Mostrar mensagens com a etiqueta fábio zimbres. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta fábio zimbres. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

MUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU



RUBI é uma colecção nova da Chili Com Carne dedicada a romances gráficos à escala global. Mas sobretudo será uma selecção criteriosa de Romances Gráficos, para contrabalançar a literatura "light" que tem inundado o mercado português nos últimos quatro anos. Depois de Sírio eis

Música para Antropomorfos
de 
e


Romance gráfico e música Noise Rock nascido numa origem comum mas que se afastam cada um num trajecto paralelo. Nem o livro de Zimbres (S. Paulo, 1960) é uma adaptação das músicas de Mechanics (Goiânia, 1994) nem a música é uma banda sonora da banda desenhada.


A improvável gênese do artefacto musical/ visual que você tem em mãos é esta: uma banda de rock suja e malvada de garotos goianos (capitaneada por um fã ardoroso de Jack Kirby) criou a fagulha sonora, primitiva e ominosa para que Zimbres, o mais cortês dos quadrinistas experimentais, criasse seu grande épico. É um pequeno milagre das circunstâncias e uma grande história de origem, e quanto mais você pensa a respeito, mais faz sentido: quem possivelmente inventaria um treco desses? 

Essas pequenas instâncias de reconhecimento se repetem no decorrer das cerca de 200 páginas de leitura. Por trás de sua fachada desconjuntada, de capítulos desenhados em estilos drasticamente flutuantes, MPA tem uma narrativa sólida, com direito inclusive a toda aquela lenga-lenga de introdução, complicação e desenlace.  É como um recontar cubista e ultracondensado da história do Ocidente, com pitadas de profecia bíblica, mitologia grega e farsa borgiana. 
- Diego Gerlach 

(...) originalmente publicada em 2006 por iniciativa do grupo de rock Mechanics, comandado por Márcio Jr. A primeira edição, esgotada há muito tempo, se tornou um raro objecto de desejo dos fãs de Zimbres (...) Todos ouviram falar sobre o livro, mas poucos conseguiram um exemplar. No mundo desenvolvido por Zimbres/ Mechanics, conheceremos SP (San Paolo) e SF (San Francesco): duas cidades-robôts ou fortalezas andantes. Eles evoluem em meio a pântanos, florestas, desertos e campos povoados por jacarés musculosos, vacas amáveis e cães sem cabeça. Outras histórias paralelas se desenrolam dentro e fora das fortalezas: complôs políticos, editoras dirigidas por vacas tirânicas e fantasmas dominadores usando pessoas como títeres. Com seu traço que traz um profundo conhecimento das artes gráficas e narrativas visuais, Zimbres constrói um universo rico, complexo e coerente, aliando os quadrinhos underground à experimentação dos graffitis e artes-plásticas. Mergulhar no mundo de SP e SF é uma experiência única, onírica e caótica, regida pelos desenhos de Zimbres e pela música de Mechanics.
- Zarabatana Books




%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%

Música para Antropomorfos foi originalmente publicado no Brasil, pela Monstro Discos em 2006, sendo reeditada recentemente na Colômbia e no Brasil (pela Zarabatana). Editado por Joana Pires e Marcos Farrajota e publicada pela Associação Chili Com Carne. Foram impressos 1000 exemplares deste livro, dos quais 300 150 exemplares oferecem o CD Music for Antropomorphics (em parceria com editora punk Zerowork Records) se for adquirido directamente à Chili Com Carne.

Alguns exemplares com CD estão no Porto - Matéria Prima, Mundo Fantasma, Utopia  - e Lisboa: Tigre de Papel, Linha de Sombra, Snob, Kingpin Books, BdMania e Tortuga.

Procurem estes elementos:


%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%


Fabio Zimbres, ou FZ, nasceu em 1960, em São Paulo, e vive em Porto Alegre. Estudou arquitectura e se formou em artes, é designer gráfico, organiza exposições, pinta, faz histórias em quadrinhos e ilustrações.

Fez parte da equipe fundadora da revista Animal que editou até seu final, em 1991.

Em Portugal só se encontram pedacinhos do seu trabalho, nos fanzines A Mosca (1997) e Mesinha de Cabeceira - Seitan Seitan Scum (2010), com uma BD escrita por Marte (do Loverboy) -  e no catálogo Divide et Impera (Montesinos; 2009).








