Mostrar mensagens com a etiqueta Futuro Primitivo. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Futuro Primitivo. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 15 de outubro de 2024

Midlife Crisis

 

Mattias Elftorp andou a tirar fotos dos livros que fez, desenhou, participou, colaborou, editou, etc... Muitos conhecemos do seu Piracy is Liberation, C'est Bon (onde vários artistas portugueses tem colaborado), Dystopia, Alkom, Crack, Alt Com, Komikaze, Stripburger, Excessive Force e claro os nossos Futuro Primitivo (que passou pela terra do Elftorp) e o Mesinha de Cabeceira #23. Faltou A Batalha... mau mau Mattias!

domingo, 11 de fevereiro de 2018

FuTuRo prImItIvO ESGOTADO ... fucking mutants!


UMA antologia ____________de BANDA DESENHADA
$$$  de artistas da Associação CHILI COM CARNE
€€€ a saber : :: Lucas Almeida, Ana Ribeiro, Manuel Pereira, João Ortega, Inês Cóias, Daniel Seabra Lopes, Marco
Moreira, João Chambel, Ana Menezes, André Coelho, João Maio
Pinto, Andreia Rechena, Bruno Borges, Rafael Gouveia, David Campos, Sílvia Rodrigues, Pepe

delrey, José Feitor, ________Natália Andrade com Christina Casnellie, Uganda Lebre, André Lemos, Bráulio
Amado, Gonçalo Duarte, Jucifer, Ana Menezes, Afonso Ferreira, Marcos Farrajota, Rudolfo, Ricardo Martins e Pedro Brito, e ainda participações CADÁVERES-ESQUISITOS com Mattias Elftorp
+ Sofia Lindh (SUÉCIA), Cláudia Guerreiro, Filipe Quaresma, Nevada Hill (EUA), Pedro Zamith, Margarida Borges, Jarno Latva-Nikkola
(FINLÂNDIA), Silas, André Ruivo, Rita Braga, Susa Monteiro (BEJA!) e Valério Bindi + MP5 (ITÁLIA)... mis

turados por unDJ MMMNNNRRRG.
\\\
Lançamento e Exposição dos originais no Festival de BD de Beja (28 Maio a 12 de Junho 2011);  CRACK 3D 2011 & HELSINGIN 26. SARJAKUVAFESTIVAALIT (5TH SepTemBER - 1ST OCtoberrr) then M¨¨älmo /ISV (14th October - 4th November) ; TEXXXXXXXXXXXAS ... 666 de April 2012 :;:;:;:;:;:;: PORTLAND at floating world comics 777 june 2012;; BReiZZZIL (808 2012 na PREgO); Barcel0na at FATbottom Books  (marÇho 15thmarch a 11 maio 2013) y SS. paulo no UGRA zine FesT (6-7abril2013).

...
... 160 p.
16,5 x 23cm p/b, capa a cores ... Capa & Design: Margarida Borges ...
Retratos mutantes dos __________________ autores: João Paulo Nóbrega ... apoios da Bedeteca de Beja, Instituto Português de Juventude, Sociedade___________Finlandesa de BD, Sociedade Sueca de BD,
Wormgod e You Are Not Stealing Records.


!!!) talvez ainda haja exeMPLares  § na, Munddo Fantasma, na zzzzzDB), fábrica features betos benneton lisboa und neuroTITAN y RRRRastilhuuu e BLACK_MAMBA_vegan_metal


§
EX

Foi feita uma banda sonora (inicialmente para a exposição
entretanto extensível ao livro) com as colaborações de André Ruivo, Somália, J. Ortega, TendaGruta, Te Voy
a Matar, John P-Cabasa,
J
M
P
, Marte &&&&&&&&& Stealing Orchestra, zZZOUNDZZz, Pepedelrey, Rita Braga, Pedro Sousa, Ondina Pires, Cospe,
 _________ Chiby Shit Plan e Assinante 35278/TW ### é gratis e pode ser descarregada em
You Are Not Stealing Records


valerio bindi + mp5


uganda lebre
ana menezes
lucas almeida
daniel lopes
andré coelho
João Chambel

domingo, 4 de setembro de 2016

TendaGruta em k7 ... finalmente!!!


TendaGruta é um projecto de S.G. e André Coelho que participou na banda sonora do "comix-remix" Futuro Primitivo e que tem agora uma edição física (uma k7) pela Dissociated Records - assim, uma casa paralela da Signal Rex para sons "malaikos":

A new division of Signal Rex devoted to challenging, far-out sounds, Dissociated Records is proud to present Tendagruta's Ensalmo do Sargaço (...) 

Recorded in several locations between 2010 and 2012, Ensalmo do Sargaço gathers several tracks that were dissected and scattered through compilations or presented individually in several occasions and emissions. Across its six sprawling tracks, Tendagruta conjure a completely alien soundworld where vibrations both drift up from the abyss and descend from the cosmos; between those two disparate locales, the tones are minced in a manner most post-industrial. 

The aura thus created by Ensalmo do Sargaço is one of dislocation and disembodiedness, endlessly ringing rituals that penetrate the soul and instill smeared, bleary visions of a past that never existed and a future that already was. 

Of these six sprawls of sinister-yet-sensuous sound, Urfuto Tripimivo was originally published online by Chili ComCarne / You Are Not Stealing Records on the soundtrack compilation for the book Futuro Primitivo in 2011, and Il Culta was originally published on the Aural Bowels CD compilation by Latrina do Chifrudo / Soopa / Let's Go To War in 2010. 

Limited to 50 professional black cassettes, delivered with animal bones, the body has now been reassembled.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Adeus "Paulinho"! Morreu o único gringo bom deste planeta.

ilustração-homenagem de Bráulio Amado


Num princípio de um ano que já nos tem levado tantos Heróis acarinhados universalmente, o Lemmy e o Bowie, outros menos conhecidos como ainda na semana passada foi-se o jovem Alvin Buenaventura - que só dois sítios em linha portugueses anunciaram a sua morte, delimitando assim em que ponto de formação a BD portuguesa se encontra... Perco-me... acabei de saber pelo Bráulio Amado que o Nevada Hill deixou-nos para sempre.

Destes Heróis todos acima referidos, o Nevada é que era o Meu Herói, quase Super porque tinhas umas unhas compridas que deviam ter um super-poder, o da super-empatia certamente. Foi uma pessoa que sobreviveu à educação texana mas não o cancro que combateu nos últimos três anos.

