, tragédias e acidentes, como as centenas de mortos nos incêndios de Verão, a disfuncionalidade do sistema nacional de saúde, o racismo estrutural numa sociedade onde continuamos a achar que há pessoas que não merecem viver aqui, o facto de termos canais televisivos que podem dedicar quase uma hora às notícias do futebol e apenas um ou dois minutos à guerra na Síria, por exemplo. Talvez devêssemos pensar mais na nossa vida, e no modo como a vivemos em comunidade, em vez de nos dedicarmos a caçar unicórnios... E de que unicórnios falamos? Entre morangos no Inverno e juízes machistas a quem não parece mal que uma mulher adúltera seja vítima de violência doméstica, temos de tudo. É capaz de ser este o nosso spleen, cheio de sonhos de grandeza nas Eurovisões e nas Copas do Mundo e cheio de gente expulsa da casa onde sempre morou para alimentar a máquina infernal da especulação imobiliária. Umas vezes há coisas bonitas no meio da tempestade, claro, outras não é fácil respirar. Para reflectir sobre o que nos rodeia, aqui e agora, desafiámos dez artistas e demos-lhes temas que nos pareceram apropriados à sua obra, ou pela familiaridade, ou pelo desafio.
            
Até aos anos 90 do século passado, o mercado editorial de banda desenhada em Portugal era preenchido sobretudo pela publicação de álbuns oriundos do eixo franco-belga, alguma produção nacional muito associada aos temas históricos e à narrativa de aventuras (herdeira do registo de publicações que, décadas antes, tiveram sucesso entre os leitores, como O Mosquito, fundada em 1936 e activa até 1986, ou a Cavaleiro Andante, publicada entre 1952 e 1962) e trabalhos pontuais que não se inseriam em nenhum dos registos anteriores. Houve momentos de excepção, como o protagonizado pela revista Visão (entre Abril de 1975  e Maio de 1976), que congregou autores cujo discurso procurava pensar a banda desenhada, experimentar dentro e fora das suas possíveis fronteiras e trabalhar em direcções não limitadas pelo registo juvenil, mas não foram suficientes para tornar abrangente e múltipla a percepção do público e as intenções do mercado.
            
Durante a década de 1990, a percepção da banda desenhada como uma linguagem destinada às leituras juvenis ou nostálgicas (quando não como um género, facto tão decorrente do desconhecimento como da limitação de registos editados) altera-se, ainda que ligeiramente. O crescimento do mercado editorial, com o consequente aumento de canais de distribuição e colocação de livros, beneficiou a banda desenhada, permitindo que livros com registos mais experimentais encontrassem o seu espaço nas livrarias, agora atentas a outros modos de trabalhar a linguagem da banda desenhada. Por outro lado, os espaços de divulgação e exposição beneficiaram de uma evolução no que toca à diversidade, mantendo-se festivais como o da Amadora, onde a presença da banda desenhada de vocação receptiva mais massiva sempre marcou presença, acompanhada de exibições pontuais de trabalhos e autores exteriores ao mainstream franco-belga e norte-americano, mas surgindo outros, como o Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto e o Salão Lisboa de Ilustração e Banda Desenhada, fundamentais para a criação de um público que não se limitava aos fãs de banda desenhada, mas que se compunha igualmente por interessados pelas áreas da literatura, das artes visuais, do cinema de autor... A recepção da banda desenhada deixou de ser exclusiva dos fãs das aventuras juvenis e dos nostálgicos de uma suposta Idade de Ouro e iniciou a sua inscrição no território amplo e transdisciplinar das artes. Sem excluir o património que motivou edições e exposições antes desta década, sem abandonar a herança da comunicação de massas que ditou a sua percepção excluindo qualquer outra abordagem, a banda desenhada abandonou o seu gueto de fãs e nostálgicos e passou a estar à disposição de um público mais vasto e necessariamente heterogéneo. Esta abertura foi acompanhada por projectos editoriais que, no mercado ou nas suas margens, permitiram a edição de autores que até aí não teriam qualquer hipótese de ver o seu trabalho publicado, animando movimentos editoriais que passaram por chancelas como a Polvo, a Pedranocharco ou a Chili Com Carne, bem como edições institucionais associadas à Bedeteca de Lisboa (com a colecção Lx Comics, de autores portugueses) ou ao Salão do Porto (com a colecção Quadradinho).
            