%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%
















FEEEEEEEEEEEEEEEEEDBACK

Uma referência na BD do Brasil
Paulo Monteiro / Festival de BD de Beja
...
Fábio Zimbres: Um "animal" inconformista
Rui Cartaxo in Splaft!
...
Sendo já considerado dois dos mais importantes acontecimentos do ano (...) a criteriosa edição, por Farrajota e Joana Pires, do livro / zeitgeist sonoro (...) e a exposição de Zimbres no XV Festival Internacional de BD de Beja
André Azevedo in Splaft!
...
Reportagem na TODAS AS PALAVRAS na RTP
...
5 ESTRELAS
Expresso
...
(...) neste tipo de colaborações intermedia, e segue, conscientemente ou não, o procedimento que a parceria entre John Cage e Merce Cunningham definiu noutros domínios: a banda-sonora e a coreografia não dizem o mesmo, são autónomas e valem por si próprias, ainda que os movimentos dos bailarinos se refiram ao ouvido e o compositor tenha presente que a sua partitura se destina a um espectáculo de bailado. 
Esta referência “erudita” não é, de todo, descabida, ainda que a edição agora em causa tenha uma proveniência cultural popular. Cage, Cunningham, Jr. e Zimbres partilham uma perspectiva que é de suma importância: a experimentação. O rock implosivo dos Mechanics e a BD “belo horrível” de Fabio Zimbres são tão experimentais e exploratórios quanto o que conhecemos da dupla de John Cage e Merce Cunningham. Podem partir de pressupostos diversos, provavelmente até opostos, mas procuram o mesmo nível de libertação relativamente aos paradigmas estabelecidos para as artes e para a combinação destas. Com vantagem, inclusive, para este projecto que, reivindicando um estatuto de emancipação estética em áreas (BD, rock) que ainda hoje o vêm negado e derrubando as clássicas divisões entre “alta cultura” e “cultura de massas”, acabam por ter implicações sociais e políticas mais específicas e focadas do que confiar ao acaso as estruturas e os conteúdos do conceito indeterminista de criação dos dois norte-americanos. (...)
Rui Eduardo Paes in A Batalha

Recomendado pelo Expresso - livros 2019

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Música para ver



Sinapses do Ivo Puiupo é o novo volume da Mercantologia, colecção que recupera material perdido. 

O livro é resultado do concurso dos 500 paus de 2022.

Serão 12 bandas desenhadas curtas com poesia ou serão 12 poemas com desenhos sequenciados?


116p. 15 x 21 cm p/b (48p a cores), edição brochada

à venda na loja em linha da Chili Com Carne e na Tinta nos Nervos, Snob, Kingpin, Utopia, ZDB, Senhora Presidenta, Linha de Sombra, Tigre de Papel, Tasca Mastai, Alquimia, Socorro e Matéria Prima.

Historial:

Lançamento em 17 de Dezembro 2022 na Tinta nos Nervos, com a presença do autor e uma pequena exposição.


Segundo Fábio Zimbres:

Há uma tentação de entender as histórias aqui como fazendo parte, alternadamente, de: 1) um diário; 2) registros de sonhos; 3) ideias para um filme. Decidimos uma vez por um e depois por outro mesmo sabendo que não é necessariamente uma coisa nem outra, nem apenas isso. Mas há alguma coisa de íntimo, como um diário, e há um prazer nas associações que se desenrolam, as ambiguidades e o aspecto sensorial dos sonhos. E há às vezes a imediatez de quem registra.

Só que não é só isso. É mais que isso porque são o que são, obras acabadas, mesmo que não pareçam encerradas. É como uma estrutura no ar ainda com o processo nu, transparente. Mas são verdadeiras pontes nos transportando para lugares desconhecidos, Puiupo na frente. Cada ponte, várias possibilidades de história, de literatura, de imagem e de gente. 

Provavelmente por isso podem parecer fragmentos de diário ou de sonhos, porque a matéria-prima dessas pontes (sinapses? Ou o que permite informação passar de uma célula a outra) é, basicamente, gente, essa coisa feita de sonhos. É realmente um livro feito de pessoas. Se comunicando, se desdobrando e se tocando. Transpondo pontes, ligando possibilidades ainda desconhecidas.