Começamos por trocar zines e discos. Um dia ele lembrou-se de vir cá a Portugal! A Feira Laica foi a boa desculpa, onde ele tocou com vários músicos da cena portuguesa (Travassos, Nuno Moita, Gabriel Ferrandini, Ricardo Martins, Pedro Sousa, "Óscar" e Manuel Gião) em dois concertos, um deles memorável! Nevada tocava violino mas a dada altura, inesperadamente, começou a urrar como um misantropo do Black Metal. Ó 'tugas betinhos... Improv anyone? Isto foi na Trem Azul onde também tinha uma bela exposição de cartazes em serigrafia que ele desenhava e imprimia. Também, pintou um mural na Bedeteca de Lisboa que ainda hoje sobrevive devido à decadência da própria instituição, menos mal...

Amigos dele antes de ele partir para Lisboa, perguntaram-lhe "vais para casa de um português que não conheces pessoalmente? E se o gajo for um serial-killer?" Risotas! Passamos a noite no Estádio a contar pelos dedos da mão quantos serial-killers existiram em Portugal... desde o século XIX... e um deles era galego... não conta!

Noutras conversas, disse-me que as escolas públicas nos EUA eram uma merda, que os professores eram mais janados que os alunos, que a única hipótese de ter boa educação é meter os putos em colégios privados onde dominam programas criacionistas e onde as aulas de História só ensinam a História do Texas - nem dos EUA quanto mais da Humanidade! Nevada aprendeu a ter um passado humano graças ao "História do Universo", essa grandiosa BD de Larry Gonick. Foi lá que ele viu pela primeira vez que os humanos fodiam e procriavam ou que procriavam porque fodiam. Mesmo no baile do "prom" da escola, os casais ao dançar ao Slow de praxe, uma boa desculpa para se agarrarem e terem um período de sensualidade, ainda assim tinham de deixar espaço entre eles, o espaço de "um corpo" para Cristo estar entre vós - disse-lhe o Reitor. Era nos finais do século XX, pouco deve ter mudado...

Numa sociedade alienada como a americana, ele era das pessoas mais queridas e doces que tive o prazer de conhecer. Uma pessoa! Não um distribuidor de cartões de negócios como quase todos os outros gringos que conheci. Cá veio pra casa, perdeu-se numa ilha do Tejo - outra história incrível! - e na última noite em Lisboa, um bêbado vi-o e gritou-lhe: Paulinho! Estava mesmo a reconhecer-te! Ele não se desmanchou. Nem repudiou o velhote com copos a mais, tudo na boa!

Em tão pouco tempo que estivemos juntos, deu-me a conhecer o DJ Screw (que tanto inspirou Black Taiga) e os malucos dos irmãos Gonzalez que tanto giram pelo Jazz como pelo Grindcore.

Voltou alegre para Denton por ter conhecido a Lisboa e as suas gentes, tanto que quis representar a Chili Com Carne nas terras malditas do Novo Continente com o ciclo de exposições not Tex not Mex mas sobretudo o que ele queria era voltar cá um dia destes...

Good morning, Captain

Lisboa, 19 Fevereiro 2016
Marcos Farrajota

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Futuro Primitivo /// banda sonora descarga gratis /// FREE download soundtrack ::: Novo sítio / New site




Desde ontem que está disponível num novo servidor para descarga gratuita a banda sonora da antologia da Chili Com Carne, Futuro Primitivo, e da exposição homónima que rolou pelo planeta entre 2011 e 2012 - Festival de BD de Beja (Maio), Festival Crack (Roma, Junho), Helsínquia (Festival de BD), Mälmo, Barcelona, EUA e Brasil.

O disco está acessível pela net-label You Are Not Stealing Records, parceira desta aventura sonora neo-apocalíptica. Participam neste disco: Ondina Pires, Chiby Shit Plan, Cospe, Pedro Sousa, Stealing Orchestra & Kao Ryao, Assinante 35278/TW, J. Ortega, JMP, John P-Cabasa, Somália, André Ruivo, Pepedelrey, Rita Braga, Te Voy A Matar, TendaGruta, zZZOUNDZZz, Marte & Stealing Orchestra.

Foram pedidos ficheiros áudio aos artistas da Chili Com Carne (músicos e não-músicos) para contribuírem para esta banda sonora sob o tema do “futuro primitivo” - logo, um projecto com toda a carga distópica e apocalíptica que um tema destes imediatamente sugere. Assim, aparecem autores que já conhecidos pelas suas credenciais musicais como Ondina Pires (ex-Pop Dell Arte, ex-The Great Lesbian Show) ou os Stealing Orchestra - que ainda em 2011 lançaram um excelente terceiro álbum, Deliverance, e que acolheram este projecto como compilador e editor do disco. Alguns trabalham em franjas das “novas músicas” como Pedro Sousa (saxofonista de Improv, membro de Oto ou mais recentemente dos Pão) ou Somália (Noise), de electrónicas várias como John P-Cabasa (em estreia) e de Te Voy a Matar (de Silas, FlorCaveira, Pontos Negros), de lo-fi naturalista como Rita Braga ou de ambientes negros devedores ao Industrial como os misteriosos TendaGruta (obrigatório ouvir a colectânea Aural Bowels). No meio, encontram alguns autores de bd / ilustradores a estrearem-se no mundo sonoro como Pepedelrey, J.Ortega, JMP ou Marte (em registo spoken-word e com a ajuda musical dos Stealing) enquanto para outros é um regresso público como é o caso de André Ruivo (dos saudosos Rollana Beat).

Por mais eclética que fossem as personalidades dos participantes, é curioso reparar uma enorme coerência sonora neste disco. Talvez porque imaginamos todos o “fim do mundo” como algo tragicamente uniforme, sem a espectacularidade 3D + CGI, mal misturado com um filme trash dos anos 80. Como a Chili Com Carne sempre combateu a Nostalgia, temos muito orgulho neste opus. Podem rebentar os geradores nucleares. Estamos prontos!

It's available, since May, to FREE download the soundtrack of next Chili Com Carne anthology, Futuro Primitivo. It's also the exhibition soundtrack that was showed from Portugal to Rome, Helsinki, Mälmo, Texas, Portland, Barcelona and Brazil. The "record" can be downloadable at the You Are Not Stealing Records net-label official site. The artists / musicians are: Ondina Pires, Chiby Shit Plan, Cospe, Pedro Sousa, Stealing Orchestra & Kao Ryao, Assinante 35278/TW, J. Ortega, JMP, John P-Cabasa, Somália, André Ruivo, Pepedelrey, Rita Braga, Te Voy A Matar, TendaGruta, zZZOUNDZZz, Marte & Stealing Orchestra.