No início deste século, uma outra conjuntura se formou, alterando o panorama que se criara nos anos de 1990 e definindo um outro, bem diferente, marcado pela contenção económica e pela redução do volume de edição. O entusiasmo da década de 1990 em torno da edição criou uma ilusão que não correspondia, apesar de todas as melhorias apontadas, à realidade de um mercado editorial pequeno, com livrarias pouco preparadas para definirem secções de banda desenhada que ultrapassassem a etiqueta do “infanto-juvenil” e com um espaço limitado na imprensa para a divulgação e a crítica de livros em geral. Por outro lado, talvez a ausência de uma preparação sólida para lidar com a gestão editorial e os condicionalismos do mercado do livro por parte de muitos editores (nem sempre com a experiência que um mercado como o do livro exige num país cujos níveis de leitura geral nunca foram famosos) tenha sido responsável por um entusiasmo que se saldou no estrangulamento do mercado, com o exíguo espaço disponível para a banda desenhada sufocado por centenas de títulos ao mesmo tempo.
            
A tentativa de traçar uma interpretação histórico-sociológica das últimas décadas no que à edição de banda desenhada em Portugal diz respeito não tem como passar disso mesmo. Para além da proximidade cronológica, que em caso algum é positiva para uma fixação rigorosa dos factos, quanto mais para uma interpretação, a inexistência de dados fiáveis impede o exercício: o mercado editorial nunca registou os seus dados em termos gerais e rigorosos (situação que não é exclusiva da banda desenhada e que continua a dificultar a análise e o trabalho de todos quantos lidam profissionalmente com a edição, sejam agentes directos ou não), o que nos deixa unicamente com os números das editoras e com as análises que foram sendo traçadas, em jeito de balanço, em sites como o da Bedeteca de Lisboa e em suplementos culturais que têm o hábito de encerrar o ano com uma retrospectiva que, frequentemente, inclui dados mensuráveis. Relendo essa documentação, bem como textos fundamentais como presentes nas actas dos encontros Hoje, a BD, que a Bedeteca de Lisboa realizou em 1996 e 1999, não será um mero exercício de especulação concluir que o encerramento do Salão do Porto, o decréscimo de actividade da Bedeteca de Lisboa (que inclui o fim do Salão Lisboa, a suspensão da colecção Lx Comics e de toda a actividade editorial e, mais recentemente, o encerramento da sala de exposições, que albergava, com alguma regularidade, mostras de autores que maioritariamente não estão editados em Portugal, apesar da consideração que o seu trabalho tem merecido por parte de críticos, investigadores e leitores de outras latitudes), o fim de várias editoras e o abrandamento muito significativo da actividade de outras constituíram os eixos essenciais de uma conjuntura que, provavelmente com a influência de outros factores difíceis de identificar a uma distância temporal tão curta, ditaram, na primeira década do século XXI, o regresso a uma inércia editorial em que a regra voltou a ser o entretenimento.
            
A reacção de autores, editores e outros envolvidos, no entanto, voltou a alterar o cenário entre a primeira e a segunda década do século. As peculiaridades do mercado editorial e o acesso cada vez mais democrático às tecnologias da informação e da comunicação permitiram aos autores portugueses a descoberta de caminhos alternativos ao processo tradicional de edição. Em alguns casos, os mercados estrangeiros constituíram um terreno fértil, tanto no plano comercial como no plano do intercâmbio artístico e da definição de espaços de publicação e divulgação. Os exemplos de autores que conseguiram encontrar o seu espaço na indústria dos comics norte-americanos, muitas vezes integrando equipas amplas e com vários trabalhos a decorrerem em simultâneo, são significativos. Por outro lado, a facilidade de estabelecer contactos, trocas e parcerias com autores e projectos editoriais e artísticos de qualquer ponto do mundo abriu vias interessantes de colaboração, levando vários autores a publicarem os seus trabalhos em países como França, Espanha, Eslovénia ou Rússia, quer com títulos individuais, quer integrando-se em antologias internacionais.
            