No meio de cada conto, podemos olhar para trás e imaginar de onde ele veio e para onde vai, como uma estrutura expansível que atravessa mais do que o que vemos. Podemos imaginar o que acontece antes do começo e depois do fim. Não é difícil imaginar também que estamos flutuando, como uma ponte às vezes nos faz imaginar.

No meio da travessia, de repente achei que estava assistindo a uma coleção de curta-metragens, com uma trilha sonora adequada, uma coleção de trilhas sonoras que viraram filmes. E esqueci da ponte, ou seja, lá onde estava e tudo virou um fluxo me levando, que é aquele momento em que eu me esqueci que devia escrever algo sobre o livro e tive que refazer todo o caminho de volta para me lembrar o que estava fazendo ali.

Que é o que um diário/ sonho/ filme deve fazer com a gente. Nos desorientar.


Feedback:

(...) exploram temas, como, por exemplo, a identidade de género, o luto e a intimidade de uma forma metafórica, mas que demostra uma grande honestidade emocional que ´+e palpável ao virar de cada página.

"Danny" in Bombazine #2



Sobre o autor

Nasceu em Lisboa (1996) mas reside actualmente em São Paulo. Começou sua trajetória na BD em 2011 e participa da cena luso-brasileira de fanzines desde então. O seu trabalho já foi publicado em antologias, revistas e livros solo na America Latina, EUA e Europa. Trabalho esse que habita as fronteiras da narrativa sequencial desenhada-escrita e mescla-se com pintura, fotografia, produção de atelier e por vezes torna-se também contra-sequencial. 

Em 2018 participou do projeto de residência artística Revista Baiacu, sob curadoria de Laerte e Angeli sediado pelo instituto Hilda Hilst em parceria com o SESC São Paulo. Em 2019 foi vencedor do concurso de publicações Des.gráfica premiado pelo Museu da Imagem e do Som (MIS) São Paulo pelo livro Óbice, que posteriormente foi também publicado pela editora argentina Waicomics. 

Além das publicações e fanzines, Puiupo também actua como ilustrador em projetos tais como a edição brasileira do clássico "Ilha do Tesouro" publicado pela editora Antofágica, a capa do album "who told you to think??!!?!?!?!" do rapper e poeta americano R.A.P. Ferreira e diversos artigos para plataforma Narratively. Puiupo faz parte do selo editorial / conglomerado empresarial Pepito Corporation e publica-se através do mesmo ao lado dos artistas da jovem-guarda brasileira Adônis Pantazopoulos, Julia Balthazar e Flavushh. Também faz parte do coletivo de arte contemporânea BASA sob mentoria do curador Lucas Velloso. Por vezes também flerta com produção musical no duo Fuga. 

Venceu o concurso Toma lá 500 paus e faz uma BD! de 2022, traduzido no livro Sinapses que saiu em simultâneo em inglês com a Kuš!

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Dois ou três pensamentos soltos

Já podia ter morrido duas vezes feliz na vida. A primeira foi em 2010 quando o Fábio Zimbres entregou uma BD desenhada por ele e com argumento meu para publicar no Seitan Seitan Scum; e na semana passada quando recebi o número 11 da Expressa (Jul'20) onde essa mesma BD foi republicada. A Expressa é uma "revista" em que cada número é dedicado a um artista gráfico brasileiro - já lá iremos!

Para um anarquista ter ídolos é muito grave intelectualmente, só que o Zimbres como editor e artista influenciou-me a 100% quando era chavalo e agora nem devo fazer parte de 1% da sua vida - mas faço parte!! Admito que me rebaixo a essa percentagem para me sentir concretizado como ex-teenager. Quantas vezes nas nossas vidas podemos ter acesso e influenciar os nossos "heróis"? Ou já morreram todos por velhice ou por chutar cavalo - o Burroughs até foi aos 83 anos e ao ano de 1997, nada mal! Em 1993 estive a dois graus de separação dele, fuuuuuuck! Melhor mesmo só se tivesse feito uma capa pró Jello Biafra, oficialmente, hahaha

A Expressa é uma revista? Parece que sim, se os editores assim o afirmam para quê contrariar? Diria antes que é uma colecção de monográficos dedicados a um artista gráfico brasileiro, na essência ligados à BD, sendo este um campo alargado ao cartoon, "charge", tiras humorísticas (o pão-nosso de cada dia no Brasil), etc... O autor vivo é entrevistado, os mortos biografados. Depois a edição é enchida com BDs, tiras e ilustrações várias para fazer 120 páginas couché coloridas em A4 fechadas em capa dura. Caramba é um álbum! Mas talvez por sair mensalmente é que a consideram uma revista? Até dói! Mas se o Bestiário também é (não é) uma revista... Antes que comecem a correr com os cartões de créditos e premonições de problemas com a alfândega, existem rumores, que a "revista" irá aparecer em Portugal em breve. Rumores! 