We asked to Chili Com Carne artists (musicians or not) to contribute in the soundtrack with "primitive future" as a theme - the theme of the comic-book - so you can expect dystopia and apocalypse from this record. Some of the collaborators are already known in the Portuguese music scene like Ondina Pires (from important bands like Pop Dell Arte and The Great Lesbian Show) or Stealing Orchestra that released in 2011 their third and truly amazing album, Deliverance. Some work on the fringe of the "new music" like Pedro Sousa (Improv sax player, member of Oto and Pão) and Somália (Noise Rock), abstract or functional electronics like John P-Cabasa or Te Voy a Matar (of the Christian Punk Rock collective FlorCaveira and Pop band Pontos Negros), naturalist lo-fi of Rita Braga and post-Industrial Dark Ambient of TendaGruta (mysterious band of Porto that released this year one track on Aural Bowels). And then some comix artists and illustrators made for the first time some "sound" like Pepedelrey, J.Ortega, JMP or Marte while for André Ruivo it's like a "comeback" since he had the Rollana Beat project in the 90s. Although the different personalities of the contributors, it's kind of curious that the soundtrack is musically rather coherent. Maybe we all imagine the "end of the world" tragically in a uniform way, without the show-off of 3D + CGI wrongly mixed with some 80s trash movie. Chili Com Carne always fighted Nostalgia, so we're proud of this opus not being "retro". Nuclear generators can explode. We're ready!


links:
bso/ ost - freemusicarchive.org/music/Various_Artists_at_You_Are_Not_Stealing_Records/Futuro_Primitivo/
livro / book - chilicomcarne.com/shop


Feedback: Categorizar este álbum é um desafio. É ver misturados tribalismos, futurismos, temas ambiente típicos de banda sonora, dark ambient, experimentações electrónicas e até música de carrossel. (...) Este é um conjunto de ecos de uma sociedade distorcida, que vagueia pelas cinzas da destruição. Aliás, o título da compilação resume bem o que esperar. Uma viagem sinuosa, um conceito original e bem conseguido. Infektion Magazine

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Cartazes do Futuro Primitivo A ESGOTAR!!!

Para acompanhar a exposição do homónimo livro Futuro Primitivo foram feitas cinco serigrafias, cada uma com pequenos detalhes. Algumas já esgotaram outras faltam muito muito pouco!!!
...
A primeira foi feita por Miguel Carneiro, impresso na Oficina Arara.
A primeira edição-versão-limitada de 23 exemplares foi feito para o Festival de Beja 2011 dos quais sobrou UMA deste monstro 100 x 70 cm / uma cor / sob cartolina preta.

Para o Festival Crack 2011, em Roma, foi feita uma nova versão a duas cores de 66 exemplares que também só já há UMA.
...
To travel along with the Futuro Primitivo book + exhibition we made five diferent silkscreens posters, each of them with small details.
The first one was made by Miguel Carneiro and printed in Oficina Arara. First edition is limited to 23 copies - most of them sold in the Beja Comics Festival. There's ONE copy of this 100 x 70 cm / one colour / black paper monster. There's also ONE of the 66 copies of the 2 colour in pink paper version made for the Crack Festival.


...

The image of other four posters are made ONLY of Futuro Primitivo skrewed & chopped comix book. The comix images were REMIXED by André CoelhoBráulio AmadoFilipe Quaresma and Margarida Borges creating brand new images in the same logic of the book. 
Printed by Lucas Almeida, there was 40 copies of each poster, most are gone!!!

 
Os outros quatro cartazes foram concebidos EXCLUSIVAMENTE com uma "REMIX" das imagens das bds publicadas no Futuro Primitivo. por quatro diferentes designers que puderam usar o "banco de imagens" do livro para criarem uma nova, seguindo o mesmo conceito do livro. 
Foram convidados André CoelhoBráulio AmadoFilipe Quaresma e Margarida Borges. A impressão ficou a cargo de Lucas Almeida e foram feitos 40 exemplares, muitos deles já espalhados pela Escandinávia e américas e quase todos esgotados!!! 

ANDRÉ COELHO

BRÁULIO AMADO

MARGARIDA BORGES


FILIPE QUARESMA


Estas belas peças encontram-se à venda no nosso site
...
You can find this posters in our site

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Comix Remix, parte II

Este artigo serve o proposito de divulgar uma perspectiva nova de fazer Banda Desenhada usando o conceito de “remix” banalizado na música Pop. Na primeira parte do artigo centrei-me sobretudo na manipulação de imagens – “cadáveres-esquisitos”, colagens e “detournement” – que possibilitam usar “matéria-prima visual” pré-existente para obter novas narrativas mas, esqueci-me de outro grupo de experiências – o Drone Comix!


WTF!? Drone comix!

Tira sacada à revista brasileira Animal

O realizador David Lynch chegou a fazer uma série de BD, a tira humorística (!?) The Angriest Dog in the World (1983-1992) que era constituída por uma tira de quatro vinhetas sempre com as mesmas imagens mudando apenas o texto nas vinhetas. Em Salut, Deleuze! (Fréon, 1998) de Martin tom Dieck com ajuda de Jens Balzer (texto), os autores repetem as mesmas nove páginas de uma BD cinco vezes no álbum. Cada repetição apresenta um texto diferente de forma a apresentar as teorias de “repetição e diferença” do filósofo Gilles Deleuze (1925-1995).

Para além destas repetições da mesma imagem (vinhetas ou páginas) também é de se referir casos em que o mesmo texto pode ser reinterpretado como é o de Tatanka (1) dos espanhóis Felipe H. Cava e Raúl, que usam o mesmo texto (de Cava) para ser ilustrada três vezes (por Raúl) de formas totalmente diferentes – a primeira de forma figurativa, a segunda iconográfica e a terceira abstracta. A reinterpretação teve o seu momento de glória recentemente, quando em 2010 o centro cultural “Cidade da BD” de Angoulême produziu a exposição, e respectivo catálogo, Cent pour cent, em que autores contemporâneos criavam uma versão de uma prancha “clássica” que lhes fosse querida.


Agora sim, é a segunda parte deste artigo!


Nesta tentarei mostrar uma segunda tipologia de “comix remix”, desta vez focada nas potencialidades de “misturar” unidades exclusivamente narrativas, como vinhetas, tiras ou BD’s inteiras. Se no primeiro grupo de “comix remix” apresentado, o cerne era a “criação” dirigida pelo artista sem quase intervenção de terceiros, o próximo grupo de exemplos, a BD é oferecida para o usufruto dos leitores ou dos editores, como se fosse um “open-source” em que os autores perdem o controlo (parcial ou total) sobre a sua criação, embora sem o extremismo como acontece na música porque na BD não há ferramentas electrónicas tão simples de manejar como há na música - basta pegar em dois CDs como Project Bicycle (Ache Records; 2006) ou o EP Bipolar (Raging Planet; 2006) dos [f.e.v.e.r], ambos têm uma faixa áudio com os sons separados (samples) da música original para poderem ser misturados por outra pessoa que saiba mexer num “software” como o Fruityloops.