Também o acesso facilitado às tecnologias associadas à edição, sobretudo com o desenvolvimento da impressão digital e com a vulgarização de empresas que oferecem serviços que começam na pré-impressão e culminam na entrega do número de exemplares combinado à porta de casa do autor, autores sem espaço no mercado tradicional (e sem intenção de adaptarem a sua criação ao registo considerado “vendável” pelas editoras) editaram o seu próprio trabalho, individualmente ou em plataformas colectivas. É o caso de artistas como André Lemos, Júcifer, Marco Mendes, Hetamoé, Lucas Almeida, Tiago Albuquerque ou Sílvia Rodrigues, e de projectos como a Opuntia Books, Os Gajos da Mula, a Chili Com Carne, o Clube do Inferno, a Imprensa Canalha ou a Sapata Press, bem como de editoras de média dimensão e com um trabalho cuidadosamente gerido, como a Kingpin Books, ou outras que vinham dos anos 90 e souberam adaptar-se à nova realidade, como a Polvo. Com o avançar deste novo século, agora já com quase duas décadas, estes caminhos deram os seus frutos e criaram novos espaços na circulação de banda desenhada em Portugal. Hoje, aquilo a que chamamos mercado já não é um monolito constituído pelo circuito autor-editora-distribuidora-livraria. Há muitos autores que se auto-editam, individualmente ou em projectos colectivos, e muitos projectos editoriais de pequena dimensão que fazem chegar as suas criações aos leitores em espaços que nasceram do esforço colectivo de autores, leitores e outros entusiastas do do it yourself, como as feiras de edição independente (casos da Feira Laica, entretanto descontinuada, da Feira Morta, da Raia, etc) que acontecem em diversos pontos do país, muitas vezes com convidados estrangeiros cuja presença em Portugal acaba por resultar em novos projectos partilhados, novos livros editados em Portugal ou nos países de origem desses convidados. Editoras que vinham dos anos 90, como a Polvo e a Chili Com Carne, e novos projectos como a Kingpin Books, ou, numa escala mais pequena, a El Pep, firmaram-se num espaço que inclui as livrarias (no caso da Kingpin Books, com uma livraria própria, no centro de Lisboa), mas que passa igualmente pela presença nos festivais de banda desenhada e, nalguns casos, pelas mesmas feiras de edição independente onde circulam livros e outras publicações com tiragens menores, por vezes impressas artesanalmente. O mercado reinventou-se e parece ter decidido ignorar as dificuldades do mainstream, criando os seus próprios caminhos e abrindo espaços onde eles não existiam. A vitalidade criativa e editorial de projectos como estes e outros tem assegurado diálogos constantes e frutuosos entre artistas, e entre estes e o público minoritário que os conhece, acabando por alcançar outros públicos e confirmando que a auto-edição, a edição em pequena escala e a atenção aos circuitos não-generalistas que há uns anos se apontava como futuro possível para a edição de banda desenhada em Portugal é, hoje, o seu presente.
            
Longe de caravelas e melancolias preparadas para exportação imediata, os barcos onde navegamos hoje são instáveis. E navegamos todos, os que nunca pisaram um convés, os que andam entre Portugal e o estrangeiro em rotas aéreas low-cost para ganhar a vida, mas também os que tentam chegar à Europa arriscando a vida para fugir da guerra, porque essa ideia de uma nação com as suas fronteiras há muito que se esboroou, para o bem e para o mal. Vivemos aqui, alguns somos daqui desde sempre, outros passámos a ser, porque é aqui que estamos. E aqui é em Portugal, mas não deixa de ser nesse não-lugar criado pela internet, pela globalização, pelo capitalismo, e também pela vontade de conhecer os outros, pela necessidade de circular, pela ânsia de abrir mundos sem ser à força. Temos bom tempo e temos canções, temos corrupção e dificuldades económicas, temos turistas e muitas interrogações. E temos, seguramente, autores com vontade de pensar nisto tudo sem a ilusão de um passado glorificado mas com os pés bem fincados no que somos, fomos e vamos sendo.

sábado, 27 de abril de 2019

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Memória colectiva de Geraldes Lino, falecido a 19 de Fevereiro 2019


GL no lançamento d'AcontorcionistA em 2012

Figura querida de muitos nós, autores de BD e editores de fanzines, eis um "corta-e-cola" de testemunhos de pessoas que o conheceram.

