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domingo, setembro 29, 2019

Dada

Disse um Dada: todos os dias acumulo cá dentro uma coisa selvagem que transformo em sossego, uma pulsão de morte que transmuto em sentido de vida. Por estranho que possa parecer acredito ser amor, essa coisa que surge do que fica dentro de mim.

Respondeu-lhe um Outro: se encontras um sentido para aquilo que constróis é porque viver consiste, quase sempre, na necessidade que tens de distrair a morte. Digo "quase sempre" porque no fim será a morte que encontras.

Concluiu o primeiro Dada: vou beber um café sem açúcar.

domingo, agosto 25, 2019

O Grande Dada

Fui, de súbito, iluminado por um relâmpago que me atingiu em cheio no meio das trombas: Deus é dadaísta! Ou, melhor: o Grande Dada é Deus! Resumindo, para explicar a coisa às almas mais simples e aos que não têm a tromba toda fo... toda chamuscada por terem sido atingidos pelo raio que os parta: Dada é Deus, Deus é Dada.

Um gajo pode andar a vida toda sem perceber patavina e, quando menos espera, ser submetido à mais arrasadora das revelações. Imagino que, para muitos de nós, a Revelação seja o fim da linha. Quantos não irão parar ao hospício da paróquia logo após a visita do Anjo? No meu caso a coisa foi, mais ou menos, pacífica. Mantive-me em casa e fui preparar um cafézinho.

Posso garantir-te, amável leitor, que saber que Deus é o Grande Dada e vice-versa, explica tudo e a vida continua, fazendo muito mais sentido. Experimenta e vais ver.

segunda-feira, maio 09, 2016

Vison

Um homem de cabeça branca passeia no palco com uma gola circular, reflectora, gola que lhe dá uma volta completa ao pescoço. A luz cai sobre a gola num gracioso ângulo de, mais ou menos, não sei  quantos graus e faz com que o homem, vestido de negro, se transforme numa cabeça planante (como a do Rei da Lua nas Aventuras do Barão Munchausen).

O homem sorri, arreganha os brancos lábios. Tem os dentes vermelhos. Acho que esteve a comer tomate. Molho de tomate. A beber sumo de tomate. O tomate é um estranho fruto.

Depois há aquele malabarista vestido com um fato de escamas de peixe que salta como um sapo ou como um coelho (não parece nada um canguru a saltar), que salta por ali e por acolá, que dá pinotes e pinotes, atirando objectos ao ar: um guarda-chuva, um telemóvel esperto, um tijolo cor de laranja e um ursinho de peluche ao qual está quase, quase, a saltar um dos olhos (que já é um botão de gabardina há bastante tempo).

Olha, agora é uma ave transparente que entra em cena. Tem rodinhas no lugar dos pés e rola sobre o palco com suavidade. A ave comeu uma rosa vermelha ao pequeno almoço, vê-se bem que foi isso o que comeu.

Mais atrás um casal flutua sobre o negrume do palco, equilibrando-se num esquife de metal. Uma das figuras encontra-se protegida por um pano azul que a cobre da cabeça aos pés (presumindo que tenha cabeça e que tenha pés).

Finalmente, um cavalo cujo corpo já é mais uma armadura que aquilo que deveria ser o corpo de um cavalo, passa em primeiro plano com um corneteiro incrustado no lombo, como um artilheiro enfiado na tampa aberta de um carro de combate.