Daí que a forma mais normal de “perder controlo” seja posto sob a forma da leitura da obra, oferecendo ”jogos narrativos” sob a forma de livro (ou objecto ou livro-objecto) ou de instalações em exposições de BD.


Construindo histórias


Em 2008, Jucifer participou num projecto de BD em que se usava “Post-It’s” (2) para fazer BDs originais, posteriormente coladas à parede numa exposição de uma galeria. Enquanto a maioria dos outros participantes fizeram histórias lineares nestes quadradinhos colantes (cada quadrado representava a maior parte das vezes uma vinheta), Jucifer além de ter intitulado o seu trabalho de Post shit (um feito em si, já que a distinguia dos autores betinhos) aproveitou o facto dos quadrados dos “post-it” permitirem ser vinhetas autónomas que podem ser soltas, colocadas em qualquer parte e como tal alinhadas de forma aleatória, como a autora ou os visitantes desejassem! Embora essa oportunidade dos visitantes de poderem mudar a ordem não foi dada durante a exposição, tal como infelizmente, a exposição não foi mais repetida para podermos ter um novo “remix” / nova leitura da história. Mais tarde foi feita uma edição de autor deste trabalho, novamente sem a hipótese de se poder misturar as imagens porque apareceu na forma de um zine agrafado que prendia as “vinhetas livres” à estrutura do códex.


O "Fim do Mundo" de Pedro Franz pronto a ser misturado! 

Já o segundo volume de Promessas de Amor a Desconhecidos Enquanto Espero o Fim do Mundo (edição de autor; 2011) de Pedro Franz é um pacote com vários papéis laminados que permite misturar tudo ao acaso e ser lido como o leitor quiser. O mesmo acontece com a caixa Building Stories (Pantheon; 2012) do “bébé chorão” do Chris Ware, que é constituída por 14 publicações de formatos bastante diferentes e que permitem ler uma história como se fosse um puzzle (3). As várias fases da vida das personagens são esquartejadas nessas tais 14 publicações, ou seja, nenhum desses livros / jornais / panfletos / brochuras tem uma “história completa”, tudo é feito de vários episódios aleatórios, com o típico existencialismo deprimente de Ware. Esse vazio existencial e a legendagem em letrinhas minúsculas que não me cativaram para ler aquilo tudo até ao “fim”, perdi alguma coisa?



Bio 421 aberto à toa...
Há também livros encadernados por argolas com as páginas do miolo cortadas em duas ou três partes, sobretudo no campo da ilustração para a infância como o fabuloso Animalário Universal do Professor Revilod (2003) dos mexicanos Javier Sáez Castán e Miguel Murugarren. Na BD não é assim tão normal mas vão-se fazendo este tipo de experiências aqui e acolá, como um zine italiano que descobri no Festival Crack, intitulado Bio edifício 421 (Lök; 2012) que reúne vários autores de um colectivo em que se pode misturar as suas tiras – três por página – para criar várias histórias diferentes. Para haver um nó narrativo, foi estabelecido a existência de duas personagens e uma estante Ikea para montar, e para “punchline”, uma frase final: Quem mais se ama menos pode amar.

o livro de instruções e algumas bases de copos da Strippble

Literalmente “jogos”, encontramos vários objectos lançados pelo movimento OuBaPo, como por exemplo, o Coquetèle (L’Association, 2002) de Anne Baraou e Sardon, uma «banda desenhada de três dados não ordenados». Já antes, Baraou tinha feito outra BD idêntica, Après tous tans pis (Hors Gambit; 1991) com desenhos de Corinne Chalmeau. Ambas são caixas com três dados, cada face do dado tem uma vinheta. O “leitor-jogador” tem de deitar os dados aleatoriamente, para depois juntá-los resultando numa sequência para ler. Emula portanto uma tira de BD sendo possível obter 216 (6 ao cubo) hipóteses de leitura. Também há o tabuleiro ScrOUBAbles (2005) que ao invés das normais letras do jogo Scramble temos vinhetas para criar pequenas histórias; e ainda DoMiPo (2009) que é dominó, só que invés dos números nas peças temos vinhetas. Na Eslovénia, a equipa da revista Stripburger com as mesmas premissas fizeram o Stripple (2008) mas desta vez com bases de copos! A ideia é colocar as bases de copos numa mesa e procurar combinações narrativas interessantes com as BDs de Matej de Cecco, Sasa Kerkos, Matej Lavrencic, Marko Kociper, Jakob Klemencic e Andrej Stular. Cada autor fez uma BD de seis vinhetas; cada vinheta equivale a uma base de copo, o que permite colocá-las numa mesa e misturá-las entre elas. Nas indicações deste objecto, a organização oferecia um prémio à melhor combinação e indicavam também que os “masters” deste jogo, a dada altura, podem usar as bases para aquilo que realmente servem: para colocar copos e garrafas em cima, de preferência de bebidas espirituosas! Se fores um “bar fly” e “comix nerd”, este é o teu jogo!


ignorem o cemitério escandinavo, topem a estrutura de madeira com a BD de Roope!
Síntese destas experiências todas é Ghost Story, do finlandês Roope Eronen, uma BD publicada na antologia Glömp X (Huuda Huuda; 2009) e ao mesmo tempo uma instalação da exposição homónima. Trata-se de uma estrutura de madeira constituída por quatro paralelepípedos, cada paralelepípedo tem quatro tiras de BD pintadas sobre as faces mais compridas e ao serem rodadas com um manípulo (colocado de lado em cada paralelepípedo) mudam o sentido da “página” – ou seja, com a ajuda do objecto obtemos uma “página” de BD de quatro tiras que giram. Na exposição era portanto uma peça interactiva que o público podia ler as várias possibilidades de ler histórias diferentes. No livro é oferecida a hipótese de recriar estes paralelepípedos recortando as páginas do livro – cada página tem as quatro tiras de cada paralelepípedo. Se for o leitor ainda estiver sobre efeitos do Stripple poderá recortar directamente no livro, danificando um belo livro de BD experimental!


Descubra as 7 diferenças

Em Setembro de 2003 tive a oportunidade de ver os dois suecos residentes em Berlim Max Andersson e Lars Sjunnesson a trabalharem no último capítulo do Cão Capacho Bósnio (4) e foi curioso reparar o tempo que eles discutiam entre eles – ou então o tempo pareceu-me enorme porque não percebo patavina de sueco – por causa de um detalhe de uma vinheta. Depois de um consenso sobre a história e a sua paginação, os autores desenhavam por cima de desenhos de um e do outro. Uma imagem esboçada leva tinta de um ou de outro, mesmo depois disso um dos autores não sabe se o outro irá respeitar o desenho proposto ou se irá colocar ainda mais tinta em cima para fazer mais contraste, alterar a forma, detalhes, texturas, etc… O objectivo de ambos é apresentar uma “BD coerente”, ou seja, que não se consegue descobrir quem desenhou o quê nem mesmo os próprios, que a dada altura acham que quem fez a BD foi um “terceiro autor”. Este é um exemplo da história recente da BD onde apareceu o impensável, duplas de autores que escrevem e desenham juntos, sem haver uma separação de tarefas tão típica da BD ligada à produção industrial em que se criaram cargos especialistas para despachar prazos de publicação: argumentistas, desenhadores, legendadores, coloristas, etc... No Cão Capacho Bósnio, tal como nas “comix-jams”, o trabalho foge ao controlo absoluto dos criadores, embora o processo seja feito pelos próprios artistas. A diferença das “jams” é que aqui vamos encontrar uma “fusão” de entidades enquanto que nas “jams”, vinheta a vinheta, os estilos individuais de cada participante são evidentes.