Ainda me lembro das tertúlias no estádio, houve uma que cheguei cedo 'tava lá ele, sentei e passado um bocado aparece aquele punk, que não me lembro o nome, de calças justas de leopardo, casaco de cabedal bafo a vinho e ar de quem não dorme muito a muito tempo, sentou ao pé de nós e os Geraldes a olhar para mim com um ar meio sem saber o que dizer, senti-o se um desconforto no ar para longitude dos dois personagens, mas logo se começou a desbloquear quando uns livros começa a mostrar e a partilhar conversa sobre bd. Uma pessoa muito fixe, sabia fazer críticas positivas e ajudar a motivar, a mim ajudou me na altura. - Lucas Almeida

Primeiras noites a viver em Lisboa, em 2002, e sai com uma turminha fora do vulgar, eu, o Geraldes, Pepedelrey, Ana Ribeiro e mais alguém que não me recordo. Final da noite decidimos descer até ao Incognito, pensei, vai ser impossível - muitos gajos e só uma mulher, vamos ser barrados. O porteiro "Dartagan" reconheceu o Lino, nem quis saber quantos éramos e quem éramos, entrem, entrem... "Ó Lino, queres o quê?" (acho que ele pediu um vodka limão). O "Dartagnan" tinha feito BD no passado e claro que conhecia o Lino. Noites mais tarde, situação similar mas desta vez no Lux. O porteiro reconheceu-o não sei porquê... Talvez porque o Lino conhecia o dono do Lux, o Manuel Reis. Quando o Lino deixou de sair à noite, voltei a ser barrado às portas das discos... - Marcos Farrajota

É quase insólito pensar que o desaparecimento de um homem que não conhecia profundamente, me emociona. Mas ler o que escrevem sobre o Geraldes Lino neste momento, a forma como o recordam, reforça a imagem que sempre tive dele. De uma figura (de perfil singular - aquele nariz!!) que circulava elegantemente por entre todas as bancas, as feiras ou festivais, sempre com a mesma curiosidade, com a mesma gentileza, com a mesma humildade. Reconhecia os autores e os seus trabalhos, divulgava-os, independentemente do que fossem, se comerciais ou alternativos, e essa atenção, esse cuidado sempre me comoveu. Esse olhar "fraterno" e transversal era o que para mim distinguia o Geraldes Lino da amálgama de editores e curiosos. Recordo-me das suas palavras de incentivo quando leu o STABAT MATER ou o MANUELINÚTIL, que ele meticulosamente chamava de "fanzines" porque "livro de banda desenhada é outra coisa!", de me perguntar quando sairia o próximo, de me incentivar a não para! De uma conversa à mesa da Tertúlia, sobre o seu trabalho no aeroporto, e da sua paixão pela Banda Desenhada! E daquele nariz... - Patrícia Guimarães

O entusiasmo e generosidade do Geraldes Lino por pessoas e por BD extravasavam os limites do que era esperado. Lembrava-se sempre - O Francisco, eu publiquei uma BD do Francisco no Jornal Universitário - como se eu me fosse esquecer de coisas dessas, ainda para mais pagas. 
Não era só a tertúlia, mas o apoio que dava a pessoas que davam os primeiros passos na BD, que se destacava no Geraldes Lino. Fazem mesmo muita falta pessoas assim - generosas, abertas, que fazem pontes. Um activista e um pacifista da BD. - Francisco Sousa Lobo

Lembrar o Lino é simples: o gajo faz parte do meu crescimento desde os meus 11 anos. Lembro-me de tudo (a cena do Incógnito de que o Marcos fala, também) das cenas que vivemos em festivais, exposições, debates, salões, por cá e lá por fora, das festas no 25 de Arroios e no 4° andar do Areeiro, jantaradas, tertúlias e... Uma vida do caraças! Das tareias que me dava para corrigir o meu horrível português, as cenas que desenhava nas toalhas e guardanapos e que lhe oferecia. Aquele memorável momento de estar em Angoulême e um gajo qualquer, daqueles autores franceses famosos, entre duas cervejas me perguntar: és português? Conheces o Geraldes Lino? Daqueles dias em que ia ao aeroporto encontrar-me com o Lino e perceber o carinho que o pessoal que ali trabalhava dizia: o Geraldes dos bonecos. Eh pá são milhões de memórias. Mas as melhores levo-as comigo. - Pepedelrey


