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quarta-feira, abril 13, 2022

Surdez parcial

     Tenho vivido os últimos anos da minha vida com uma surdez progressiva a atormentar-me o ouvido direito. Hoje tenho 10% de audição nesse ouvido, segundo uma medição audiométrica recente. Amanhã vou submeter-me a uma intervenção cirúrgica (uma estapedectomia) na tentativa de recuperar a capacidade aditiva daquele lado da cabeça.

    Trata-se de uma cirurgia razoavelmente comum e, segundo me dizem, pouco arriscada. Oxalá. O que me preocupa, de facto, é a possibilidade de recuperação da capacidade auditiva a um ponto que possa incomodar-me. Ser surdo de um ouvido não tem apenas inconvenientes.

domingo, agosto 11, 2019

Barrigas simbólicas

Devo andar a passar por uma cena daquelas que têm a ver com a idade, uma crise qualquer, decerto já estudada e registada em revistas da especialidade e em revistas de curiosidades. Esta manhã dei por mim a reparar nas barrigas dos homens que iam passando. Grandes barrigas!

A minha atenção para as referidas barrigas foi atraída, decerto, por ter reparado na minha própria pança logo após a banhoca matinal. Está a ficar insistentemente proeminente, uma redondeza balofa a querer marcar posição no meu corpo. Vejo-a, penso nela, não gosto de a transportar mas, verdade seja dita, não faço nada de especial que a contrarie e a barriga vai ficando.

Voltando atrás, reparava eu nas barrigas. Contas arriscadas e feitas por alto, anotei mentalmente aí uns 80% de barrigudos. Isto entre novos e velhos e mais ou menos, a barriga não parece escolher idades. Ali estava eu, com a minha barrigota, a reparar nas dos outros. Burgueses como eu, pessoas sem aparentes problemas de subsistência, produtos acabados de um certo modo de vida que assenta no consumo, muito para lá da satisfação das necessidades básicas.

Dei por mim a pensar que estas nossas barrigas são imagem, ícone e reflexo da forma como vamos exaurindo o planeta. As barrigas simbolizam a morte lenta da Terra?

terça-feira, maio 15, 2007

Água do mar embalada

Afinal não houve limpeza. Segundo a médica que me observou tenho o ouvido esquerdo muito limpinho e desobstruído, o direito é que está completamente tapado. É estranho pois a sensação que me envolve a cabeça é de entupimento absoluto. Mas a senhora é que enfiou os olhos cá dentro com uma daquelas coisinhas com iluminação que dão para nos vasculhar o interior do corpo e perceber o estado da coisa à superfície. Receitou-me mais limpeza com o habitual Otoceril e um anti-estamínico para combater a ranhoca generalizada. Fui ainda comprar uma embalagem de... água do mar! Água do mar embalada para vaporizar furiosamente as narinas. Se há quem ande a vender a Lua a retalho não é de admirar que embalem e comercializem água do mar. Mas não se pense que é agua de um mar qualquer. Não. Segundo a literatura no dorso da embalagem trata-se de água "recolhida num local seleccionado da Bretanha". Uau, vem de longe, esta água. Se calhar poderia ir aqui à praia da Costa da Caparica lavar a penca com águinha retirada directamente das ondas mas, pelos vistos, não seria bem a mesma coisa. A água do mar da Bretanha tem decerto qualquer coisa de mágico já que aquilo é terra de duendes e druidas e por lá se desenrolam mistérios tão antigos que já se lhes esqueceram os nomes e os contornos. Assim sendo desembolsei 8,85 € por uma elegante embalagem de simples água do mar. Não está mal como negócio. Afinal de contas a coisa vem de Chenôve, França, o que lhe dá, sem dúvida, um toque de sofisticação. Espero que me alivie os canais, mesmo que seja à força da intervenção de alguma fada desconhecida. Gabo-me de não ser xenófobo, espero que isso sirva para alguma coisa numa situação como esta.

segunda-feira, maio 14, 2007

Cerumen (ou monstro?)

Terei o colesterol mais ou menos e a tensão arterial assim-assim. Os pulmões devem estar para o negrito e o nariz, caraças, esse, na Primavera, parece sei lá o quê, entupido, fanhoso, aborrecido por não poder estar em paz. Toda esta porcaria acumulada nos canais e vias de comunicação corpo acima, corpo abaixo, provocam uma acumulação de nhanha tal que estou virtualmente surdo.

Tenho passado os últimos dias como se estivesse fechado no fundo de um barril cheio de água, a ouvir o mundo borbulhar ao longe com menos graça ainda do que é seu costume e apanágio. Se não tivesse de dar aulas até que nem seria mau de todo. É uma sensação meio estranha, esta, de estar quase desligado dos sons que me rodeiam. Obriga-me a dar muito mais atenção às pessoas que querem comunicar comigo, olho-as mais fixamente, coisa decerto algo intimidatória para quem não está ao corrente do meu entupimento geral. "Porque está este gabirú a entrar-me com os olhos na cara?", devem pensar, mas não é por nada mais que não seja esta estúpida surdez passageira.

O mais aborrecido é não conseguir ouvir o noticiário na TV sem incomodar as outras pessoas. Então prefiro desistir. Leio o jornal. O menos aborrecido é poder concentrar-me melhor e não precisar de fingir que não ouço aquilo que na verdade não posso ouvir. Ainda por cima posso imaginar um pouco mais ou menos que sou o imortal Goya (mal perca a surdez lá se vai a ilusão!)

Amanhã vou ao posto médico propor que me limpem os ouvidos. Vai ser o bom e o bonito. Estou curioso para ver o que vai sair dali. Se cêra, apenas, se algum monstro langonhento e meio adormecido a espernear por ser desalojado do conforto da caverna que por ora habita.

Se for monstro juro que o mato!