Apesar de misturar dois médiuns bastantes diferentes, a fotografia e o desenho, é curioso referir outra “fusão” que é Le Photographe (3 volumes, Dupuis; 2003-06) cujas provas de contacto do fotógrafo Didier Lefèvre (1957-2007) são usadas por Emamnuel Guibert para contar as aventuras de Lefèvre na sua primeira missão com os Médicos Sem Fronteiras no Afeganistão em 1986. Aquilo que identificamos como BD (sequências de desenho e texto) é usada nestes álbuns como “cola” entre as várias elipses temporais das fotografias ou grupos de fotografias – a BD conta o que não se “lê” entre as fotografias. Injustamente esquecido é o trabalho do “terceiro autor” - que ao contrário do Cão Capacho Bósnio aqui é realmente uma pessoa! - Frédéric Lemercier, que fez o desenho da composição das páginas do livro, um trabalho de Designer que deu uma forma funcional ao trabalho. Sabendo-se muito pouco o que foi concretamente o seu trabalho no arranjo das imagens, vinhetas, cor, etc… mas isto lembra como muitos produtores de música parecem “designers” de música, manipulando sons e colando-os para criar uma forma.


exemplo de páginas do "Boring Europa", nesta BD de Marcos Farrajota é usado desenhos de outros autores: Ana Ribeiro, Aleksandar Zograf e Joana Pires

Estas duas características, a “fusão” do Cão Capacho e o “design” do Fotógrafo, são pontos importantes na “BD de viagem” do Boring Europa (Chili Com Carne; 2011). Originalmente a ideia deste livro era juntar os diários de viagem dos seis elementos da Chili Com Carne que entre 1 e 15 de Setembro de 2010 viajaram pela Europa numa turné, como se fossem uma banda de Rock mas ao invés de dar concertos suados andaram a vender livros e a montar exposições. O cansaço da condução de cidade em cidade anulou o desejo de desenhar em quase todos os seus elementos, fazendo a posteriori uma BD colectiva e não apenas um livro de esboços de viagem. Como um dos autores do livro, acumulei também o papel de editor, e a Joana Pires o de Designer, juntos fomos ordenando uma multiplicidade de materiais soltos que fomos acumulando durante a viagem: rabiscos, desenhos da viagem, material gráfico variado, moedas, multas de trânsito, “comix jams”, bilhetes, ilustrações, e-mails,… Gerou-se uma BD “freak”, que fundiu tudo isto numa obra para se ler una. São várias as situações em que usei o desenho de alguém para incluir nas minhas vinhetas. Também tiras de uma BD eram deslocadas da prancha original para outra parte do livro. A preocupação principal era manter uma cronologia de acontecimentos e não se repetir os mesmos relatos de cada uma das seis pessoas envolvidas. Um dos momentos de inspiração para a forma como este livro da turné se organizou foi o encontro com o colectivo austríaco Tonto, de Graz. Na entrevista que realizamos aos seus mentores Helmut Kaplan e Edda Strobl, estes admitem que «temos muitas pessoas no grupo que (…) fazem muitos desenhos mas não BD!». O que Kaplan faz com estes desenhos soltos é justamente misturá-los «dando um sentido a eles…» e criando assim BD’s onde não havia!


Hang the DJ!
Creio que um dos primeiros casos de “DJ narrativo” é Ed, The Happy Clown de Chester Brown, um dos livros de BD mais incríveis alguma vez feito e que tem uma estrutura acidentada e casual, para a qual parece que ainda não há uma edição definitiva. Pego na minha, da Vortex (1992), sub-intitulada The Definitive Ed book, embora a Drawn & Quarterly tenha anunciado a definitiva recentemente. A questão das diferentes edições deve-se ao facto de Ed the Happy Clown ter sido pré-publicada em episódios no “comic book” Yummy Fur e mais tarde compilada em livro. A história que Brown conta foi construída sem querer e talvez por isso não haja um consenso sobre a edição final. Nela vamos encontrar elementos surrealistas como mãos que se soltam por pecados católicos (assunto tão norte-americano), vampiros, pigmeus, defecações ad infinitum, buracos interdimensionais, a cabeça do Ronald Reagan no pénis do palhaço Ed, etc... Estes elementos da história foram aparecendo originalmente em várias BDs separadas e sem relação entre elas, de 1981 a 1985. Algumas delas eram bastantes parvas e juvenis como The man who couldn’t stop, que mostra um individuo numa sanita que não consegue parar de defecar. Até que em 1987, Brown começa a unir personagens, situações e ambientes de várias destas BDs para criar uma história coerente, por mais fantasista que seja.

A história editorial de Ed, the happy clown lembra-nos o que acontece com o Cinema em que muitas vezes há “director’s cut” ou versões cortadas pelo produtor ou distribuidor, ou pior ainda, pela censura! Aliás, algumas edições de Ed, como a inglesa, não incluem algumas das BDs “parvas e juvenis” com medo da censura – materializada em confisco e destruição de exemplares sob acusação de obscenidade como tantas vezes aconteceu naquela ilha de puritanos.

A partir daqui podemos chegar ao relato de três projectos contemporâneos em que o editor é o autor principal (o “terceiro autor”) e em que os trabalhos dos colaboradores são manipulados de forma artística – e não meramente “tecno-económica” como acontece com os editores tradicionais. Estes exemplos têm em comum, o facto de serem publicados por colectivos de autores de BD independentes que editam antologias de BD e decidiram expandir a forma de “editar” para além da simples acção de juntar trabalhos de vários autores para paginar por uma ordem ao longo de um livro. A dada altura acharam que deveriam intervir directamente sobre o material a publicar segundo um instinto, uma história a contar ou uma visão.