Pitchu, Lino e Manel, na ZDB, a jogarem o Jogo da Glória da Cru no Zalão de Danda Besenhada (2000). Foto: Pepedelrey

Eu gostava muito do Lino, como toda a gente. ele chamava-me por graça "o poeta" e ria-se muito com os meus disparates. não sendo eu propriamente uma pessoa intima dele, nem pouco mais ou menos, apanhava-o nas cenas de BD e tínhamos conversas divertidas. O Lino era uma pessoa de uma generosidade enorme além de ser um enorme coleccionador e conhecedor de fanzines e banda desenhada. - Rafael Dionísio

Geraldes Lino. Duas décadas de amizade. Longas conversas telefónicas. Efusivos encontros em eventos de banda desenhada. Sempre, sempre, sempre generoso. E transversal às mais diferentes gerações, incansável em colocar em contacto os mais diferentes elementos. E, curiosamente, sempre surpreso, quando a vida lhe retribuía a mesma generosidade. Na verdade, o Geraldes não tocou somente a vida dos autores (tivessem ou não participado em zines) mas também muitos outros elementos, ligados direta ou indiretamente à BD. Num dos últimos encontros que tivemos, expliquei-lhe como tinha surgido o meu atual site. A crítica e a divulgação que eu fazia no blogue bedê e no portal BDesenhada.com (com o qual o Geraldes chegou a colaborar) tinham findado em 2007. Em junho de 2013, por problemas de saúde, o Geraldes deixou de organizar a Tertúlia BD de Lisboa. E dois meses depois, surgia o Bandas Desenhadas. Expliquei ao Geraldes que, após a sua decisão, eu tinha optado por dar por terminada a minha "licença sabática", para "cumprir com a minha parte", como lhe disse. Fui brindado com aquele sorriso do qual já tenho saudades e um sentido abraço. E haverá centenas (senão milhares) de outras pessoas que terão histórias semelhantes, em que uma palavra ou um gesto do Geraldes os motivou a fazer algo. É um caso único. E devemos-lhe todos muito. - Nuno Pereira de Sousa (também chamado de enanenes pelo Geraldes).

Algumas coisas fixes sobre o Lino, que não devemos esquecer: 
- ele coleccionava desenhos das toalhas de mesa, que nós nem dávamos valor; 
- ele quer que digamos O fanzine, não A fanzine (e ele também me deu uma lição de francês à custa disso!) 
- o Lino adorava viajar! Cheguei a encontrá-lo em Beja, no Porto e até no EriceiraBD! 
- O Lino foi o melhor professor: no sentido em que a paixão que ele tinha pela BD, pelo meio, pelas personagens e pelo Desenho, foi notavelmente parte do que o tornou uma grande influência para tanta gente que hoje, em redes sociais, relatou o impacto que a figura dele teve no seu trabalho e na vida. 
 Até sempre, Geraldes Lino! - Mosi


Jogo de bola em 1994, na Amadora, com o Lino como árbitro da partida...

Em 1999 fiz o workshop do Marcos Farrajota na Bedeteca de Lisboa. Tinha 13 anos e só sabia que gostava de banda desenhada - não sabia que não percebia nada, especialmente de que podia auto-publicar banda desenhada ou o que quer que fosse. Este Julho da minha vida fez com que imprimisse uns 5 exemplares do Uaite on Bléque na impressora de algum familiar, pronto para mostrar aos colegas na reentrée do 8º ano - foi devidamente desprezado pela turma toda, claro. Poesia imberbe, umas fotos manhosas, sei lá mais o quê. Mas mais rápido que um relâmpago, há um senhor que telefona para minha casa a perguntar por mim, e quantas páginas tinha o zine, como tinha sido impresso, o meu nome, a tiragem, e um sem fim de detalhes que eu desconhecia ter que saber, no fundo da minha puberdade editorial. 
Acrescia-se ao inquérito um convite para participar numas tertúlias ('numas quê?') de banda desenhada às quintas feiras, nas quais eu não podia participar porque enfim, não tinha autonomia para tal. A voz dele era peculiar. ~(Justiça poética, talvez, para o homem que passou a vida a coleccionar o peculiar em Portugal.) Conheci o Geraldes uns tempos depois, pois acho que lhe fui vender o meu zine em mão num festival da Amadora. Sei que fiquei impressionado com a voracidade com que se tornou dono do meu A4 borbulhento (e sem banda desenhada, se bem me lembro). Caramba - fez-me sentir importante! Pergunto-me se não terá sido fulcral para o resto da minha vida ter tido contacto e receber uns cordiais mas incitantes 'parabéns' pelo meu primeiro zine (uma bosta, se ainda não se percebeu que era), da parte de um simpático desconhecido, ao que parecia, bastante entendido na matéria. Claro que foi fulcral... Obrigado, Geraldes Lino. À sua. À tua! A esta dívida-dúvida que vai ficar para sempre de não saber se estávamos em termos de 2ª ou 3ª pessoa, eu e o Geraldes, sem dúvida singular! - Filipe Felizardo