Seja como for, a relação luso-brasileira ainda tem muito para se falar e estudar. Ao que parece não foi de toda pacífica logo com os dois "pais da BD/ HQ" de cada lado do Atlântico a ofenderem-se mutuamente e publicamente, Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) e Angelo Agostini (1843-1910). O primeiro até foi atacado à facada (não por Agostini, atenção!), razão para deixar o Brasil e produzir o original No Lazareto (1881) - ao que parece 20 anos depois eram amigos outra vez! Mais pacífica e produtiva foi a emigração de Jayme Cortez (1926-87) em 1947, não só criou uma "escola" brasileira como ainda co-organizou, em 1951, a primeira exposição de BD brasileira ou de BD mundial - as fontes divergem. O autor foi esquecido por cá até ser recuperado graças às exposições organizadas pela Bedeteca de Beja. As Ditaduras não favoreceram contactos mas lá se descobria o Ziraldo em Portugal no jornal Lobo Mau, por exemplo. Nos anos 90 é a grande explosão de revistas brasileiras a chegarem cá: Chiclete com Banana, Piratas do Tietê, Níquel Náusea e Animal (feio, forte formal). A explosão acabou em implosão graças ao plano Collor mas o mal já estava feito, Angeli e Laerte eram estrelas. Segue-se a primeira década do milénio de costas voltadas com alguns encontros fugazes, sendo o Seitan Seitan Scum o mais consubstanciado objecto ou a participação de Fábio Zimbres na exposição "Divide et Impera". Desde 2013 a editora Polvo edita muitos livros de autores brasileiros contemporâneos, destacando-se Marcelo D'Sallete ou Marcello Quintanilha. As migrações acontecem também, André Diniz vem para Lisboa e Puiupo para S. Paulo. A história aos quadrinhos ou aos quadradinhos continua... Sendo que esta Expressa será o local de encontro para saber tudo sobre os artistas entrevistados.

Este fim-de-semana vai haver o Mercado Aberto do Livro pela segunda vez. No ano passado lá andei a fazer "digging" no espaço da D. Ajuda cheia de tralha que já ninguém quer. Sem querer, claro, encontrei um belo monográfico dedicado ao grande Robert Crumb - com este tive também com dois graus de separação e até falei com o senhor que me mandou passear de forma assobiante, hehehe - escrito por Marjorie Alessandrini (1946-2020) e editado pela Albin Michel em 1974!

O ponto de exclamação significa algo? Adivinhem! Pensem nisto: a carreira underground de Crumb começou em 1967 e sete anos depois ele já tinha um monográfico sobre a sua obra em França, um trabalho crítico bem escrito por uma jornalista de Rock. É certo que os anos do ácido e "flower power" foram produtivos para este artista, em dois apenas produziu mais de 300 páginas todas elas a desconstruir a psique da cultura norte-americana. O trabalho passou para França, pela revista Actuel de início quando esta era uma grande fricalhice. O que é espantoso é que alguém escreveu um livro sobre este autor de BD contemporâneo ainda com o Crumb em início de carreira. Ena! Crumb não é o único contemplado, nesta colecção chamada Graffiti encontram-se outros títulos dedicados ao Gotlib (1934-2016), Reiser (1941-83), Moebius (1938-2012), Charles Schulz (1922-2000) e Fred (1931-2013), tudo publicado entre 1974 e 1976. Esta tradição de mapear autores de BD continua até nos dias de hoje em França mas noutras estruturas editoriais como a PLG.