Uma página da GIUDA #4 com desenhos de Armin Barducci (1ª e 4ª vinheta), Gianluca Costantini, Darkam e Liliana Salone.
Em Itália, surgiu a revista GIUDA (4 números, Nov’09/Out’12), da mesma equipa que publicava a Inguine mah!gazine, da qual faz parte a curadora e escritora Elettra Stamboulis e que nos explica em que consiste este novo projecto: We wanted to work as an avant-garde of the beginning of the last century: the graphic design remind this, in particular Vienna's Secessionist. Using automatism, aesthetism, casualty, (…) we were coming from [the Komikaze Festival] year of mapping alternative forms of drawing from all over the world (…) and we wanted to produce something completely different. Also, themes are always connected to a geographical representation: a place is always the center of the story, drawn in a different way that traditional Geography, but it's always Geography. From this idea came also the name Geographical Institute of Unconventional Drawing Art.

Contudo, o que difere o projecto de outras publicações de BD é que em cada número da revista existe sempre uma BD com um texto escrito por uma pessoa (as primeiras três foram por Stamboulis, a quarta por Marco Lobietti) e ilustrado por vários artistas – a lembrar as experiências da BD do Joe Meek no Twilight Jamming. Stamboulis explica: There is a huge work of research behind the texts and the images, but there always an idea of fate and strategies that are coming from OULIPO experiences in literature. It's a script with very few indication divided already in squares. Every artist has his/her text to do, and can read the all story, but cannot see what the others are drawing. The artists are always the same, with some new entries, but it's a close collective. O processo complica-se algumas vezes porque there are also some complete pages that are connected to the general story, but they are written and drawn by the artists. Those pages are a kind of subtitle of elements of the main story and they become short stories itself. In the end Gianluca Costantini collects all the drawing and he puts them in the page. With a sort of magic powder of fortune, every time it works as if everything had been perfectly arranged.

Uma página do Futuro Primitivo com André Lemos, Sílvia Rodrigues e Ricardo Martins

Admito que a razão deste artigo foi o facto de ter produzido o Futuro Primitivo (Chili Com Carne; 2011) e ter ficado desiludido pela ausência de reflexão sobre o projecto, mesmo que tenha publicitado que ele tinha falhado. Ninguém me perguntou porque falhou nem sugeriram situações idênticas para analisar. Pois é! Tive de ser eu a investigar e promover estas ideias que estão a ler agora!

O objectivo do projecto era juntar todos os artistas da Chili Com Carne numa antologia em que iria misturar as suas várias BDs para criar uma nova BD – uma “meta-BD”. Para conseguir alguma unidade no livro, foi sugerido um tema comum (o pós-apocalipse) de forma a manter uma unidade estética apesar dos 40 diferentes grafismos que se podiam encontrar; foi pedido uma estrutura de BD de duas tiras por página para se poder deslocá-las mais facilmente do contexto original para qualquer outra parte do livro; e para manter um fio condutor da “meta-BD”, foi ainda pedido aos autores para escolherem um subtema, ou seja, uma lista de avanços tecnológicos na história da Humanidade - da descoberta do fogo à ovelha Dolly. Também se pedia aos autores para não fecharem demasiado as suas histórias de forma que não houvesse finais demasiado auto-conclusivos.

Tal como quando se compra uma nova aparelhagem, ninguém lê o livro de instruções – já Laurie Anderson dizia isso numa música: "o relógio do vídeo fica para sempre a marcar 00:00" – e foram poucos os autores a respeitar as regras do “jogo”. Apareceu toda a espécie de situações, e juntamente com alguns “cadáveres-esquisitos” pedidos a autores cujas cidades iriam receber a exposição (Beja, Roma, Helsínquia, Malmö), estava instalado o caos. O funcionamento do livro falhou segundo as minhas espectativas de “DJ narrativo” (5) que tentou controlar matérias insubmissas... mas para “fora”, a sensação foi outra como prova a declaração desta leitora sueca: I thought one great thing about Futuro Primitivo was that I couldn't understanding all of it. It felt like that was the point, like a global, multidimensional dystopia and you only understand the bit you can see with your own eyes. On the other hand, I think that was my very own subjective reading experience (I understand a little Portuguese but not enough to be sure what the comics were about, a bit like dreaming and half-understanding). A exposição também falhou devido à falta de tempo para uniformizar formatos porque a ideia era poder misturar as tiras de BD no espaço das exposições tal como o Post Shit. Com o cumprimento dos prazos para ter a exposição pronta em festivais de BD pela Europa e América, não houve “remixes” para ninguém… Fica para a próxima!


Por fim, Tonto Comics é o exemplo que fecha tudo o que se falou aqui, porque o último número (#13, Noise) publicado pela Avant Verlag (2012) fez a ponte entre a BD e a música e os conceitos da “remix”. Este projecto editorial começou como plataforma musical em 1994, daí que tenha sido natural que as antologias Tonto tivessem ligações com a música, sobretudo quando Kaplan assume que usa processos idênticos quer na música quer nas suas BD’s: cut, montage, speed, running direction, superimposition. Kaplan organiza as antologias “com conceitos engraçadinhos” (segundo algumas críticas), numa lógica qualquer que nós não percebermos lá muito bem. É normal encontrar nas páginas da publicação BDs há muito vistas (noutras publicações pelo mundo fora) de autores como Igor Hofbauer ou Marko Turunen, BD’s repetidas não porque haja uma vontade de divulgar estes autores na Áustria (ou Alemanha) mas sim porque estas BD’s têm um valor especial para Kaplan, que segue um programa como se fosse um curador de arte contemporânea. No caso de Noise, ele diz: The material is quite heterogeneous. It has accumulated at my place in the last years (…) Quotes and remixes from the existing material plus additions (…) my own and from others. Partindo das questões da apropriação que a Pop Art levantou em relação ao uso da BD (essa arte anónima e comercial) para se fazer Arte a serio, Kaplan consegue traçar um caminho ou fazer uma pesquisa que coincide com este artigo, interceptando-o com alguns nomes (Max Ernst, Henry Darger e Dice Industries) e com duas novas situações inesperadas que merecem ter aqui um destaque maior.

O motor de partida para o Noise, é que Kaplan fez uma versão de uma página do Jess Collins (1923-2004) que por sua vez misturou nos anos 50 uma BD do Dick Tracy, de Chester Gould. É assim feita uma (nova) referência de artistas que fizeram as primeiras experiências de “mistura de BD”, centrando-se entre o Max Ernst e o Chumy Chumez. Consultem o recente O! Tricky Cad & Other Jessoterica (Siglio; 2012) que inclui o trabalho de colagem de Jess e as BDs “Tricky Cad” e “Nance”, esta última consegue transformar o clássico para toda a família de durões do western “Lance” (de Warren Tuft) numa brilhante orgia homossexual de fazer corar o Tom of Finland.