Conheci o Geraldes Lino em 1994, quando eu preparava uma dissertação de licenciatura sobre fanzines ('os' fanzines, como ele gostava de lembrar...). Mantivemos algum contacto esporádico por esses tempos e, de forma mais regular, a partir de meados da década seguinte. Como tantos outros ilustradores e autores de BD, tive o prazer de colaborar nalgumas publicações organizadas por ele e de receber uma homenagem na célebre tertúlia do Parque Meyer. Naturalmente curioso, e com uma amplitude de gosto notável, o Lino era aceite em muitos círculos e por gente de todas as idades, que se esquecia facilmente de que ele já ia mais adiantado na vida... Estivemos juntos em diversas ocasiões. Recordo a mais recente, quando pude conhecer, por seu intermédio e do Marcos Farrajota, um dos meus desenhadores preferidos da revista
Visão. E, ainda há poucos meses, trocámos e-mails sobre um outro autor, obscuro e retirado... Não cheguei a saber se os contactos que lhe passei deram fruto, mas parecia evidente que a sua curiosidade se mantinha aguçada... É com surpresa que recebemos a notícia da sua morte, tal a jovialidade que irradiava. Salvé, Grande Lino, e que a memória perdure! - Daniel Lopes 

O Geraldes Lino foi a primeira pessoa que conheci que ligava aos fanzines e não era da minha geração! Conheci-o numa feira no Goethe Institut, nos idos dos anos 90 e fiquei logo impressionada com a militância na cena. Convidou-me logo para a tertúlia, como convidava toda a gente, porque para além de coleccionador e divulgador ele tinha uma enorme vontade de reunir as pessoas à volta daquilo que mais gostava. Em todas as feiras em que o encontrei ao longo dos anos, vi como acompanhava o trabalho de toda a gente, sempre com o mesmo entusiasmo. E muito para além do entusiasmo, o mais importante para mim é o respeito que ele tinha pelo trabalho de cada artista, mesmo dos mais novos, ao ponto de achar que aquilo valia a pena ser guardado. Uma vez contei-lhe que tinha feito uns fanzines de BD com uma turma do 8ºano e ele não descansou enquanto não me comprou esses zines. Devem haver coisas na sua colecção que já nem o próprio autor tem e que são documentos importantes de uma prática artística que consiste basicamente em tirar fotocópias aos trabalhos e agrafá-las. E sim, é por causa do Lino que nunca mais disse "uma fanzine"! Até sempre... - Ana Menezes

Conheci o Lino pouquíssimo tempo depois de publicar a minha primeira BD, uma coisa manhosa, num fanzine de amigos mais manhoso ainda, com uma estética em que nada combinava com nada. Ouvia já falar dele, e imaginava assim, uma figura pública, com aquela arrogância das pessoas importantes. Uma noite fui ao lançamento de uma Bíblia do Tiago Gomes, e passava-se numa discoteca qualquer. A certa altura vejo o meu ex, que tinha saído por um bocado, entrar com o Lino, os dois de braços dados, como se conhecessem há anos. O Lino vira-se para mim, e grita entusiasmado "Tu és a Rechena, eu li a tua BD!" Depois disso fomos para Beja juntos, fomos para encontros obscuros de zines em Almada. As Tertúlias do Estádio. As Tertúlias dos bons Garfos. Dos Cinéfilos Bedéfilos. Uma vez tirou dinheiro do bolso e disse, toma lá 20 paus vai lá fazer o teu fanzine. Eu que passei a vida toda à margem, com ele encontrei uma família que permanece até hoje. - Andreia Rechena