Agora, lembrem-se de quantos monográficos sobre artistas ou autores de BD foram publicados por casas comerciais em Portugal? Há a biografia de Hergé (1907-83) e o livro de entrevistas a Hugo Pratt (1927-95), autores que rebolam nos caixões dada à exploração patrimonial que fazem dos seus trabalhos e que qualquer editor "cego-surdo-mudo" seria capaz de publicar e rentabilizar os livros. Tanto é verdade que escrevo que estes títulos foram publicados pela Verbo e Relógio D'Água, respectivamente, editoras generalistas. Há vários livros dedicados ao Bordalo Pinheiro, convenhamos, todos os anos sai mais um qualquer sobre um detalhe da sua vida (até a da sexual) ou da sua multifacetada obra. Depois (por isso não contam) há dezenas de catálogos ou monográficos das instituições como a Bedeteca de Lisboa ou aquilo que se chamava pomposamente de Centro Nacional de BD e Imagem (da CM Amadora, agora Bedeteca da Amadora) que publicaram, devido a uma inconsciente rivalidade camarária, montes de livros sobre vários artistas portugueses e até alguns estrangeiros. O último data de 2008 dedicado a Tiotónio (1936-85) talvez porque o último Salão Lisboa foi em 2005, sendo esta a perdedora do campeonato da BD municipal. Sem rival, a pilinha da BD Amadora esmoreceu tanto que não edita o catálogo do seu grande certame desde 2015. Em formato de BD (e voltando às editoras comerciais) foram publicadas uma sobre o Hergé e duas sobre o Edgar Jacobs (1904-87), essencialmente obras certinhas ao cânone instituído do biografado. 

Resumindo, das duas uma, ou o Relvas e o Alan Moore não são bons o suficiente para uma empresa comercial investir num livro sobre eles sem o apoio do Estado ou então as editoras comerciais de BD sempre nos enganaram com a sua dedicação e honestidade pela "causa" da BD. Inclino-me prá segunda hipótese a julgar pelas bostinhas que foram recentemente editadas em Portugal. 

Uma delas é Variantes : Uma Homenagem à BD Portuguesa (A Seita + Turbina), um álbum de novo-rico com boa guita para gastar. Lembra as iniciativas de um dos Trio Odemira que fez nos anos 90 ao publicar toscamente quatro volumes luxuosos, dois dedicados à "História da BD publicada em Portugal" e outros dois à revista O Mosquito. Ao menos os do Trio foram com a pasta dos direitos de autor da SPA do músico. O gesto simpático e trapalhão de Carlos Costa replica-se 25 anos depois com o do Júlio Moreira, co-responsável por este Variantes mas desta vez com apoios comunitários.

Seria acima de qualquer suspeita a qualidade da capacidade e do bom-gosto de Júlio, afinal, foi um dos responsáveis do importante e saudoso Salão de BD do Porto (que trouxe Joe Sacco, Julie Doucet, Chester Brown ou Marjani Satrapi antes de estarem na moda - e onde lançamos o nosso Mutate & Survive com uma divertida exposição) e da importante revista Quadrado. Talvez por não estar no activo há muitos anos, tenha deixado Júlio mole e sem capacidade de resposta aos seus novos comparsas de projectos cooperativos. Um deles, José Hartvig de Freitas, sem saber ainda hoje que foi enganado na sua vida de editor, escreve ao apresentar A Pior Banda do Mundo de José Carlos Fernandes: (...) tinha-me obrigado a ler uma vintena de páginas da Pior Banda, contra os meus protestos vivos e sonantes ("BD portuguesa, mas estás maluco? Isso são cenas pseudo-intelectuais que não interessam a ninguém!") (...). Ironia máxima, o autor mais "pseudo-intelectual" (no verdadeiro sentido da palavra!) português alguma vez cá nascido foi aquele que atingiu o coração de Freitas ao ponto de editar dezenas de livros dele. Talvez por não ser "pseudo-intelectual" (o discurso lembra qualquer personagem da Disney ou Astérix), Freitas não entendeu o paradoxo que  ele próprio montou.

Variantes parte do princípio de pegar numa página "clássica" e passar para um autor contemporâneo que a irá homenagear com o seu estilo gráfico - e em teoria, com uma possível corrupção narrativa. Há vários problemas com a edição, desde o design fatela (trabalhar com o JRF deve ser traumático, é certo, mas pelo menos rende, afinal a Quadrado sempre esteve a mil passos à frente até de revistas que não fossem de BD!!!) até aos artigos de contexto, que variam entre o bom (Isabel Carvalho) e o muito mau (Margarida Mesquita e o "bedófilo" Miguel Coelho) ficando pelo meio vários tons dos cinzentos do costume. Pelos vistos os nomes de Domingos Isabelinho, Pedro Moura e Sara Figueiredo Costa devem sofrer de "pseudo-intelectualismo" para não estarem presentes. 