BD colagem de Jess

Levantei, no início desta segunda parte do artigo, o “problema” (não é um problema, será antes uma dificuldade?) de não haver “software” para misturar BD como há na música, muito ironicamente Kaplan com Edda e Dice Industries inventam e desenharam um esquema de estúdio musical (loops, sinais, volumes, MIDI, LFO, canais mono) para criar no final da “mistura” um grafismo!!! Programadores do mundo uni-vos!

Kaplan, Edda e Dice a gravarem um estilo gráfico!

Dote de poto a tres de Martin Lam


Extra Extra

Talvez não só vivemos um mundo de “copy/ paste” mas também num mundo demasiado rápido. Não só houve a coincidência de eu e o Kaplan estarmos a abordar situações parecidas nos nossos projectos, como outros pelo mundo também andam a explorar estas questões do “remix”. Recentemente tropecei no brasileiro Sama, residente em Portugal, que tem feito algumas BDs usando desenhos soltos que já tinha feito anteriormente, para um texto novo. Experiências destas já todos que fazem BD devem ter feito, claro está. O engraçado é que de repente não é só uma pessoa a exibir este tipo de situações... Outro caso, o Martin López Lam, peruano residente em Espanha, com o zine Dote de poto a tres (Ediciones Valientes; 2013) usa as imagens do seu colossal livro de BD Parte de Todo Esto (De Ponent; 2013) para colocá-las ao serviço de um texto completamente diferente - o que os junta é também que o título de um é anagrama do outro. O resultado é que ficamos na presença de obras gémeas mas separadas à nascença.

Esta é a razão da “remix”, não é fazer tributos ou homenagens ou poupar tempo numa BD nova, aliás, perde-se muito mais tempo a usar trabalho de outros para ficar coerente e autoral. O que interessa é acrescentar algo de novo sobre uma propriedade intelectual que já deu o que tinha a dar assim que foi lançada para o mundo. Quem proibiu o Katz não quer saber disso mas há milhares de pessoas com ferramentas neste exacto momento que podem pegar num dos 14 livrinhos do Chris Ware e melhorá-lo com uma tesoura…


Agradecimentos a Elettra Stamboulis, Sami Aho e Benjamin Bergman. Este artigo foi publicado em Setembro no jornal finlandês Kuti, em inglês com tradução de Ondina Pires.


(1)   Edição em português na revista Quadrado #1, 3ª série (Bedeteca de Lisboa; Jan’00)
(2)   Quadradinhos. Histórias Postadas (Galeria Yron, 2008)
(3)   Já agora, este trabalho de Ware lembra a mesma estratégia fragmentada do romance Vida – Modo de Usar de Georges Perec (1936-1982), um “oulipista” que neste livro conta as histórias de cada apartamento de um prédio mas o livro enquanto objecto é um único volume de 500 páginas
(4) Há várias edições de Bosnian Flat Dog (título original), em monografias ou em antologias, é só procurá-la na sua língua favorita! Em Portugal, foi publicado o primeiro capítulo na Quadrado (3ª série; Bedeteca de Lisboa).
(5) Disfarçado como unDJ MMMNNNRRRG

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Think about the future...


Nada se espera da imprensa nacional ou da "crítica" (mesmo aquela que se diz estar atenta às novas tendências) sobre um projecto seminal como o Futuro Primitivo. Em breve deixarei algumas considerações sobre o livro - a sua resolução, problemas, etc... Até lá vamos recebendo feedback estranho dos autores e leitores que reproduzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzimos aqui

«curti bué do futuro primitivo memo,antes de ler(verdade seja dita) pareceu-me completamente caotico e sem minima hipotese de fio condutor,depois tive a tarde toda a pensar sera q aquilo tá perceptivel...e só as 19H 30 quando sai do bules é q pude entao disfruta-lo,e é lindo , mixaste um livro ou melhor mixaste o melhor pós apocalipse de sempre.tem tudo...o mix bate nas horas!!!!e a junção de desenhos graficamente diferentes foi mesmo em cheio!!!!
tá forte» - aparicio desaparece / Tue, 7 Jun 2011 23:56:00 +0100

«pah curti, sei q as minhs opniões são um bocado seca mas eu aprendo com alguns trabalhos, quer dizer, n é para ser pedagógico nem merda q se assemelhe e mesmo nem concordando com pontos de vista das histórias e das freakalhadas está com sumo e sustento.» - ana maria On 2011/06/08, at 18:03

«epá de vez em quando tem alguns saltos em que o leitor se perde,mas isso até é giro e é momentaneo ,porque o fio condutor reaparece logo de seguida,acho q no todo está bastante perceptivel,a ideia base está lá sempre presente.» - aparicio desaparece / Wed, 8 Jun 2011 21:15:28 +0100

«Futuro Primitivo tem sobretudo autores nacionais e no fundo serve de catálogo à exposição com o mesmo nome. A qual, enquanto conceito e qualidade global, foi em minha opinião a mais conseguida de todo o Festival.» - João Ramalho Santos in JL (21/06/11)
Comentário do editor, Marcos Farrajota: Holy caramba! Não é um catálogo da exposição! Há quem fique com essa ideia - não sei porquê, no outro dia alguém dizia que era um "catálogo dos artistas da Associação". Não percebo, o livro não vale per se? Sei que a aplicação do conceito - mistura das bds de vários autores - será seminal (creio) e dado a erros e falhas (há muitas, admito) como se pode esperar do seu carácter experimental mas pensar que é um catálogo já me deixa a pensar que falhei muito mais do que previa...
A exposição em Beja foi quase uma improvisação, o projecto real estará mais próximo na versão que foi para o Crack - espero fotos em breve para perceber se correu bem. Ou seja, tal como no livro pretende-se que nas exposições seja possível também misturar as tiras de bd de forma a criar sempre novas narrativas. Em Beja, como eram originais que estavam expostos não eram possível misturar o material dos autores (pela razão típica de protecção dos originais). Aproveitamos para deitar o lixo tecnológico na exposição como mera cenografia apocalíptica - tema do livro. Na verdade sempre abominamos as cenografias das exposições de bd mas esta permitiu diversão gratuíta. Como se costuma dizer: "para fazer uma instalação, atiram-se merdas pro chão!" - no colectivo P.I.d.E. já sabiamos disso nos Encontros CCC 1999, em 2011 continua a ser verdade, pelo menos prós cromos da bd que ficaram convencidos da qualidade da exposição. O importante é que se leia o livro...