É quase sempre fácil falar dos que partem com a voz do consenso. No caso de Geraldes Lino, não há nada de forçado nisso, porque o consenso existia mesmo e tinha a sua origem num gesto constante que, para mim, e suponho que para muita gente, caracterizava a pessoa que o praticava: o gesto da curiosidade, absoluta, generosa e genuína. Lino gostava de banda desenhada, sim, e muito, mas esse gostar não se mostrava daquele modo elegíaco e cristalizado que tantas vezes atravessa o meio. Gostar de banda desenhada não lhe encerrava as referências ou as preferências naquilo que já conhecia há muito, e que era muito, também, levando-o, antes, à procura constante do que de novo se ia fazendo. Feiras de fanzines, encontros de pequenos ou minúsculos editores, exposições nos sítios mais improváveis, em todos esses sítios se encontrava Geraldes Lino. E não era apenas a vontade de ampliar uma colecção cada vez maior, não, era vontade genuína de acompanhar o que se fazia de novo. Não consigo lembrar-me onde conheci Geraldes Lino, porque a minha memória me diz que o fui vendo sempre nestes espaços. Se calhar, foi na Fábrica da Cultura, no tempo do FIBDA, mas também pode ter sido numa daquelas feiras de fanzines que se faziam em Cacilhas, nem vou contar há quantos anos... Pouco importa, na verdade. Com ele aprendi muito, soube de edições antigas e de autores que desconhecia, e discuti umas quantas vezes. E era bom discutir com Geraldes Lino, porque ele o fazia com vontade de debater, sem aquela amargura que às vezes serve para não ouvir o outro lado. Não terá havido um autor de banda desenhada a surgir em Portugal, publicando numa editora consagrada, num jornal ou numa publicação fanzinesca de tiragem minúscula e imperceptível que tenha escapado ao interesse de Lino e será impossível transformar em qualquer valor quantificável o quanto lhe deve a banda desenhada portuguesa, sob tantos aspectos. Pela minha parte, sem acreditar que se passe alguma coisa depois do inevitável momento final que a todos nos toca e tocará, não deixo de imaginar Geraldes Lino num qualquer além a descobrir fanzines onde ninguém suspeitaria da sua existência. E a corrigir-lhes as gralhas e os erros gramaticais com o seu rigor de sempre. - Sara Figueiredo Costa

Conheci o Geraldes Lino em 2008 na minha primeira visita ao Festival de Beja. Estávamos na sua quarta edição e penso que descobri a sua existência porque um dos convidados era o Dave Mackean. A maior surpresa do festival acabaria por se tornar o Geraldes Lino. O Lino estava sempre pronto a falar connosco e a dar a conhecer não só a BD como esta pequena comunidade de leitores. A partir dele conheci a famosa tertúlia de BD de Lisboa e nela muitas outras pessoas com quem ainda hoje mantenho contacto. Vi projectos nascerem naquelas mesas e, também graças a ele, descobri esse mundo fantástico dos fanzines. O Lino era um daquelas pessoas inesquecíveis, duvido que alguém que tenha travado conhecimento com ele, por mais breve que tenha sido, o tenha esquecido. Foi um dia triste, vou ter saudades dele e das suas conversas não só sobre BD, mas sobre a língua portuguesa também. Porque se é para escrever é para escrever bem. Um grande abraço Lino e, sinceramente, obrigado - Gabriel Martins


GL com Tiago da Bernarda, Maio 2018

Quando alguém morre o que fazemos com o contacto que temos guardado no telefone? Já não serve. Podemos terá estúpida tentação de ligar mas sabemos que não está lá ninguém. 
«GLino» «Eliminar contacto – Este contacto será eliminado». Para sempre. 
Já não vai tocar como acontecia às vezes, era o Lino a ligar, uma pergunta, uma combinação, a energia de sempre a organizar mil coisas. Cruzávamo-nos muito aqui no bairro, conhecia-lhe os hábitos. Se via o velho Micra estacionado na minha praceta já sabia que o encontrava na casa de cópias do Carlos, onde facilmente improvisava umas micro-tertúlias fanzinescas. Acarinhado pelos meus filhos, que conheceu desde que nasceram, era figura do nosso quotidiano familiar: «Pai, encontrei o teu amigo Geraldes Lino». 
 Adeus, amigo Lino! - João Chambel