A escolha em homenagear os primórdios da BD portuguesa começando pelo paizinho Bordalo Pinheiro e ir até ao "Tu és Mulher na minha vida (...)" do Pedro Brito e João Fazenda ou mostra oportunismo comercial porque A Seita reeditou este livro no ano passado ou que há medo de entrar no século XXI. É que assim ficou de fora um trabalho tão bom ou mesmo superior como a "Mulher", falo do Mr. Burroughs (outra vez o junkie!) de David Soares e Pedro Nora - e que teve uma imediata publicação pela "pseudo-intelectual" editora belga Fréon, mais tarde Frémok, facto inédito em Portugal, uma BD ainda por cima de uma editora pequena ter uma obra sua editada no estrangeiro. A escolha das pranchas / autores homenageados mostra uma falta de igualdade de géneros - os exemplos mencionados na Bedeteca Anónima são graves. Mas poderíamos considerar isto como uma situação perfeitamente cagativa, o Júlio & cia não são gajas, não leram propaganda da Mocidade Feminina - só leram a dos rapazes! - nem têm nada de curtir poesia "pseudo-intelectual" da Maria João Worm. Para além disso já passaram a barreira dos 50 anos e estão com a tensão "cringe" em alta. Tal como os livros d'O Mosquito, seguiram o coração nostálgico e sentimental e ninguém tem haver com isso. O problema é que este livro só prova que um trabalho bem feito deste género tem de ser feito, pelos vistos, pelas instituições públicas, é que não basta receber milhares da União Europeia, pois o resultado é este: uma História distorcida, uma selecção nostálgica, uma encomenda mal enjorcada que não se percebe a razão das escolhas dos autores e que, por sua vez, sofrem de disfunções na sua arte - induzida pelos editores que não curtem "pseudo-intelectuais"!? 

A escolha dos autores que homenageiam é errática, entre alguns que ninguém conhece no meio - o que é um risco com piada e vê-se pela revelação que são a Daniela Duarte e a Madalena Abreu que valeu a pena correr esse risco - passando por nulidades como a Marta Teives, que consegue transformar o neo-realista Borda d'Água de Miguel Rocha num agro-beto (duvido que tenha sido de propósito, isso mostraria um humor bem sacana) indo até um autor do "star-system". Aqueles que poderiam pegar nisto à séria acovardam-se: José Smith Vargas dá-se bem com o Carlos Botelho (bem escolhido e bem actualizado à Lisboa gentrificada) mas é redundante com José Ruy, o que André Pereira faz bem em Kolanville de J.L. Duarte com o seu grafismo gaijin mangá, n'O Macaco Tó Zé de Janus é apenas um absurdo de mimetismo. O mesmo para a Sofia Neto que moderniza Eduardo Teixeira Coelho mas vulgariza de forma totalmente plana a "erótico-psicadélica" Isabel Lobinho. O resto é quase tudo mau ou super-chato, com excepções para a prancha a "Mulher da minha vida" de Jorge Coelho e as do Marco Mendes. 

Alguns autores com quem eu falei comentaram esse à vontade de Mendes: "pá! mas esse é gajo da casa", isto é, os seus livros são editados pela Turbina e tem uma boa relação com o Júlio por isso pode brincar à vontade. Pseudo-intelectual ou apenas pseudo-tudo? 

Olha, que haja dinheirinho para distribuir aos autores de BD de vez em quando...


PS - para as pessoas que me perguntaram porque o Loverboy não está presente no volume, devo esclarecer que não houve nada de "evil shit" da parte da SHeITa e Turbina. Assim que soube que isto ia acontecer pedi ao Júlio para não incluir de nenhuma forma o meu trabalho antevendo uma desgraça, ou pelas escolhas incluídas (Jim del Monaco) ou pelas excluídas - é ofensivo não estar lá a Worm! Júlio, o que pensaria o nosso JPC desta ausência? Aliás, o que pensaria ele disto tudo?

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Fábio Zimbres em Portugal até 6 de Junho




Esse cara aí, é nem mais nem menos mas o grande FÁBIO ZIMBRES!