«A unidade narrativa alcançada com esta espécie de remix aplicado às imagens e às sequências que os vários autores criaram é notável, até pelo potencial caótico dos próprios temas, entre a ficção científica distópica e os mundos pós-apocalípticos.
Mais de quarenta autores responderam ao desafio, escolhendo itens de uma lista cuidadosamente preparada para registar as invenções tecnológicas que terão colocado a humanidade a caminho do abismo. Da roda às armas de fogo, da imprensa à energia nuclear, a lista é suficientemente ampla para incluir elementos facilmente identificáveis com o caos ambiental e o desequilíbrio de produção alimentar que vivemos, mas igualmente com as grandes revoluções do progresso, o que só acentua o tom apocalíptico, configurando uma visão fatalista que alia qualquer avanço a uma inevitável degradação e que traça os princípios programáticos desta edição numa espécie de no future onde não haverá prisioneiros. Enquanto a devastação não chega, a clonagem da ovelha Dolly convive com as lições de sobrevivência que os genes humanos transportam e os autores abandonam as suas personagens à sorte de várias incógnitas, investigando o comportamento humano perante a ameaça do fim. Profecias, loucura, gestos de violência ou o desregramento total são alguns dos resultados. Autores consagrados e outros ainda em começo de publicação criaram sequências fortes, imagens perturbadoras e espaços de reflexão poderosos, mas é o trabalho de edição que lhes confere a unidade imprescindível para que este volume seja um marco para a afirmação da banda desenhada de autor no espaço, acanhado, da edição nacional.» Sara Figueiredo Costa in Expresso (Jul'11)

«Curiosamente, apesar de ser uma cena assumidamente "desconexa", o todo funciona muito bem e sente-se mesmo que é um projecto aberto e com pano para mangas para outras abordagens e sem grandes limites. Existe igualmente é um sabor amargo de estarmos perante algo incompleto, mas de certa forma, é isso a que o livro se propõe. No happy endings, no fucking fun. Demasiada informação para o mundo fazer de todo sentido. Curti mesmo.» On 2011/07/22, at 10:35, A.C. 
Comentário do editor: hum... boa abordagem / pespectiva que me propões... um dos problemas do livro é que alguns autores fecharam demasiado as narrativas para o livro ser mais "visual" mas faz sentido as "micro-narrativas" numa estrutura maior, talvez... Resposta de A.C., às 16:43: «Ya, mas olha que de certa forma, as micro narrativas acabam por funcionar como âncoras, no sentido em que criam momentos de focagem que depois só acentuam o caos gráfico que vem a seguir. Quase como teres momentos melódicos entre uma jarda de ruido sonoro num disco de noise ou assim. O livro tem uma dinâmica do caralho e nem sequer é um "album de BD" nem tão pouco tem aquela pinta de "antologia". É mesmo um overload fodido.»

«The concept is really great!» On 2011/09/10, at 15:13, Ilan Manouach

«El fin esta cerca. El 2012, las profecías mayas, tormentas solares, inminente invasión reptiliana, conspiraciones a la orden del día. A la humanidad le quedan 2 días. ¿Y después qué?. Osea, si algunos pocos "privilegiados" llegan a sobrevivir ¿qué futuro les depararía? No olvidemos que muchas veces el hombre es como una roña difícil de quitar.
Estas preguntas son el punto de partida del álbum distópico que la asociación Chili Com Carne nos hace al completo. Si, porque en Futuro Primitivo participan los alrededor de 40 socios que tienen, en un cadáver exquisito apocalíptico y antológico.
A pesar de lo difícil que resulta organizar un cadaver exquisito entre autores de diferentes estilos, algunos muy diferentes entre sí, el resultado es sólido, primando un aire a ciencia ficción pura y dura, con artefactos ultratecnológicos, contaminación en proporciones elevadas y mutantes y escombros a la vuelta de cada página.» -
Martin - 16/09/11 - in Bolido de Fuego



«I thought one great thing about Futuro Primitivo was that I couldn't understanding all of it. It felt like that was the point, like a global, multidimensional dystopia and you only understand the bit you can see with your own eyes. On the other hand, I think that was my very own subjective reading experince (I understand a little Portuguese but not enough to be sure what the comics were about, a bit like dreaming and half-understanding). Really impressed that you guys have translated it!» On 2011/11/20, at 20:06, tecknarn Sling

«Confessamos que não compreendemos por que razão os editores desta antologia afirmam, na introdução, de que esta é uma experiência “falhada”. Tecnicamente, trata-se de uma recombinação editorial feita sobre material que os autores providenciaram, ora sob a forma de tiras passíveis de serem quebradas e remisturadas, ora várias sequências em cadáver esquisito. A influência deste projecto parece ter sido semeada no tour do Boring Europa, como essa outra publicação demonstra. Todavia, a experiência editorial - que segue os projectos lançados por Marcos Farrajota que procura sempre soluções inovadoras e arriscadas num dito mercado nacional mas que encontra uma recepção francamente positiva noutros circuitos - que temos neste Futuro Primitivo parece-nos ter atingido o seu resultado prático justo. (...) Tendo conhecimento de algumas antologias nacionais e internacionais, é realmente bizarro que a atenção para com este projecto seja pautada por um silêncio quase consensual, apesar da franca “vanguarda” que ela apresenta (...) Falhanço? Ou trata-se isso de um exercício de contradição face aos discursos habituais das “vitórias” e “sucessos”, no campo em que apenas se vasculha na continuidade de sempre?» Pedro Moura in LerBD 16/05/12 

«A compilation of (post-)apocalyptic comics from Portugal and beyond, assembled as a kind of continuous, disjointed, exquisite corpse. This presentation actually makes for something surprisingly more cohesive and intriguing than most comps as it forces parallels and themes to emerge across juxtaposed artists' work. (did each know what the other would do, or is this happenstance? Is there a larger picture?) (...) I was going to come back and write more, but this remains cryptic and interesting as ever. Kind of a widely collaborative, free-association-narrative-connected art book.» Nate D / Goodreads / May 2012 

27 MAIO 2012 - nomeado para Troféu Central Comics Melhor Publicação Nacional 2011 - seja lá o que isso quer dizer e que nada trás para reflexão sobre o projecto ...

«I like the book, there are different moments actually, some parts look like a complete story and some are scattered, I don't understand most of the text so that could be the reason for me not being able to connect everything, but that is also kind of apocalyptic approach consistent to the theme. It can also be a part of the concept (this lack of communication that happened to me on the trip gave me an idea) that you have a solid story with a complete action, characters, articulate conversation at the beginning of the story, but as far as story goes on, everything is starting to lose the connection and at the end becomes a completely unconnectable neurotic abstraction of words and images. As the apocalypse has happened to the medium of narrative comic approach, lets say. I know it's not a hot water (as croats say), but I think it can be used related to the theme. And I like the theme.» Ivana Zubovic ... Tue, 24 Jul 2012 13:47:54 +0200


Panel are broken up from their sequence and then reorganized together, creating graphic tension between multiple artists' work on easch spread. The overall resilt of this strategy makes for a disconcerting and disjointed reading experience but sucessfully demonstrates a collaborative, group-derived aesthetic Kate Morgan / Journal of Artists Books 33/ Spring 2013