Artista Gráfico único no Brasil e mais outro pedaço do Mundo bem grande, editor omnisciente (era ele o responsável pela revista ANIMAL : FEIO, FORTE, FORMAL!), autor de BD desigual e pessoa incrível e légau!

Para quem tem olhos - ou seja, quem comprou o Sírio - já sabe que o próximo volume da colecção RUBI é Música para Antropomorfos, um trabalho sinergético com a banda Mechanics.

Atenção que 300 exemplares apenas vai ter a oferta do CD Music for Antropomorphics dos Mechanics, editado em parceria com a Zerowork Records!!

E então? O homem tem o seguinte plano de actividades:

- 16 de MAIO - presença do autor na noite Ocupa Sapata no Braço de Prata, boa hipótese de apanhar a edição quentinha!
- 18 de MAIO - presença na Feira de Autorxs na Arco, olha se as 300 cópias não vão à vida!
- 21 de MAIO - feitura da serigrafia com a Oficina Loba
- 29 de MAIO - palestra e workshop na Escola Ar.co.
- 31 de MAIO - 2 de JUNHO presença no Festival de BD de Beja.
- 1 de JUNHO é dia oficial do lançamento com conversa com o autor, citando Sonic Youth, às 15h30.
- 6 de JUNHO - autógrafos Fábio Zimbres na Feira do Livro de Lisboa, stand B41, às 18h CANCELADO devido a problemas familiares o autor teve de voltar mais cedo que o previsto, no entanto deixou SETE livros com desenhos / autógrafos que serão vendidos EXCLUSIVAMENTE neste dia 6 de Junho.

De resto, em Beja foi assim (fotos de Cecília Silveira):







sexta-feira, 31 de maio de 2019

ccc@beja.2019

cartaz de Susa Monteiro

Temos duas exposições nesta 15ª edição do Festival de Beja, a saber

- Nódoa Negra, colectiva com originais da primeira antologia organizada por autoras portuguesas de BD: Bárbara Lopes, Cecília SilveiraDileydi FlorezHetamoé, Inês Caria, Inês Cóias, Marta Monteiro, Mosi, Patrícia Guimarães, Sílvia Rodrigues e Susa Monteiro.

Fábio Zimbres, autor brasileiro de referência que se estreia com um livro a solo em Portugal com Música para Antropomorfos... O autor estará presente no Festival!

quarta-feira, 30 de junho de 2004

Coser, Cantar ; Que suerte! nº Petroleo, Gaz, Oil; nº Mecánico; nº Tapas Enfermos

Olaf; 200_ O primeiro título é um zine A6 que tem duas versões, uma em francês outra em castelhano, em que ensina a fazer um "Doo Rag", cortesia de Olaf, um belga que reside em Madrid que para além de fazer bd's mudas e ilustrações ainda dinamiza a capital espanhola. Ah! Sim, o que é um "Doo Rag"? Não tenho bem a certeza mas creio que é o que Olaf chama a um instrumento musical inventado, o nome vem de uma banda que usa esse tipo de instrumentos... Neste caso, Olaf explica como fazer um "Doo Rag" com uma "Arma Laser" (de brinquedo claro!). Mas falar do Olaf sem falar do seu zine de bd Que Suerte! seria sempre algo incompleto de se fazer. Sendo belga residente em Madrid, Olaf consegue a proeza de reunir no seu zine uma série de autores que provavelmente nunca teriam expressão em Espanha. Assim, em números temáticos, 95% do material é constituído por bd's mudas de gente tão diferente como Alvarez Rabo, Mauro Entrialgo, Jose Parrondo, Claudio Parentela, Calulnio, Sophie Dutertre, Pakino Bolino, Caroline Sury (o casal do Le Dernier Cri), Marcel Ruitjers, Max Andersson, Fábio Zimbres entre muitos outros. Que suerte! é mesmo uma sorte do caraças pois reúne nas suas páginas humildemente fotocopiadas autores amadores lado a lado de autores conceituados. As capas são estampadas e dão-lhe um ar bonito sem deixar de ser DIY! 


Em Lisboa, é possível comprar o Que Suerte! na loja Eklet (Bairro Alto). Se não encontrarem é de escrever para Olaf, apartado 18280, 28080 Madrid, Espanha.